AbdonMarinho - REVISITANDO TAUÁ-MIRIM.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Terça-​feira, 16 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

REVIS­I­TANDO TAUÁ-​MIRIM.

REVIS­I­TANDO TAUÁ-​MIRIM.

O PRIMEIRO TURNO das eleições munic­i­pais de 1992, já se aprox­i­mava do fim, quando, no último debate com os pos­tu­lantes, o can­didato Evan­dro Bessa (PDC) per­gunta à can­di­data Con­ceição Andrade do PSB: – can­di­data, como a sen­hora pre­tende resolver o grave prob­lema do trans­porte esco­lar da comu­nidade de Tauá-​Mirim? Responde Con­ceição Andrade: – vamos colo­car uma linha de ônibus para lá. Tré­plica de Evan­dro Bessa: – mas, can­di­data, lá é uma ilha.

Vinte e qua­tro anos depois não sei se sou fiel aos diál­o­gos, peço perdão, mas o sen­tido foi este. Nos dias pos­te­ri­ores ao debate e vésperas da eleição que levaria Con­ceição Andrade e, o hoje, senador João Alberto, ao segundo turno, o vac­ilo geográ­fico da can­di­data social­ista foi explo­rado à exaustão. Não tín­hamos, ainda, inter­net ou redes soci­ais, porém os char­gis­tas pro­duzi­ram inúmeras peças com ônibus aquáti­cos e out­ras situ­ações de humor com o tema, as matérias jor­nalís­ti­cas, tam­bém, não deixaram por menos.

A per­gunta de Evan­dro Bessa não foi uma «pegad­inha» – tanto assim que pas­sado o primeiro turno das eleições, ele e seu par­tido, emprestaram apoio à can­di­datura da social­ista e, tendo ela ven­cido o pleito, em segundo turno, ele tornou-​se um dos mais desta­ca­dos colab­o­radores de sua admin­is­tração –, aler­tava, já aquela época, para a dramática situ­ação de iso­la­mento e trans­porte precário daque­las famílias, prin­ci­pal­mente das cri­anças que tin­ham que se deslo­car da ilha para estudar.

A repentina noto­riedade da Ilha de Tauá-​Mirim, garantiu-​lhe, ao menos durante o quadriênio do mandato de Con­ceição Andrade, uma atenção espe­cial neste que­sito. Logo no iní­cio do man­dado, a sec­re­taria de edu­cação, sob o comando da pro­fes­sora Maria Eugê­nia Salles de Almeida, adquiriu uma lan­cha voadora com capaci­dade sufi­ciente para trans­portar as cri­anças na trav­es­sia do canal.

Um curto alento.

No último dia 18 de maio, logo cedo, enquanto atrav­es­sava a Baía de São Mar­cos rumo à baix­ada, pela tele­visão do ferry boat, matéria nacional do pro­grama «Bom Dia Brasil» que a situ­ação daquela comu­nidade, sobre­tudo, das cri­anças que pre­cisam estu­dar nas séries mais avançadas em esco­las com mel­hor estru­tura (??), é, ainda, muito grave. Dramática, até. A lan­cha com­prada em 1993, deve ter se acabado, o trans­porte esco­lar, adquirido pos­te­ri­or­mente, encontra-​se que­brado, não se sabe há quanto tempo.

Como resul­tado, as cri­anças têm que se virar em frágeis canoas, sem qual­quer equipa­mento de segu­rança, por vezes, aju­dando com o remo. Ven­cida a trav­es­sia, ainda têm que cam­in­har um bom tre­cho de estrada até a escola – uma vez que o trans­porte esco­lar, que dev­e­ria levá-​los no resto do per­curso, tam­bém se encon­tra que­brado e/​ou sem manutenção.

Situ­ação pior, só mesmo a enfrentada pelas cri­anças menores que – não podem fazer a trav­es­sia – estão sem estu­dar desde o começo do ano, por falta de condições da escol­inha da ilha que, às por­tas de junho, ainda não abriu as suas.

Esta­mos falando de um dire­ito con­sti­tu­cional fun­da­men­tal. Esta­mos falando do prin­ci­pal municí­pio maran­hense. Esta­mos falando de um ver­gonhoso vexame.

A edu­cação brasileira, emb­ora, ainda engat­in­hando, em relação ao resto do mundo, não temos dúvi­das que mel­horou a par­tir da cri­ação do FUN­DEF (depois FUN­DEB), na segunda metade dos anos noventa. As sec­re­tarias de edu­cação pas­saram a con­tar com uma verba especí­fica, muitas das vezes até maior que o FPM, para inve­stirem na val­oriza­ção dos pro­fes­sores – remu­nerando mel­hor e os qual­i­f­i­cando –, bem como, na mel­ho­ria da estru­tura das unidades esco­lares. Simul­tane­a­mente a isso, foram cri­a­dos pro­gra­mas como de ali­men­tação esco­lar, trans­porte esco­lar, din­heiro direto na escola, des­ti­nado a pequenos reparos; pro­gra­mas de con­strução de esco­las e creches, e tan­tos outros.

Chega a impres­sionar que a cap­i­tal do Maran­hão ainda esteja às voltas com os mes­mos prob­le­mas de 25, 30 anos atrás. Não tem dia que não assis­ta­mos à denún­cias de esco­las fechadas por falta de estru­tura: esco­las fun­cio­nando em casas alu­gadas e caindo aos pedaços; esco­las fun­cio­nando em asso­ci­ações; escol­in­has comu­nitárias; etc., sem con­tar a falta de trans­porte; ali­men­tação; creches e a própria qual­i­dade de ensino e com­pro­me­ti­mento dos pro­fes­sores, sabido por todos, como a desejar.

A cap­i­tal do Maran­hão não está muito dis­tante daquela real­i­dade mostrada nos noti­ciosos sobre as vex­atórias condições das esco­las nos rincões mais atrasa­dos do Maran­hão. Se Tauá-​Mirim volta a ser notí­cia, a sua real­i­dade, grave e triste real­i­dade, está bem dis­tante de ser a única.

Abdon Mar­inho é advogado.