AbdonMarinho - Líderes, liderados e conjuntura.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Líderes, lid­er­a­dos e conjuntura.


Líderes, lid­er­a­dos e con­jun­tura.

Por Abdon C. Marinho*.

AMI­GOS próx­i­mos dizem aguardar minha opinião sobre a polit­ica local diante da indi­cação do sen­hor Flávio Dino – até, então, um dos líderes incon­testes da política maran­hense –, para a vaga aberta no Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF com a aposen­ta­do­ria da min­is­tra Rosa Weber.

Essa não é uma análise fácil e difi­cil­mente ter-​se-​á uma resposta “preto no branco” para tal inda­gação.

Se amigo leitor espera uma resposta defin­i­tiva ou mesmo uma “fumac­inha” já pode ir tirando o cav­al­inho da chuva.

Acho que uma das primeiras análises a faz­er­mos é sobre a situ­ação do país.

O Brasil é hoje um país divi­dido e que se recusa a descer do palanque eleitoral.

A pop­u­lação ou pelo menos uma grande parte dela tornou-​se obcecada pelo debate politico – que nada tenho con­tra, registre-​se –, aproximando-​se, muito da irracionalidade.

Vou dar um exem­plo tolo, você abre uma matéria qual­quer sobre um assunto qual­quer, por assim dizer, triv­ial e basta olhar os comen­tários que lá você encon­tra, dos dois lados, refer­ên­cias ao Lula, ao Bol­sonaro.

Debate sobre o seca no nordeste ou a enchente no sul, apare­cem uma infinidade de “comen­taris­tas” dizendo que a culpa é de um ou do outro político.

Até nos famosos “gru­pos da família” você encon­tra esse tipo de debate ou de “enve­ne­na­mento” político.

Pior do que isso só mesmo a “cul­tura” do can­ce­la­mento.

O ator fulano de tal aparece no com­er­cial da marca tal, muito boa por sinal. Ah, mas na cam­panha eleitoral ele disse que o meu can­didato era isso ou aquilo, boicote total, ninguém com­pra mais da marca até que tirem o ator ou a atriz da cam­panha.

Por essas e por tan­tas out­ras tolices percebe-​se que o Brasil tornou-​se um país “doente”, enve­ne­nado pela política.

A esse con­texto ou, prin­ci­pal­mente, dev­ido a ele, deve­mos acres­cen­tar que o nosso con­ter­râ­neo hon­rado com a indi­cação, tornou-​se uma pes­soa con­tro­versa – e aqui não se faz qual­quer juízo de valor quanto aos posi­ciona­men­tos que o tornou “con­tro­ver­tido” –, a ponto de, pela primeira vez na história da República, a oposição fazer uma cam­panha pública, inclu­sive com man­i­fes­tações de rua em todas as cap­i­tais e/​ou grandes cen­tros urbanos con­tra uma indi­cação para o STF, e a pres­sionar por todos os meios, legí­ti­mos ou não, para que o Senado não aprove o seu nome.

Na história da República ape­nas uma vez, segundo con­sta, e, ainda, na chamada “República Velha” tive­mos uma recusa do Senado a uma indi­cação do pres­i­dente para o STF, assim mesmo sem a “cam­panha” orquestrada no seio da sociedade como se tem agora.

Mas, vive­mos tem­pos inédi­tos.

Essa deve ser uma segunda avali­ação.

Até que ponto a oposição terá força para recusar um nome indi­cado ao STF – ini­cial­mente, pen­sei que pas­sasse sem maiores alardes e margem ele­vadís­sima, até porque, como poucos, preenche os req­ui­si­tos con­sti­tu­cionais –, e, depois, até que ponto vai “vigiar” cada passo do novel min­istro?

É dizer, Dino aprovado e empos­sado min­istro STF con­tin­uará sendo vigiado 24 horas por dia, como, aliás, vem sendo out­ros min­istros da corte?

E, assim sendo, colo­cado na berlinda como “adver­sário” político do bol­sonar­ismo, não seria ten­ta­dor jogar “tudo pro alto” e voltar ao enfrenta­mento político?

