AbdonMarinho - NO FIM, TRAGÉDIA E MELANCOLIA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 18 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

NO FIM, TRAGÉ­DIA E MELANCOLIA.

NO FIM, TRAGÉ­DIA E MELANCOLIA.

DECERTO que a Era petista chegou ao fim. Ainda que o par­tido con­tinue – talvez com outro nome como alguns sug­erem –, já não terá mais o pro­tag­o­nismo que teve nos últi­mos treze anos. Nor­mal que isso ocorra, faz parte do cír­culo da política, o que não se esper­ava era um fim tão trágico e melancólico.

No seu maio dramático, o par­tido foi com­pelido a deixar o Planalto pela porta lat­eral – sair pelos fun­dos seria humil­hante demais. Mas, não ape­nas isso, só uma sem­ana se pas­sou entre o apea­mento do poder (ainda em caráter pro­visório) e a con­de­nação de José Dirceu – ex-​presidente do par­tido, ex-​ministro da Casa Civil, ex-​possível suces­sor de Lula, ex-​capitão do time, como nos foi apre­sen­tado pelo ex-​presidente em 2003 – a mais de 23 anos de prisão. Se, ape­nas para efeitos con­tábeis, com­putar­mos a pena que rece­beu do Supremo Tri­bunal Fed­eral, em 2010, na ação penal 470 (o famoso processo do men­salão), 07 (sete) anos – após embar­gos infrin­gentes que reduziu a pena orig­i­nal de mais de dez anos – temos, o ex-​homem mais poderoso da República entre 2003 e 2005, con­de­nado a mais de 30 anos de cadeia. Uma pena de mais de 23 anos – e ape­nas a primeira, neste escân­dalo denom­i­nado “petrolão” – , equiv­ale a uma con­de­nação per­pé­tua a Dirceu, que já passa dos setenta anos, como bem asseverou um dos seus defensores.

O par­tido ainda foi con­de­nado, neste mesmo período, ao ressarci­mento de mais de R$ 3 mil­hões, numa ação de impro­bidade por cor­rupção na prefeitura de Santo André (SP), no começo dos anos 2000, na gestão do ex-​prefeito assas­si­nado, Celso Daniel. No mesmo processo tam­bém foi con­de­nado o ex-​ministro Gilberto Car­valho, uma das pes­soas mais influ­entes do partido.

Afas­ta­dos do poder – o que faz ces­sar o foro por pre­rrog­a­tiva de função a muitas das ex-​autoridades petis­tas –, é capaz dos diss­a­bores estarem ape­nas no começo.

Esta não é uma situ­ação agradável a ninguém. Jamais dese­jaria esse tipo de prob­lema ao meu pior inimigo, se tivesse algum. Entre­tanto, ape­nas col­hem o que plantaram.

Difer­ente da primeira con­de­nação de Dirceu, no caso do men­salão, em que mil­i­tantes do par­tido foram às ruas procla­marem o con­de­nado, pela mais alta corte do país, como um pri­sioneiro político, desta vez, ao que parece, não deram lá muita importân­cia, parece que não vão brigar con­tra as provas dos autos que moti­varam a con­de­nação pelo juízo de primeira instân­cia. Limitar-​se-​ão aos recur­sos ordinários nas esferas judiciárias.

Ape­nas um dia depois da divul­gação da pena, os órgãos de comu­ni­cação dos par­tidos que davam sustenção ao gov­erno afas­tado, já colo­cavam a notí­cia no rodapé ou a escon­dia em meio às demais notí­cias do dia a dia.

Quem diria, José Dirceu, que já foi o con­destável da República e dos par­tidos que chegaram ao poder em 2002 – ape­sar da gravi­dade da pena que rece­beu – tornou-​se uma nota de rodapé, uma notí­cia secundária, a quem, mes­mos seus ali­a­dos de primeira hora, pare­cem não dar importância.

Não foram necessários mais que dois escân­da­los – men­salão e petrolão –, para rev­e­larem o pro­fundo envolvi­mento de diver­sas lid­er­anças do par­tido com mon­u­men­tais esque­mas de corrupção.

No primeiro, diver­sas pes­soas da cúpula foram con­de­nadas, com destaque para o mesmo José Dirceu, o ex-​presidente José Genoíno, o ex-​tesoureiro Delúbio Soares, ape­nas para ficar nestes.

No segundo escân­dalo – ainda em curso –, mais uma vez, o ex-​ministro José Dirceu, já con­de­nado, o ex-​tesoureiro José Vac­cari Neto, tam­bém já con­de­nado, e tam­bém, inúmeras out­ras pes­soas impor­tantes, com e sem foro privilegiado.

