AbdonMarinho - UM SENADOR E SEUS MOINHOS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 19 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UM SENADOR E SEUS MOINHOS.

UM SENADOR E SEUS MOINHOS.

CER­TA­MENTE não acho o senador Roberto Rocha semel­hante ao cav­aleiro D. Quixote, da obra imor­tal de Miguel de Cer­vantes. Nada tem o mesmo de quixotesco. Talvez, e ape­nas pela com­pleição física, uma leve semel­hança com o seu fiel escud­eiro, San­cho Pança, ape­nas isso.

Entre­tanto, o senador do Maran­hão tal qual a figura da obra, enfrenta seus moin­hos. E, difer­ente daquele, os seus não são tão imag­inários assim.

Não é seg­redo para ninguém, e o próprio senador, com hon­esti­dade, nunca ocul­tou, que ele aca­lenta o sonho de ser gov­er­nador do Maran­hão. Um sonho legí­timo, diga-​se de pas­sagem, mat­u­rado, acredita-​se, ainda na infância/​adolescência pas­sada den­tro do Palá­cio dos Leões.

O senador sabe como chegar lá. Orgulhando-​se de fazer com maes­tria o jogo político, diz ser essa a ativi­dade que mais lhe dar prazer e a que faz 24 horas por dia, leciona: – primeiro cos­tu­ramos a con­vergên­cia interna no par­tido, depois a con­vergên­cia com o grupo político e, por fim, a con­vergên­cia com o con­junto da sociedade.

Emb­ora con­hecendo a receita do «sucesso», e com um norte bem definido – diz a lenda que quando sabe­mos onde quer­e­mos chegar qual­quer cam­inho nos leva lá – ele, Roberto, não tem con­seguido desenvolvê-​la, aí, talvez, a causa de tan­tos movi­men­tos erráti­cos e con­trários ao que prega e deseja.

O roteiro até vinha se desen­rolando mais ou menos den­tro do traçado.

Em 2002, após alguns mandatos nos par­la­men­tos, estad­ual e fed­eral, enten­deu ser a hora de «cacifar-​se» para um cargo majoritário, tornar-​se con­hecido em todo o estado. Candidatou-​se a gov­er­nador, renun­ciando às vésperas da eleição em favor de Jack­son Lago. Uma estraté­gia min­u­ciosa­mente plane­jada. Já se tornara uma pes­soa con­hecida – emb­ora sem chances de vitória –, só teria a gan­har com o Jack­son Lago que dis­putava palmo a palmo com o José Reinaldo que acabou eleito. A renún­cia de nada serviu mas foi ven­dida com um extra­ordinário gesto de desprendi­mento em favor da causa oposicionista.

Nos anos seguintes teve impor­tante papel na rup­tura do gov­er­nador José Reinaldo, com o grupo do ex-​presidente Sar­ney, sendo uma espé­cie de «fiador» do seu ingresso nas hostes da oposição.

No gov­erno, agora lig­ado ao novo grupo, José Reinaldo con­duziu a estraté­gia da oposição ao sar­neysmo para vencer a can­di­data Roseana e eleger um dos seus can­didatos Jack­son Lago ou Vidi­gal, naquela que ficou con­hecida como «coop­er­a­tiva de can­didatos», levando a mel­hor o pedetista.

Nesta eleição Roberto Rocha foi o dep­utado fed­eral mais bem votado do estado.

Com o gov­erno Jack­son cas­sado com pouco mais de dois anos de insta­l­ado, todas as peças tiveram que ser postas nova­mente no tabuleiro.

Em 2010, Jack­son Lago bus­cou a revanche con­tra Roseana Sar­ney, dividindo os votos do campo oposi­cionista com o sen­hor Flávio Dino, o juiz que virara político pelas mãos de José Reinaldo na eleição ante­rior, can­didato do PC do B. Roseana levou no primeiro turno.

Pior que a dis­puta para o gov­erno com dois can­didatos do campo oposi­cionista, foi a dis­puta para o Senado da República, lá pon­tif­i­cavam para a dis­puta de duas vagas: o ex-​governador José Reinaldo, o ex-​ministro Edson Vidi­gal e o dep­utado Roberto Rocha. Perderam. Muitos atribuíram a estraté­gia divi­sion­ista ao último que era, à época, pres­i­dente do PSDB.

Em 2012, já no PSB, Roberto Rocha, aceitou o «sac­ri­fí­cio» de ser can­didato a vice-​prefeito na chapa do atual prefeito Edvaldo Holanda Júnior.

Assim cheg­amos a 2014 e seus des­do­bra­men­tos. Até onde me lem­bro, foi nesta eleição que se deu a tran­sição de ger­ações (tran­sição tar­dia, diga-​se), com os dois can­didatos majoritários eleitos com menos de cinquenta anos. Todos unidos para trazer ao estado todas as opor­tu­nidades perdidas.

