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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

O BRASIL ACIMA DE TODOS. 

Por Abdon Marinho.

TRATAREMOS hoje do assunto mais importante da semana que findou. 

Não falo do fato de, mais uma vez, um ministro da Suprema Corte do Brasil nos brindar com um entendimento já rechaçado não uma, não duas, não três, mas mais oito vezes pelo colegiado que compõe.

Não falo do voto brilhante – porém sofismático de um outro ministro da mesma Suprema Corte –, para acabar de vez com operação Lava Jato, e devolver ao país o sentimento de que o roubar muito compensa. 

Estes assuntos serão tratados e esmiuçados a posteriori, no tempo que sua relevância clamar.

O assunto mais importante desta semana – e não abro parênteses para dizer que é “na minha opinião” ou ao “meu sentir” –, é que o Brasil confirmou o bordão do seu atual mandatário: Brasil acima de todos. 

Foi nesta semana que findou que o país ultrapassou os Estados Unidos em número de morte diárias pela pandemia e o superou, também, na média móvel de casos e de mortes. 

E, para o desespero das pessoas que sabem fazer contas, vamos ultrapassar os americanos em número absoluto de mortos daqui a pouco tempo, pois, enquanto eles começam a reduzir os seus casos graças ao distanciamento social e vacinação em massa – mais cem milhões desde que começaram a vacinar e têm em estoque 600 milhões de doses –, por aqui as autoridades ainda não se entenderam sobre o que fazer e a vacina ainda é um sonho de consumo, objeto de denúncias de “fura fila”, contrabando e tudo mais que atesta o nosso vexame global. 

A tragédia que acomete o Brasil, não peço desculpas aos que pensam diferente, é a nossa principal pauta e deveriam ser a preocupação de todas as autoridades.

Discussões sobre se o atual presidente renova o mandato, se o ex-presidente e ex-condenado tem chances de vencer, se os políticos do denominado centro poderão crescer, não passam de um acinte ao sofrimento de milhares de brasileiros que perderam e estão perdendo seus entes queridos, uma grande parte deles por culpa das autoridades federais, estaduais e até municipais. 

Já estão morrendo de COVID no país mais do que os minutos que têm os dias – aliás, quase o dobro, enquanto o dia tem 1440 minutos, mais de duas mil vidas são perdidas diariamente –, em um ritmo cada vez mais crescente.

A situação é de tal forma preocupante que até a Venezuela (ora, vejam!), teve que nos socorrer, outro dia, com fornecimento de oxigênio para diminuir a tragédia humanitária que ocorria em Manaus, Amazonas. 

Tragédias de igual quilate e até mais ampla já principiam em diversos cantos do país. 

As pessoas já começaram a morrer por falta de UTI’s; a rede médica de todo o país corre o risco de entrar em colapso – alguns profissionais de saúde, estes milhares de heróis que estão há mais de um ano na linha de frente, dizem que a rede colapsou. 

Em algum momento da nossa história teremos que ajustar as contas com os governantes. 

Não que sejam culpados pelo surgimento do vírus, mas porque colocaram os seus interesses pessoais e políticos à frente da vida dos cidadãos administrados. 

Não existem inocentes nessa história. Do presidente ao prefeito, do senador ao vereador, todos terão contas a ajustar com a sociedade. Os que não cumpriram com o seu dever, os que desviaram o dinheiro da saúde, os que se omitiram. 

Como chegamos a esse ponto? Como viramos um pária diante dos países do mundo? Como nos tornamos uma ameaça global?

Podemos dizer que começou quando colocaram o vírus na condição da cabo eleitoral dos políticos brasileiros. 

Todos eles, querendo tirar uma “casquinha” do vírus para os seus projetos políticos pessoais. 

A situação se agravou quando fizeram pouco caso da pandemia.

Chegou ao ápice, quando, por conta das duas primeiras, não fizeram “o dever de casa”, não decretaram o isolamento social, não fizeram o lockdown, não foram atrás de desenvolver ou de comprar vacinas e/ou insumos. 

Fizeram tudo ao contrário do que era recomendado e, pior, brigando publicamente sobre tudo, não no interesse da população, mas dos seus próprios interesses. 

Outro dia falava com um amigo e citávamos o exemplo de dentro de casa. 

Todos sabemos a consequência danosa para os filhos quando os pais não se entendem sobre a sua educação ou a administração do lar; quando um diz para fazer uma coisa e outro diz para fazer o oposto. 

Assim como os filhos, a população, por não saber que orientação seguir, acabará por fazer aquilo que lhe é mais confortável, ainda que depois sofram as consequências disso. 

Em março do ano passado, no início da pandemia, alertava justamente sobre isso. Sobre a necessidade de termos orientações claras e uniformes sobre os passos a serem dados para o enfrentamento da pandemia. 