Veja, aqui são digressões, por vezes, diva­gações. Como tais, per­mitem que façamos esses exer­cí­cios men­tais.

O plano de Dino – desde sem­pre –, foi ser pres­i­dente da República. Para isso, nos momen­tos de frag­ili­dade política do Lula e do petismo, colocou-​se na condição de inimigo número um do bol­sonar­ismo.

Que­ria esse pro­tag­o­nismo e seria um dos nomes a dis­putar con­tra o ex-​presidente Bol­sonaro se o ex-​presidente Lula não tivesse sido can­didato.

Eleito Lula, con­tin­uou no mesmo pro­tag­o­nismo de enfrenta­mento do bol­sonar­ismo no Min­istério da Justiça, tam­bém, na intenção de se “cred­i­bi­lizar”, como antag­o­nista de Bol­sonaro para suceder o Lula na dis­puta ao maior cargo da nação.

Como já dis­se­mos esse “pro­tag­o­nismo” atraiu dois sen­ti­men­tos: o ódio dos bol­sonar­is­tas e o ciúme dos lulis­tas.

A sua indi­cação para a Suprema Corte não desagradou ape­nas os opos­i­tores, a ponto de pro­moverem uma inédita cam­panha con­tra seu nome, mas, tam­bém, inúmeros ali­a­dos “de primeira hora” que o tinha na conta de um pos­sível quadro para suceder o Lula, em 2026 ou 2030.

Muitos destes ali­a­dos ficaram “ressen­ti­dos” com o fato dele (Dino) ter preferido seguir no bloco “eu comigo mesmo” para o Supremo.

Indi­cado ao cargo de min­istro e tendo que enfrentar uma inédita “pedreira” política até vestir a toga, Dino prom­e­teu que será seu último cargo – um casa­mento para a vida toda.

Faz todo sen­tido esse tipo de “com­pro­misso” pois ele foi um político (sem mandato, é ver­dade, não sei se fil­i­ado) que virou mag­istrado; um mag­istrado que virou político; e, agora, nova­mente, um político em vias de virar magistrado.

Caso não ocorra o impen­sável e ele se sagre min­istro do STF, alguns ques­tion­a­men­tos per­manecerão pre­sentes e vivos: o bol­sonar­ismo o man­terá na condição de “inimigo número um”, junto com o min­istro Alexan­dre de Moraes? Ele vai “aguen­tar” cal­ado todo tipo de dis­curso con­tra ele ou voltará para o embate político? Em quanto tempo?

Mesmo que fique as duas décadas no STF, com setenta e cinco anos e com os adver­sários fazendo sua cam­panha diu­tur­na­mente, não será estranho se ainda vier a dis­putar uma eleição pres­i­den­cial.

Como os ami­gos podem perce­ber, não se trata de uma análise de con­jun­tura fácil de se fazer. Depende de muitas var­iáveis: desde a saúde de Lula a dis­cussão de mandatos para min­istros do STF – que é debate que ocorre em vários países do mundo.

A Dino talvez seja mais “inter­es­sante” dizer que foi min­istro do STF do que dizer que aposentou-​se como min­istro do STF.

Em relação a política local é certo dizer que o din­ismo não se assenta numa estru­tura hier­ar­quizada – até existe uma certa ojer­iza em relação aos políti­cos tradi­cionais –, se assim fosse, bas­taria dizer que o “número dois” assumiria daqui pra frente.

A lig­ação do din­ismo é com o próprio Dino, mesmo aque­les, que, cer­ta­mente, teriam alguma influên­cia sobre ele, não se “can­di­datam” a sucedê-​lo ou insin­uam pos­suir tal desejo. Ainda que pos­suam não se man­i­fes­taram.

Querem ocu­par um espaço que não sabem se se encon­tra vazio ou não mas sem esse com­pro­misso da sucessão.

Orbitam em torno do din­ismo três par­tidos prin­ci­pais: o PSB, ao qual esteve (ou ainda estar fil­i­ado); o PCdoB, para onde foi quando retornou a política, em 2006; e o PT, par­tido onde mil­i­tou na primeira fase política e de onde nunca se afas­tou afe­ti­va­mente, basta dizer que em 2003, na esteira da eleição de Lula, no ano ante­rior, surgiu um movi­mento den­tro desse par­tido para fazer Dino can­didato a prefeito de São Luís em 2004, o movi­mento acabou por fra­cas­sar e o retorno de Dino à política, pelas mãos de Zé Reinaldo, só veio ocor­rer em 2006, quando se elegeu dep­utado fed­eral.

