MARANHÃO VERMELHO: CARTA A WALTER RODRIGUES.
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- Criado: Quinta, 13 Outubro 2016 14:57
- Escrito por Abdon Marinho
MARANHÃO VERMELHO: CARTA A WALTER RODRIGUES.
São José de Ribamar, 13 de outubro de 2016.
Caríssimo Walter,
Desde a última vez que te escrevi, em 2014, muitas coisas aconteceram, no Brasil e no Maranhão. Para começar, o PT, do ex-presidente Lula, tornou-se, definitivamente, um partido de políticos presos. No curso da operação da intitulada «Lava Jato», os mais escabrosos escândalos de corrupção foram revelados à patuleia e, com seus efeitos, juntamente com os desacertos na economia e na política, culminou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, reeleita nas eleições de 2012, afastada definitivamente no último dia de agosto deste ano – reforçando a ideia do agosto do desgosto.
Outro que se encontra em maus lençóis é o próprio ex-presidente Lula – ele, familiares e pessoas bem próximas e ainda parte da antiga cúpula do PT já viraram réus em algumas ações penais – e, segundo os mais diversos especialistas, não demoram a conhecer o sistema penal brasileiro a partir da perspectiva interna. Uma lástima, meu amigo, para quem foi depositário de tantas esperanças. Lástima maior para nós que acreditávamos tanto.
Das muitas coisas que aconteceram e estão acontecendo neste Brasil velho cansado de guerra trataremos noutra oportunidade, hoje falaremos das novidades do Maranhão. O Maranhão vermelho para usar uma expressão em voga.
Aliás, quando toquei no impeachment da ex-presidente Dilma foi justamente para falar do Maranhão, mais precisamente da participação, digamos, inusitada, dos nossos políticos e que teve o seu auge com o cancelamento do impeachment pelo deputado Waldir Maranhão (PP) que ocupava interinamente a presidência da Câmara dos Deputados após o afastamento imposto pelo STF ao presidente Eduardo Cunha (PMDB/RJ). Este depois de afastado acabou cassado por seus pares pouco depois do afastamento definitivo de Dilma Rousseff.
Pois bem, segundo comentários correntes em todo pais, o autor intelectual da «quartelada estudantil”, como apelidei, que acabou virando piada de norte a sul, não foi o deputado Maranhão, mas sim, o próprio governador Flávio Dino (PC do B) que, no episódio, acabou envolvendo-se além da conta. Primeiro, tentando cabalar votos a «todo custo» para um governo que não tinha mais qualquer possibilidade de sustentação; segundo, como mentor da patuscada assumida pelo deputado Maranhão. O certo é que o deputado além de virar uma piada no Brasil e no estrangeiro – inúmeras foram as ideias de coisas que ele poderia revogar: chegaram a sugerir que o deputado maranhense revogasse a Lei da Gravidade –, teve a vida devassada, a dele e de familiares. E, como é de se esperar da maioria dos nossos representantes, descobriram seus malfeitos quando gestor da UEMA e rejeitaram suas contas apontando uma devolução de mais de dez milhões de reais; descobriram que seu filho era servidor fantasma do TCE (parece piada pronta: o órgão que vigia os demais possuía um fantasma diante das barbas e bigodes de suas excelências) desde tempos imemoriais; acredita-se que o contribuinte maranhense pagou todos os seus estudos fora do estado; sem contar os penduricalhos do deputado Maranhão aqui e ali.
Suspeita-se que a repentina notoriedade ainda traga outros aborrecimentos no campo da persecução penal.
Até hoje, além da ilação de que o deputado teria tomado uma cachaça forte, não se sabe o que o levou a ser «convencido» pelo governador comunista a fazer tamanha bobagem. Dizem – repito, dizem –, que entre outros mimos, teria existido a promessa de lhe fazer senador nas eleições de 2018. Não se assuste com a ideia de termos um senador como o deputado Waldir Maranhão, o outro postulante das hostes governistas ao mesmo cargo – que já disse não abrir para ninguém –, é o igualmente notório deputado Wewerton Rocha. Pois é, meu amigo, ele mesmo. Certamente o estado estará bem representado com um ou com outro.
No novo Maranhão, é bom que saibas, os homens fortes do governo são, além do próprio governador, o secretário Márcio Jerry, que acumula a presidência estadual do PC do B e deputado federal Wewerton Rocha que virou o comandante em chefe do PDT. O deputado federal Waldir Maranhão, a terceira força do governo, caiu em desgraça após o bisonho episódio do impeachment e depois de ter perdido a presidência do PP no estado.
Se me perguntas o que acho do governo? Com estas proeminentes figuras, não tem risco de dar certo, não achas? Trata-se de um governo “pequeno”, de regular para medíocre. A maior parte das obras que executa – e já se vão quase dois anos –, são frutos da herança recebida do governo anterior, inclusive, com recursos vultuosos conseguidos junto ao BNDES. Sem contar que recebeu (e não tem sabido conservar) uma folha de pessoal equilibrada, o que tem afastado o risco (imediato) de não poder pagar os servidores em dias.
