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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Terça-feira, 26 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho


SENHOR PRESIDENTE, BRINCADEIRA TEM HORA.

Por Abdon Marinho.

O CAPITÃO Bolsonaro ainda envergonhava o Exército Brasileiro quando, em 1986, o cantor Zeca Pagodinho lançou o samba “Brincadeira tem hora”. 

O samba, depois de tantos anos ainda é dos mais pedidos e anima as rodas nas noites do Rio de Janeiro e, também, Brasil a fora.

A despeito de ter feito “carreira” naquele estado e já passados trinta e cinco anos deste então, quer nos parecer que o senhor Bolsonaro nunca aprendeu a letra do samba ou, se lhe representa um grande esforço mental, poderia ter decorado ao menos o refrão, que diz: “Brincadeira tem hora/Brincadeira tem hora/Brincadeira tem hora/Brincadeira tem hora”. 

Vamos combinar que não é algo tão difícil de se aprender ou mesmo de decorar. 

Mas, vamos lá, caso não tenha “aprendido” o refrão do samba carioca poderia se inspirar no que ensina o Eclesiastes: “Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de abraçar e tempo de afastar-se; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz”.

Faço essas considerações iniciais para assentar que o presidente da República parece-nos não possuir a menor dimensão ou responsabilidade com o cargo que ocupa e age, na verdade, como se tudo fosse uma imensa brincadeira ou com a maturidade de uma criança de cinco anos ou como portador de retardo mental. 

Nestes dois anos em que está presidente já proferiu os maiores absurdos, tanto para o grupinho de aliados dispostos a bater palmas para qualquer sandice, seja pelas redes sociais ou mesmo nos fóruns internacionais, desmerecendo o bom nome do Brasil perante o mundo.

Vejamos o caso da pandemia. 

Quantas loucuras não já foram proferidas pelo presidente, seja pela falta de empatia pelas vítimas ou seus familiares, seja pelas diversas “campanhas” contra as recomendações de distanciamento social, uso de máscaras, etc., ou pela recomendação de tratamentos refutados por cientistas do mundo inteiro? 

Sua excelência parece não se dar conta que é o presidente da República e que as suas palavras ou atitudes têm um peso diferenciado para milhões de brasileiros. E muitos desses brasileiros por seguirem suas orientações têm sofrido, inclusive com prejuízo da própria vida ou da sua saúde.

O presidente não pode dizer alguma coisa, sobretudo, para outros chefes de Estado e ser desmentido por suas atitudes logo em seguida. 

Tivemos uma prova disso na última semana. 

O presidente fez um discurso perante a cúpula global de meio ambiente convocada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. 

Segundo analistas até que o discurso foi razoável e mesmo equilibrado. Comprometeu-se com a causa, etcetera e tal. 

O único senão foi ter aproveitado o discurso para “passar a sacolinha”. 

Muito embora esteja implícito que todos devem contribuir com o meio ambiente, não “fica bonito” um presidente da República pedir dinheiro a outros países, empresas ou mesmos pessoas para cuidar de seus assuntos internos. 

Mas o problema maior da “falação” de sua excelência foi o que veio depois. 

No mesmo dia em que se comprometeu com a causa do meio ambiente, o presidente cortou no orçamento a verba destinada a fiscalização. 

Sem contar que dias antes o seu ministro “anti-meio-ambiente” foi representado por um delegado da Polícia Federal por, supostamente, está sabotando investigações contra os desmatadores, bem como, fazendo “advocacia administrativa” a favor daquela turma. 

Para “coroar” a performance perante o mundo o governo ao invés de dar uma resposta cabal à grave acusação do delegado contra um ministro do governo, demitiu o delegado do cargo de superintendente. 

E, agora mesmo, o delegado denunciou, no Congresso Nacional, a situação envolvendo o ministro anti-ambiental e na imprensa, uma suposta “operação” para demiti-lo do cargo efetivo. 

O presidente da República, o governo que se comprometera perante o mundo com metas ambientais, não diz nada sobre fatos de tamanha gravidade. 

Será que desconhecem que o mundo está de olho para tudo que acontece no Brasil? Será que pensam que o mundo não está vendo, nas palavras do ministro, “passar a boiada”?

A situação toda parece uma brincadeira de mau gosto. 

O pior – por enquanto, pois todo dia temos uma surpresa –, estava por vir.

Apesar de todas maluquices já proferidas pelo presidente ao longo do último ano por conta da  pandemia – e tem frase para todos os maus gostos: o (vírus) superdimensionado;  “gripezinha”;  “Brasileiro pula em esgoto e não acontece nada”; “não sou coveiro”; “E daí, quer que eu faça o que?; “A gente lamenta todos os mortos, mas é o destino de todo mundo”; “É como uma chuva, vai atingir você”; “País de maricas”; “Se tomar vacina e virar jacaré não tenho nada a ver com isso” –, o chefe da nação não cansa de “brincar” com a paciência dos brasileiros.

No último fim de semana recebi a fotografia que ilustra este texto mostrando o presidente da República e alguns dos seus ministros – merecendo destaque o da saúde e o da educação (este sem máscara –, rindo enquanto segura uma fotografia ampliada de um CPF grafado com CANCELADO. 

A primeira coisa que me veio à cabeça, vendo rapidamente a imagem, foi que se tratava de uma montagem; ou que era algo antigo. 

Olhando mais detidamente e me informando sobre o assunto, fiquei sabendo que a foto era “do dia”, não se tratava de uma montagem, ou qualquer outra coisa. 

O presidente estava mesmo lá com aquela chusma de puxa-sacos que acha cheirosa a flatulência de autoridades posando com o CPF CANCELADO. 

Fico chocado a ausência de alguma pessoa com um mínimo de lucidez para impedir ou pelo menos para dizer: “— Presidente, respeite o cargo que ocupa. Esse tipo de coisa não lhe comporta fazer”.

Não aparece ninguém.

Na melhor das hipóteses, ao aparecer e “posar” com o CPF CANCELADO do programa policialesco que visitou, é como se o presidente da República estivesse, implicitamente, concordando com a eliminação de bandidos por justiceiros, milicianos ou mesmo por policiais em situação de confronto ou nos casos de “atire antes, pergunte depois”. 

Um cidadão comum pode até fazer “graça” com isso; externar publicamente que bandido bom é bandido morto, e todas essas coisas.

O presidente da República não pode! 

Ele é o chefe da nação, tem que acreditar nas leis, nas instituições republicanas, das quais ele é o primeiro servidor. 

Pois é, na melhor das hipóteses o presidente da República estaria apenas “estimulando” contrariamente às suas funções que CPF’s sejam cancelados. 

Noutra hipótese, essa bem mais grave, o fato do presidente aparecer posando com o CPF CANCELADO é como se estivesse escarnecendo dos quase quatrocentos mil brasileiros mortos pela pandemia, muitos destes mortos, destes quase 400 mil CPF’s cancelados, por obra e graça  do seu governo, muitos por sua culpa direta. 

Senhor presidente, o momento não comporta esse tipo de coisa, esse tipo de brincadeira. 

O momento exige respeito aos milhares de brasileiros que perderam a vida, aos seus familiares e amigos.

Existe tempo para tudo, conforme ensina o Eclesiastes.

Senhor presidente, brincadeira tem hora. 

Abdon Marinho é advogado.