PERÓLAS AOS PORCOS.
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- Criado: Sábado, 09 Maio 2015 22:48
- Escrito por Abdon Marinho
PERÓLAS AOS PORCOS.
Por opção, no ano 2000, decidi morar definitivamente em sítio adquirido dois anos antes na Estrada de Ribamar. São cerca de 34 km para ir de casa para o escritório, que, também, por opção e para fugir do tráfego, faço pelo roteiro mais distante. Assim, durante os cerca de quarenta minutos do trajeto, percorro as principais rodovias estaduais que cortam a ilha: MA’s 201, 204 e 203; acessando a avenida dos Holandeses, a Litorânea, Ferreira Gullar, até o escritório.
Em todos estes anos perdi as contas das vezes que vi essas rodovias, sobretudo, as MA’s, sendo restauradas, emendadas, consertadas. Parece que as obras são feitas (ou malfeitas), já com o claro propósito de durar o menor tempo possível. Só isso justificaria que durem tão pouco.
Este ano de 2015, não tem sido diferente, o inverno ainda não chegou ao fim e o que vemos são as vias estaduais (nem vamos falar nas de responsabilidades dos poderes municipais), pedirem socorro. A MA 201 (Estrada de Ribamar) ameaçando cortar em alguns pontos e ficando intransitável a cada chuva mais forte; a MA 204 foi alargada e recuperada no ano passado, não só uma, mas duas vezes, hoje as crateras fazem que que os motoristas arrisquem a vida ao dirigirem em zigue-zague para desviarem dos buracos, quase crateras que se formam. A mesma coisa acontece com a MA 202.
Já a MA 203 é um caso a parte. Um dos claros exemplos de desperdício de dinheiro público. Ano passado anunciaram com fanfarras a duplicação da referida em MA no trecho entre a Avenida dos Holandeses até a confluência com a MA 204. A obra, com recursos do ministério do turismo, foi orçada em 30 milhões de reais, o que representava a bagatela de 10 milhões de reais por quilômetro.
Cerca de um ano depois do inicio da obras, a duplicação encontra-se inconclusa e a parte que foi feita, com o asfalto cedendo em quase toda a extensão.
Tratamos diversas vezes deste obra, mostrando que não atendia as necessidade do tráfego, a qualidade da obra, o excesso de postes, o tipo de base, etc. Tudo que apontei está acontecendo hoje.
Não é que entenda de obra, longe disso, é que bastava um mínimo de bom senso, visão e um pouco de discernimento para perceber que o dinheiro público iria embora nas primeiras chuvas.
Dificilmente a recuperação da rodovia será satisfatória sem uma nova intervenção na base, no sistema de compactação, pois com tráfego pesado de ônibus e caminhões o asfalto vai voltar a ceder, como aliás já vem ocorrendo.
Ora, não faz nenhum sentido que uma obra que custou dez milhões por quilômetro não suporte um inverno.
Trata-se de um escárnio com a população que está deste o começo do ano e ficará ainda esse resto de mês trabalhando apenas para pagar impostos.
O exemplo citado acima não é uma exceção, é a regra, e mostra claramente o zelo dos governos com as obras públicas.
Temos uma obra cara, na capital do estado que se desmancha antes de ser inaugurada, antes, sequer, de colocarem todos os postes de iluminação (tudo bem, os postes são excessivos), por onde as autoridades costumam passar. A obra está se desmanchando sem que ninguém diga nada, como se isso fosse uma coisa normal.
Se na região metropolitana da capital a situação que se desenha é essa, no interior é bem pior.
Quando a governadora e seus secretários anunciaram entre 2013 e 2014 o investimento de bilhões de reais ligando por asfalto as sedes dos municípios e recuperação, urbanização de muitas cidades, alertei que estava em curso uma sangria bilionária dos cofres públicos, pois o corpo técnico estadual não teria condições de fiscalizar essas obras.
As obras seriam fiscalizadas pelos próprios empreiteiros, quando muito apareceria algum fiscal público quando a obra já estivesse pronta. Não tem como isso funcionar. Ninguém sabe como se faz a base das obras, qual a quantidade e o tipo de material que usam.
O resultado é esse que estamos vendo.
As noticias que nos chega do interior, a exemplo do que ocorre na região metropolitana é que, ressalvadas algumas exceções, as obras de asfaltamento de rodovias e de vias urbana, onde foram investidos bilhões, não têm resistido ao inverno, que este ano nem está tão intenso. Mais um prejuízo nas finanças, já combalidas, do Maranhão.
Essa tem sido a tônica nos últimos anos: gasta-se muito para resultado nenhum. Não tem havido preocupação dos gestores em fazerem obras com qualidade, que passem a gerações futuras.
A qualidade piora na mesma medida avançam os recursos tecnológicos. Vejam os exemplos desta duplicação, da Via Expressa, IV Centenário, todas, nem chegaram a ser entregues como devia e já precisam sofrer intervenção, emendas, recuperação. Vejam o exemplo do espigão da Ponta D’ Areia – inaugurado e apresentado como novo ponto turístico da capital –, totalmente tomado pela areia. Erro de projeto? Execução? A única coisa que sabemos é que a conta será do cidadão.
Ainda no começo do governo escrevi sobre a necessidade de contratarem uma auditoria externa para examinar tudo que foi feito no Maranhão nos últimos anos, principalmente com os recursos tomados de empréstimos que, pelo volume, daria para fazer grandes obras estruturais, entretanto o que estamos vendo é que serviu apenas para enricar alguns e deixar o povo na lama.
Abdon Marinho é advogado.