AbdonMarinho - REI MORTO, REI POSTO, OU AS DUAS FACES DA MESMA MOEDA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

REI MORTO, REI POSTO, OU AS DUAS FACES DA MESMA MOEDA.

REI MORTO, REI POSTO, OU AS DUAS FACES DA MESMA MOEDA.

DOMINGO, 31 de julho, uma inusi­tada con­sciên­cia motiva-​me a escr­ever o pre­sente texto. A coin­cidên­cia foi encon­tro de dois tex­tos pub­li­ca­dos no fatídico dia. O primeiro n’O Estado do Maran­hão, traz o artigo de capa do ex-​presidente da República, José Sar­ney, que exerceu todo o mando no estado desde que elegeu-​se gov­er­nador em 65 até a vitória de de Flávio Dino, em 2014, eleito pelo Par­tido Comu­nista do Brasil – PC do B, cujo o número é 65 (uma coin­cidên­cia, mas como dizem, o Diabo é moleque), autor do texto pub­li­cado no Jor­nal Pequeno, no mesmo dia.

Os dois tex­tos e a coin­cidên­cia de haverem sido pub­li­ca­dos no mesmo dia, mere­cem um estudo muito mais apro­fun­dado – quem sabe um dia façamos –, por enquanto, fare­mos breves con­sid­er­ações. São tex­tos breves – talvez como a fugir da real­i­dade que ousam enfrentar.

O primeiro, do ex-​presidente José Sar­ney – que foi gov­er­nador do Maran­hão de 1965 a 1970 –, traz con­sid­er­ações sobre a igual­dade, per­cor­rendo os teóri­cos da humanidade para con­cluir com o título que nomeia o texto: A Desigual­dade Continua.

Antes, porém, não deixa de tecer loas ao seu período de gov­erno à frente dos des­ti­nos da nação (19851990) onde, assev­era, sem con­strag­i­men­tos, que as setas das desigual­dades se inverteram.

A assertiva do ex-​presidente é mere­ce­dora de pro­fundo estudo. Não me recordo de avanços sub­stan­ciosos no seu gov­erno capazes de trazer um mod­elo de desen­volvi­mento para as regiões norte e nordeste e que as colo­cassem, ao menos, em condições de igual­dade com as demais regiões. Aliás, se per­sis­tem as desigual­dades region­ais, como o próprio texto expõe, elas são fru­tos – em parte – da omis­são dos poderosos da República todos estes anos.

Ora, entre os poderosos da República, deste sem­pre, neste século, esteve o ex-​presidente, seja como gov­er­nador, seja como senador e pres­i­dente do Senado Fed­eral, por três leg­is­lat­uras, e, tam­bém, como man­datário maior do país, no período já referido. Se fez algo, como insiste em dizer, foi tão insignif­i­cante que não per­sis­tiu, não ren­deu nada. Pelo con­trário, quando lem­bramos do seu gov­erno nos vem à mente é a inflação estratos­férica, a cor­rupção desen­f­reada, o con­t­role estatal de preços, as filas intermináveis.

O maior exem­plo do quanto soa falso o queix­ume em relação as desigual­dades é o que fez – com o seu grupo – no Maranhão.

Tendo man­dado e des­man­dado durante quase meio século, o legado que deixou foi a maior desigual­dade e atraso que se tem notí­cia no país. Em quase todos os indi­cadores soci­ais o nosso estado se encon­tra na “rabeira» da fila, brig­ando pelo último ou penúl­timo lugar com esta­dos que, nem de longe, pos­suem as poten­cial­i­dades do Maranhão.

