AbdonMarinho - A RESPONSABILIDADE DOS PARTIDOS NA SOLUÇÃO DA CRISE.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 19 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A RESPON­S­ABIL­I­DADE DOS PAR­TIDOS NA SOLUÇÃO DA CRISE.

A RESPON­S­ABIL­I­DADE DOS PAR­TIDOS NA SOLUÇÃO DA CRISE.
Por Abdon Mar­inho.
UMA notí­cia que li outro dia chamou-​me a atenção para o tema que trago à dis­cussão no texto hoje.
Pois bem, desde que a atual crise econômica, política, social e judi­ciária eclodiu, um debate tem se tor­nado recor­rente, sobre­tudo pelas pes­soas mais ilustradas: a crise pre­cisa ser resolvida pela política. Isso quer dizer, sem golpes de Estado, sem inter­venção mil­i­tar, sem qual­quer outra inter­venção, que não a livre man­i­fes­tação dos cidadãos, através do voto, na solução dos con­fli­tos.
Cor­rob­o­rando com a ideia de que a crise pre­cisa ser solu­cionada pela “Política”, esta com “P” maiús­culo, surge uma recla­mação, em tons desafi­adores: a neces­si­dade de se colo­car fim ao que ficou con­hecido como a “crim­i­nal­iza­ção da política”.
Diante disso temos um ques­tion­a­mento: existe a tal da “crim­i­nal­iza­ção da política” ou exis­tem políti­cos crim­i­nosos usando do poder político, por infind­áveis anos, para escaparem impune­mente?
Não tenho dúvi­das que esta­mos diante de uma questão de larga com­plex­i­dade, uma vez que incidên­cia de crim­i­nosos den­tro da ativi­dade política é tamanha – acredita-​se ser pos­sível con­tar nos dedos das mãos o número de políti­cos hon­estos –, que fica-​se com a impressão de que a ativi­dade política, em si, é crim­i­nosa.
Dito de outra forma: são tan­tos crim­i­nosos na política que a pop­u­lação, os eleitores, chegam a con­fundir a Política, como espaço de solução para os prob­le­mas da nação, esta­dos e municí­pios, com a pes­soa do político, este cada vez mais pre­ocu­pado – e se ocu­pando –, na solução dos seus prob­le­mas, seja levar van­ta­gens nos negó­cios públi­cos ou pri­va­dos, seja bus­cando a pro­teção do poder por conta dos crimes já cometi­dos ou a come­ter.
Um amigo, político, confidenciou-​me: muitas vezes ouvira do pai – e tam­bém da mãe –, que em pou­cas décadas não se encon­traria pes­soas “de bem” dis­postas a se can­di­datarem a car­gos públi­cos ele­tivos.
Como pro­fe­cia ruim do Brasil tem quase data certa para ocor­rer, cheg­amos a este quadro lamen­tável: as pes­soas boas e com­pe­tentes não querem saber de candidatar-​se a qual­quer cargo, de vereador a senador.
Tal ojer­iza abre espaço para toda sorte de arriv­is­tas, crim­i­nosos e essa chusma que, não servindo para outra coisa, nada que valha, resolveram con­duzir os des­ti­nos da nação.
Este ano de 2018, ano de eleições gerais, ter­e­mos a chance de com­pro­var o quanto a ativi­dade política tornou-​se um antro de crim­i­nosos.
O pior é que a infil­tração de crim­i­nosos na política já não ocorre mais como uma ativi­dade solitária, hoje temos gru­pos crim­i­nosos orga­ni­za­dos se preparando para tomar o poder, fazendo isso através de inter­postas pes­soas, finan­ciando suas cam­pan­has ou colo­cando seus próprios inte­grantes na dis­puta.
Neste cenário des­o­lador é que se faz necessário o chama­mento dos par­tidos políti­cos à razão na solução da crise em que esta­mos envolvi­dos, partindo do pres­su­posto de que acred­i­ta­mos – e até preg­amos –, que crise deva ser resolvida pela Política.
Resta claro que para “descrim­i­nalizar a política” o primeiro passo é fomen­tar a par­tic­i­pação de pes­soas “de bem” nos pleitos e, con­comi­tante a isso, afas­tar os crim­i­nosos da dis­puta.
