AbdonMarinho - A VIOLÊNCIA NÃO BATE NA PORTA, ARROMBA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 18 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A VIO­LÊN­CIA NÃO BATE NA PORTA, ARROMBA.

A VIO­LÊN­CIA NÃO BATE NA PORTA, ARROMBA.

A cidade foi des­per­tada no domingo, 9/​11, com a notí­cia do latrocínio que viti­mou o médico Luís Alfredo Guter­res, dire­tor no Hos­pi­tal do Câncer da capital.

Neste ano que finda, não foram pou­cas as vezes que tratei do tema vio­lên­cia. Todas elas aler­tando para o seu cresci­mento expo­nen­cial e a inefi­ciên­cia do Estado em combatê-​la, sobre­tudo, pela palpável ausên­cia de uma política de segu­rança sól­ida e exequível.

Segundo dados apu­ra­dos pelo Jor­nal Pequeno, o mês de out­ubro fechou com 850 assas­si­natos na região met­ro­pol­i­tana de São Luis, o primeiro final de sem­ana de novem­bro, se não me falha a memória, reg­istrou mais de uma dúzia de homicí­dios. O assas­si­nato do médico, junto com mais 23 homicí­dios, no fim de sem­ana, vêm robuste­cer as estatís­ti­cas que assom­bram todos os cidadãos de bem.

A medida que falta gov­erno sobram cadáveres nas ruas. A tragé­dia reg­istrada com o médico, soma-​se, aos demais 900 casos ocor­ri­dos esse ano (até aqui), só na região met­ro­pol­i­tana. A justa indig­nação que assis­ti­mos hoje é con­se­quên­cia dos anos de aco­modação que tive­mos em relação à vio­lên­cia sem­pre pre­sente e crescente.

Reg­istro – como já reg­istrei em out­ros tex­tos – que o número, ele­vado, de homicí­dios em 2002, há doze anos, foi de pouco mais de 200. Em doze anos, em que Brasil alcançou um ele­vado nível de desen­volvi­mento, em que se reduziu a mis­éria, em que a edu­cação e a saúde avançaram como nunca e que o desem­prego chegou a menos de 5% (tudo isso segundo o nosso gov­erno), a vio­lên­cia na região met­ro­pol­i­tana de São Luís, foi mul­ti­pli­cada por cinco, sinais da nosso riqueza, pon­dera a governadora.

Enquanto, não faz muito tempo, as pes­soas podiam sentar-​se às suas por­tas e con­ver­sar com os viz­in­hos, e os mais jovens, podiam ficar até altas horas, jogando con­versa fora com os cole­gas de patota, hoje esses pequenos praz­eres já não exis­tem mais na ilha que out­rora fora apel­i­dada de Ilha dos Amor. Os cidadãos de bem, pagadores de impos­tos, têm que chegar em casa ainda com a luz do dia e ficar de tocaia, pas­sando uma ou duas vezes na porta de casa, ver­i­f­i­cando se é seguro, para evi­tar a ação dos mar­gin­ais que ron­dam em busca de qual­quer descuido.

Durante a última cam­panha eleitoral uma peça pub­lic­itária – em que pese seu caráter pro­pa­gan­dista –, me chamou a atenção o com­er­cial onde uma sen­hora dizia que o seu desejo maior era poder abrir a janela. Parece algo tão sim­ples, tão básico: poder abrir a janela. Entre­tanto, ninguém mais pode abrir a janela ou porta de casa. Quando entramos ou saí­mos de nos­sas residên­cias esta­mos sobres­salta­dos, ten­sos, sem saber o que nos aguarda.

A vio­lên­cia na Ilha do Amor (que iro­nia dizer isso hoje), está de tal forma descon­tro­lada, que os repórteres poli­ci­ais, que fazem a cober­tura diária do assunto, dizem que nunca viram algo assim. Neste mesmo final de sem­ana em que cei­faram a vida do médico, mataram out­ras 23 pes­soas, só da noite de sexta-​feira a madru­gada de segunda-​feira. O repórter poli­cial, tarim­bado com a vio­lên­cia, disse nas ondas do rádio, que, em mais de vinte anos de tra­balho na área, nunca noti­ciou tamanha matança.

E, se não podemos man­ter uma porta ou janela aberta, com o justo receio de sofr­ermos qual­quer mal, deve­mos mantê-​las firme­mente fechadas. Os ban­di­dos já não respeitam os lares das pes­soas, estão invadindo as residên­cias e matando as pes­soas den­tro de casa. Den­tre os mor­tos deste último final de sem­ana, três (ao que me lem­bre), tiveram as casas inva­di­das e mor­reram den­tro das mes­mas. Isso me faz pen­sar que os ban­di­dos não con­hecem a expressão con­tida na Con­sti­tu­ição Fed­eral de que a residên­cia é o asilo invi­o­lável do cidadão. Aliás, da lei, só con­hecem os direitos.

O que dirão as autori­dades? Sem­pre que os fatos chocam a sociedade as autori­dades se reúnem, uns e out­ros, batem na mesa, e dizem que vão com­bater, com vigor, a crim­i­nal­i­dade. Parece um filme de “sessão da tarde”, de tão repet­i­tivo e sur­rado, o dis­curso. Sabem o que acon­tece depois? Nada. Se hou­vesse a resposta vig­orosa que prom­e­tem todas as vezes, as coisas não estariam assim, não viveríamos essa \«roleta russa”, sem descon­fi­ar­mos que será a próx­ima vítima. Quan­tas vezes as autori­dades estad­u­ais não se reuni­ram para prom­e­ter segu­rança só esse ano? Inúmeras vezes. Resul­tado prático, nen­hum, pelo con­trário, a matança, esse ano, pas­sará dos qua­tro dígi­tos na região met­ro­pol­i­tana, não só acertare­mos, mas pas­sare­mos a casa do milhar.

A ação integrada envol­vendo o Poder Exec­u­tivo (polí­cia e sis­tema pen­i­ten­ciário), MPE e Poder Judi­ciário, não tem ido muito além das boas intenções. De certo mesmo, temos que dos 24 homicí­dios ocor­ri­dos no fim de sem­ana, só para ficar no exem­plo mais recente, a grande maio­ria ficará nas estatís­ti­cas de crimes sem solução; os crim­i­nosos pre­sos não esquen­tarão os ban­cos da cadeia e os menores não sofr­erão qual­quer punição pelos seus atos. Punição mesmo, só para as vítimas.

Não adi­anta, sem uma política de segu­rança, só nos restará con­tar os mor­tos de todos os dias, sem­anas e meses, sem uma efe­tiva inte­gração dos órgãos estatais, com polí­cia inteligente, oper­a­tiva e que solu­cione os crimes, com o Min­istério Público célere nas denún­cias e no acom­pan­hamento dos casos, e com o Poder Judi­ciário não deixando proces­sos esque­ci­dos, não ire­mos muito longe. Os órgãos, o poder público, têm que fun­cionar de forma efi­ciente e integrada, sem isso os ban­di­dos sem­pre estarão um passo à frente, con­fi­antes que sairão impunes, que que con­seguirão sair logo da cadeia ou que rece­berá tan­tos bene­fí­cios da lei que seu delito terá valido a pena. E será ver­dade. As van­ta­gens para os crim­i­nosos são tan­tas, que, para eles (que nada têm a perder), o crime compensa.

Abdon Mar­inho é advogado.