Para saber­mos o “impacto” da indi­cação de Dino para STF terá na política local, partindo do pres­su­posto que a mesma será con­fir­mada pelo Senado, como é nor­mal que ocorra, uma das primeiras questões a serem lev­an­tadas é a questão da “defin­i­tivi­dade”.

O que isso sig­nifica? Sig­nifica saber se ele estará de “fato e de dire­ito” fora da política para todo o sem­pre, sem qual­quer pre­ten­são de retorno, no curto, médio prazo ou mesmo depois de aposentar-​se, o que, nas regras atu­ais acon­te­cerá daqui a vinte anos.

Se a saída da política é defin­i­tiva e sem qual­quer chance de retorno, a “coisa” muda de figura.

Cada um dos políti­cos e mesmo os par­tidos, bus­carão out­ros pro­je­tos.

Sem a “defin­i­tivi­dade” resolvida, em torno de qual pro­jeto político o grupo se man­terá unido e coman­dado por quem?

A questão do “comando” é rel­e­vante e pre­cisa ser bem ajus­tada porque sem poder “dá pitaco”, exceto, muito reser­vado, have­ria rebe­liões diver­sas.

Uma das regras mais ele­mentares do jogo do poder é aquela que diz não haver espaço vazio na política ou, o velho “rei morto, rei posto”.

A saída de Dino do “jogo” movi­menta diver­sas pedras do xadrez.

Sem Dino no con­texto político e como “fiador” dos espaços políti­cos que seus ali­a­dos ocu­pam no poder estad­ual, que tipo de com­pro­mis­sos o atual gov­er­nador se sen­tirá “obri­gado” a man­ter? Outra, se vai man­ter. E, volta­mos a questão do comando, quem terá a “legit­im­i­dade” para cobrar?

É fato que o atual gov­er­nador e o seu entorno político se con­sol­i­daram como uma nova força política no estado inde­pen­dente de qual­quer apoio político do ante­ces­sor – as diver­sas “cos­turas” que fez e mesmo o apoio pop­u­lar que man­tém ape­sar da crise econômica que atrav­essa o estado, mostram isso.

Intra­muros e mesmo com Dino “ativo” na política, ali­a­dos próx­i­mos do ex e do atual gov­er­nador já dis­cu­tiam – ou defendiam –, uma rup­tura no pacto de poder que os man­tinham unidos antes da indi­cação.

Com Dino “ina­tivo”, qual será a estraté­gia: ten­tar assumir o comando total do grupo – e isso impli­caria em abrir mais espaços de poder –, ou “apos­tar” no seu ocaso? No caso da primeira hipótese, o din­ismo, sem Dino, aceitaria? E em que bases?

Exis­tem out­ras forças políti­cas à espre­ita do possa vir acontecer.

Existe um grupo de dire­ita no estado – muito emb­ora poucos saibam o que seja isso –, que cresceu e se con­soli­dou como opos­i­tores ao din­ismo – e que ficaram em segundo lugar nas eleições de 2022 –, con­tin­uará forte sem o prin­ci­pal antag­o­nista ou voltará à antiga expressão política?

Existe o grupo político vin­cu­lado ao senador Wev­er­ton Rocha que ficou em ter­ceiro lugar na última dis­puta de gov­erno – “her­dará” parte desse eleitorado din­ista a ponto de se via­bi­lizar para a próx­ima eleição majoritária como gov­er­nador ou para man­ter o cargo de senador?

Exis­tem ainda, à dire­ita e à esquerda, diver­sas forças e per­son­agens aguardando o próx­imo lance político para tirarem, para si, os mel­hores div­i­den­dos.

O tempo, em todo caso, é o sen­hor razão, é aguardar para con­ferir.

Ou, como dizia um antigo político maran­hense: quem viver verá.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado, escritor, cro­nista.