AbdonMarinho - A VERDADE TORTURANTE.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A VER­DADE TORTURANTE.

A VER­DADE TORTURANTE.

Passa do razoável a cam­panha que ali­a­dos, fun­cionários e a baju­ladores de plan­tão dos atu­ais inquili­nos do poder fazem con­tra os jor­nal­is­tas William Bon­ner e Patri­cia Poeta por conta da entre­vista que fiz­eram com a can­di­data Dilma. Tudo porque fiz­eram o que tinha de fazer, jornalismo.

As cam­pan­has que se espal­haram pelos veícu­los de comu­ni­cação alu­ga­dos, podem pesquisar, têm de tudo: Acusações de ven­di­dos, de capa­chos, tor­tu­radores, etc. Tudo que se imag­i­nar, esses sen­hores, que tam­bém se chamam jor­nal­is­tas, escreveram e difundi­ram nos blogues, jor­nais e redes soci­ais, con­tra seus supos­tos colegas.

Uma das peças difamatórias apre­sen­tava o jor­nal­ista como pres­i­dente, uma outra dizia que a pres­i­dente já enfrentara tor­tu­radores piores, um arti­c­ulista dócil ao gov­erno enx­er­gou um ódio indis­crim­i­nado à classe política.

Con­viver com a ver­dade deve ser uma tor­tura para os que fazem da men­tira um instru­mento de poder.

A entre­vista da can­di­data, feita em seu ambi­ente, já cri­aram uma grande van­tagem em relação aos seus adver­sários entre­vis­ta­dos ante­ri­or­mente e até o que foi entre­vis­tado depois. As per­gun­tas em nen­hum momento deixaram de ser de inter­esse público. O que tem demais se per­gun­tar sobre cor­rupção a uma can­di­data que vendeu a idéia que iria fax­i­nar essa praga do nosso meio, demi­tiu alguns min­istros apon­ta­dos por essa prática e nomeou out­ros do mesmo pron­tuário? O que tem demais se inda­gar sobre o toma lá da cá desta reta final de gov­erno quando até pre­sidiário indi­cou min­istro? O que tem demais se per­gun­tar sobre o eterno \«propin­oduto\» do DENIT que torna as obras viárias do Brasil umas das mais caras e de pior qual­i­dade do mundo? O que teria demais se inda­gar sobre o fato dos atu­ais inquili­nos do poder, quando na oposição, serem os maiores críti­cos da política da canal­hice, dos negó­cios escu­sos, das tro­cas de favores e agora serem seus mais ardorosos defen­sores? Pois é, nem per­gun­taram isso, nem com essa ênfase.

Não tinha razão, a pres­i­dente, para ter­giver­sar sobre esse tema — a menos que não tivesse e não tenha resposta -, a cor­rupção, no seu gov­erno é uma real­i­dade que se impõe desde o primeiro momento, é denun­ci­ada quase que todos os dias, e a ação da gestora é de leniên­cia. Todos que con­vivem com a política brasileira sabe as con­ver­sões que foram feitas para que se for­masse o arco de alianças que apóia sua reeleição.

Menos razão teve quando fugiu da resposta sobre o posi­ciona­mento do seu par­tido com relação a con­de­nação e prisão de seus líderes após jul­ga­dos pelo STF. A per­gunta era bem sim­ples, como ela se sen­tia diante da posição do par­tido em tratar como heróis aque­les cidadãos. Além de sim­ples, uma per­gunta per­ti­nente. Temos uma pres­i­dente da República, man­datária maior da nação, can­di­data a reeleição por um par­tido que hos­tiliza, agride e ataca a Corte maior do país. A per­gunta era essa, ninguém indagou sobre a decisão para que ela viesse dizer que, como pres­i­dente, não dis­cute decisão de outro poder.

Os jor­nal­is­tas fiz­eram, com a relação aos can­didatos, todos eles, foi confronta-​los com seus pron­tos fra­cos. Mostrar ao povo brasileiro essas ver­dades que a pro­pa­ganda ofi­cial e os pro­gra­mas eleitorais ten­tam mascarar.

O lin­chamento que se tenta fazer aos jor­nal­is­tas vai além do fato da can­di­data a reeleição e seus ali­a­dos não pos­suírem respostas para essas questões, o que é fato. Nen­hum tem nada a dizer sobre isso, por isso mesmo ten­tam intim­i­dar os profis­sion­ais, seja pelo achin­calhe na imprensa chapa-​branca que sobre­vive as cus­tas dos recur­sos públi­cos, seja através da própria fal­si­fi­cação das biografias destas pes­soas, como fiz­eram com a jor­nal­ista Miriam Leitão, de den­tro do próprio Palá­cio do Planalto.

Faz tempo que usam desta prática. A falta de respeito com as pes­soas é algo que os acom­panha desde que subi­ram ao poder e este as suas cabeças. Tra­bal­ham com a idéia de nunca mais deixarem o poder, fazendo o que ten­ham que fazer, aliando-​se até com o satanás, se servir aos seus propósitos.

Um fato a demon­strar isso, ocor­reu logo no primeiro ano do gov­erno Lula. Um grupo de dep­uta­dos, com serviços presta­dos ao Brasil, a frente Fer­nando Gabeira, foram a uma audiên­cia com o Sr. José Dirceu, então, uma espé­cie de primeiro-​ministro do Brasil, tão vai­doso e empavon­ado, que mudou a leg­is­lação para ser o min­istro mais impor­tante na hier­ar­quia. Pois bem, esse cidadão, do alto de sua arrogân­cia deu um \«chá-​de-​cadeira\», tão grande que o dep­utado Gabeira se can­sou de esperar e foi emb­ora. Isso já servia para mostrar o que vinha. Se ele fazia isso com a pes­soa que sac­ri­fi­cou a vida no episó­dio de seque­stro do embaix­ador amer­i­cano para tro­car por pri­sioneiros, entre os quais o então min­istro, o que não faria com os demais mor­tais. Dis­cuti muito esse episó­dio com um amigo jor­nal­ista já fale­cido. O que fiz­eram agora com a Mirian Leitão, outra jor­nal­ista que exper­i­men­tou os hor­rores da ditadura, fal­si­f­i­cando sua biografia para desqualificá-​la está em con­formi­dade com as ati­tudes que tomam desde o começo. O que fazem com os jor­nal­is­tas que entre­vis­taram a can­di­data Dilma em Palá­cio, por­tanto, até em situ­ação de van­tagem em relação aos demais can­didatos, é parte do roteiro de lin­charem moral­mente todos que con­tes­tam, ques­tionam ou que só fazem o seu papel de forma cor­reta, se con­traria seu pro­jeto de poder.

Decerto que se tivessem con­seguido criar o tal con­selho para reg­u­lar a mídia, inter­ferir nas pau­tas jor­nalís­ti­cas, esses e tan­tos out­ros que ousam questioná-​los seriam proibidos de tra­bal­har, exercer sua profis­são. A eles, como a todos os manía­cos pelo poder só servem os que dizem o que eles querem ouvir, os que lhes adu­lam e lhes tecem loas. A ver­dade, é o que eles acham que sejam ver­dade, o resto vira “tortura\».

O pen­sa­mento de pes­soas assim, pouco difere do pen­sa­mento dos rad­i­cais islâmi­cos que acabam de dego­lar um jor­nal­ista amer­i­cano. A difer­ença é que, por aqui, por enquanto, ainda se opera as dego­las morais.

Abdon Mar­inho é advogado.