AbdonMarinho - O PEDIDO DE DESCULPAS QUE NÃO VEIO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O PEDIDO DE DES­CUL­PAS QUE NÃO VEIO.

O PEDIDO DE DES­CUL­PAS QUE NÃO VEIO.

QUANDO o escân­dalo – pos­te­ri­or­mente apel­i­dado – men­salão tornou-​se público no ano de 2005, lem­bro de uma série de entre­vis­tas e declar­ações do então pres­i­dente Luís Iná­cio Lula da Silva sobre o mesmo. Em uma delas, acred­ito que dada na residên­cia ofi­cial do Torto, declarou que fora traído e que o seu par­tido (PT) dev­e­ria pedir des­cul­pas a nação brasileira.

Eram declar­ações de quem estava acuado pela verdade.

Os fatos vis­tos a par­tir das infor­mações que temos hoje, dão conta que o sen­hor Lula nunca foi traído, pelo con­trário, era ele o chefe de todo esquema. Ao invés de traído, traidor.

À medida que o tempo foi pas­sando e a oposição mostrando-​se inca­paz e leniente com os fatos trazi­dos à luz no escân­dalo do men­salão, o pedido de des­cul­pas que o ex-​presidente achava dev­ido, foi esquecido.

Não só o pedido de des­cul­pas não veio, como as práti­cas – sabe­mos agora – foram se tor­nando cada vez mais nefas­tas. O escân­dalo do men­salão (apu­rado no Ação Penal 470), a com­pra de apoios no Con­gresso Nacional, medi­ante sub­or­nos rotineiros, deram lugar a aniquilação do Estado, através de uma estru­tura para­lela de cor­rupção, onde o par­tido, seus ali­a­dos e lid­er­anças, finan­ciavam e enri­cavam com o din­heiro desvi­ado das bur­ras públicas.

Enquanto as lid­er­anças ficavam ricas, a nação naufra­gava, tangida, não ape­nas pela cor­rupção, mas, tam­bém, pela incom­petên­cia. O efeito mais patente é que as finanças públi­cas andam na con­tramão do cresci­mento, apre­sen­tando resul­ta­dos neg­a­tivos ano após ano. O empo­brec­i­mento das famílias só encon­tra para­lelo no desem­prego que já alcançou mais de 11 mil­hões de brasileiros da chamada pop­u­lação eco­nomi­ca­mente ativa – aquela que gera riquezas. São mil­hões de pais de famílias deses­per­a­dos sem saber como sal­dar as con­tas, como ali­men­tar seus fil­hos, sem qual­quer esperança.

Ape­sar de tudo que fiz­eram – os escân­da­los estão aí à vista de todos, em todos os setores, desconfia-​se que cobravam propina para tudo –, de todas as decisões, dolosa­mente, equiv­o­cadas ou moti­vadas por inter­esses que não eram o da nação brasileira e do nosso povo, dez anos depois do ex-​presidente haver dito que deviam se des­cul­par, nunca foram capazes de fazer tal gesto, de faz­erem uma autocrítica, de diz­erem: – olha, acho que erramos; ou – erramos, mas não foi por querer.

Nada disso acon­te­ceu. Não só deixaram de pedir des­cul­pas, como se acham cre­dores da sociedade. Basta exam­i­nar as falas das lid­er­anças par­tidárias, seus escritos ou até mesmo con­ver­sar com quais­quer deles e até mesmo com seus sim­ples fil­i­a­dos ou sim­pa­ti­zantes: para eles nada do está provado sobre os escân­da­los que afun­daram a nação nos seus anos de poder exi­s­ti­ram; que isso é invenção da «dire­ita» rea­cionária que não se con­forma com a ascen­são social dos menos favore­ci­dos. Como se a lama em que cha­fur­daram fosse difer­ente daquela que tan­tos out­ros chafurdaram.

Agem como se a sociedade decente não tivesse o dire­ito de ficar indig­nada por ver os recur­sos da nação serem drena­dos para con­tas dos cor­rup­tos enquanto o Estado não con­segue cumprir com suas obri­gações elementares.

Assim, qual­quer um que aponte suas fal­has, seus malfeitos, são «cox­in­has», rea­cionários, inimi­gos do povo, intol­er­antes e, tan­tos out­ros epíte­tos, dis­pen­sa­dos aos desafetos.

Então, nesta ótica, os cidadãos de bem, somos respon­sáveis por ser­mos rou­ba­dos, por fal­tar esco­las decentes, por fal­tar atendi­mento médico, por fal­tar infraestru­tura, por fal­tar tudo. Emb­ora pague­mos uma carga trib­utária com­patível com aquela paga pelas nações que dis­põem de tudo que não temos por aqui.

Quando do men­salão, os mais cíni­cos chegavam a dizer que a ati­tude era necessária «pelo bem causa», que tin­ham que usar os mes­mos mecan­is­mos usa­dos pelos demais para destruir o sis­tema de den­tro para fora. O tempo pas­sou e vimos que, até mesmo essas des­culpa cínica e despu­do­rada, era ape­nas retórica: em curso, na ver­dade um método crim­i­noso de apro­pri­ação dos recur­sos públi­cos capaz de deixar enver­gonhados até mes­mos os con­tu­mazes salteadores da nação.

O ocaso petista, acred­ito, não fará bem ape­nas a nação brasileira, será uma chance de se reen­con­trarem com suas raízes, com os princí­pios que nortearam sua fun­dação – se é que tiveram. E, ainda que, tar­dia­mente, peçam des­cul­pas aos mil­hões de brasileiros que con­fi­aram no seu pro­jeto político de fazer deste país um lugar mais justo para se viver e que, ao invés disso tiveram/​têm que con­viver com um pro­jeto crim­i­noso que saqueou a nação.

Encerro com uma reflexão. Ensina o bom senso que na escal­ada da vida deve­mos obser­var o mesmo rit­ual de subir­mos uma escada: com calma, tran­quil­i­dade, sem atro­pelar e respei­tando a todos que encon­trar­mos no cam­inho. Se assim pro­ce­d­er­mos, ter­e­mos menos chance de ser­mos empurra­dos quando tiver­mos que descer.

Abdon Mar­inho é advogado.