REI MORTO, REI POSTO, OU AS DUAS FACES DA MESMA MOEDA.
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- Criado: Terça, 09 Agosto 2016 01:11
- Escrito por Abdon Marinho
REI MORTO, REI POSTO, OU AS DUAS FACES DA MESMA MOEDA.
DOMINGO, 31 de julho, uma inusitada consciência motiva-me a escrever o presente texto. A coincidência foi encontro de dois textos publicados no fatídico dia. O primeiro n’O Estado do Maranhão, traz o artigo de capa do ex-presidente da República, José Sarney, que exerceu todo o mando no estado desde que elegeu-se governador em 65 até a vitória de de Flávio Dino, em 2014, eleito pelo Partido Comunista do Brasil – PC do B, cujo o número é 65 (uma coincidência, mas como dizem, o Diabo é moleque), autor do texto publicado no Jornal Pequeno, no mesmo dia.
Os dois textos e a coincidência de haverem sido publicados no mesmo dia, merecem um estudo muito mais aprofundado – quem sabe um dia façamos –, por enquanto, faremos breves considerações. São textos breves – talvez como a fugir da realidade que ousam enfrentar.
O primeiro, do ex-presidente José Sarney – que foi governador do Maranhão de 1965 a 1970 –, traz considerações sobre a igualdade, percorrendo os teóricos da humanidade para concluir com o título que nomeia o texto: A Desigualdade Continua.
Antes, porém, não deixa de tecer loas ao seu período de governo à frente dos destinos da nação (1985−1990) onde, assevera, sem constragimentos, que as setas das desigualdades se inverteram.
A assertiva do ex-presidente é merecedora de profundo estudo. Não me recordo de avanços substanciosos no seu governo capazes de trazer um modelo de desenvolvimento para as regiões norte e nordeste e que as colocassem, ao menos, em condições de igualdade com as demais regiões. Aliás, se persistem as desigualdades regionais, como o próprio texto expõe, elas são frutos – em parte – da omissão dos poderosos da República todos estes anos.
Ora, entre os poderosos da República, deste sempre, neste século, esteve o ex-presidente, seja como governador, seja como senador e presidente do Senado Federal, por três legislaturas, e, também, como mandatário maior do país, no período já referido. Se fez algo, como insiste em dizer, foi tão insignificante que não persistiu, não rendeu nada. Pelo contrário, quando lembramos do seu governo nos vem à mente é a inflação estratosférica, a corrupção desenfreada, o controle estatal de preços, as filas intermináveis.
O maior exemplo do quanto soa falso o queixume em relação as desigualdades é o que fez – com o seu grupo – no Maranhão.
Tendo mandado e desmandado durante quase meio século, o legado que deixou foi a maior desigualdade e atraso que se tem notícia no país. Em quase todos os indicadores sociais o nosso estado se encontra na “rabeira» da fila, brigando pelo último ou penúltimo lugar com estados que, nem de longe, possuem as potencialidades do Maranhão.
As desgraças do estado estão materializadas no IDH, no IDEB e em tantos outros índices. Quando não é a educação sofrível é a saúde que não sai da UTI – ainda hoje temos pacientes morrendo por falta de atendimento médico, devendo favor as autoridades para conseguir uma vaga nas unidades de saúde, ainda hoje temos mulheres morrendo de parto, isso vem deste sempre, inclusive do meio século em que dominaram a política –, a agricultura que era de subsistência, praticamente deixou de existir. Chegamos ao ponto de ouvirmos, de mais de uma pessoa, que se o governo acabar com os programas como o “Bolsa Família” muitos cidadãos correm o risco de morrerem de fome. Esta é a a igualdade que ajudou a construir?
Noutra quadra vimos, sobretudo, os poderosos do estado fazerem fortunas da noite para o dia, receberem propinas de tudo que foi obra pública, aqui, no Maranhão, e no Brasil inteiro, tendo tais recursos, ilegais, fruto da corrupção, irrigado, inclusive, os fundos do próprio ex-presidente, apontado pelo «delator preventivo” Sérgio Machado, que assumiu, ele próprio, ter repassado recursos ao escriba dominical.
Não temos dúvidas que as desigualdades continuam. Elas continuam, sobretudo e principalmente, devido à classe política que temos, sempre preocupada em servir-se do Estado e não servir a ele e a sociedade que a elegeu.
Quem melhor simboliza a desigualdade que não o Maranhão? Quem melhor representa este modelo perverso, que não o ex-presidente José Sarney?
E, justamente sua melhor personificação, tem a ousadia de queixar-se da desigualdade? O queixume parece mais um escárnio.
