AbdonMarinho - A CULTURA DA DISCÓRDIA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A CUL­TURA DA DISCÓRDIA.

A CUL­TURA DA DISCÓRDIA.

A pasta da cul­tura, tanto Maran­hão quanto em São Luís, desde o tempo que minha memória alcança, nunca foi fácil. Sem­pre gerou con­fli­tos entre as mais diver­sas forças que vivem e fazem girar suas expressões. Ora, dizem que um tit­u­lar priv­i­le­gia um ou outro grupo e por aí vai.

Essa pro­funda divergên­cia talvez explique o fato de um estado com tanta diver­si­dade cul­tural não con­siga ser uma refer­ên­cia para o Brasil em nada. O car­naval não atrai quase ninguém para o estado, o fes­tejo junino, momento de maior da nossa cul­tura, perde espaço para out­ras praças do sertão nordes­tino, como Camp­ina Grande, Recife, For­t­aleza. Até o nosso Bumba-​meu-​boi, perdeu seu sta­tus para seus sim­i­lares no Amazonas.

Emb­ora fos­sem esper­adas reações a nomeação para a sec­re­taria de cul­tura – qual­quer que fosse o escol­hido ou escol­hida – acho que ninguém imag­i­nou uma cam­panha tão acir­rada e desproposi­tada à escolha do gov­er­nador. Até parece ser essa a mais impor­tante sec­re­taria do gov­erno, o que não é verdade.

Pas­tas como a da Saúde, Edu­cação, respon­sáveis pelos orça­men­tos mais vul­tosos e com uma atu­ação que alcança toda sociedade, pas­saram em bran­cas nuvens às críti­cas e vejam que é até pos­sível numa primeira chamada que ninguém lem­bre os nomes dos seus tit­u­lares. Não se ouviu um ques­tion­a­mento mais enfático ou qual­quer buchi­cho quanto à des­ti­nação dos seus coman­dos, se aten­de­ria a esse ou aquele inter­esse político.

Outra pasta de igual relevân­cia, a da infraestru­tura, tam­bém não des­per­tou inter­esse de críti­cos e até mesmo de adver­sários, ainda que quando se dizia o nome do tit­u­lar da pasta o inter­locu­tor vinha com uma invar­iável inter­ro­gação: quem??

A da Segu­rança que deixa a todos em sus­pense e é um ponto ner­voso em qual­quer gov­erno pas­sou indifer­ente ao crivo todos.

Já na pasta da cul­tura, impera a cul­tura da dis­cór­dia. Desde que o gov­er­nador anun­ciou a tit­u­lar, a pasta tornou-​se objeto de uma falsa polêmica. A secretária não teve um min­uto de sossego, seja para orga­ni­zar o plano que pre­tende exe­cu­tar, seja para com­por equipe, seja para plane­jar. Nem a famosa trégua dos cem dias, já tradi­cional e que em todo o mundo se con­cede aos novos gestores, lhe con­ce­dida. As cam­pan­has foram tan­tas que pen­sei que não iriam deixar a secretária tomar posse. Depois da posse, ainda sem com­ple­tar um mês de gestão, ten­tam criar todo tipo de desconforto.

Entre­tanto, como disse, trata-​se de uma falsa polêmica.

Pelo que tenho lido aqui e ali, ninguém ques­tio­nou, ao menos até aqui, a capaci­dade da escol­hida, sua con­duta pes­soal ou téc­nica, a via­bil­i­dade ou seriedade de suas ideias para reti­rar o Maran­hão do atraso no setor — até porque não lhe deram a chance de fazer nada, acho, nem for­mar a equipe ou nomear a pes­soa encar­regada de servir o cafez­inho da repar­tição lhe deixaram fazer.

As críti­cas foram, pela ordem que lem­bro, que seria lig­ada ao antigo régime (o estado é tão atrasado que muitos acham que qual­quer um serviu ou tra­bal­hou em gov­er­nos ante­ri­ores têm qual­quer ser­ven­tia); que estaria a tra­bal­har com as pes­soas que faziam parte da gestão ante­rior; man­te­ria os bene­fí­cios aos mes­mos gru­pos de sem­pre; chegou-​se até a dizer que a secretária era indi­cação de um dep­utado que está (?) em firme oposição ao atual gov­erno. Por fim, notas de mil­i­tantes e do próprio par­tido a quem a secretária faria parte da cota, o Par­tido Pop­u­lar Social­ista — PPS, com críti­cas e dizendo que não a apoia.

