A ÉTICA ELÁSTICA.
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- Criado: Sábado, 05 Agosto 2017 15:24
- Escrito por Abdon Marinho
A ÉTICA ELÁSTICA.
UM antigo político maranhense (mas deve ter outros semelhantes noutras placas) costumava dizer que seus amigos não tinham defeitos, já os inimigos quando não os tinha, ele colocava.
Faz uns dias venho pensando no quanto a ética do brasileiro é contraditória e “elástica”.
Nunca se falou tanto em ética e moralidade na política – e isso não vem de hoje –, mas, a cada eleição os cidadãos votam nos mesmos políticos ou noutros piores. Com isso, o que temos testemunhado é um quadro politico cada vez mais horroroso onde parlamentares dos mais variados partidos e casas políticas não se constrangem em negociar suas emendas que deveriam reverter em benefício para o povo.
Nos últimos anos, este é um dos negócios, talvez só perdendo para o tráfico de drogas e o roubo de cargas, mais lucrativos.
O cidadão não sabe ou não procura saber o que se encontra por trás de uma obra de péssima qualidade, entregue pela metade ou não entregue. O que está por trás são os vários “pedágios» que se tem que pagar antes que se torne um beneficio para cidadão que sustenta a farra com seus impostos.
Mas o cidadão, acredito, não seja muito melhor que seus representantes.
Outro dia assisti a uma série de reportagens sobre o roubo de cargas no Rio de Janeiro.
O que vimos foram os cidadãos comprando nos “feirões» diversos, produtos que sabiam, claramente, serem frutos de crimes.
Se um produto custa dez e está vendido por seis ou cinco, só tem uma explicação: alguém o roubou, feriu um pai de família, atentou contra o patrimônio de outrem para que chegasse a ser vendido por preço tão baixo. A regra é mesma para os celulares «baratinhos» adquiridos nas ruas.
E, esta conta, no final de tudo será paga pelos próprios que acham terem feito um “excelente negócio”.
Recentemente, quase que “ao vivo” assistimos um caminhão dos Correios ser tomado de assalto e levado para uma comunidade, localizada a menos de 8 km do local do roubo, onde diversos cidadãos, sem esboçar constrangimento, e ainda protegido por um bandido armado, se apropriavam dos produtos do mesmo. Até uma mãe, carregando uma criança de colo, estava por lá.
Não precisamos ir muito longe. Em qualquer rodovia ou via pública do Maranhão, onde tombe um veiculo de carga, um veiculo de passeio – mesmo um acidente com vitimas fatais –, se aproxima uma multidão não preocupada em socorrer as vítimas, mas sim para lhes furtar os pertences. Não faz muito tempo repetiram tal prática, igualmente odienta, com pequeno avião.
Em muitas estradas do Maranhão, tem-se notícias que pessoas colocam obstáculos nas vias para fazerem caminhões tombarem e roubarem suas cargas.
Essas práticas diferem muito daquele cidadão que coloca a arma na cabeça do transeunte para lhe roubar os pertences? Acredito que não.
A degeneração do padrão ético nacional é refletido e é o reflexo da classe política que temos hoje.
Ano que vem teremos eleições gerais. Iremos eleger, de presidente da República a deputados estaduais. E bem poucos não possuem folha corrida.
Vejam onde chegamos, não teremos que escolher entre quem fez ou faz algo em prol da sociedade, mas, sim entre os possuidores das menores folhas corridas, ou mesmo entre aqueles que sabemos serem, notadamente, mal-intencionados.
Será que existe algo mais emblemático para uma nação que o fato do principal candidato ao cargo de mandatário maior do país ser, justamente, alguém já condenado por corrupção passiva (ainda em primeira instância) e ser réu em cinco outros processos por delitos diversos, entre os quais pontifica o de corrupção?
Estranhamente, uma grande parcela da população apoia este tipo de coisa. E, não são apenas cidadãos simplórios, inocentes a ponto de acreditar que o ex-presidente é vítima de conspiração da “direita”, do capitalismo internacional e de outros espectros que usam para justificar o injustificável, alcança, também, grande parte da chamada «elite intelectual» brasileira, que não vê nada demais nos malfeitos que não segredos a ninguém.
Mesmos os milhões encontrados nas contas-correntes e planos de previdência privada, de origem suspeita, depósitos em curtos intervalos e em quantias incompatíveis, parecem suficientes para demove-los do apoio absurdo ao demiurgo petista.
Ao menos em tese essas pessoas, da chamada intelectualidade nacional, deveriam ser intransigentes na defesa da ética e da probidade pública, serem uma espécie de farol a conduzir a população em busca de um país melhor.
Não, não venha dizer que a condenação é em primeira instância e que defendem o Estado Democrático de Direito.
Isso não é verdade, basta lembrar que por ocasião da condenação de importantes figuras do partido e seus aliados pela mais alta Corte de Justiça, o Supremo Tribunal Federal — STF, também colocaram em xeque aquelas condenações.
Diziam, numa argumentação meio tosca, que os mesmos deveriam ser julgados pela primeira instância da Justiça.
Foram além, por ocasião da imposição do cumprimento das penas, saíram as ruas – e nas mídias –, chamando os condenados de “guerreiros do povo brasileiro”.
Agora, por ocasião da primeira condenação do ex-presidente, tentam, por todas formas, desqualificar a sentença de primeiro grau, com argumentos que não são jurídicos, posto que inexistentes, mas uma tentativa de dar viés politico ao processo judicial.
A bem da verdade, essas pessoas não acreditam na Justiça como um valor universal. Justiça é aquela que se submete à leitura ideológica dos seus interesses.
Assim, é válido que desviem os recursos públicos, se no interesse da “causa» ou dos seus comandantes.
São pessoas que possuem uma ética conforme a conveniência.
Agora mesmo, durante a sessão da Câmara dos Deputados que rejeitou a autorização para que o atual presidente Michel Temer tivesse uma denúncia por corrupção encaminhada ao Supremo Tribunal Federal, o que mais vimos foram os defensores da ética de ocasião, proclamarem por justiça e contra a corrupção.
Ora, estes mesmos indignados são os mais ardorosos defensores de uma candidatura de alguém já condenado por corrupção (ainda em primeira instância, mas condenado) e que liderou os governos mais corruptos que se tem noticias na história do país.
O “mensalão”, o “petrolão”, o “quadrilhão”, os escândalos nos fundos de pensão, o alcance nos recursos do BNDES são frutos da Era lulo-petista.
Vou além, mesmo o senhor Michel Temer – que faz um governo horroroso –, é fruto daquela Era, do modelo que inventaram para governar.
Apenas para lembrar: o senhor Temer foi escolhido vice-presidente nos dois mandatos da senhora Dilma Rousseff, por eles – pelos mesmos que agora resolveram enxergar seus defeitos.
Será que descobriram só agora que Temer e seu grupo é corrupto? Não! A diferença é que antes estavam todos juntos mamando nas tetas do Estado brasileiro.
Falam agora em ética e em corrupção e não viam o que acontecia no seu próprio governo? Ora, a única diferença entre este e os governos lulo-petistas é que o presidente fala português um pouquinho (só um pouquinho) melhor que seus antecessores. Fora isso a bandalha é a mesma.
Só que antes era conveniente que não vissem.