AbdonMarinho - A DEFESA DA DEMOCRACIA É COMPROMISSO DE TODOS - Parte 2.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A DEFESA DA DEMOC­RA­CIA É COM­PRO­MISSO DE TODOS — Parte 2.


A DEFESA DA DEMOC­RA­CIA É COM­PRO­MISSO DE TODOS — Parte 2.

Por Abdon C. Marinho.

MIL­HARES foram às ruas quando os comu­nistas chi­ne­ses der­rubaram o antigo gov­erno e assumi­ram o poder, mas nem todos os chi­ne­ses estavam na Praça da Paz Celes­tial saudando o ou fes­te­jando o gov­erno que se instalara;

Mil­hares foram às ruas quando os bolcheviques der­rubaram a monar­quia russa e insta­laram o régime comu­nista naquela nação – e depois a espal­hou pelos diver­sos países viz­in­hos para for­mar a União Soviética –, mas nem todos os rus­sos estavam na Praça Ver­melha apoiando o novo gov­erno e a todas as atro­ci­dades que vieram depois;

Mil­hares foram às ruas saudar o fas­cismo de Mus­solini, mas nem todos – muito menos a maio­ria dos ital­ianos ou mesmo dos romanos –, par­tic­i­param ou foram coniventes com a Mar­cha sobre Roma que obrigou antigo gov­erno a ceder e a levar os facis­tas ao poder na Itália no iní­cio do século passado;

Mil­hares de alemães foram as ruas saudar a ascen­são do nazismo na Ale­manha, mas nem todos os alemães par­tic­i­pavam ou apoiavam as pau­tas nazis­tas ou par­tic­i­pavam dos seus comí­cios no Reichsparteitags­gelände – local dos comí­cios do Ter­ceiro Reich, em Nurem­berg, Ale­manha.

Além dos qua­tro exem­p­los acima – nem tanto os dois primeiros cujo os regimes feu­dais os semi-​feudais ced­eram lugar dire­ta­mente às ditaduras comu­nistas –, poderíamos citar inúmeros out­ros exem­p­los ape­nas restri­tos ao oci­dente de fal­sos mes­sias alça­dos ao poder com as fal­sas promes­sas de lib­er­tar o povo e que acabaram por os levar a regimes dita­to­ri­ais e repres­sivos do que aque­les povos jamais pud­eram imag­i­nar.

Um exem­plo, Cuba, a querid­inha dos esquerdis­tas brasileiros, saudada como um paraíso na terra, com indi­cadores soci­ais e edu­ca­cionais ele­va­dos, mas que é uma ditadura repres­siva que impede as pes­soas até mesmo de pen­sar e expor sua liber­dade de pen­sa­mento ou de crítica política. Agora mesmo o régime cubano julga e con­dena cen­tena ou mil­hares de cidadãos porque estes protes­taram con­tra o gov­erno no ano pas­sado.

Um outro exem­plo, a Nicarágua. Quan­tos não saudaram a chamada Rev­olução San­din­ista no inciso dos anos oitenta, como prenún­cio da liber­dade de um povo mas­sacrado pela ditadura de Somoza.

E o que temos na Nicarágua hoje depois que líder Daniel Ortega pren­deu quase toda a oposição para gan­har as eleições? Temos uma ditadura que mas­sacra o povo, a divergên­cia e que, agora mesmo, prende, julga e con­dena a duras penas, pelo “pecado” de protestarem con­tra o régime diver­sos cidadãos, inclu­sive cléri­gos católi­cos.

O exem­plo, talvez, mais claro é o da Venezuela. Quan­tos não saudaram a chegada de Chávez ao poder como prenún­cio da lib­er­tação do povo venezue­lano da explo­ração dos con­glom­er­a­dos econômi­cos estrangeiros, dos gov­er­nos cor­rup­tos, etc? E o que temos hoje na Venezuela, em pouco mais de vinte anos desde que os chav­is­tas chegaram ao poder? Acho que tudo pode ser resum­ido numa frase: a destru­ição de uma nação.

O resto, a fome, à mis­éria, a pros­ti­tu­ição, a vio­lên­cia, o nar­cotrá­fico, etc., etc., são ape­nas fru­tos da destru­ição da nação.

Os ver­dadeiros democ­ratas não podem olhar para tais países e, por con­veniên­cia ide­ológ­ica ou afinidade política, dizer que tudo vai muito bem ou que se trata de assun­tos inter­nos de países estrangeiros para silen­cia­rem diante dos descal­abros.

Mas, voltando ao assunto do texto, durante muitos anos, enquanto estu­dava sobre o fas­cismo e o nazismo – o comu­nismo deixo de fora pelas razões expostas acima –, como os cidadãos ital­ianos e alemães se deixaram “seduzir” pelas pau­tas de Mus­solini e Hitler, sendo povos, há cem anos, tão evoluí­dos politi­ca­mente? Como per­mi­ti­ram que líderes abso­lu­ta­mente loucos lev­assem à destru­ição de suas nações e causassem tanto sofri­mento aos povos do mundo? Foram seduzi­dos com as promes­sas de grandezas de suas nações? Pelas promes­sas de riquezas para os seus povos?

Os livros de história e os doc­u­men­tários diver­sos nar­ram as ascen­sões do fas­cismo, na Itália e do nazismo, na Ale­manha. Ori­gens, méto­dos, fun­da­men­tos, podem até diver­girem, mas numa coisa se igualam: a uti­liza­ção dos mecan­is­mos da democ­ra­cia para destru­ição da própria democ­ra­cia.