Ao cabo de tudo, poucos – entre os líderes par­tidários e seus ali­a­dos –, restarão inocentados.

O grande vol­ume de provas de cor­rupção envol­vendo quase todos os negó­cios do Estado, suas empre­sas, ban­cos ofi­ci­ais e até fun­dos de pen­são dos servi­dores, não deixam dúvi­das da estru­tura mon­tada para espo­liar a nação. Auda­ciosos, usaram até a Justiça Eleitoral para lavagem de din­heiro. Qual­quer pes­soa que detenha um mín­imo de infor­mação sabe disso.

O que se rev­ela ao grande público, parece ser um mis­tério para o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT e suas lideranças.

Leio uma res­olução sobre con­jun­tura, onde o par­tido, parece igno­rar tudo o que fiz­eram, todos os esque­mas de cor­rupção e crimes que praticaram e pelos quais, alguns já foram con­de­na­dos, para atribuir o processo de impeach­ment da pres­i­dente Dilma Rouss­eff a um golpe par­la­men­tar (sic), per­pe­trado pelas vel­has oli­gar­quias nacionais – como se igno­rassem as mul­ti­dões nas ruas pedindo a saída da pres­i­dente e do partido.

Não con­tentes com a patranha, acusam a Oper­ação Lava Jato de ser um instru­mento cru­cial para «escal­ada golpista». Mais adi­ante, diz que o processo de impeach­ment «facilita políti­cas de cerco e deses­ta­bi­liza­ção em proces­sos pro­gres­sis­tas de out­ros países – como a Venezuela, Equador e Bolívia». Fico imag­i­nando o formidável pro­gresso exper­i­men­tado por estes países, prin­ci­pal­mente, pela Venezuela, nação pre­cur­sora do mod­elo boli­var­i­ano e que, a exem­plo do que começou a acon­te­cer no Brasil, amarga os piores indi­cadores sul-​americanos e empo­bre­ceu sua pop­u­lação a índices inimag­ináveis fazendo com que não gan­hem o sufi­ciente para se ali­men­tar dig­na­mente. Isso, sem con­tar a cor­rupção, a inflação, a vio­lên­cia, os abu­sos con­tra a oposição e con­tra qual­quer um que ouse se opor.

Em dez pági­nas o doc­u­mento que anal­isa a con­jun­tura nacional, é repleto destas, e out­ras, bison­hices, porém, inca­paz de fazer uma autocrítica. Ainda quando ten­tam, é fazendo uso de um con­tor­cionismo que mais con­funde do que esclarece.

O que não cessa é a insistên­cia no lenga-​lenga do golpe e que o Poder Judi­ciário faz parte de um com­plô da dire­ita con­tra o pro­jeto pop­u­lar do par­tido e para criminalizá-​lo.

Que o PT e seus seguidores padeçam de um sec­tarismo que os façam enx­er­gar ou a viven­cia­rem outra real­i­dade, como se estivessem numa alu­ci­nação cole­tiva, emb­ora ridícula, é até com­preen­sível, pior mesmo é saber que alguns supos­tos int­elec­tu­ais aceitam este tipo de argumentação.

Desde 2005, quando do escân­dalo do men­salão, diver­sos destes «int­elec­tu­ais» e tam­bém «artis­tas», vêm o PT como vítima de alianças «com pes­soas do mal», alianças estratég­i­cas para gov­ernar. Eles, os petis­tas, pobrez­in­hos, se deixaram levar por estes mal­va­dos e quando se deram conta, estavam ato­la­dos até o pescoço. São teses patéticas.

Acred­ito que estas «víti­mas», na ver­dade, foram os ver­dadeiros pro­fes­sores das anti­gas oli­gar­quias na arte de levarem van­tagem nos negó­cios com o din­heiro público. Não é à toa que cri­aram a cor­rupção inter­con­ti­nen­tal, a propina retroa­t­iva e ainda ousaram usar a justiça eleitoral como lavan­de­ria de recur­sos sujos.

Como disse, os con­tratem­pos do par­tido, suas lid­er­anças e ali­a­dos, não são motivos de ale­gria para ninguém, pelo con­trário, deve causar tris­teza, por ver­mos aque­las pes­soas que nos prom­e­teram tan­tas coisas, ficarem sat­is­feitas por diz­erem que não piores, mas, ape­nas iguais, ao que de pior já pro­duziu a política brasileira.

Nas tragé­dias indi­vid­u­ais de cada um dos con­de­na­dos a melan­co­lia do pode­ria ter sido e não foi.

Abdon Mar­inho é advogado.