AbdonMarinho - RESPEITEM O ZÉ.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

RESPEITEM O .

RESPEITEM O .

Alguém já disse, se não digo agora, que a forma mais ráp­ida de desagradar os out­ros é diz­eres o que pen­sas. O ex-​governador José Reinaldo Tavares talvez não tenha pen­sado ou querido desagradar a ninguém quando, há pouco dias, escreveu um artigo pro­pondo um pacto pelo Maran­hão com o grupo do ex-​presidente Sarney.

Desde que colo­cou no papel sua ideia, tudo na política maran­hense pas­sou a ser tratado como secundário. Edu­cação, saúde, infraestru­tura, as denún­cias dos mal havi­dos e de que o gov­erno ainda não encon­trou seu rumo, perderam a importân­cia diante da pro­posta do ex-​governador.

Se por um lado o indica­tivo teve rel­a­tiva aceitação por parte dos ali­a­dos do ex-​presidente, que ainda não se acos­tu­maram com a pedreira de ser oposição, do lado dos atu­ais ali­a­dos do gov­er­nador, a reação não foi das mel­hores, depois de anos olhando os out­ros se fartarem nos fes­tins do poder, acham que agora é a sua vez e, gulosos, acham que não devem dividir a rapadura com ninguém. Claro que há opiniões diver­gentes de ambos os lados e tam­bém de arti­c­ulis­tas inde­pen­dentes que não são moti­vadas por inter­esses menores. Tais opiniões pre­cisam e devem ser consideradas.

Após a pub­li­cação do artigo diver­sos ami­gos me inda­garam sobre o que achava da pro­posta do ex-​governador.

Sobre o que ele disse, parto do princí­pio de que se trata de uma opinião de alguém que sabe o que diz.

Descon­heço as suas moti­vações. Se a sua sug­estão é pau­tada no fato de que o ex-​presidente, emb­ora não querendo aju­dar, possa atra­pal­har em muito o gov­erno de Dino ou se tem, de fato, a con­vicção de que é pos­sível uma união em torno dos obje­tivos maiores do Maran­hão, se não de todo o grupo – até porque haverá des­do­bra­men­tos legais decor­rentes das audi­to­rias que estão sendo feitas –, ou de parte sig­ni­fica­tiva do mesmo.

Não entro, não neste momento, no mérito ou na via­bil­i­dade da pro­posta de pacto. Se é opor­tuna, se faz ou não sentido.

No momento me ocu­parei dos críti­cos à ela – não aos que criti­cam legit­i­ma­dos pela hon­esti­dade do debate de ideias, mas aos que criti­cam moti­va­dos pela manutenção dos próprios espaços, dos próprios nichos de poder, do que pen­sando no que inter­essa ao estado –, e apon­tam o ex-​governador como agente do antigo régime infil­trado den­tro das hostes comunistas.

Não deixa de ser engraçado esse tipo de ataque. Toda crítica é bem-​vinda.

Lem­bro que quando o ex-​governador rompeu com seu antigo grupo – depois lon­gos anos e afinidades que iam além da política –, muitos próceres da oposição diziam a mesma coisa: que não havia rompido coisa nen­huma, que a intenção dele era destruir o pro­jeto da oposição para que Sar­ney con­tin­u­asse a reinar no Maran­hão por mais muitos e muitos anos, talvez como na nov­ela, para além do tempo.

Mais de dez anos depois, após ser deci­sivo na eleição de dois gov­er­nadores oposi­cionistas, de ter sofrido perseguições que quase nen­hum dos ditos oposi­cionistas enfrentaram, con­strag­i­men­tos que poucos supor­tariam, ressurge a velha e sur­rada acusação de que o ex-​governador é um agente do Sar­ney e que esteve esses anos todos infil­trado no pro­jeto oposicionista.

Pro­jeto este que bem poucos sabem do que se trata.

Exceto pela eleição de 1994 – que a oposição gan­hou, mas não levou, como é fato público e notório –, as demais o grupo Sar­ney gan­hou. Per­dendo ape­nas a de 2006, para Jack­son Lago e a de 2014 para Flávio Dino. O pleito de 2010, não con­seguiram con­struir um pro­jeto de unidade mín­imo que pos­si­bil­i­tasse a vitória.

Ao resul­tado do pleito de 2010, sequer o con­tendores dire­tos (Lago e Dino), ousaram ques­tionar. Quem o con­testou foi o ex-​governador José Reinaldo que dis­putara a vaga de senador numa situ­ação, no mín­imo, atípica. Havendo duas vagas em dis­puta, a nossa val­orosa oposição, colo­cou três can­didatos fortes, Edson Vidi­gal, Roberto Rocha e ele. Ape­sar disso, quando todos diziam que o “sacanearam”, foi o único que resolveu meter a cara e ques­tionar a eleição da gov­er­nadora reeleita Roseana Sar­ney, em ação patroci­nada pelo meu escritório.