No sis­tema brasileiro temos a van­tagem (?) de não serem per­mi­ti­das can­di­dat­uras avul­sas, logo, caberá aos par­tidos políti­cos a respon­s­abil­i­dade de “fil­trar”, ini­cial­mente, os nomes que colo­cará para dis­puta, difi­cul­tando o ingresso de pes­soas, que se sabe, não terão com­pro­mis­sos com a sociedade ou mesmo com o ideário que o par­tido defende.
Os par­tidos políti­cos pre­cisam de rigor na escol­has de seus inte­grantes de sorte a impedir que pes­soas sem afinidade com suas posições na solução dos con­fli­tos soci­ais e políti­cos, elejam-​se sob suas leg­en­das.
Se quer­e­mos que as crises sejam resolvi­das den­tro da “Política”, qual seja, através de rep­re­sen­tantes eleitos dire­ta­mente pela pop­u­lação pre­cisamos que os par­tidos ten­ham respon­s­abil­i­dade na escolha de seus inte­grantes e, ainda, que deixem claro para a pop­u­lação as pro­postas que defend­erão na even­tu­al­i­dade de eleição de seus rep­re­sen­tantes para as casas leg­isla­ti­vas e para os car­gos exec­u­tivos.
Pois bem, feitas estas con­sid­er­ações, retorno à notí­cia que motivou o pre­sente texto e que vem na mais abso­luta con­tramão do que foi exposto acima: a ideia de se resolver a crise nacional através da “Política” com “P” maiús­culo.
Dizia a referida notí­cia que impor­tante secretário estad­ual, uma espé­cie de coringa da atual gestão, estaria na iminên­cia de filiar-​se ao Par­tido Democ­ratas — DEM, com o propósito de trazê-​lo para o arco de alianças do Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB, que prepara-​se para dis­putar a reeleição no estado. De que­bra ainda se livrariam da incô­moda pre­ten­são de certo ex-​governador, pré-​candidato ao Senado da República que corteja e é corte­jado pelo Democ­ratas há bas­tante tempo.
Nesta ilação, o secretário, fil­i­ado ao DEM seria can­didato a vice-​governador ou mesmo senador.
Tratar-​se, por óbvio de ape­nas uma mal­dosa ilação – por isso mesmo até evito colo­car o nome do secretário para não expô-​lo –, não faz qual­quer sen­tido – a menos que se negue, total­mente, o que seja Política como solução dos con­fli­tos soci­ais –, uma col­i­gação entre Democ­ratas e Comu­nistas.
Vou além, não faz sen­tido, sequer que um apoie o outro, menos ainda que divi­dam uma chapa majoritária seja na chefia do Gov­erno, seja na chapa do Senado.
Caso tal absurdo tivesse fundo de ver­dade, estaríamos diante de um este­lion­ato eleitoral histórico.
Um ou outro par­tido ou ambos, estariam enganando seus adep­tos e eleitores.
Seria a negação, para os dois par­tidos, da ideia de que pos­suem alguma con­sistên­cia ide­ológ­ica.
Por isso mesmo custo acred­i­tar que ten­ham cog­i­tado tal ideia. Daí, minha incredul­i­dade.
Os dois par­tidos são, em tudo, opos­tos com visões de mundo, econo­mia, sociedade, de gov­erno inc­on­cil­iáveis.
Numa análise histórica da política nacional sem­pre estiveram em cam­pos dis­tin­tos. Mesmo na história recente, a par­tir de 1964, do século pas­sado, enquanto um tem origem na agremi­ação que sus­ten­tou o régime, a ARENA ou outro, na clan­des­tinidade, se abri­gava no par­tido opos­i­tor, o velho MDB.
Estão, matem­ati­ca­mente falando, a cento e oitenta graus de dis­tân­cia um do outro. Usando uma ale­go­ria da infân­cia seria como se acred­i­tar no casa­mento do Sol com a Lua.
O primeiro item do ideário do DEM é o com­pro­misso com a liber­dade sob todas as for­mas. Ainda ontem, mais pre­cisa­mente em novem­bro, o PCdoB, reafir­mou seu “apoio e sol­i­dariedade” as ditaduras comu­nistas da China, Cor­eia do Norte, Cuba, Laos e Vietnã; e, ainda, ao régime de Nicolás Maduro que oprime e destrói a Venezuela e sua pop­u­lação, a qual mata de fome na promessa de libertá-​la.