Sobre as obras não tenho como deixar de destacar a duplicação da Avenida dos Holandeses. Uma obra de três quilômetros iniciada no governo Roseana Sarney, em 2014, ao custo de cerca de 30 milhões, antes de ser entregue, o governo entendeu (com razão) que deveria passar por uma «requalificação» para isso fizeram mais um aporte vultuoso de recursos, como o governo não colocou a placa informando o valor é o prazo de duração, vou pelos boatos que apontam mais de 50 milhões. A obra ao que parece será bem útil, mas, certamente, estaremos diante dos três quilômetros mais caros de toda a história da engenharia. Uma prova de que por aqui as obras continuam demasiadamente caras.
E pensar o quanto reclamamos da implantação da MA 008,a famosa Paulo Ramos — Arame que, no primeiro governo Roseana Sarney custou US$ 30 milhões de dólares.
O governo tem pontos positivos, por exemplo, salvo uma denúncia de favorecimento aqui ou ali, uma nomeação de parente ou apaniguado, não se tem noticias de corrupção, pelo menos, não nos níveis que estávamos acostumados a ouvir.
Já com relação a competência gerencial, ainda estão a dever. Não acredito que avancem muito.
Mas o principal questionamento feito pelos opositores ao governo e até por pessoas esclarecidas da sociedade maranhense diz respeito ao estilo autocrático. Já vi muitos comparando o governador a Hitler ou a Stalin. Ou aos dois. Ao que parece o governador faz questão de cultivar essa imagem. Seja processando indistintamente qualquer um que escreva ou lhe faça criticas na imprensa, seja rebatendo aqueles que o combate nas redes sociais.
Se fosses vivo decerto estarias respondendo a ações na justiça. Os jornalistas e blogueiros que não “rezam” na cartilha, segundo dizem, sofrem, além dos procedimentos judiciais, referidos e as conhecidas tentativas de Cooptações – que muitos adoram –, perseguições do aparelho estatal. Segundo estes mesmos críticos o governador ao invés de democrata tem se revelado um ditador.
As insatisfações no que tocam ao estilo autoritário de governar, a intolerância aos pensamentos dissonantes é, equivocadamente, atribuído ao partido comunista ao qual se encontra filiado. Embora exista o mito do chamado centralismo democrático mais presente no PC do B que em qualquer outro partido, a intolerância à crítica precede em muito a filiação partidária. Se lembrares bem, ainda no tempo de magistrado o agora governador processou determinado jornalista por conta de uma matéria. E, na audiência de conciliação, para por fim ao processo, as condições impostas eram de tal sorte draconianas que significavam, praticamente, o completo cerceamento à liberdade de imprensa. No episódio, deves lembrar, somente a sua providencial intervenção, minorou o grave atentado. Você mesmo me relatou o fato anos depois, lembras?
Então, o pendão autoritário, não vem de hoje, o poder, talvez apenas tenha revelado com maior agudeza. Assim como a incapacidade de ouvir qualquer um. Diversos aliados políticos revelam o desconforto e a dificuldade de conversar com «alguém que sabe tudo», o verdadeiro professor de Deus.
Pois bem, como sabes a casa é o reflexo do dono. Se alguém, em um grupo público ou fechado faz qualquer crítica ao governo ou algumas de suas ideias – muitas delas, toscas – já aparece um membro do governo, não para contestar, mas para desqualificar a crítica e/ou o crítico. Trata-se de algo terrível, absurdamente antidemocrático.
Passados quase dois anos da instalação do governo, a ideia que tenho é que piora a cada dia, sobretudo neste viés autoritário, refratário a qualquer questionamento, ainda os mais legítimos. Se perguntares uma definição adequada para o governo, acho que se assemelha, em muito, as Matrioskas – as bonecas russas recheadas de outras bonecas iguais. O governador seria a boneca maior e os auxiliares as bonequinhas, iguais ao chefe, como pequenos ditadores em seus nichos de poder. Ressalvando, claro, as exceções que existem em todas as regras.
Vejamos as últimas eleições: vi diversas lideranças, prefeitos, candidatos, deputados, reclamando de intervenções ilegítimas do Palácio dos Leões, do governador e/ou de seus secretários nas disputas municipais. As acusações feitas em pleno século 21, são idênticas, as acusações feitas ao oligarca Sarney nos seus primeiros anos. Vi prefeitos dizendo que o governador ordenou obras e serviços em seus municípios às vésperas das eleições para beneficiar seus adversários. Um outro dizendo que fez o lançamento de determinada obra, prometeu empregos (os seus aliados na base chegaram a recolher documentos na promessa que era para conseguir trabalho) e as máquinas serem retiradas logo depois do pleito. Um autêntico estelionato eleitoral tão criticado outrora. Vamos combinar que fica desigual o governo estadual asfaltar ruas enquanto seus aliados pregam a continuidade dos serviços caso ganhem as eleições, as tais das parcerias.
