AbdonMarinho - O MENINO SÓ.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O MENINO .

O MENINO .

AMI­GOS não se pre­ocu­pam em nos agradar, dizem as ver­dades mais cor­tantes sem qual­quer medo; nos xingam; dizem palavrões; nos dão “esporros» homéri­cos. Ami­gos fes­te­jam conosco, mas, sobre­tudo, sofrem e sen­tem as mes­mas dores que sen­ti­mos. Ami­gos nos apon­tam cam­in­hos, nos mostram erros e equívocos.

Fal­tam ami­gos ao gov­er­nador do Maran­hão. Já disse isso em muitas ocasiões, até escrevi um texto sobre isso inti­t­u­lado “Falta um grilo aos Leões”, sobre o fato do gov­er­nador ter se cer­cado de fãs, admi­radores e tam­bém de puxa-​sacos.

Todos, por admi­ração ou con­veniên­cia, inca­pazes de apon­tar erros, dis­cu­tir os desac­er­tos com a maturi­dade e inde­pendên­cia que somente os ver­dadeiros ami­gos são capazes de fazer.

Dizia isso, a propósito do con­strange­dor episó­dio ocor­rido em Lago da Pedra, onde o gov­er­nador, em pes­soa, foi descortês (eufemismo para grosse­ria) com a prefeita do municí­pio e tam­bém com o seu genro, secretário de Estado do governo.

A falta de acon­sel­hamento tor­nada pública no episó­dio, já vinha de antes, desde a for­mação do governo.

Qual­quer um sabia – eu mesmo, can­sei de aler­tar, ainda em 2014 –, que os anos de seguintes seriam de imensa difi­cul­dades para as econo­mias de esta­dos e municípios.

A crise que viven­ci­amos hoje já era palpável desde o começo de 2014.

Se eu – que não sou ninguém, não sou inteligente, não sou nada –, me dava conta da crise que se aviz­in­hava, como é que o gov­er­nador, tido por pes­soa bril­hante, culta, inteligente, não se deu conta? Excesso de con­fi­ança? Talvez. Mas, tam­bém, fal­tou conselho.

O gov­er­nador assumiu o mandato depois de uma vitória con­sagradora. Como se diz na gíria política, sem «dever nada a ninguém», com autori­dade sufi­ciente para dar um choque de gestão, reduzir mil­hares de car­gos comis­sion­a­dos e con­tratos, em resumo: enx­u­gar a máquina e «sur­far na onda» da boa gestão.

Até onde sei, não fez nada disso. Pelo con­trário, man­teve quase todos que já estavam há décadas em suas posições e acres­cen­tou um outro tanto.

Ao fazer isso foi aplau­dido por todos. Ao anun­ciar o sec­re­tari­ado a mesma coisa. Tudo eram elo­gios, que pes­soas com­pe­tentes, que acerto genial.

Com o tempo, e a neces­si­dade de sub­sti­tu­ição ocor­rendo, os mes­mos que elo­gia­ram a escolha do sec­re­tari­ado, pas­saram a elo­giar as tro­cas. Aqui com meus botões, inda­gava: acer­tou antes quando fez de um jeito e tam­bém agora quando faz o oposto? Não tem nada errado, nem antes nem agora? Vá enten­der, né?

Pior mesmo foram a demis­sões que fiz­eram agora no iní­cio do ano. Quase todas as sec­re­tarias tendo que reduzir pes­soal e custeio da máquina pública. Pes­soas nomeadas e pro­gra­madas para ficarem qua­tro ou mais antes, sendo postas para fora com pouco mais de um ano após serem nomeadas. Sim, pelo que soube as demis­sões e rescisões de con­tratos recaíram, sobre­tudo, sobre aque­las pes­soas indi­cadas, nomeadas e con­tratadas pela indi­cação dos ali­a­dos. Que, pelo que soube, não «cur­tiram» a novidade.

Assistindo aos fatos de longe fiquei a pen­sar: será que não tem ninguém para dizer: – olha, gov­er­nador, teve um cara aí, um tal de Nico­lau Maquiavel, que escreveu um livro chamado «O Príncipe», e lá diz que o gov­er­nante deve fazer o mal todo de uma vez e depois ir fazendo o bem aos poucos.

Pois é, não apare­ceu ninguém para aler­tar o gov­er­nador (e ele tam­bém não deve ter lido o que eu e tan­tos out­ros escreveu sobre a crise que viria), para que ele, sem com­pro­misso com tan­tos encaste­la­dos há décadas no poder fizesse uma «limpa» e deix­asse a máquina pública enx­uta e voltada para as ativi­dades fins do Estado, ao invés de ter que fazer isso agora, tangido pela necessidade.

Mas, vendo o que acon­te­cia, e inda­gado por um amigo sobre o que achava, respondi: – o gov­er­nador, deve está no propósito de ree­scr­ever a obra de Maquiavel, não deve ter gostado. É o que parece.

Sinto, tam­bém, fal­tar ao gov­er­nador quem o acon­selhe sobre o atual momento político vivido pelo país.

