AbdonMarinho - Na defesa de uma educação igualitária.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Na defesa de uma edu­cação igualitária.


NA DEFESA DE UMA EDU­CAÇÃO IGUAL­ITÁRIA.

Por Abdon C. Marinho*.

DESDE tem­pos imemo­ri­ais que sabe­mos ser a edu­cação a chave do sucesso. Não ape­nas do sucesso indi­vid­ual, como, tam­bém, do sucesso cole­tivo. Uma sociedade edu­cada tem tudo para pro­gredir e alcançar o bem-​estar para todos.

Ainda pequeno lem­bro do meu pai dizer que me daria algo que ninguém jamais iria tomar: a edu­cação. E, matriculou-​me numa escola. Primeiro na escol­inha do nosso povoado, uma cas­inha de latada; depois no Unidade Integrada Alde­nora Belo, já na sede no municí­pio e na Unidade Integrada Castelo Branco, onde con­clui o que hoje seria o fun­da­men­tal anos ini­ci­ais; depois veio o Colé­gio Ban­deirante, onde fiz os anos finais do fun­da­men­tal; o ensino médio já no Liceu Maran­hense e, por fim, o curso de Dire­ito na Uni­ver­si­dade Fed­eral do Maran­hão– UFMA.

Já con­tei esse breve roteiro da minha vida estu­dan­til diver­sas vezes, bem como, que foi a edu­cação que, lit­eral­mente, me tirou da “roça”, a mim e aos meus irmãos e/​ou do garimpo para onde me sug­eriu que fosse um amigo quando tinha cerca de 12 anos – para pedir esmo­las.

Se a edu­cação impacta de forma tão pos­i­tiva a vida de uma cri­ança, ado­les­cente e jovens, as ações coor­de­nadas de gov­er­nos têm o condão de mod­i­ficar a história de nações inteiras.

Foi o que ocor­reu com as nações chamadas “tigres asiáti­cos” (Cin­ga­pura, Cor­eia do Sul, Hong Kong e Tai­wan).

Qual­quer um com estu­dos bási­cos de história sabe que até a primeira metade do século pas­sado essas nações eram paupér­ri­mas e que viviam basi­ca­mente de uma agri­cul­tura de sub­sistên­cia em dimin­u­tos ter­ritórios e sem quais­quer recur­sos nat­u­rais. Sabe, tam­bém, que den­tre os vários fatores que con­tribuíram com o desen­volvi­mento das mes­mas “reina” a edu­cação, fazendo com que ten­ham uma mão de obra alta­mente qual­i­fi­cada.

Sem tal condição, pode­riam despe­jar ouro nas ruas e ainda assim não teriam avançado um palmo sequer.

Essa mesma com­preen­são influ­en­ciou o surg­i­mento dos chama­dos “novos tigres asiáti­cos”, grupo con­sti­tuído por Fil­ip­inas, Indonésia, Tailân­dia, Malásia, Vietnã, tam­bém países sem recur­sos nat­u­rais significativos.

Basta um sim­ples exame de fotografia do que eram esses países há cerca de 60 anos e como estão hoje para perce­ber­mos o quanto se desen­volveram no período.

Logo, não restam dúvi­das que o atraso econômico do Brasil encontra-​se dire­ta­mente rela­cionado à baixa qual­i­dade da nossa edu­cação e por con­se­quên­cia do despreparo da nossa mão de obra.

Qual­quer cidadão pode con­statar isso nas coisas mais cor­riqueiras. Basta pre­cisar de um bom pedreiro, um bom marceneiro, um bom eletricista. Não encon­tramos. Ped­i­mos recomen­dação a um e outro quando a neces­si­dade se torna pre­mente.

Dizem que o que “atra­vanca” o desen­volvi­mento do país à atração de inves­ti­men­tos estrangeiros é o “custo Brasil”, o excesso de reg­u­lação tra­bal­hista, etc.