E não era muito difícil, embora tudo fosse novo, noutros países a pandemia chegou antes. E, errando ou acertando, aqueles países estavam fazendo o enfrentamento primeiro. 

Para os que estavam, por assim dizer, “assistindo”, ao menos em tese, era mais fácil. 

Aqui as autoridades acharam que éramos um “mundo parte” e cada um foi fazer aquilo que achava que era o certo, no seu interesse, e sabotar o que vinha fazendo os demais. 

Existem dois exemplos que sempre cito: o exemplo da Nova Zelândia e a comparação entre Suécia, Noruega e Finlândia. 

Em um ano de pandemia morreram na Nova Zelândia por conta da COVID, 23 pessoas. Vão dizer: mas lá é isolado, é o fim do mundo, tem apenas 5 milhões de habitantes. 

Tudo isso é verdade, mas 23 pessoas é menos do estão morrendo no Brasil a cada quarto de hora. Ou seja, a cada 15 minutos morrem no Brasil, por conta da pandemia, mais do que a aquele país da Oceania perdeu ao longo de um ano inteiro pela mesma tragédia. 

Na Nova Zelândia o governo assumiu a responsabilidade pela condução da crise, disse como fariam e pelo tempo que fariam, o resulto é o exposto acima. 

No caso dos três países escandinavos, formados pelo mesmo povo, com o mesmo clima, mesmas condições econômicas, deu-se o seguinte: enquanto a Suécia, no primeiro momento, optou por deixar o vírus espalhar-se para alcançar a imunidade de rebanho, os seus vizinhos, um de um lado e outro, adotaram medidas de distanciamento, lockdown, etc.

O resultado alcançado pelos três países diz muito: enquanto a Suécia registra mais de 13 mil mortos, a Noruega não chegou a 700 mortos e a Finlândia menos de 800 mortos. 

Ainda que digam que a Suécia possui, em termos populacionais, a soma de habitantes dos dois países, os números de vidas salvas falam por si. 

No Brasil, para o enfrentamento da pandemia, não tivemos governo. Na verdade, tivemos um desgoverno, onde à presidência da República ou mesmo o Ministério da Saúde, nunca assumiram o controle ou a responsabilidade da situação. 

Necessário registrar que não assumiram porque não tinham um plano de enfrentamento da pandemia. 

O que o presidente da República queria era adotar o modelo sueco, ou seja, vida normal com isolamento vertical. 

Foi contra esse modelo de enfrentamento que partidos foram ao STF e lá decidiu-se que estados e municípios poderiam atual de forma concorrente a União, adotando suas medidas de isolamento.

É essa  decisão – que nunca eximiu a responsabilidade do governo central –, que os governistas e seus aliados utilizam para dizerem que o governo federal foi “impedido” de combater a pandemia e  jogar a responsabilidade para os outros – argumento desmentido diversas vezes. 

O certo é que com políticas de isolamento “de faz de conta”, com o próprio presidente – ainda hoje –, fazendo campanha “contra”, chegamos a tragédia da atualidade. 

Fico imaginando quantas vidas mais não teriam sido perdidas se nem isso tivesse sido feito ou se tivéssemos “apostado” na imunização de rebanho e no isolamento vertical proposto. 

Talvez o exemplo sueco, em comparação aos seus vizinhos, seja um parâmetro. 

Uma outra prova de “desgoverno” é a falta de vacinas para combater o vírus. 

O governo federal, com o presidente à frente, sempre satanizou a vacinação, tanto que só fez contrato prévio com uma fornecedora, e aderiu com cota mínima ao consórcio global, enquanto politizava a vacina do consórcio Butantan/Sinovac. Até ordens expressas para não comprar a vacina chinesa foram dadas ao ministro, especialista em logística que disse: — é assim: um manda e outro obedece. 

Os áudios, vídeos e textos, estão aí para comprovar tudo que se disse contra a vacina “chinesa” e a própria China. 

Agora, que se deram conta que sem vacinação não iremos sair da tragédia,  se humilham e imploram por vacinas e insumos à China e a outros países. 

A “sorte” do Brasil é que os países que agiram presteza eficiência no combate à pandemia, não tardarão a concluir a vacinação de seus cidadãos. 

O que aumentará a oferta de vacinas no mercado. 

Outra “sorte” é que, apesar de tudo, nossos laboratórios não tardarão a produzir as vacinas necessárias a imunização da população. 

O que vivemos agora é uma corrida contra o tempo. 

Enquanto os Estados Unidos informam que até maio a população adulta já estará vacinada, por aqui, segundo próprio presidente, a expectativa é que isso ocorra no final do ano. 

A pergunta que se faz é: o que faremos até lá? Ou, quantas vidas serão perdidas pela ineficácia do governo?

O que nos resta fazer é erguer-nos em preces, pois Deus está acima de tudo. 

Abdon Marinho é advogado.