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Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

HORA DE DIZER ADEUS

HORA DE DIZER ADEUS

UMA VISITA edu­cada não espera o anfitrião colo­car a «vas­soura atrás da porta», boce­jar, respon­der por monossíla­bos, para saber que é hora de partir.

A pres­i­dente Dilma parece esque­cer essa regra básica de etiqueta.

Não reunindo mais as condições mín­i­mas para diri­gir o país, dia sim, é no outro tam­bém, se ocupa em fazer comí­cios para o seu público cativo onde repete o bor­dão: «daqui não saio, daqui ninguém me tira».

Não se com­porta como primeira servi­dora pública e sim como dona do poder.

Para isso, sem qual­quer pudor ou con­strang­i­mento – fazem questão de alardear –, loteia os car­gos públi­cos, os espaços de poder com a par­tidos e políti­cos, den­tre os quais muitos que ao invés de pos­suírem biografia, dis­põem de folha corrida.

O PMDB can­sou da parce­ria. Beleza, vamos chamar o PP, PR e o PSD para par­til­har o poder, ocu­par os car­gos de min­istros, super­in­ten­dentes, etc.

Pouco importa que as lid­er­anças destes par­tidos pon­tif­iquem os maiores escân­da­los do país e além-​mar e, este­jam, quase todos, respon­dendo por crimes con­tra o patrimônio público.

Ora, um dos argu­men­tos que os defen­sores da pres­i­dente usam é que nada pesaria, pes­soal­mente, con­tra ela – emb­ora chovam ressal­vas quanto isso.

O que dirão agora quando a própria pres­i­dente, no sen­tido lit­eral, entra no vale-​tudo.

O pior é que, tanto ela quanto os seus, acred­i­tam estarem fazendo o certo. Não estão. Pro­tag­on­i­zam um espetáculo ver­gonhoso típico daque­les que veem o poder como um fim em si mesmo.

Se na cam­panha disse que faria o «diabo» para gan­har. Como aliás, fez, agora está fazendo o inferno inteiro para se man­ter no poder. Ao que parece, perderam total­mente o com­pos­tura, a chamada ver­gonha na cara, o pudor com a coisa pública.

Infe­liz­mente faz isso às cus­tas dos recur­sos que per­tencem a todos os brasileiros, faz isso à custa do emprego, da escola, da saúde, da infraestru­tura e, sobre­tudo, dos son­hos dos menos favorecidos.

Logo mais, a União, a exem­plo de todos os esta­dos da fed­er­ação começará a atrasar o paga­mento dos servi­dores, como já vem fazendo com os programas.

O país está sem quais­quer per­spec­ti­vas de futuro. Não há, talvez, nem como exceção para jus­ti­ficar a regra, um indi­cador pos­i­tivo, todos, até parece lugar comum, são os piores das últi­mas décadas, os piores da história e por aí vai. São empre­sas fechando, pais de família per­dendo o emprego, jovens sem chances de entrar no mer­cado de trabalho.

A pres­i­dente com rejeição na casa dos noventa por cento, sem apre­sen­tar uma única alter­na­tiva que devolva a esper­ança aos admin­istra­dos, afronta a pop­u­lação com colo­cações do tipo: – tenho cara de quem vai renun­ciar? Ou: – no Brasil estão ten­tando aplicar um golpe na pres­i­dente legit­i­ma­mente eleita.

Seus ali­a­dos ainda com­ple­tam dizendo que incom­petên­cia não é motivo para impeach­ment, igno­rando os crimes, larga­mente com­pro­va­dos e à dis­posição de quem quiser conferir.

O golpe, na visão de tais doutos, estaria sendo engen­drado pelo Poder Leg­isla­tivo, pelo Poder Judi­ciário e pela chamada «mídia golpista», usando suas palavras, seria um golpe parlamentar-​judicial-​midiático. Não duvi­dem, li algo neste sen­tido. Se são capazes de ideias tão des­baratadas, são capazes de tudo.

Para a lou­cura ser maior só fal­tou acres­cen­tar ao tão fal­ado «golpe» parlamentar-​judicial-​midiático, o povo – uma vez que setenta por cento da pop­u­lação pedem a saída da presidente.

O golpe, na per­feita acepção dos acon­tec­i­men­tos vivi­dos, seria parlamentar-​judicial-​midiático-​popular.

Vamos com­bi­nar que algo assim é uma excen­t­ri­ci­dade jamais vista, neste Brasil acos­tu­mado a exo­tismo. Um golpe pro­movido pelos poderes do Estado, den­tro do sis­tema de pesos e con­trape­sos, nor­mal em todo mundo, divul­gado pela mídia, den­tro do seu papel de infor­mar (a imprensa não cria os fatos, ape­nas os notí­cia) e com o apoio do povo.

