O MENINO SÓ.
- Detalhes
- Criado: Sábado, 26 Março 2016 10:53
- Escrito por Abdon Marinho
O MENINO SÓ.
AMIGOS não se preocupam em nos agradar, dizem as verdades mais cortantes sem qualquer medo; nos xingam; dizem palavrões; nos dão “esporros» homéricos. Amigos festejam conosco, mas, sobretudo, sofrem e sentem as mesmas dores que sentimos. Amigos nos apontam caminhos, nos mostram erros e equívocos.
Faltam amigos ao governador do Maranhão. Já disse isso em muitas ocasiões, até escrevi um texto sobre isso intitulado “Falta um grilo aos Leões”, sobre o fato do governador ter se cercado de fãs, admiradores e também de puxa-sacos.
Todos, por admiração ou conveniência, incapazes de apontar erros, discutir os desacertos com a maturidade e independência que somente os verdadeiros amigos são capazes de fazer.
Dizia isso, a propósito do constrangedor episódio ocorrido em Lago da Pedra, onde o governador, em pessoa, foi descortês (eufemismo para grosseria) com a prefeita do município e também com o seu genro, secretário de Estado do governo.
A falta de aconselhamento tornada pública no episódio, já vinha de antes, desde a formação do governo.
Qualquer um sabia – eu mesmo, cansei de alertar, ainda em 2014 –, que os anos de seguintes seriam de imensa dificuldades para as economias de estados e municípios.
A crise que vivenciamos hoje já era palpável desde o começo de 2014.
Se eu – que não sou ninguém, não sou inteligente, não sou nada –, me dava conta da crise que se avizinhava, como é que o governador, tido por pessoa brilhante, culta, inteligente, não se deu conta? Excesso de confiança? Talvez. Mas, também, faltou conselho.
O governador assumiu o mandato depois de uma vitória consagradora. Como se diz na gíria política, sem «dever nada a ninguém», com autoridade suficiente para dar um choque de gestão, reduzir milhares de cargos comissionados e contratos, em resumo: enxugar a máquina e «surfar na onda» da boa gestão.
Até onde sei, não fez nada disso. Pelo contrário, manteve quase todos que já estavam há décadas em suas posições e acrescentou um outro tanto.
Ao fazer isso foi aplaudido por todos. Ao anunciar o secretariado a mesma coisa. Tudo eram elogios, que pessoas competentes, que acerto genial.
Com o tempo, e a necessidade de substituição ocorrendo, os mesmos que elogiaram a escolha do secretariado, passaram a elogiar as trocas. Aqui com meus botões, indagava: acertou antes quando fez de um jeito e também agora quando faz o oposto? Não tem nada errado, nem antes nem agora? Vá entender, né?
Pior mesmo foram a demissões que fizeram agora no início do ano. Quase todas as secretarias tendo que reduzir pessoal e custeio da máquina pública. Pessoas nomeadas e programadas para ficarem quatro ou mais antes, sendo postas para fora com pouco mais de um ano após serem nomeadas. Sim, pelo que soube as demissões e rescisões de contratos recaíram, sobretudo, sobre aquelas pessoas indicadas, nomeadas e contratadas pela indicação dos aliados. Que, pelo que soube, não «curtiram» a novidade.
Assistindo aos fatos de longe fiquei a pensar: será que não tem ninguém para dizer: – olha, governador, teve um cara aí, um tal de Nicolau Maquiavel, que escreveu um livro chamado «O Príncipe», e lá diz que o governante deve fazer o mal todo de uma vez e depois ir fazendo o bem aos poucos.
Pois é, não apareceu ninguém para alertar o governador (e ele também não deve ter lido o que eu e tantos outros escreveu sobre a crise que viria), para que ele, sem compromisso com tantos encastelados há décadas no poder fizesse uma «limpa» e deixasse a máquina pública enxuta e voltada para as atividades fins do Estado, ao invés de ter que fazer isso agora, tangido pela necessidade.
Mas, vendo o que acontecia, e indagado por um amigo sobre o que achava, respondi: – o governador, deve está no propósito de reescrever a obra de Maquiavel, não deve ter gostado. É o que parece.
Sinto, também, faltar ao governador quem o aconselhe sobre o atual momento político vivido pelo país.