Uma acusação, das mais grave (senão a mais grave), foi feita pelo prefeito de Mirinzal que acusou o aparelho estatal de prendê-lo sob falsa acusação para alija-lo da disputa.
Em sendo verdade, não me recordo de presenciar conduta tão reprovável em tempos recentes. Algo assim, só durante o régime militar.
São tantas as denúncias de fatos semelhantes que receio serem verdadeiras. Digo isso com pesar e para o nosso desgosto. Verdade ou não, aqui e ali já ouvimos pessoas dizendo temerem o governo, revelarem receio de uma retaliação, uma represália por dizerem o que pensa ou por declarem contrários a certas práticas do governo. O mesmo receio dos tempos obscuros: de um flagrante preparado; uma prisão arbitrária, etc. São coisas tristes, incompatíveis com uma nação democrática. O simples fato dos cidadãos temerem o governo já é algo aterrador.
Ora, até hoje não tem um desmentido de que «aliciaram» dezenas de blogueiros e até jornalistas (destes que deveriam honrar a profissão) para desconstruir determinados candidatos, bem como custearem gráficas para para impressão de jornalecos e pasquins contra os adversários. Não houve um desmentido, até parecem sentir orgulho da conduta criminosa. Segundo denúncia antiga, até as senhas de determinados «profissionais» ficavam ou ficam à disposição de certas autoridades para que as próprias, em nome de outrem, executem o serviço sujo.
O senador Roberto Rocha (PSB) disse – e até onde sei não foi contestado – que para intervenção dos Leões ser maior, só faltou pintarem o palácio de vermelho.
Fica difícil não dar crédito a tais acusações quando lembramos o que fizeram até com aliados de primeira hora, como o foi com Léo Costa em Barreirinhas.
Um simulacro de Tratado de Tordesilhas que dividiu o estado em áreas de influência desde ou daquele partido da chamada base aliada. Por tal acordo – costurado à revelia da decência – o Município de Barreirinhas ficaria na cota do PC do B e Léo Costa, o prefeito com direito à reeleição, não deveria ser candidato.
Pois bem, meu amigo, como a ousadia não conhece limites, direção estadual do PDT interviu no partido naquele município, obrigando que se coligasse com o candidato comunista. A violência contra alguém que fundou o partido, o desrespeito a toda uma história de luta foi tamanho que culminou com a derrota do candidato da preferência dos novos líderes do estado, o governador à frente.
Apesar de todos esses percalços – e a menos que aconteça algo inusitado – a Matrioska que se tornou o grupo que se assenhora do estado, ainda desponta como a força mais poderosa para as próximas eleições. Claro que não tem nada com número de prefeitos eleitos pelo partido do governo, pelas contas, 46 – que levou o governador, tolamente, a dizer que o Maranhão, em número de comunistas, só perde para a China –, a assertiva, nem como figura de retórica serve.
Os comunistas do governador, são na verdade comunistas do governo, de qualquer governo, de qualquer partido. A larga maioria não sabe nem o que é comunismo, ou o que significa, nunca ouviram a Internacional Socialista, se ouviram não sabiam do que se tratava.
Noutra quadra, em verdade, grupo do governador ainda desponta como mais forte. Mas isso se deve pelo completo deserto de lideranças políticas no estado.
Ninguém cogita um retorno do grupo Sarney, a menos que o atual governo faça uma bobagem sem medida, repito. Já a dissidência ensaiada pelo senador Roberto Rocha, ainda se mostra insipiente, em parte devido ao próprio senador, que apesar das boas ideias, parece fazer questão de cultivar a má fama de que não é cumpridor de seus compromissos, de que só pensa nele, na família e em uns poucos que estão ao seu redor, isso sem contar os desacertos da vida empresarial da família. Por tudo isso, terá que remar muito para se tornar uma alternativa viável já em 2018.
Outros líderes, infelizmente, não temos. A maior desgraça da oligarquia Sarney – impedir a projeção de novas e plurais lideranças no estado –, é o maior combustível a alimentar o governo do senhor Flávio Dino. Não deixa de ser uma nota irônica.
Estas, meu caro amigo, são as notícias que tinha a relatar no momento.
Aproveito o ensejo para desejar-lhe um feliz aniversário, no próximo dia 16⁄10. Aliás, tenho uma dúvida: tendo a vida eterna pela frente faz sentido festejar aniversário?
Um abraço fraterno de
Abdon Marinho.
PS. Prometo não demora tanto a escrever novamente.