NÓS QUE ODIAMOS O MARANHÃO.
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- Criado: Sexta, 20 Maio 2016 11:00
- Escrito por Abdon Marinho
NÓS QUE ODIAMOS O MARANHÃO.
MEU PAI que, como sabem, era analfabeto por parte de pai, mãe e parteira, ensinou-me, conforme disse noutras oportunidades, que “aquilo que está errado é da conta de todo mundo”. Esta lição costumo disseminar por onde passo.
Outra lição que aprendi, esta, com a vida: governantes – quase todos, há exceções para justificar a regra – têm ojeriza à crítica. Fingem que aceitam, mas, no fundo, ficam incomodados. Acham que os críticos não entendem o que se passa na “complexa máquina administrativa”, ou têm algum interesse subterrâneo, ou, ainda, faz o jogo do adversário. Dificilmente passa pela cabeça dos governantes que, sem desprezar o que pensa, talvez o crítico só queira ajudar.
Sabedores que aos ouvidos do rei só são bem-vindos elogios, toda sorte de oportunistas se escalam para tirar vantagens. Governos têm o mesmo atrativo para puxa-sacos que determinados alimentos e lixo têm para as moscas. E, assim como estas, são igualmente nefastas. Só sabem dizer coisas agradáveis, riem das piadas sem graça como se o governante fosse o maior comediante do universo. Raros são os homens públicos que não se deixam contaminar pelos mimos e paparicos dos aduladores.
Nos meus vinte anos de vida profissional já testemunhei muito disso. Inúmeros são os casos de “ex alguma coisa” que chegam a me reclamar por não terem ouvido a verdade quando estavam no poder. inúmeros são os que reclamam do “sumiço” dos “amigos”: – Abdon, quando estava no poder fulano era meu amigo, faltava me carregar nos braços. Respondo: – A amizade não era por você. Era, sim, pelo poder.
Sempre que algum cliente reclama das dificuldades do encargo, digo-lhe: – Espera até ser «ex» para sentir o que é dificuldade.
Sobre a solidão do ex, um amigo, muito querido, contou-me um episódio: “Um político muito influente do Maranhão sempre que ia a determinado lugar, lá estava, no “campo de aviação» (Nota: antigamente, devido a falta de estradas, a maior parte do transporte era feito por aviões, a maioria dos municípios maranhenses possuíam os chamados “campos de aviação»), uma imensa comitiva a recepcioná-lo, entre eles, um cidadão do povo chamado Ribinha. Na medida que o poder diminuía, rareava a comitiva de recepção, mas sempre por lá estava o Ribinha. O tempo foi e poder, também. Já sem poder retornou ao município. Quando o avião pousou e desceu, olhou para os lados, ninguém para recebê-lo, campo de aviação deserto. Virou-se para o piloto e praguejou: – Nem Ribinha!?”.
Longe do poder, até os “Ribinhas» somem. Já ouvi de muitos que se voltassem ao poder faria as coisas diferentes e que, grande parte do seu padecimento e perrengues se devem ao fato de ter confiado nas “pessoas erradas”, de ter ouvido só o que lhe era conveniente.
Alguns têm essa chance e confiam, outra vez, em outras “pessoas erradas”, deve fazer parte do roteiro gostar de enganar-se.
Esta conversa toda tem um propósito: recomendar aos governantes que procurem tirar o melhor proveito das críticas que recebem; despertá-los para o fato de que não são donos da razão; que os auxiliares que só sabem dizer sim e que os endeusa, quase sempre estão errados; serve, para, sobretudo, dizer-lhes que o poder é transitório. Logo mais todos descem à planície e os que estarão ao lado do «ex» serão justamente aqueles que estiveram antes do poder e não os que viraram «melhores amigos» durante o fausto do mando.
Outro dia, o mundo maranhense quase veio abaixo por conta de uma nota escrita no Jornal Pequeno, na coluna do Dr. Pêta, alter ego do jornalista Lourival Bogéa. Lá o jornalista criticava o açodamento do governador Flavio Dino na defesa do governo da presidente afastada Dilma Rousseff, e concluía, dizendo que se o governador estava pensando mais em si que nos interesses do Maranhão, estaria sendo egoísta.
Embora o governador seja afeito a responder diretamente – ainda que por vias transversas – tudo lhe é dito do governo ou da sua conduta, não tomei conhecimento de qualquer manifestação sua. Entretanto, os setores da imprensa que orbita em torno do palácio e até pessoas bem próximas a ele, partiram “com tudo” para cima do jornalista do órgão das multidões.
Se não respondeu, tão pouco deu a devida importância aos alertas que lhes foram feitos. Tanto isso é verdade, que junto com o ex-advogado-geral da União e do deputado Waldir Maranhão, interino na presidência da Câmara dos Deputados, protagonizaram um dos mais patéticos momentos da política nacional: a tentativa bisonha do deputado maranhense de desmanchar a sessão da Câmara dos Deputados que aprovou a abertura de processo de impeachment da presidente da República.
A atitude insólita e típica do movimento estudantil – embora tenha causado prejuízos – acabou por virar piada de norte a sul do país e até no estrangeiro.
Qualquer que seja a análise que se faça a conclusão é a mesma: foi uma lambança monumental, que teria sido evitada se os protagonistas tivessem dado atenção às ponderações dos críticos. Fizeram ouvidos moucos. E, não apenas o deputado, mas, sobretudo, o governador, poderiam ter nos poupado deste tipo de constrangimento, do vexame que rompeu as fronteiras do Brasil – e ao país, dos prejuízos causados pela quartelada estudantil.
Outra monumental lambança é atribuir-se aos críticos do atual governo um saudosismo tardio dos governos anteriores, sobretudo, àqueles ligados ao sarneysmo. Será que o Jornal Pequeno, com quase 65 anos, desde sempre na oposição, teria razão para, segundo os governistas de hoje, fazer «o jogo da oposição»? Lógico que não.
Nem o Jornal Pequeno, sua direção, ou qualquer outro cidadão, que tenha uma visão crítica dos (des)acertos do governo devem ser tratados como opositores. Antes, deveriam ser tratados, como pessoas, que tendo ficado e se dedicado uma vida inteira à causa oposicionista são merecedoras do respeito devido, quando não, sermos ouvidos pelas críticas feitas na intenção de colaborar com o governo. Pois, o desejo maior é que ele dê certo, que prove ser possível fazer uma administração diferente daquelas que se passou a vida inteira criticando.
Não há discurso mais cômodo que o dos governistas profissionais, até porque, raros são os governantes que não se deixam seduzir pela adulação dos lacaios. Difícil é criticar com independência e por conta disso sofrer as consequências que vêm das mais diversas formas, seja pela perseguição, seja pela desqualificação feitas por aqueles que só conhecem um lado – o dos que estão no poder, seja quem for.
Noutra quadra, a crítica, quase sempre incompreendida, é feita no interesse do Maranhão. O que se desejamos é ver os interesses do estado e do povo maranhense à frente de interesses pessoais ou de partidos, quaisquer que sejam.
Abdon Marinho é advogado.