AbdonMarinho - O MARANHÃO DE RIMAS E GAIOLÕES.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O MARAN­HÃO DE RIMAS E GAIOLÕES.

O MARAN­HÃO DE RIMAS E GAIOLÕES.

O ARTIGO sem­anal do ex-​presidente Sar­ney, pub­li­cado na edição deste fim de sem­ana 2122, deste out­ubro escal­dante na ilha do Maran­hão, não tem como pas­sar despercebido.

Per­feito ao denun­ciar a ver­gonha nacional que é a manutenção de pre­sos em condições degradantes, em gaiolões, sem água, local para fazer as neces­si­dades bási­cas, sobre sol inclemente e tem­per­atura de deserto.

Com ver­dade ímpar assenta que “gaiolão não rima com Maranhão”.

Como dis­cor­dar deste tipo de assertiva?

Eu próprio escrevi, ainda no dia do óbito de Fran­cisco Edinei da Silva, que tal trata­mento era incom­patível com os dire­itos bási­cos do cidadão, ferindo de morte os dire­itos humanos e ofend­endo a Con­sti­tu­ição da nação – e todos os trata­dos inter­na­cionais afe­tos ao tema.

E nem tinha con­hec­i­mento que a tal cela de cas­tigo tinha, tam­bém, o propósito de extrair van­ta­gens dos famil­iares dos apri­sion­a­dos, emb­ora tal infor­mação careça de inves­ti­gação e apuração.

O certo, entre­tanto, é que a tal gaiola e tan­tas out­ras, que dizem exi­s­tir, são ofen­si­vas a dig­nidade humana e, todo ser, com um mín­imo de bom senso, dev­e­ria saber disso, quanto mais as autori­dades que pati­naram em expli­cações sem sen­ti­dos ao invés de, sim­ples­mente, admi­tirem o erro e corrigi-​lo.

Primeiro, na ver­são do del­e­gado, a estru­tura era des­ti­nada aos pre­sos em trân­sito (curto período, até ser ouvido pela autori­dade poli­cial), antes de gan­har seu destino.

A segunda ver­são, que seria uma “her­ança maldita” da gestão anterior;

A ter­ceira ver­são, que seria uma “estru­tura» des­ti­nada ao banho de sol dos pre­sos, uma con­quista, por­tanto, uma coisa muito boa – cer­ta­mente as pes­soas estavam muito bem tomando sol na “moleira» o dia inteiro.

Por fim, a ver­são sem palavras e mais sig­ni­fica­tiva: a destru­ição da «estru­tura» – com­pro­vando que era o que se sabia desde sem­pre: uma odi­enta jaula de tortura.

Pois bem, volte­mos ao artigo do ex-​presidente.

Como disse ini­cial­mente, suas con­sid­er­ações são cor­re­tas, entre­tanto padece de vícios intrínsecos ao referir-​se ape­nas à parte da história.

Decerto que o gov­erno comu­nista, do sen­hor Flávio Dino, tem sua parcela de culpa, afi­nal já cam­inha para fim do ter­ceiro ano de mandato e tal (ou tais) «estru­tura» estava lá sendo usada, sem desas­som­bro e com nat­u­ral­i­dade, pelo estado – o que é ter­rível para quem elegeu-​se com o dis­curso de levar o Maran­hão à modernidade.

Defin­i­ti­va­mente, gaiolão de tor­tura não rima com mod­ernidade propal­ada e prometida.

E, emb­ora uma ver­gonha não encubra outra, o ex-​presidente esque­ceu de lem­brar que a dita jaula (acho o nome mais apro­pri­ado) já estava lá no gov­erno de sua filha, e já naquele gov­erno não dev­e­ria rimar com Maranhão.

Do mesmo modo não dev­e­ria rimar os mais de mil assas­si­natos só na região met­ro­pol­i­tana da cap­i­tal ou com pre­sos sendo decap­i­ta­dos em Pedrin­has, como era rotina no gov­erno da sen­hora Roseana Sarney.

Com Maran­hão, aliás, muitas coisas não rimam, nunca rimaram ou rimarão.

Não rimava – e não rima ou rimará – as condições abje­tas de grande parte das residên­cias dos maranhenses;

Não rimava – e não rima ou rimará – a falta de sanea­mento básico, que causam doenças e mortes;

Não rimava – e não rima ou rimará – com a rabeira nos indi­cadores sociais;

Não rimava – e não rima ou rimará – com o patrimonialismo;

Não rimava – e não rima ou rimará – com as ulti­mas posições nos rank­ing da edu­cação e saúde;

Não rimava – e não rima ou rimará – com a mis­éria que obriga nos­sos tra­bal­hadores a se venderem com mão obra escrava no resto do Brasil;

Não rimava – e não rima ou rimará – com as for­tu­nas que são erguidas enquanto seus donos são tit­u­lares de mandatos e/​ou seus apanigua­dos ocu­pam car­gos de mando na admin­is­tração pública;

Não rimava – e não rima ou rimará – com a con­cen­tração da renda nas mãos de uns poucos, enquanto o grosso da pop­u­lação vive de esmo­las, públi­cas e privadas;

Não rimava – e não rima ou rimará – com gov­er­nos de cas­tas, autoritários, incom­pe­tentes, pre­sunçosos e que se acham donos da verdade;

Não rimava – e não rima ou rimará – com a falta de infraestru­tura básica que impede o estado de se desenvolver;

Não rimava – e não rima ou rimará – com abuso de poder e com a vio­lação dos dire­itos humanos;

Mas, talvez, todos os male­fí­cios sejam fru­tos de uma única rima, que não nos afasta da sina e que é o Maran­hão, num aci­dente maldito, rimar com cor­rupção, ingratidão e traição.

Abdon Mar­inho é advogado.