AbdonMarinho - CUIDADO, ALIADOS!
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

CUIDADO, ALIADOS!

CUIDADO, ALI­A­DOS!

Certa vez – já faz um tempo –, um prefeito recém eleito procurou-​me, que­ria tro­car algu­mas ideias sobre admin­is­tração, dizia que que­ria acer­tar, fazer um bom gov­erno, etc.

Lá pelas tan­tas, indaga: – Dr. Abdon, o que faço para acer­tar na minha administração?

Respondi-​lhe: – Escolha bem os aux­il­iares e fique atento aos aliados.

Retru­cou: – Não seria ficar atento aos adver­sários, doutor?

Com­pletei: – Não. Nem um opos­i­tor pode ser mais danoso a uma admin­is­tração que alguns ali­a­dos. Os opos­i­tores, pelo con­trário, estão do outro lado, apon­tando os erros, denun­ciando. Os ali­a­dos e aux­il­iares estão den­tro da admin­is­tração, come­tendo erros, fazendo negó­cios, ten­tando tirar alguma van­tagem. Se o ali­ado ou mau aux­il­iar é par­ente, muito pior, o pre­juízo à imagem do gestor e os prob­le­mas serão sem­pre maiores. Os ali­a­dos, até mais que os aux­il­iares, se acham cre­dores da vitória do eleito. Se con­tribuiu com um tostão, cobram um milhão.Portanto, meu amigo, faça seu gov­erno sem se pre­ocu­par tanto assim com a oposição, ela até pode ser bené­fica, mas não des­cuide dos seus ali­a­dos, estes sim, serão a razão de seus dissabores.

O tempo pas­sou e a con­vicção sobre este pen­sa­mento só se con­soli­dou. Quan­tas vezes não vi gestores amar­garem a impop­u­lar­i­dade ou fazer uma gestão pífia, graças à ação desas­trosa dos aux­il­iares ou à inter­venção inter­es­seira dos ali­a­dos? Quan­tos não entre­garam suas admin­is­trações dos mais ama­dos e sofr­eram por isso? Inúmeros. Daí a con­vicção que ali­a­dos são mais danosos às admin­is­trações que os opositores.

Durante os últi­mos doze anos o gov­erno fed­eral operou sem que a oposição lhe impor­tu­nasse com nada.

O grande prob­lema é mod­elo de gov­erno mon­tado pelo ex-​presidente Lula e pela pres­i­dente Dilma Rouss­eff, talvez seja o exem­plo mais per­feito do quão desas­trosa pode ser a junção da incom­petên­cia, inex­per­iên­cia, neg­ligên­cia e lotea­mento dos car­gos públi­cos. A situ­ação chegou a tal ponto que a pres­i­dente reeleita já chegou a anun­ciar que vai desmon­tar os nichos mon­ta­dos nos ministérios.

Emb­ora a cor­rupção seja uma car­ac­terís­tica indelével do estilo de gov­ernar dos atu­ais donos do poder, não resta dúvida que ela se tornou bem maior dev­ido à ação dos \\\«ali­a­dos\\\». Cada min­istério tornou-​se uma República inde­pen­dente nas mãos dos par­tidos e cada um cobrando por seus favores.

O gov­erno ao invés de se cer­car de homens público, pes­soas voltadas para defender os inter­esses do Estado, cercou-​se de uma arraia miúda pre­ocu­pada em defender os quin­hões par­tidários e os inter­esses dos par­tidos. Fiz­eram isso, claro, que seguindo o exem­plo do par­tido majoritário, o par­tido a quem foi con­fi­ado a guarda da República. Devem pen­sar: \\\«se eles que sofr­erão o des­gaste não se cansam de aprontar desati­nos, por que nós, ape­nas sócios do poder, não podemos aprontar?\\\». Este é o raciocínio que tem lev­ado o país a tanto descrédito.

Trazendo para nossa real­i­dade mais próx­ima, o exem­plo mais claro é o do prefeito da cap­i­tal. Vejam os ami­gos, que já esta­mos às por­tas do ter­ceiro ano de gov­er­nança e grade parte da sociedade ainda está com a impressão que o gov­erno não começou. Há uma espé­cie de vazio de poder. Isso quando de tempo útil, só se tem mais um ano. A par­tir de out­ubro de 2015, passa a imperar a lóg­ica per­versa de tudo pas­sar a girar em função da eleição do ano seguinte.