As des­graças do estado estão mate­ri­al­izadas no IDH, no IDEB e em tan­tos out­ros índices. Quando não é a edu­cação sofrível é a saúde que não sai da UTI – ainda hoje temos pacientes mor­rendo por falta de atendi­mento médico, devendo favor as autori­dades para con­seguir uma vaga nas unidades de saúde, ainda hoje temos mul­heres mor­rendo de parto, isso vem deste sem­pre, inclu­sive do meio século em que dom­i­naram a política –, a agri­cul­tura que era de sub­sistên­cia, prati­ca­mente deixou de exi­s­tir. Cheg­amos ao ponto de ouvir­mos, de mais de uma pes­soa, que se o gov­erno acabar com os pro­gra­mas como o “Bolsa Família” muitos cidadãos cor­rem o risco de mor­rerem de fome. Esta é a a igual­dade que aju­dou a construir?

Noutra quadra vimos, sobre­tudo, os poderosos do estado faz­erem for­tu­nas da noite para o dia, rece­berem propinas de tudo que foi obra pública, aqui, no Maran­hão, e no Brasil inteiro, tendo tais recur­sos, ile­gais, fruto da cor­rupção, irri­gado, inclu­sive, os fun­dos do próprio ex-​presidente, apon­tado pelo «dela­tor pre­ven­tivo” Sér­gio Machado, que assumiu, ele próprio, ter repas­sado recur­sos ao escriba dominical.

Não temos dúvi­das que as desigual­dades con­tin­uam. Elas con­tin­uam, sobre­tudo e prin­ci­pal­mente, dev­ido à classe política que temos, sem­pre pre­ocu­pada em servir-​se do Estado e não servir a ele e a sociedade que a elegeu.

Quem mel­hor sim­boliza a desigual­dade que não o Maran­hão? Quem mel­hor rep­re­senta este mod­elo per­verso, que não o ex-​presidente José Sarney?

E, jus­ta­mente sua mel­hor per­son­ifi­cação, tem a ousa­dia de queixar-​se da desigual­dade? O queix­ume parece mais um escárnio.

Já no segundo texto, como disse, pub­li­cado no mesmo dia, o atual gov­er­nador, Flávio Dino (PC do B) vende-​nos a ideia de eleições livres, onde, segundo ele, pela primeira vez, não assi­s­tire­mos a inter­fer­ên­cia do Palá­cio dos Leões no processo sucessório dos municí­pios. Diz que os eleitores olharão as mel­hores pro­postas e decidirão por si por quais­quer delas.

Será mesmo que viver­e­mos essa mar­avilha de eleições livres, sem a inter­fer­ên­cia do governo?

A resposta para essa per­gunta, temo, seja neg­a­tiva. Ainda que, como disse o gov­er­nador, não se use o poder estatal, seja através de con­vênios eleitor­eiros, seja pela inter­fer­ên­cia direta por out­ros meios escu­sos, ela cer­ta­mente exi­s­tirá. Ainda mais quando ele assume, for­mal e pes­soal­mente, o papel de «mil­i­tante das boas causas».

Exi­s­tirá no Maran­hão uma viva alma que acred­ite haver tan­tos comu­nistas no Maran­hão, a ponto de dis­putar eleições em dezenas de municí­pios, inclu­sive colé­gios eleitorais impor­tantes? Cer­ta­mente que não. Essa “onda ver­melha” que toma de conta do estado ocorre por influên­cia do Palá­cio dos Leões.

Vejo inúmeras pes­soas que nunca, jamais, ouvi­ram falar em comu­nismo, do dia para noite, virarem legí­ti­mos defen­sores do marx­ismo e do lenin­ismo – ainda que poucos saibam o que isso sig­nifique. Sou ten­tado a Imag­i­nar que um dia acor­daram e decidi­ram: – rapaz, será uma boa coisa virar comunista.

Pronto! Comu­nistas estão todos. Claro que não pro­fes­sam aquele comu­nismo defen­dido pelo par­tido ao qual se fil­iaram, que defendeu o régime albanês; os expur­gos assas­sínios de Stalin; que defende, com dire­ito a nota ofi­cial e tudo, a ditadura norte-​coreana; a ditadura cubana ou o régime boli­var­i­ano que que­brou a Venezuela.