Acho que merece elogios a posição de fidelidade e lealdade que mantém em relação a presidente Dilma Rousseff. Entretanto, ele poderia demonstrar tal fidelidade e lealdade sem sair por aí, ofendendo as pessoas que discordam do seu posicionamento. Devia lembrar que a base política que esteve na sua campanha, emprestando apoio e votos, não pode ser chamada de «golpista». Não fica bem e ainda parece ingratidão.
Mais, poderia ter admoestado publicamente seus auxiliares que, armados de facas, estiletes e chuços se ocuparam de linchar um boneco inflável.
O silêncio e a forma como se porta demonstra que aprovou a loucura que, por pouco, não descambou para a tragédia.
Acho que lhe faz falta algum amigo para lhe dizer: – governador, não seja tão duro com estes «golpistas», pois talvez venhamos a precisar deles lá na frente. Lá na frente, já é amanhã, 2018 já bate à porta.
Este ou outro amigo, poderia lembrá-lo que aquilo que ele e os seus aliados da causa petista chamam de «golpe», é uma legítima manifestação da democracia, reconhecida por quase todos os ministros do Supremo e, aqueles que hoje acusam como golpe, fizeram uso dos mesmos expedientes, em tempos recentes, contra Sarney, Collor e FHC.
Um amigo mais íntimo poderia alertá-lo que diante do quadro político em que os próprios aliados da presidente reconhecem o atual governo como um navio à deriva que começa a afundar, não lhe fica bem o papel de «maestro» da orquestra do Titanic, mesmo porque, e como registro histórico, o tal maestro afundou junto com o famoso navio, em 1912.
Este mesmo amigo poderia dizer-lhe, ainda, que é forçar um pouco a barra comparar a presidente da República com Jesus Cristo, quando quase noventa por cento da população a vê como Judas, devendo ser objeto de inúmeras malhações no Sábado de Aleluia. Mais, que noventa por cento dos cristãos acharam despropositada a tentativa de analogia.
Um outro amigo poderia chamar-lhe a razão dizendo: – governador, vamos cuidar do nosso governo, só temos mais dois anos e meio e ainda estamos longe de cumprir as metas que nós propomos. Nossos adversários, já começam a apostar que não entregaremos uma única obra estruturante no estado; que as estradas prometidas – como por exemplo a MA 006, que seria a via de interligação do estado de norte a sul como prometida na campanha –, não sairão do papel; que a miséria permanecerá a mesma; que os indicadores sociais, pouco ou quase nada mudarão, no tempo que falta. Os adversários dizem ainda que «não tem perigo» nosso governo dar certo. Pior, que isso, governador, é a população dizer que somos menos eficientes que o grupo que sucedemos em quase todas as áreas da administração pública. Dizem, por exemplo, que a nossa saúde pública está pior que a de Ricardo Murad a quem acusamos de desviar um bilhão e duzentos milhões de reais; que nossa infraestrutura não resolverá nem os problemas das MA’s que cortam a ilha; que a nossa segurança é igual a de Roseana; que nosso sistema penitenciário está longe de ser a Brastemp prometida; que a agricultura não tem avançado no ritmo esperado e que, se não tomarmos cuidado, podemos perder algumas conquistas, como foi o estado ficar livre da aftosa; e que, nem concluiremos todas as obras contratadas no governo anterior.
Finalmente, algum amigo com mais coragem poderia lhe dizer: – governador, se temos pretensões de sonhar em mudar o Brasil, temos que fazer nosso dever de casa primeiro. Esse dever de casa é mudar o Maranhão e já temos pouco tempo para isso.
Um outro, ainda poderia acrescentar: – governador, ainda que o imponderável aconteça, e esse governo da presidente Dilma Rousseff consiga se arrastar até 2018, pois não teremos governo, o efeito será bem pior para nós, que somos os aliados mais fiéis, que para aqueles a quem, hoje, vemos como «golpistas». Mais, será um governo de tal forma fragilizado que terá de compor com a escória da escória da política nacional. Não podemos está vinculado sã isso.
Pois é, seria muito bom para o Maranhão e, mesmo, para o Brasil, que o governador Flávio Dino tivesse amigos ao invés de fãs, conselheiros ao invés de aduladores. Não ter amigos ou conselheiros com coragem é muito ruim, sobretudo, para ele próprio. Talvez devesse nomear algumas pessoas distante destes círculos que o cerca, com autonomia para pensar o estado e expressar isso, sem receio, ao governador.
Na sua solidão de governador, se comporta e age como aquele menino que, bem nascido e com o quarto repleto de brinquedos não tem com quem brincar.
Abdon Marinho é advogado.