Já no segundo texto, como disse, publicado no mesmo dia, o atual governador, Flávio Dino (PC do B) vende-nos a ideia de eleições livres, onde, segundo ele, pela primeira vez, não assistiremos a interferência do Palácio dos Leões no processo sucessório dos municípios. Diz que os eleitores olharão as melhores propostas e decidirão por si por quaisquer delas.
Será mesmo que viveremos essa maravilha de eleições livres, sem a interferência do governo?
A resposta para essa pergunta, temo, seja negativa. Ainda que, como disse o governador, não se use o poder estatal, seja através de convênios eleitoreiros, seja pela interferência direta por outros meios escusos, ela certamente existirá. Ainda mais quando ele assume, formal e pessoalmente, o papel de «militante das boas causas».
Existirá no Maranhão uma viva alma que acredite haver tantos comunistas no Maranhão, a ponto de disputar eleições em dezenas de municípios, inclusive colégios eleitorais importantes? Certamente que não. Essa “onda vermelha” que toma de conta do estado ocorre por influência do Palácio dos Leões.
Vejo inúmeras pessoas que nunca, jamais, ouviram falar em comunismo, do dia para noite, virarem legítimos defensores do marxismo e do leninismo – ainda que poucos saibam o que isso signifique. Sou tentado a Imaginar que um dia acordaram e decidiram: – rapaz, será uma boa coisa virar comunista.
Pronto! Comunistas estão todos. Claro que não professam aquele comunismo defendido pelo partido ao qual se filiaram, que defendeu o régime albanês; os expurgos assassínios de Stalin; que defende, com direito a nota oficial e tudo, a ditadura norte-coreana; a ditadura cubana ou o régime bolivariano que quebrou a Venezuela.
Por estas plagas defendem o comunismo «à brasileira», onde não há pecado em serem ricos proprietários de terras; que acumulem fortunas com a atuação no mercado de capitais, inclusive, o paralelo. Um comunismo, digamos assim, que tenha uma verdadeira adoração pelo dinheiro e os luxos que ele pode proporcionar.
Pois bem, embora seja um «comunismo» com todas estas licenças, sabemos que o milagre da transubstanciação foi mesmo operado pelo poder.
Não estivesse o partido no poder, duvido que tivéssemos tantos «comunistas» no estado. Fosse o governador um mero «militante das boas causas» e não o governador, duvido que tantos políticos estivessem buscando seu apoio, pedindo para tirar foto ou solicitando sua presença em convenções ou para gravar vídeos de apoio. Conheço-o há trinta anos como «militante das boas causas» e nunca teve nada disso, muito pelo contrário.
Os neocomunistas ingressaram no partido do governador, no partido que está no poder e é isso que vendem nas suas bases, que estarão em sintonia com o poder estadual, as tais das «parcerias», usam isso para tentar ganhar as eleições. Como o poder não intervirá no pleito?
Embora não se tenha a desfaçatez de outrora, é mera figura retórica dizer que os «Leões» estarão fora da disputa.
Ouso ir além, talvez os Leões estejam na disputa muito mais que noutras oportunidades. Estas eleições registram uma série de intervenções suspeitas em instâncias partidárias municipais. No caso mais emblemático «tomaram» o partido do seu fundador em Barreirinhas, para impedir o prefeito de disputar a reeleição e apoiar o candidato comunista.
No episódio, foi denunciado à sociedade maranhense a existência de uma farsa do historicamente famoso «Tratado de Tordesilhas» (acerto entre os reis de Espanha e Portugal que dividia o mundo, incluindo as terras por se descobrir, entre os dois reinos, assinado em 1494).
Na versão maranhense a farsa do «tratado» seria a divisão do estado entre os partidos que dão sustentação ao atual governo, num «acerto» entre suas lideranças, pouco importando sobre quem teriam que passar, quantas lideranças históricas teriam que aviltar.
Fizeram isso só em Barreirinhas? Quantos municípios mais?
Resta claro que aproveitam a autonomia partidária, assegurada na Carta Constitucional, para, com autoritarismo, exercerem o poder absoluto, o que contraria o espírito da norma. Será esta a «novidade» para as eleições de 2016?
O prefeito de Barreirinhas, irresignado com a afronta buscou, na undécima hora, a Justiça que desfez a patranha. Outros terão a mesma sorte?
O que dizer, também, da enorme pressão sobre os veículos de comunicação, sobretudo na internet, que, quase diariamente, são chamados à Justiça, não como intenção de reparar honra ou repor a verdade, mas, sim, como forma de calá-los? Será, também, uma novidade, não apenas para as eleições, mas, para o século 21?
O ex-presidente Sarney já foi o novo, veio para colocar fim aos desmandos do Vitorinismo. Flávio Dino é o novo, aí está para por fim aos desmandos do Sarneysmo.
Ao que principia, parece-nos, as duas faces de uma mesma moeda.
Abdon Marinho é advogado.