Claro que isso tem um peso, mas penso que todas essas cir­cun­stân­cias seriam absorvi­das pelo cap­i­tal­ismo se tivésse­mos uma pop­u­lação com edu­cação de ponta e mão de obra qual­i­fi­cada, isso se rever­t­e­ria em pro­du­tivi­dade e o cap­i­tal “daria seus pulos” para não perder.

Vejam a tragé­dia anun­ci­ada que nos encon­tramos: enquanto as nações chamadas “tigres asiáti­cos” cresce­ram um “absurdo” em sessenta anos, o Brasil, segundo estu­dos cien­tí­fi­cos, levará sessenta anos para “cor­ri­gir” uma década de atraso edu­ca­cional em relação aos cen­tros mais avança­dos.

Isso, se começar­mos a fazer alguma coisa no sen­tido de cor­ri­gir a dis­torção ime­di­ata­mente.

Como ire­mos ala­van­car o cresci­mento do país, atrair cap­i­tal estrangeiro, aproveitar com racional­i­dade e segu­rança nos­sos recur­sos, sem uma edu­cação de ponta, sem mão de obra qual­i­fi­cada e, sem, sequer, “falar a lín­gua” dos investi­dores?

Desde sem­pre me inter­esso por edu­cação e, nos últi­mos tem­pos, até por questões profis­sion­ais, tenho me inter­es­sado muito mais.

Nas min­has reflexões sobre o assunto entendi que o “motor” do desen­volvi­mento de qual­quer nação chama-​se edu­cação pública. É nela, na edu­cação pública, que devem se con­cen­trar os inves­ti­men­tos a fim de melhorá-​la para for­mar e qual­i­ficar os cidadãos que farão o país se desenvolver.

Não existe “pro­jeto de nação” sem a com­preen­são de que sem uma pop­u­lação edu­cada e qual­i­fi­cada para o tra­balho nos vários ramos das ciên­cias e das tec­nolo­gias.

Os gov­er­nos munic­i­pais, estad­u­ais e fed­eral pre­cisam com­preen­der que inve­stir cor­re­ta­mente na edu­cação não é um favor para a cri­ança ou seus pais, pelo con­trário, muito mais do que as cri­anças e jovens pre­cis­arem de uma boa edu­cação e qual­i­fi­cação, quem, efe­ti­va­mente, pre­cisam delas bem edu­cadas e qual­i­fi­cadas, são os municí­pios, são os esta­dos, é o país.

Edu­cação de qual­i­dade não é um favor que se faz é uma neces­si­dade estratég­ica da nação. É isso que os gov­er­nantes brasileiros e mesmo os gestores edu­ca­cionais e até pro­fes­sores pre­cisam com­preen­der.

Infe­liz­mente, no Brasil, não cheg­amos ainda esse grau de com­preen­são.

Os gov­er­nantes brasileiros, não aten­tam que edu­cação pública de qual­i­dade não tem a ver com o filho do pobre virar doutor ou “ficar” com a vaga do filho do rico, e, sim, que os fil­hos de pobres e ricos bem edu­ca­dos trarão desen­volvi­mento para todos.

Sem com­preen­der que a edu­cação pública é o motor do desen­volvi­mento da nação, temos assis­tido ao longo das últi­mas décadas o seu desprestí­gio.

E vejam que temos investido muito na edu­cação pública – não sei se o sufi­ciente –, mas, acred­ito que tais inves­ti­men­tos não estão sendo feitos “den­tro de um pro­jeto de nação”.

Tanto assim, que os pais das cri­anças sem­pre que pos­suem qual­quer “folga” finan­ceira tiram os fil­hos da rede pública para colocá-​los em uma escola pri­vada, mesmo que medi­ana. O inverso até existe, mas ape­nas como exceção a jus­ti­ficar a regra.

Nestes mais vinte e cinco anos em que tra­balho na advo­ca­cia pública nunca vi tan­tas cam­pan­has de “busca ativa” para a edu­cação quanto estou assistindo agora. Lou­vável que façam isso, mas essa busca ativa deve vir acom­pan­hada de uma política edu­ca­cional que torne a escola pública atra­tiva para as cri­anças e ado­les­centes.