Ainda que tente, com todas as forças, não con­sigo encon­trar sen­tido para isso.

A pres­i­dente e seus aux­il­iares dev­e­riam recon­hecer que não pos­suem mais condições de diri­gir o país, não há, sequer, quem acred­ite que ainda pos­sua o terço dos votos necessários (ainda que ven­dam a nação) para bar­rar o processo de impeachment.

Um gov­er­nante com apoio par­la­men­tar e pop­u­lar, encon­tra difi­cul­dades para admin­is­trar. O que dizer de um que não tem nem uma coisa nem a outra e que se encon­tra na situ­ação de inves­ti­gado por crimes graves? Será que pen­sam que ven­cida essa primeira bar­reira do impeach­ment os prob­le­mas se dis­si­pam? Vão debe­lar crise, as incertezas? Se pen­sam isso, é caso para inter­nação. Ainda que vencessem, restariam out­ros pedi­dos; resta a inves­ti­gação policial/​judicial; resta a crise para a qual não têm solução alguma; resta a falta de credibilidade.

Vejam a que ponto cheg­amos. Temos uma pres­i­dente da República que, tal como age um prefeito de uma minús­cula cidade do inte­rior, acha que vale a pena come­ter todo tipo de desatino e gas­tos para man­ter –se no poder.

Ao que parece, são inca­pazes de com­preen­der que cada dia a mais que pas­sam no poder só con­seguem fomen­tar a crise, torná-​la mais aguda e insolúvel.

Já passa da hora de recon­hecerem a inca­paci­dade de con­tin­uarem à frente dos des­ti­nos do país e nos poupar de mais des­gastes e pre­juí­zos. O Brasil tem per­dido muito com isso.

Já passa da hora de, efe­ti­va­mente, pen­sarem no país e não nos próprios inter­esses e deixarem o poder, recon­hecerem que não são mais fiadores da união, mas sim, porta-​vozes dos con­fli­tos e até da guerra civil.

O gov­erno da pres­i­dente Dilma só pos­sui uma saída. A saída dela, Dilma.

O Brasil, por sua vez, pre­cisa de uma reforma política que não torne um país inteiro refém do capri­cho de uma pes­soa ou de um pequeno grupo, que afer­ra­dos à ideia de mandatos imutáveis, causam tan­tos pre­juí­zos à nação.

Temos muito a apren­der com a exper­iên­cia de out­ros países.

Noutras nações gov­er­nos são sub­sti­tuí­dos e mundo não acaba.

Durante a crise grega em que o primeiro-​ministro disse uma coisa na cam­panha e fez outra depois de eleito, per­dendo sus­ten­tação política e pop­u­lar, destituiu-​se os eleitos e convocou-​se novas eleições para per­mi­tir ao gov­er­nante necessária legit­im­i­dade para governar.

Pre­cisamos de mecan­is­mos que nos per­mita tam­bém fazer isso. Não faz sen­tido o país pas­sar por situ­ações como a que passa agora. Ainda mais que esta não é a primeira nem será a última vez. Temos que mudar isso.

A situ­ação de hoje é bem pior que as enfrentadas em momen­tos anteriores.

A causa disso: nos­sos gov­er­nantes pio­raram muito de nível, não temos lid­er­anças na sociedade ou no Con­gresso Nacional e, nem mesmo no Poder Judi­ciário, temos lid­er­anças capazes de catal­isar o sen­ti­mento da nação.

E, para pio­rar ainda mais o quadro, temos noutra frente um gov­erno sendo con­duzido de forma sec­tária, onde os inter­esses da mino­ria são colo­ca­dos à frente dos inter­esses nacionais.

Noutras crises, como a de 1954, Getulio Var­gas, sem condições de gov­ernar, preferiu sair da vida para entrar na história; em 1963, foi a vez de Jânio Quadros, bus­car a renún­cia; em seguida foi a vez de João Goulart bus­car o exílio. Hoje temos uma gov­er­nante inca­paz de bus­car qual­quer saída ou de ser ela própria a bus­car outro cam­inho para si. Ao con­trário, fica ali­men­tando rad­i­cal­is­mos que, cer­ta­mente, não trarão bons fru­tos ao país.

Seria muito mais fácil se tiver­mos mecan­is­mos mais efi­cientes ou uma gov­er­nante que tivesse um mín­imo de bom senso e enten­desse que já passa da hora de dizer adeus. Ou, usando uma das palavras de seu men­tor: – tchau, querida.

Abdon Mar­inho é advogado.