Um é con­tra a exces­siva ativi­dade estatal na econo­mia, já o outro, não é só esta­tista, é a favor do fim da ini­cia­tiva pri­vada e advoga pela cole­tiviza­ção das riquezas e dos meios de pro­dução.
Enquanto um defende a ativi­dade plan­i­fi­cada, esta­tista e cole­tivista o outro já defende a liber­dade cri­adora indi­vid­ual.
E por aí vai, são dois par­tidos cuja os ideários são diame­tral­mente opos­tos, repito.
Não existindo, por­tanto, qual­quer ponto em comum capaz de jus­ti­ficar uma união entre ambos. Basta pegar os pro­gra­mas, ideários e man­i­festos das agremi­ações para ver­i­ficar que o sim­ples fato de um par­tido apoiar o outro já sig­nifica uma “traição” aos seus fil­i­a­dos e sim­pa­ti­zantes a recla­mar, inclu­sive, inter­venção judi­cial.
Aliás, esta é uma ideia que ofer­eço ao Min­istério Público Eleitoral e à Justiça Eleitoral: que inter­ven­ham no sen­tido de impedir as alianças pro­gra­mati­ca­mente incom­patíveis. Será uma forma de com­bater o fisi­ol­o­gismo político tão danoso à rep­re­sen­tação política.
Claro, não podemos deixar de con­sid­erar que a Con­sti­tu­ição Fed­eral asse­gura ampla liber­dade de orga­ni­za­ção par­tidária, inclu­sive a rel­a­tiva à política de alianças, entre­tanto, não é aceitável que par­tidos defen­sores de ideias opostas se col­iguem para vencerem eleições enganando o povo – que é o deten­tor do poder orig­inário –, pois isso rep­re­sen­taria uma fraude ao dire­ito dos cidadãos escol­herem um con­junto de ideias para verem imple­men­tadas no país, Esta­dos ou municí­pios.
Vejam o absurdo: o cidadão se elege por um par­tido que defende deter­mi­nadas ideias tendo por vice alguém cujo o par­tido defende o oposto daque­las ideias. O que servirá de norte para escolha do eleitor?
Vamos além: e se o tit­u­lar mor­rer (toc, toc, toc, na madeira três vezes), será implan­tada o ideário do par­tido do tit­u­lar ou do vice que her­dou mandato?
Se as pes­soas real­mente sábias que eu acred­i­tam ser pos­sível resolver as crises que o país vem viven­ciando ao longo dos sécu­los, através da política, faz-​se necessário que esta ativi­dade seja lev­ada a sério, com com­pro­mis­sos claros, por parte dos rep­re­sen­tantes legit­i­ma­mente eleitos.
Se pacto social será através da política é necessário que se evite a infil­tração dos mar­gin­ais e que ten­hamos regras claras.
O eleitor pre­cisa ter a garan­tia que estará escol­hendo pes­soas sérias, fil­tradas pelos par­tidos, para defend­erem um con­junto de ideias pre­vi­a­mente esta­b­ele­ci­das.
Sem isso con­tin­uare­mos emen­dando uma crise na outra e com políti­cos com a con­sistên­cia ide­ológ­ica de uma ameba, sem querer desre­speitar as ame­bas, claro.
Encerro con­tando um dos cau­sos que vivi e que está rela­cionado ao tema.
Após as eleições, ao chegar em deter­mi­nado municí­pio, per­gun­tei o que acon­te­cera com deter­mi­nada pes­soa que pen­sei estar apoiando o grupo.
— Ah, doutor, o sen­hor não vai acred­i­tar. Desco­b­ri­mos que fulano era melan­cia?
— Melan­cia!?? Como assim? Indaguei sem enten­der.
— Sim, doutor, melan­cia. Desco­b­ri­mos que ele só era verde (a cor da cam­panha) por fora, por den­tro era ver­mel­hinho (a cor da outra cam­panha).
Ri da história e fiquei matu­tando sobre ela. No quanto ainda esta­mos dis­tantes de uma ver­dadeira democ­ra­cia.
Um con­selho que me per­mito aos leitores eleitores é que fiquem aten­tos a flora e fauna política: os can­didatos melan­cia, os jabu­ti­cabas aos jabutis trepa­dos em árvores.
Abdon Mar­inho é advogado.