Uma per­gunta se faz necessária: se a escola pública não pos­sui uma estru­tura física tão defi­ciente, se os pro­fes­sores e fun­cionários são até mel­hor remu­ner­a­dos que os da rede pri­vada, por que os pais, sem­pre que podem, pref­erem pagar para ter os fil­hos na escola pri­vada e não na escola pública? O que falta à rede pública?

São per­gun­tas per­ti­nentes, uma vez que, se o ensino brasileiro encontra-​se com uma década de atraso em relação aos mel­hores cen­tros mundi­ais, pelo seu desprestí­gio ao longo dos anos, imag­i­namos que o atraso da rede pública seja ainda maior.

Acred­ito que den­tro de uma política de Estado que con­sidere a edu­cação pública como vetor do desen­volvi­mento da nação, uma das primeiras medi­das a serem ado­tadas é bus­car fer­ra­men­tas edu­ca­cionais que igualem em qual­i­dade as duas redes: pública e pri­vada.

Essa igual­dade deve ser “perseguida” já nos primeiros con­tatos da cri­ança com a escola: nos três primeiros anos (mater­nal) e nos anos ini­ci­ais do fun­da­men­tal. É nessa fase da vida da edu­cação que têm iní­cio as desigual­dades entre as redes e que jamais o aluno da escola pública con­segue ultra­pas­sar o aluno da rede pri­vada, salvo, tam­bém, as exceções.

Um exem­plo clás­sico do que falo diz respeito ao ensino de lín­gua estrangeira, enquanto na rede pri­vada, já no mater­nal a cri­ança é edu­cada em pelo menos dois idiomas, na rede pública o ensino de outro idioma só é obri­gatório a par­tir do sexto ano.

Vejam, em ape­nas uma “fer­ra­menta de apren­diza­gem” a rede pública de ensino, que dev­e­ria ser o “motor” do desen­volvi­mento da nação começa com OITO ANOS de desvan­tagem.

Uma desvan­tagem jus­ta­mente nos mel­hores anos para o desen­volvi­mento das habil­i­dades cog­ni­ti­vas da cri­ança.

Ainda em relação ao exem­plo acima, tal desvan­tagem não será cor­rigida nos anos seguintes, entre os vários fatores, as fer­ra­men­tas que a rede pública disponi­bi­liza não con­sid­era o tempo que já foi per­dido e por isso mesmo são inad­e­quadas.

O resul­tado é que numa pop­u­lação de 215 mil­hões de cidadãos ape­nas 5% (cinco por cento) tem algum con­hec­i­mento de lín­gua estrangeira e ape­nas UM POR CENTO tem fluên­cia.

A con­se­quên­cia disso é que Brasil não “fala” a lín­gua dos investi­dores estrangeiros que gostaria de atrair. Somos um país monoglota, com uma edu­cação clau­di­cante e mão de obra desqual­i­fi­cada.

Estes são prob­le­mas que os nos­sos con­cor­rentes asiáti­cos não enfrentam. Desde cedo com­preen­deram e trataram a edu­cação como política de Estado e vetor do cresci­mento da econo­mia da região.

Impen­sável alcançar o pata­mar de desen­volvi­mento econômico que alcançaram sem essa com­preen­são.

O Brasil pre­cisa encarar a edu­cação pública como uma política de Estado, um vetor para o desen­volvi­mento econômico e bem-​estar social; pre­cisa ele­var o nível do ensino como um todo e tornar igual­itária a edu­cação, pelo topo, em todo o ter­ritório nacional.

Igua­lando a edu­cação nacional bus­care­mos a igualá-​la as mel­hores do mundo.

O começo dessa “rev­olução” é pelo ensino fun­da­men­tal, que deve­mos torná-​lo uni­forme em todo o ter­ritório nacional, com as fer­ra­men­tas necessárias ao pleno desen­volvi­mento de todos.

Deve­mos ter na mente uma coisa: ofer­e­cendo condições iguais a todos ter­e­mos legit­im­i­dade para cobrar as razões do sucesso e do fra­casso de cada um.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.