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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

SOBRE ROUBOS E OUTROS MALES.

Há um dito recorrente de que não se deve falar em corda e casa de enforcado. O  senador Sarney parece tê-lo esquecido ao fazer editar na capa do jornal de sua família o artigo “O roubo dos personagens”, creditando como inspiração artigo com o mesmo título de autoria de Erasmo Dias e publicado na revista A Ilha lá por meados dos século passado.

Digo que fala em corda em casa de enforcado por abordar o tema “roubo\" justamente quando a mídia nacional aponta a sua filha, ex-governadora do Maranhão, como beneficiaria do “trem-pagador” da propina montado na estrutura do governo federal, e que, de tão frequentes, mais parece um suporte de papel-toalha ou aquelas caixas de lenços, onde você puxa um e o outro já fica na espera. 

A governadora, diz a mídia nacional,  recebia seus mimos dentro dos aposentos solenes do Palácio dos Leões,  conforme, anotada  no “livro-caixa” do pagador que agia com o cuidado e com a precisão de um bancário. Decerto que não foi a única, primeira ou última. Apenas, a que costa anotada, registrada, com dia, horário, recebedor e valor. 

Outro “roubo\" por assim dizer diz respeito ao tratamento dado pelos meios de comunicação da família do senador à noticia. O mesmo jornal que publicou “O roubo dos personagens”, roubou dos leitores o direito ao conhecimento da informação que já circulava a nível nacional desde a madrugada de sábado. 

Para  jornal, rádios, canais de TV, a internet e a rede de blogues  a informação dando conta que aquela que durante quatro mandatos conduziu os destinos do estado teria recebido uma módica propina (módica para os padrões brasileiros) de R$ 900 mil reais em pleno palácio, durante um dia normal de expediente, não é notícia. Não a ponto de merecer qualquer destaque. Se alguém tratou do assunto foi de tal forma discreta que não deu para perceber. Se isso não é notícia digna de manchete, desconfio não saber o seja. Este caso, não comporta outra palavra, como apropriação, neste caso, deu-se mesmo o “roubo\",  com boa vontade, talvez se possa dizer que houve o \"furto\" da informação de milhares de assinantes, leitores, telespectadores e ouvintes.    

Voltando ao artigo, no seu texto o senador reclama de suposta apropriação dos seus pensamentos, frases e iniciativas. Busca na memória frases feitas e até lugares comuns como “desenvolvimento com justiça social”, para trazer a baila que seria o autor das políticas sociais implantadas no Brasil. 

Não se está aqui, de forma alguma, a desconhecer que o seu governo foi o autor de algumas políticas assistencialistas, como o programa do leite – mas fez isso até para fugir dos índices escorchantes da inflação do seu governo – uma espécie de “cala boca” oferecido aos  menos favorecidos.

As grandes conquistas que tivermos e que o senador tenta se apropriar, foram conquistas nascidas dos debate para elaboração da Constituição Federal promulgada em 1988. Conquistas essas que o senador, quando presidente, dizia que tornariam o país ingovernável. Discurso, aliás, repetido aqui e ali, de forma oportunista. As conquistas sociais contidas na Carta se deram após grandes lutas. Se uma ou outra surgiram antes, essas se deram por conta dos compromissos assumidos para garantir a vitória da chapa Tancredo/Sarney no Colégio Eleitoral e não por iniciativa deste último que herdara o mandato após o trágico falecimento do presidente eleito. 

O empenho do senador durante os debates, se houve, foi em sentido contrário.

Não é demais lembrar que o movimento chamado “Centrão”, durante a Assembleia Nacional Constituinte, se formou e foi alimentado pelo governismo na tentativa de reduzir ou limitar os avanços sociais e as conquistas dos trabalhadores. 

Outro dado que não podemos esquecer é que a base governista do presidente e senador Sarney passou grande parte do tempo, naqueles anos, tentando negociar o quinto ano de mandato. Quinto ano que o senador afirma ter sido uma concessão sua, pois teria direito a seis nos termos da ordem constitucional anterior.  Mas, que o Brasil inteiro sabe, que concessão mesmo foram as de rádio e tv, distribuídas a rodo para garantir mais um ano de mandato, sem falar nos diversos outros tipos de favores que possibilitaram esticar o mandato apesar da corrupção galopante, da inflação nas alturas e da economia em  frangalhos e da população inteira ansiosa por iniciar um novo ciclo político. É desta época, aliás,  o decreto presidencial que anistiou todos os roubos ocorridos no seu e nos governos anteriores, permitindo a repatriação de recursos sem necessidade de declarar a origem, bastando que  se pagasse sobre o montante dos furtos, o imposto devido. O Brasil, até aquela época, oficializava o maior esquema de lavagem de dinheiro que se teve notícia. Lavou-se montanhas de recursos vindo do tráfico, da corrupção, etc. 

Há que se reconhecer que os governos que sucederam o missivista dominical se apropriaram de muitas cosias do governo Sarney, como por exemplo a relação de toma lá dá cá inaugurado, no período democrático, com a compra do quinto ano de mandato ou a corrupção desenfreada e diversos outros vícios. A corrupção naquele período só perde – e perde feio –, para o governo dos seus atuais aliados, que tornaram a corrupção uma política de Estado. 

Se o senador acha que os atuais inquilinos do poder se apropriaram de algumas ideias e iniciativas suas, com mais razão haverá de reconhecer que se apropriaram e aprimoraram tudo que já se sabia sobre corrupção, roubos, desfalques, bandalheiras e outros males surgidos durante o seu período de governo.

Abdon Marinho é advogado.