Voltando um pouco no tempo dos fatos, a eleição de Jack­son Lago, não há quem possa negar, con­tou com o apoio deci­sivo do ex-​governador José Reinaldo, tanto na estraté­gia (o lança­mento de três can­didatos), quanto na cos­tura dos apoios de agentes políti­cos, fos­sem prefeitos, fos­sem dep­uta­dos, fos­sem lid­er­anças sem mandato.

Só fal­tam aos teóri­cos da con­spir­ação diz­erem que o ex-​governador, de caso pen­sado, con­tribuiu para a cas­sação de Jack­son Lago.

A eleição de 2014 tam­bém é con­se­quên­cia da atu­ação do ex-​governador, que artic­u­lou com alguns prefeitos e lid­er­anças políti­cas, os votos necessários à eleição de Flávio Dino à Câmara Fed­eral, naquela eleição que sagrou Jack­son Lago, fazendo com que a par­tir 2007, ele se pro­je­tasse no cenário para pro­je­tos políti­cos futuros.

Claro que o atual gov­er­nador do Maran­hão não era um poste político – eu mesmo já o con­hecia de mil­itân­cia desde que cheguei a Ilha de São Luís, em 1985 –, mas difi­cil­mente iria pen­durar sua toga de juiz fed­eral (com amplas pos­si­bil­i­dade de ir bem mais longe na mag­i­s­tratura), sem a garan­tia de via­bil­i­dade de um pro­jeto político, de uma eleição incerta de dep­utado. O fiador foi o ex-​governador José Reinaldo.

Como disse ante­ri­or­mente, não con­heço as moti­vações (além do escrito) do ex-​governador para a proposi­tura de um pacto pelo Maran­hão. Tam­bém não refuto as crit­i­cas legit­i­mas e no campo das ideias à proposição feita. Ideias exis­tem para isso: para serem debati­das, con­tes­tadas. Somente os autoritários se opõem ao debate de ideias.

O que me oponho de forma sev­era é ao ataque chulo feito por cer­tas pes­soas que nunca enfi­aram um prego numa barra de sabão em favor do Maran­hão ou da oposição ao grupo Sar­ney – muito pelo con­trário –, sem­pre estiveram no bem bom, fosse que gov­erno fosse.

Estes, agora, tudo pronto e mesa posta, se acham no dire­ito de par­tir para agressão con­tra o ex-​governador, que nos últi­mos dez anos fez pela oposição ao grupo que domi­nou o o estado por quase cinquenta anos, o que muitos não fiz­eram nos últi­mos 40, 30, 20 anos e que, mais que os inter­esses do Maran­hão, defen­dem os seus próprios, ver­sa­dos que são na arte de adu­lar e de viverem às cus­tas dos contribuintes.

Muitos destes, usaram, abusaram e se lam­buzaram no gov­erno de Jack­son Lago – por isso mesmo o fiz­eram ruir bem antes da hora –, e pre­ten­dem fazer o mesmo no gov­erno de Flávio Dino, daí, man­terem, à soldo, crit­i­cas ao ex-​governador, sem levar em conta a sua imensa con­tribuição ao processo político e a con­quista do poder pelo grupo oposicionista.

Mas esse é um assunto para ser tratado noutra opor­tu­nidade, noutra pauta.

Acho que ideias podem e devem ser dis­cu­ti­das, pon­der­adas, mod­er­adas, sem que isso seja motivo de con­strang­i­mento a quem quer que seja. O processo político com­porta isso. O impor­tante é que se tenha uma pauta clara, trans­par­ente e que não admita inter­pre­tações dúbias, acor­dos de lesa pátria, con­chavos cor­rup­tos, sac­ri­fí­cios aos cidadãos.

O gov­er­nador pos­sui legit­im­i­dade para dialogar com quem quiser na defesa dos inter­esses do estado, foi eleito com larga maio­ria, pos­sui apoio de grande parcela da pop­u­lação, basta saber que é o man­datário e o con­du­tor da pauta.

Certo é que Maran­hão não pode con­tin­uar refém de inter­esses menores, de incom­pe­tentes e de des­on­estos que enri­cam à medida em que fazem o estado ficar mais pobre.

Enquanto esse dia não chega, respeitem o Zé.

Abdon Mar­inho é advogado.