Pois bem, até onde me recordo, quando o gov­er­nador à apre­sen­tou a sociedade como a escol­hida para o setor, dis­cor­reu sobre as qual­i­dades que a cre­den­ci­ava para o cargo. Não a con­heço, não posso ates­tar. Mas as críti­cas que fazem, até onde sei, não colo­cam em xeque as cre­den­ci­ais que moti­varam o gov­er­nador na sua escolha. Ao menos, na minha per­cepção, tudo não passa de tem­pes­tade em copo d’ água, muito barulho por quase nada. Qual a razão do mundo vir abaixo? A secretária ainda não teve a chance nem de errar. Ainda não per­mi­ti­ram que errasse.

Pois bem, se não há nada na cul­tura, menos ainda há no gov­erno recém empossado.

Digo isso porque uns mais exager­a­dos ou mal inten­ciona­dos, até falam em crise no gov­erno ou entre este e os pop­u­lares social­is­tas. Não vejo assim. O gov­erno do Maran­hão, depois de muitos anos, pos­sui um cap­i­tal de legit­im­i­dade muito ele­vado, ouso dizer, que pou­cas vezes se viu algo assim. Tanto é ver­dade que na sociedade e na classe política, exceto por aque­les que estão tendo os inter­esses con­trari­a­dos e priv­ilé­gios tol­hi­dos, não se ouve o bur­bur­inho ou o coro do descontentamento.

O fato de um ou outro par­tido mostrar-​se insat­is­feito com a atu­ação de um deter­mi­nado secretário não é e não pode ser motivo para se dizer que existe uma crise no governo.

Acred­ito, e essa foi uma das pro­posta do gov­er­nador, que os car­gos públi­cos, aí inclu­sos os ocu­pa­dos pelos agentes políti­cos, não pos­sam e não devam ser obje­tos de troca ou de bar­ganha. Essa, aliás, uma prática que pre­cisamos extir­par da cul­tura política nacional.

O gov­er­nador, acred­ito, repito, está com­pro­metido com essa nova forma de pen­sar e fazer política. Os agentes políti­cos de livre nomeação e exon­er­ação devem ter como refer­ên­cia de poder e sub­or­di­nação o gov­er­nador e não o pres­i­dente de par­tido A, B ou C, o dep­utado ou quem quer que seja. Até para que o gov­er­nador sinta-​se à von­tade para fazer as mudanças que achar dev­i­das na hora que quiser.

Entendo que acabou o tempo em que havia lotea­mento de car­gos entre par­tidos, entre políti­cos e que cada um fazia do seu espaço um gov­erno paralelo.

Não faz muito tempo um prefeito me con­fi­den­ciou um fato no mín­imo curioso. Narrou-​me que estava pas­sando a pauta de reivin­di­cação de seu municí­pio à gov­er­nadora quando chegou a solic­i­tação a ser resolvida em deter­mi­nada sec­re­taria. A gov­er­nante o atal­hou e foi logo dizendo: – em sec­re­taria fulano de tal eu não me meto. Trate dire­ta­mente com ele. É isso mesmo, se tinha secretário que man­dava mais que os que foram legit­i­ma­mente eleitos. Daí vê-​se o quanto a coisa estava fora de ordem.

Espera-​se que o gov­er­nador rompa, em defin­i­tivo com esse tipo de prática.

Nos tempo de eu menino (gosto demais desta con­strução de Ban­deira), cos­tumá­va­mos dizer, quando um outro colega nos man­dava calar a boca: “cala boca já mor­reu, quem manda na minha boca sou”. Talvez seja a hora do gov­er­nador dizer que não adi­anta faz­erem biquinho ou servirem de bucha a ali­men­tar a cul­tura da dis­cór­dia e que quem manda no gov­erno é ele. Isso inibiria os que, de den­tro da equipe, ten­tam con­struir difi­cul­dades para man­terem espaços mesquin­hos de poder. O con­trário disso é seguir o exem­plo do prefeito da cap­i­tal que até hoje, decor­ri­dos dois anos da posse, ainda forma equipe.

Abdon Mar­inho é advogado.