O dis­curso feito por ambos remetíamo-​nos a um outro pata­mar de desen­volvi­mento, com um senador e um gov­er­nador, mod­er­nos, jovens, com ideias novas e arro­jadas. Seria a primeira vez na história do estado.

O senador teria, então, 08 (oito) anos, voando em céu de brigadeiro para con­strução do seu pro­jeto político.

Infe­liz­mente, não demorou um ano e os obser­vadores mais argutos começaram a perce­ber que o arranjo eleitoral que tornou o pro­jeto vito­rioso não era o que foi ven­dido na eleição. O Maran­hão não era sufi­cien­te­mente grande para com­por­tar o ego dos dois. Dos dois, é bom repetir.

Segundo dizem, as mal­querenças vin­ham de antes, mal foram apu­ra­dos os votos e, sobre­tudo, após a insta­lação do novo gov­erno, por ini­cia­tiva do alto comando (polit­buro) ou através do serviço rasteiro dos serviçais que cer­cam o poder, teve iní­cio uma estraté­gia de «minar», não ape­nas o senador, mas tam­bém out­ras lid­er­anças. Isso é patente nas not­in­has aqui e ali, nas cobranças de que o gov­er­nador lhe dera o mandato, etc.

Numa eleição majoritária todos são respon­sáveis pelo sucesso ou fra­casso, mas de ninguém isso foi tão cobrado quando do senador eleito em 2014. Cobram dele até os «malfeitos» suposta­mente ocor­ri­dos no gov­erno do seu pai (1983÷1987), quando era adolescente.

Na ver­dade, para a des­graça do Maran­hão, a eleição de 2018, começou um pouco antes da 2014. Tudo que vemos são jogadas políti­cas, inter­esses políti­cos e briga pelo poder.

No jogo que está sendo jogado, o senador Roberto Rocha deixou de seguir suas próprias lições.

Não pos­sui qual­quer afinidade com a base do par­tido que o abrigou em 2012, o PSB, sendo impos­sível con­struir qual­quer «con­vergên­cia» interna a seu favor, pelo con­trário. Essa falta de afinidade com o par­tido acaba por provo­car efeitos nefas­tos para o próprio senador e para o par­tido. Não me recordo de ter visto, nos últi­mos tem­pos, uma crítica de um pres­i­dente de par­tido tão con­tun­dente quanto a feita pelo pres­i­dente do PSB, prefeito Luciano Leitoa, a um senador do mesmo par­tido. Disse o pres­i­dente Luciano Leitoa: «nunca vi alguém afas­tar tan­tas pes­soas de um mandato que “gan­hou» de graça». Para as sutilezas da política, são palavras fortes.

Este seria o primeiro moinho a ser vencido.

A «con­vergên­cia» política no grupo é outra mis­são impos­sível. No grupo que tra­bal­hou «unido» para o pro­jeto de 2014, com­posto, prin­ci­pal­mente, pelo PCdoB, PSDB, PSB e PDT, o senador pre­cis­aria ser mágico para con­seguir uma con­vergên­cia que o tenha como destaque, aliás, que o tenha como par­tic­i­pante. As declar­ações dele sobre os inte­grantes do prin­ci­pal par­tido, o do gov­er­nador – não ques­tiono o acerto ou erro das mes­mas –, foi o incên­dio das der­radeiras pontes.

Este seria o segundo moinho.

Sem as duas primeiras, restará ao senador bus­car a con­vergên­cia com a sociedade. Aí reside sua maior difi­cul­dade e disso resulta a maior irres­ig­nação do senador com os atu­ais inquili­nos dos Leões.

Errando na forma – mas não no con­teúdo –, acusa o gov­erno de sub­sidiar parcela da imprensa para destruir sua imagem e de out­ros adver­sários políti­cos per­ante a sociedade maranhense.

São de seu «man­i­festo» estas palavras: «Chamar comu­nista de arro­gante e covarde é redun­dante. Jogam a pedra e escon­dem a mão. Com din­heiro público, pagam blogs para o serviço sujo.

Além de arro­gantes e covardes, são ousa­dos. Por um valor men­sal mil­ionário, alu­garam a Difu­sora para agredir os que podem rep­re­sen­tar ameaça ao seu pro­jeto de poder.

Os comu­nistas são con­heci­dos no mundo inteiro pela obsessão de ten­tar elim­i­nar rivais para se man­terem no poder.

O comu­nismo é a estu­pidez que se mate­ri­al­iza na real­i­dade em forma de aber­ração, e que vai ten­tando destruir e asfix­iar tudo e todos no processo de se jus­ti­ficar e se preser­var no poder.