Por estas pla­gas defen­dem o comu­nismo «à brasileira», onde não há pecado em serem ricos pro­pri­etários de ter­ras; que acu­mulem for­tu­nas com a atu­ação no mer­cado de cap­i­tais, inclu­sive, o para­lelo. Um comu­nismo, dig­amos assim, que tenha uma ver­dadeira ado­ração pelo din­heiro e os luxos que ele pode proporcionar.

Pois bem, emb­ora seja um «comu­nismo» com todas estas licenças, sabe­mos que o mila­gre da tran­sub­stan­ci­ação foi mesmo oper­ado pelo poder.

Não estivesse o par­tido no poder, duvido que tivésse­mos tan­tos «comu­nistas» no estado. Fosse o gov­er­nador um mero «mil­i­tante das boas causas» e não o gov­er­nador, duvido que tan­tos políti­cos estivessem bus­cando seu apoio, pedindo para tirar foto ou solic­i­tando sua pre­sença em con­venções ou para gravar vídeos de apoio. Conheço-​o há trinta anos como «mil­i­tante das boas causas» e nunca teve nada disso, muito pelo contrário.

Os neo­co­mu­nistas ingres­saram no par­tido do gov­er­nador, no par­tido que está no poder e é isso que ven­dem nas suas bases, que estarão em sin­to­nia com o poder estad­ual, as tais das «parce­rias», usam isso para ten­tar gan­har as eleições. Como o poder não inter­virá no pleito?

Emb­ora não se tenha a des­façatez de out­rora, é mera figura retórica dizer que os «Leões» estarão fora da disputa.

Ouso ir além, talvez os Leões este­jam na dis­puta muito mais que noutras opor­tu­nidades. Estas eleições reg­is­tram uma série de inter­venções sus­peitas em instân­cias par­tidárias munic­i­pais. No caso mais emblemático «tomaram» o par­tido do seu fun­dador em Bar­reir­in­has, para impedir o prefeito de dis­putar a reeleição e apoiar o can­didato comunista.

No episó­dio, foi denun­ci­ado à sociedade maran­hense a existên­cia de uma farsa do his­tori­ca­mente famoso «Tratado de Torde­sil­has» (acerto entre os reis de Espanha e Por­tu­gal que dividia o mundo, incluindo as ter­ras por se desco­brir, entre os dois reinos, assi­nado em 1494).

Na ver­são maran­hense a farsa do «tratado» seria a divisão do estado entre os par­tidos que dão sus­ten­tação ao atual gov­erno, num «acerto» entre suas lid­er­anças, pouco impor­tando sobre quem teriam que pas­sar, quan­tas lid­er­anças históri­cas teriam que aviltar.

Fiz­eram isso só em Bar­reir­in­has? Quan­tos municí­pios mais?

Resta claro que aproveitam a autono­mia par­tidária, asse­gu­rada na Carta Con­sti­tu­cional, para, com autori­tarismo, exercerem o poder abso­luto, o que con­traria o espírito da norma. Será esta a «novi­dade» para as eleições de 2016?

O prefeito de Bar­reir­in­has, irres­ig­nado com a afronta bus­cou, na undécima hora, a Justiça que des­fez a patranha. Out­ros terão a mesma sorte?

O que dizer, tam­bém, da enorme pressão sobre os veícu­los de comu­ni­cação, sobre­tudo na inter­net, que, quase diari­a­mente, são chama­dos à Justiça, não como intenção de reparar honra ou repor a ver­dade, mas, sim, como forma de calá-​los? Será, tam­bém, uma novi­dade, não ape­nas para as eleições, mas, para o século 21?

O ex-​presidente Sar­ney já foi o novo, veio para colo­car fim aos des­man­dos do Vitorin­ismo. Flávio Dino é o novo, aí está para por fim aos des­man­dos do Sarneysmo.

Ao que prin­cipia, parece-​nos, as duas faces de uma mesma moeda.

Abdon Mar­inho é advogado.