Não tenho qual­quer dúvida das boas intenções que pos­sui o prefeito. Acred­ito, pia­mente, que ele quer acer­tar, fazer o mel­hor pela cidade. Até por sua idade, pouco mais de trinta anos, não acred­ito que pre­tenda se aposen­tar da vida pública ao invés de gal­gar espaços mais ele­va­dos no cenário político. Ape­sar da força de von­tade, não há como escon­der que vem fazendo um gov­erno bem aquém das expec­ta­ti­vas. Claro, parte de suas difi­cul­dades pode ser cred­i­tada a crise pela qual passa os municí­pios brasileiros. Claro que pode ser cred­i­tada a falta de apoio de out­ras esfera de gov­erno. Entre­tanto, resta claro que grande parte se deve às difi­cul­dades de gestão. O prefeito for­mou uma equipe que não o tem aju­dado muito. Não se trata, nem de longe, de se dizer que há cor­rupção, quanto a isso não sabe­mos, mas de falta de ati­tude. As vezes, vendo de longe, fico com a impressão que de tanto terem medo de errar, acabam par­al­isa­dos e par­al­isando o governo.

Esque­cem que esta­mos numa cap­i­tal, com neces­si­dades mil, com prob­le­mas grandiosos a exi­girem rapi­dez, pre­sença da admin­is­tração, ousa­dia nas soluções, na cap­tação de recur­sos (ape­nas para se ter uma ideia há infor­mações que o gov­erno não vem arrecadando tudo que pode­ria ou cap­tando todos recur­sos junto aos gov­er­nos fed­eral e estadual).

Ape­sar de um mundo de exigên­cias, não faz muito, vi na página ini­cial da prefeitura, o prefeito inau­gu­rando reca­pea­mento de rua. Outro dia vi um com­er­cial de um serviço de drenagem a colo­cavam na vala escav­ada um cano bem semel­hantes a esses que usamos em casa. Me per­doem, mas essas ati­tudes pare­cem mais con­dizentes com pequenos municí­pios do inte­rior. A cap­i­tal pre­cisa de grandes obras de macro­drenagem, de vias urbanas que pos­si­bilitem o fluxo de veícu­los, de grandes hos­pi­tais (ninguém mais fala no novo hos­pi­tal de urgên­cia Dr. Jack­son Lago, prometido à exaustão na cam­panha), mod­ern­iza­ção do trans­porte (até a lic­i­tação está sendo feita na marra, se, de fato, sair), e muitas outras.

A cidade merece um gov­erno ousado, mod­erno, em sin­to­nia com os avanços tec­nológi­cos dos nos­sos dias, como, aliás, foi prometido.

A situ­ação chega a ser dramática quando vemos que até tendo tudo para deslan­char acaba sofrendo jus­tas críti­cas da população.

Um dos exem­p­los mais claros disso é a ben­dita obra de drenagem da Vila Luizão – por onde passo duas vezes ao dia. Trata-​se de uma obra cara – quase 17 mil­hões –, ban­cada pelo gov­erno fed­eral, necessária e urgente. O que faz a admin­is­tração? Não con­segue exe­cu­tar com rapi­dez, efi­ciên­cia, cau­sando enorme transtorno aos munícipes.

Não bas­tasse apan­har pelo que não faz, apanha tam­bém pelo que faz.

A exe­cução da obra, não sei como, ficou ao encargo de uma empresa que, até aqui, não tem mostrado a menor capaci­dade téc­nica, até parece uma empresa de fundo de quin­tal. Acho que já pas­sam de três meses e não con­seguiram pas­sar com as manil­has de drenagem pela Avenida dos Holan­deses, umas das mais impor­tantes e caras da cidade. Pior, a obra é de visível má qual­i­dade, não se vê uma boca de lobo, um poço de visita, a recom­posição do solo é sofrível, sem con­tar que o tempo, um serviço que sendo pes­simis­tas não levaria uma sem­ana, estão chegando aos noventa dias, se já não pas­saram disso. Todos os dias, pela manhã, pela tarde e noite a pop­u­lação demon­stra sua insat­is­fação, protesta e até xinga o prefeito. E ele está com sorte, se o inverno chegar e a obra con­tin­uar como está, vai ficar pior. Se é que pode pio­rar depois que morte e aci­dentes graves já foram registrados.

O prefeito caiu na velha espar­rela de que com­pan­heiros que servem para gan­har a eleição servem para gov­ernar. Nem sem­pre servem. Outra coisa que parece ter sido negli­cen­ci­ada, até aqui, é a vig­ilân­cia à infer­ên­cia dos aliados.

Os novos gov­er­nantes, que assumirão a par­tir de janeiro vin­douro, pre­cisam ficar aten­tos aos equívo­cos já cometi­dos. É a mel­hor forma de evitá-​los.

Abdon Mar­inho é advogado.