Tenho dito, comu­nistas inteligentes são pat­ifes; os hon­estos são bur­ros; e os inteligentes e hon­estos nunca são comunistas.

Essa fome patológ­ica pela manutenção do poder e pelo con­t­role da vida alheia vão desapea-​los do Palá­cio do Leões, em 2018.

Eu entendo esses blogueiros valentes e fam­intos, con­heci­dos como «pis­toleiros dos tecla­dos» ou «blogueiros camarão».

O cão não morde a mão que o ali­menta. Enquanto tiver milho vai ter pipoca. »

São palavras de gravi­dade sin­gu­lar, não ape­nas pelo seu con­teúdo, mas, sobre­tudo, porque pro­feri­das por quem as proferiu.

Inúmeros out­ros adver­sários já acusaram – e acusam –, o atual gov­erno disso e de coisas bem piores e graves. Já dis­seram, por exem­plo, que o gov­erno usou e usa o «apar­elho», estatal para perseguir seus adver­sários Maran­hão afora. Inclu­sive, acusando-​o (o gov­erno) de haver influ­en­ci­ado, crim­i­nosa­mente, no resul­tado das eleições pas­sadas (2016).

São acusações gravís­si­mas que, em qual­quer outro lugar do mundo, ense­jaria inves­ti­gações diver­sas por parte do Min­istério Público, fed­eral e estad­ual. Não soube de nada neste sentido.

A acusação de agora, ao meu sen­tir, muda de pata­mar, quem a está pro­ferindo, pub­li­ca­mente (não se trata de uma con­versa de bar), é um senador da República.

Aliás, ele próprio, para pas­sar maior segu­rança do que diz, pode­ria acionar a Mesa do Senado e a Procuradoria-​Geral da República para que apurassem o que disse. Denún­cias com tamanha gravi­dade não podem perder-​se no «disse-​me-​disse».

Mas, como já dito ante­ri­or­mente, emb­ora acer­tando no con­teúdo (fez uma denún­cia grave a exi­gir apu­ração), errou na forma. Uma acusação tão séria não é um chiste ou piada para vir emoldu­rada com a escat­ológ­ica imagem de um «fortão» com cabeça de vaso sanitário.

Ao agir desta forma, o senador reforça o tra­balho dos que «tra­mam» nos porões pala­cianos para lhe destruir politicamente.

Há uma coisa que aprendi desde a infân­cia: «hora de brin­cadeira é hora de brin­cadeira, hora de falar sério é hora de falar sério».

Ora, se esta regra se aplica a nós, comuns mor­tais, com mais ênfase deve ser apli­cada a um senador da República, sobre­tudo quando faz acusações tão sérias. O senador pre­cisa investir-​se de tal liturgia.

Como já disse, ao não sep­a­rar coisas sérias de brin­cadeiras, do achin­calhe, acaba por desval­orizar as coisas boas e sérias que pro­duz, como por exem­plo os pro­je­tos fun­da­men­tais para o desen­volvi­mento do estado, den­tre os quais a Zona de Expor­tação do Maran­hão — ZEMA.

O senador pre­cisa mudar de pos­tura para vencer mais este moinho e não facil­i­tar o tra­balho dos que querem destruí-​lo.

Outro flanco que o senador deixa em aberto e que facilita o tra­balho dos seus adver­sários é essa (má) fama – que o persegue como a bola corre para os pés do artil­heiro –, de que não é um bom cumpri­dor de com­pro­mis­sos assum­i­dos e/​ou que não gosta de pagar «gente viva». Com ou sem razão, tal assertiva encon­tra muito eco na sociedade. Adver­sários, e até ali­a­dos, tratam tal infor­mação como se fosse uma ver­dade absoluta.

Além deste, outra cir­cun­stân­cia facilita o tra­balho dos que querem lhe vê pelas costas, a que diz respeito à vida empre­sar­ial de sua família, cuja a respon­s­abil­i­dade lhe é atribuída. A todos é ven­dida a ideia de uma vida empre­sar­ial mais enro­lada que «fumo sergi­pano» e que chega a dever por meses a fio os venci­men­tos dos colab­o­radores que prestam serviço a aque­las empre­sas. Se não é ver­dade, passa como se fosse.

E, vamos com­bi­nar, não fica bem a um senador da República cul­ti­var tais «famas», prin­ci­pal­mente quando sabe­mos que tudo «pega» neg­a­ti­va­mente na classe política hoje em dia.

São estes, ao menos por enquanto, os moin­hos que o senador pre­cisa vencer. São muitos e o tempo, out­rora ali­ado, con­spira contra.

Abdon Mar­inho é advogado.