Acho que merece elo­gios a posição de fidel­i­dade e leal­dade que man­tém em relação a pres­i­dente Dilma Rouss­eff. Entre­tanto, ele pode­ria demon­strar tal fidel­i­dade e leal­dade sem sair por aí, ofend­endo as pes­soas que dis­cor­dam do seu posi­ciona­mento. Devia lem­brar que a base política que esteve na sua cam­panha, empre­stando apoio e votos, não pode ser chamada de «golpista». Não fica bem e ainda parece ingratidão.

Mais, pode­ria ter admoes­tado pub­li­ca­mente seus aux­il­iares que, arma­dos de facas, estiletes e chuços se ocu­param de lin­char um boneco inflável.

O silên­cio e a forma como se porta demon­stra que aprovou a lou­cura que, por pouco, não descam­bou para a tragédia.

Acho que lhe faz falta algum amigo para lhe dizer: – gov­er­nador, não seja tão duro com estes «golpis­tas», pois talvez ven­hamos a pre­cisar deles lá na frente. Lá na frente, já é amanhã, 2018 já bate à porta.

Este ou outro amigo, pode­ria lembrá-​lo que aquilo que ele e os seus ali­a­dos da causa petista chamam de «golpe», é uma legí­tima man­i­fes­tação da democ­ra­cia, recon­hecida por quase todos os min­istros do Supremo e, aque­les que hoje acusam como golpe, fiz­eram uso dos mes­mos expe­di­entes, em tem­pos recentes, con­tra Sar­ney, Col­lor e FHC.

Um amigo mais íntimo pode­ria alertá-​lo que diante do quadro político em que os próprios ali­a­dos da pres­i­dente recon­hecem o atual gov­erno como um navio à deriva que começa a afun­dar, não lhe fica bem o papel de «mae­stro» da orques­tra do Titanic, mesmo porque, e como reg­istro histórico, o tal mae­stro afun­dou junto com o famoso navio, em 1912.

Este mesmo amigo pode­ria dizer-​lhe, ainda, que é forçar um pouco a barra com­parar a pres­i­dente da República com Jesus Cristo, quando quase noventa por cento da pop­u­lação a vê como Judas, devendo ser objeto de inúmeras mal­hações no Sábado de Aleluia. Mais, que noventa por cento dos cristãos acharam desproposi­tada a ten­ta­tiva de analogia.

Um outro amigo pode­ria chamar-​lhe a razão dizendo: – gov­er­nador, vamos cuidar do nosso gov­erno, só temos mais dois anos e meio e ainda esta­mos longe de cumprir as metas que nós propo­mos. Nos­sos adver­sários, já começam a apos­tar que não entre­gare­mos uma única obra estru­tu­rante no estado; que as estradas prometi­das – como por exem­plo a MA 006, que seria a via de interli­gação do estado de norte a sul como prometida na cam­panha –, não sairão do papel; que a mis­éria per­manecerá a mesma; que os indi­cadores soci­ais, pouco ou quase nada mudarão, no tempo que falta. Os adver­sários dizem ainda que «não tem perigo» nosso gov­erno dar certo. Pior, que isso, gov­er­nador, é a pop­u­lação dizer que somos menos efi­cientes que o grupo que sucedemos em quase todas as áreas da admin­is­tração pública. Dizem, por exem­plo, que a nossa saúde pública está pior que a de Ricardo Murad a quem acusamos de desviar um bil­hão e duzen­tos mil­hões de reais; que nossa infraestru­tura não resolverá nem os prob­le­mas das MA’s que cor­tam a ilha; que a nossa segu­rança é igual a de Roseana; que nosso sis­tema pen­i­ten­ciário está longe de ser a Brastemp prometida; que a agri­cul­tura não tem avançado no ritmo esper­ado e que, se não tomar­mos cuidado, podemos perder algu­mas con­quis­tas, como foi o estado ficar livre da aftosa; e que, nem con­cluire­mos todas as obras con­tratadas no gov­erno anterior.

Final­mente, algum amigo com mais cor­agem pode­ria lhe dizer: – gov­er­nador, se temos pre­ten­sões de son­har em mudar o Brasil, temos que fazer nosso dever de casa primeiro. Esse dever de casa é mudar o Maran­hão e já temos pouco tempo para isso.

Um outro, ainda pode­ria acres­cen­tar: – gov­er­nador, ainda que o impon­derável acon­teça, e esse gov­erno da pres­i­dente Dilma Rouss­eff con­siga se arras­tar até 2018, pois não ter­e­mos gov­erno, o efeito será bem pior para nós, que somos os ali­a­dos mais fiéis, que para aque­les a quem, hoje, vemos como «golpis­tas». Mais, será um gov­erno de tal forma frag­ilizado que terá de com­por com a escória da escória da política nacional. Não podemos está vin­cu­lado sã isso.

Pois é, seria muito bom para o Maran­hão e, mesmo, para o Brasil, que o gov­er­nador Flávio Dino tivesse ami­gos ao invés de fãs, con­sel­heiros ao invés de adu­ladores. Não ter ami­gos ou con­sel­heiros com cor­agem é muito ruim, sobre­tudo, para ele próprio. Talvez devesse nomear algu­mas pes­soas dis­tante destes cír­cu­los que o cerca, com autono­mia para pen­sar o estado e expres­sar isso, sem receio, ao governador.

Na sua solidão de gov­er­nador, se com­porta e age como aquele menino que, bem nascido e com o quarto repleto de brin­que­dos não tem com quem brincar.

Abdon Mar­inho é advogado.