Um argu­mento e uma imagem é comum a ambos: que falam em nome do povo e exibem ima­gens de seus atos políti­cos, como se ali, naque­les even­tos, estivessem toda a pop­u­lação do pais – ou mesmo que estivessem –, que suas pau­tas eram jus­tas, cor­re­tas, hon­es­tas e não ape­nas a busca do poder pelo poder.

Merece estu­dos soci­ológi­cos – e depois históri­cos –, a atual quadra política brasileira.

Com cem anos decor­ri­dos desde a mar­cha sobre Roma empreen­dida por Mus­solini, e pouco menos que isso, desde que Hitler e seus nazis­tas ascen­deram ao poder na Ale­manha, valendo-​se da frag­ili­dade e dos mecan­is­mos democráti­cos da República Weimar, os fatos que ocor­rem no Brasil talvez não expliquem, mas, cer­ta­mente, aju­darão a enten­der o ocor­rido naque­las nações.

Imag­inem que cem anos depois, com todo pro­gresso cien­tí­fico, tec­nológico e de comu­ni­cação, temos um líder político exercendo mandatos con­sec­u­tivos há quase trinta anos, sem nunca ter erguido a voz uma única vez em defesa da liber­dade – ao con­trário disso, sem­pre teve um com­por­ta­mento em defesa da ditadura mil­i­tar, de tor­tu­radores, con­tra as mino­rias, etc., e tal –, que agora (somente agora) diz estar numa “cruzada” con­tra os que querem acabar com a liber­dade do povo – e grande parte da sociedade, que se diz con­sciente e esclare­cida, porque sabe uti­lizar o What­sApp, acred­ita.

Imag­inem que tem um líder que fala que acabou com a cor­rupção no gov­erno. Mas, nunca, em tempo algum, tive­mos tanta cor­rupção, até mesmo no seio da família deste líder, grande parte dela insti­tu­cional­izada através de vários mecan­is­mos – mas o povo, tão esclare­cido por saber aces­sar as redes soci­ais, acha que está tudo certo, que o que vale é ape­nas impedir que os cor­rup­tos de out­rora voltem à cena do crime, para os da atu­al­i­dade tudo está muito bem, ainda que grande parte deles sejam ori­un­dos do antigo régime.

Resta-​me a impressão de que as pes­soas são ou estão dis­postas a acred­itarem em qual­quer coisa que lhes digam ou aceitar como qual­i­dades os defeitos de quem admira.

Uma última prova disso é o que teste­munhamos no último Sete de Setem­bro.

Mil­hares de pes­soas reunidas na Praça dos Três Poderes, na cap­i­tal da República, para fes­te­jar a Inde­pendên­cia do Brasil, não uma inde­pendên­cia qual­quer, mas “data cheia” do bicen­tenário.

Era mil­hares pes­soas vesti­das com as cores nacionais – talvez cen­te­nas de mil­hares –, famílias inteiras, idosos, jovens, cri­anças, cidadãos que pro­fes­sam os diver­sos credo reli­giosos, mil­hares para saudar à Pátria, mas, mil­hares deles, para engrossar as fileiras do “seu líder”.

E o que era para ser um ato cívico de saudação à pátria, tornou-​se um comí­cio político/​eleitoral à vista de todos, de reli­giosos, de mil­itares (até gen­erais), das famílias brasileiras, das del­e­gações estrangeiras que vieram pres­ti­giar o aniver­sário da nação – bem pou­cas na ver­dade, ape­nas o pres­i­dente de Por­tu­gal, Marcelo Rebelo de Sousa, além de out­ras autori­dades estrangeiras, como José Maria Neves, pres­i­dente de Cabo Verde; gen­eral Umaro Sis­soco Embaló, pres­i­dente da Guiné-​Bissau; doutor Zacarias Albano da Costa, secretário-​executivo da Comu­nidade de Países de Lín­gua Por­tuguesa (CPLP) e Con­stan­tino Alberto Bacela, min­istro de Moçam­bique para Assun­tos da Casa Civil.

Não bas­tasse a baix­eza de se trans­for­mar a data mais impor­tante da nação – que por sua importân­cia dev­e­ria ser posta acima de tudo –, evento político/​eleitoral, os pre­sentes ainda tiveram que ouvir um dis­curso de cam­panha indigno até mesmo de ser feito por o mais reles dos can­didatos a vereador em quais­quer cafundós do país, cujo o “ponto alto” ou seria o “ponto baixo”, em qual­quer escala de grandeza, foi o chefe da nação “puxar um coro” de que seria “imbrochável” – termo que muito emb­ora os dicionários cul­tos descon­heçam –, sabe­mos do que se trata.

Lá estava o chefe da nação, no dia ímpar da pátria, pro­movendo tal espetáculo, para cri­anças, jovens, idosos, sen­ho­ras, pes­soas de diver­sos cre­dos reli­giosos e que inte­gram o que chamam de a “família cristã” brasileira.

Lá estavam sol­da­dos e gen­erais assistindo ao avil­ta­mento da pátria.

Ninguém protestou – durante ou depois –, no máx­imo, silen­cia­ram e deixaram de respon­der ao coro de “imbrochável”, como fiz­eram mil­hares de out­ros.

Imag­ino que Mus­solini e Hitler, mesmo no auge de suas lou­curas, nos seus ensande­ci­dos dis­cur­sos mega­lô­manos, nunca ousaram tanto.

E no Brasil? Alguma vez nestes duzen­tos anos de inde­pendên­cia do Brasil assis­ti­mos a maior desre­speito a nação?

Acred­ito que não.

Mas, se esta­mos dis­pos­tos a fin­gir que nada acon­te­ceu, aplaudir, apoiar para que con­tinue assim, talvez não ten­hamos do que recla­mar no futuro.

Abdon C. Mar­inho é advogado.