POLÍTICA E GRATIDÃO.
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- Criado: Quarta, 18 Outubro 2017 20:44
- Escrito por Abdon Marinho
POLÍTICA E GRATIDÃO.
ALGUÉM teria dito, que se a gratidão já habitou a casa da política, foi por tão pouco tempo que não deixou lembrança.
Outro dia, uma matéria no blog do jornalista Robert Lobato, dando conta, segundo o ex-deputado federal e constituinte, Haroldo Sabóia, que o governador do Maranhão, Senhor Flávio Dino, colocara o deputado federal e postulante ao Senado da República, José Reinaldo Tavares, na “geladeira», pus-me a refletir sobre a frase com a qual inicio o texto.
Segundo o desabafo do ex-deputado constituinte, os Leões já teriam fechado questão em torno do primeiro nome na disputa pelo Senado Federal e, os demais, entre eles o ex-governador, iriam para o “murro”, pela segunda vaga na chapa.
Até ler o manifesto indignado do ex-deputado, não me passara pela cabeça tal coisa. Mesmo as denúncias de que as dependências do Palácio dos Leões estariam sendo usadas como comitê informal de campanha, ou que estariam em supostas sociedades, pouco ortodoxas, no setor de comunicação, creditava dever-se ao estilo extremamente audacioso do suposto preferido, que manifestação expressa do chamado “núcleo duro” do governo.
Ainda a mídia subterrânea impingindo ao ex-governador os mais cruéis adjetivos, dentre os quais, o de “traidor”, segundo dizem, por inspiração palaciana e ainda as diversas tentativas de “enquadramento» ao parlamentar, me fez perceber qualquer ato de deslealdade por parte dos atuais inquilinos em relação àquele.
Vou além, nunca passou pela minha cabeça que não fosse o ex-governador José Reinaldo, o candidato com vaga “cativa” na chapa governista, ficando os demais para a disputa da segunda vaga. Mesmo porque, como dizia antigo aforismo, antigüidade é posto.
E, não, apenas, por isso, o ex-governador, como é por todos sabidos, mesmos pelos mais ingratos, foi essencial para o quadro político que temos hoje.
Não sou eu que digo isso, é a história.
A primeira vez que falei com o ex-governador foi na antiga residência de verão, em São Marcos, corria o ano de 2006, há onze anos, portanto.
Apesar de nunca termos tido qualquer contato anterior, tratou-nos – a mim e a meu sócio –, como se fôssemos velhos conhecidos. Como não poderia deixar de ser, já na contagem regressiva para as eleições, trocamos impressões sobre o quadro politico. Ele achava que o ex-ministro Edson Vidigal seria o alçado para o segundo turno para disputa com a candidata Roseana Sarney. Opinei que achava mais fácil o Jackson Lago, por conta da militância mais aguerrida.
Naquela oportunidade, muito além do frenesi pela disputa majoritária, uma coisa me chamou a atenção: o extremo otimismo com que ele falava da candidatura do ex-juiz Flávio Dino, tratando-a como se fosse o fato mais relevante daquela eleição.
Falava com um certo brilho no olhar, uma espécie de empolgação “paternal”, antevendo o sucesso do filho. Acredito, já tinha como certo a vitória dele para a Câmara e que seria o candidato ao governo no pleito seguinte, 2010.
O resto da história é de todos conhecida. Como previ, Jackson lago foi o “aprovado» para o segundo turno, e lá conseguiu a vitória memorável sobre a candidata Roseana Sarney, para celebrar a data, o ex-governador, fez inaugurar num bairro popular da capital, a escola 29 de outubro, na Cidade Operária, uma homenagem singela.
Depois, Jackson Lago foi cassado pela Justiça Eleitoral – menos pelo que fez e mais pelos erros estratégicos cometidos –, e Roseana Sarney, assumindo o governo (e por conta dele), sagrou-se vitoriosa na eleição de 2010.
O sonho de Zé Reinaldo de ver o seu “favorito» eleito governador só foi concretizado em 2014. E, desde 2015, o que mais se comenta nas rodas políticas são os maus-tratos sofrido por ele patrocinados pelos subterrâneos dos Leões.
Em determinado momento, as agressões pareceram-me tão ofensivas que tomei a liberdade de escrever um texto cujo título foi: «Respeitem o Zé”, resgatando um pouco da história política do estado é o papel assumido pelo ex-governador.
Infelizmente os apelos dos textos não foram atendidos. Quase diariamente, ainda hoje, setores da mídia – que sabemos comem nos coches do palácio –, atacam o ex-governador com os epítetos mais baixos, inclusive, chamando-o de traidor.
Nunca os levei muito a sério porque a história está aí a comprovar: poucos dos que o atacam – na verdade, nenhum –, chegaram, pelo menos perto, do que fez o ex-governador pela alternância de poder no Maranhão. Muitos dos que estão encastelados no poder, usufruindo o que devem, e o que não lhes pertencem, assim estão, graças ao apedrejado.
Nestes onze anos, em troca a tudo que fez pelo projeto da alternância de poder, Zé Reinaldo teve mais dissabores que reconhecimento.
Em 2010, para ajudá-lo na eleição ao Senado Federal, lançaram cinco candidatos para as duas vagas; em 2014, fizeram mais, ele teve que abrir mão da candidatura em nome dos acordos e pactos maiores para eleição do governador.
Mas, apesar do retrospecto, não dei crédito a informação de o que o ex-governador José Reinaldo Tavares, estaria, mais uma vez, sendo preterido na disputa para o Senado, colocado na geladeira, como disse o ex-deputado Haroldo Sabóia, e que teria de ir para o “murro”, na sublegenda governista, caso queira ser candidato.
Não bastasse isso, os ataques rotineiros que sofre por parte da mídia “amilhada» pelo governo que ajudou a eleger.
Caso isso se confirme será algo, realmente, estupefaciente.
Se tem alguém que merece ser candidato pelo grupo que está no poder esse alguém é o ex-governador. E se tem alguém que lhe deve essa vaga de senador, esse alguém é o atual governador do Maranhão.
São duas vagas para o Senado Federal, o mínimo que o governador deveria ter feito – desde o primeiro dia que assumiu – era chamar os seus dizer: – um dos meus candidatos a senador em 2018 é José Reinaldo, se “matem” aí pela segunda indicação.
Era é o mínimo que deveria ter feito. Ato contínuo a isso, proibir a campanha sórdida que agentes do governo e seus xerimbabos têm feito contra o ex-governador.
Aprendi com meu saudoso pai – com sua sabedoria de analfabeto –, que lealdade não é favor, e, sim, dever. Todos estes que ficaram mais de 50 anos esperando para chegarem ao poder, têm o dever de lealdade com o ex-governador José Reinaldo, se não honrarem, merecerão, com maior razão, o adjetivo com o qual lhe brindam quase que diariamente. Uns mais que os outros.
A atual quadra política maranhense me traz uma outra lembrança.
Certa vez indaguei a um amigo e cliente do grupo Sarney: — Fulano, você pensa muito parecido conosco, por que não vem somar com a gente nesta eleição?
Respondeu-me: — Abdon, meu amigo, não faço isso porque tenho muito menos medo de Sarney que de “vocês”.
O ex-governador José Reinaldo, caso se confirme o que está desenhado, será a personificação viva do que me disse este amigo.
Abdon Marinho é advogado.