AbdonMarinho - NÓS QUE ODIAMOS O MARANHÃO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 19 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

NÓS QUE ODI­AMOS O MARANHÃO.

NÓS QUE ODI­AMOS O MARANHÃO.

MEU PAI que, como sabem, era anal­fa­beto por parte de pai, mãe e parteira, ensinou-​me, con­forme disse noutras opor­tu­nidades, que “aquilo que está errado é da conta de todo mundo”. Esta lição cos­tumo dis­sem­i­nar por onde passo.

Outra lição que aprendi, esta, com a vida: gov­er­nantes – quase todos, há exceções para jus­ti­ficar a regra – têm ojer­iza à crítica. Fin­gem que aceitam, mas, no fundo, ficam inco­moda­dos. Acham que os críti­cos não enten­dem o que se passa na “com­plexa máquina admin­is­tra­tiva”, ou têm algum inter­esse sub­ter­râ­neo, ou, ainda, faz o jogo do adver­sário. Difi­cil­mente passa pela cabeça dos gov­er­nantes que, sem desprezar o que pensa, talvez o crítico só queira ajudar.

Sabedores que aos ouvi­dos do rei só são bem-​vindos elo­gios, toda sorte de opor­tunistas se escalam para tirar van­ta­gens. Gov­er­nos têm o mesmo atra­tivo para puxa-​sacos que deter­mi­na­dos ali­men­tos e lixo têm para as moscas. E, assim como estas, são igual­mente nefas­tas. Só sabem dizer coisas agradáveis, riem das piadas sem graça como se o gov­er­nante fosse o maior come­di­ante do uni­verso. Raros são os homens públi­cos que não se deixam con­t­a­m­i­nar pelos mimos e papari­cos dos aduladores.

Nos meus vinte anos de vida profis­sional já teste­munhei muito disso. Inúmeros são os casos de “ex alguma coisa” que chegam a me recla­mar por não terem ouvido a ver­dade quando estavam no poder. inúmeros são os que recla­mam do “sum­iço” dos “ami­gos”: – Abdon, quando estava no poder fulano era meu amigo, fal­tava me car­regar nos braços. Respondo: – A amizade não era por você. Era, sim, pelo poder.

Sem­pre que algum cliente reclama das difi­cul­dades do encargo, digo-​lhe: – Espera até ser «ex» para sen­tir o que é dificuldade.

Sobre a solidão do ex, um amigo, muito querido, contou-​me um episó­dio: “Um político muito influ­ente do Maran­hão sem­pre que ia a deter­mi­nado lugar, lá estava, no “campo de avi­ação» (Nota: antiga­mente, dev­ido a falta de estradas, a maior parte do trans­porte era feito por aviões, a maio­ria dos municí­pios maran­henses pos­suíam os chama­dos “cam­pos de avi­ação»), uma imensa comi­tiva a recepcioná-​lo, entre eles, um cidadão do povo chamado Rib­inha. Na medida que o poder dimin­uía, rareava a comi­tiva de recepção, mas sem­pre por lá estava o Rib­inha. O tempo foi e poder, tam­bém. Já sem poder retornou ao municí­pio. Quando o avião pousou e desceu, olhou para os lados, ninguém para recebê-​lo, campo de avi­ação deserto. Virou-​se para o piloto e prague­jou: – Nem Ribinha!?”.

Longe do poder, até os “Rib­in­has» somem. Já ouvi de muitos que se voltassem ao poder faria as coisas difer­entes e que, grande parte do seu padec­i­mento e per­rengues se devem ao fato de ter con­fi­ado nas “pes­soas erradas”, de ter ouvido só o que lhe era conveniente.

Alguns têm essa chance e con­fiam, outra vez, em out­ras “pes­soas erradas”, deve fazer parte do roteiro gostar de enganar-​se.

Esta con­versa toda tem um propósito: recomen­dar aos gov­er­nantes que pro­curem tirar o mel­hor proveito das críti­cas que recebem; despertá-​los para o fato de que não são donos da razão; que os aux­il­iares que só sabem dizer sim e que os endeusa, quase sem­pre estão erra­dos; serve, para, sobre­tudo, dizer-​lhes que o poder é tran­sitório. Logo mais todos descem à planí­cie e os que estarão ao lado do «ex» serão jus­ta­mente aque­les que estiveram antes do poder e não os que viraram «mel­hores ami­gos» durante o fausto do mando.

Outro dia, o mundo maran­hense quase veio abaixo por conta de uma nota escrita no Jor­nal Pequeno, na col­una do Dr. Pêta, alter ego do jor­nal­ista Louri­val Bogéa. Lá o jor­nal­ista crit­i­cava o aço­da­mento do gov­er­nador Flavio Dino na defesa do gov­erno da pres­i­dente afas­tada Dilma Rouss­eff, e con­cluía, dizendo que se o gov­er­nador estava pen­sando mais em si que nos inter­esses do Maran­hão, estaria sendo egoísta.

Emb­ora o gov­er­nador seja afeito a respon­der dire­ta­mente – ainda que por vias trans­ver­sas – tudo lhe é dito do gov­erno ou da sua con­duta, não tomei con­hec­i­mento de qual­quer man­i­fes­tação sua. Entre­tanto, os setores da imprensa que orbita em torno do palá­cio e até pes­soas bem próx­i­mas a ele, par­ti­ram “com tudo” para cima do jor­nal­ista do órgão das multidões.

Se não respon­deu, tão pouco deu a dev­ida importân­cia aos aler­tas que lhes foram feitos. Tanto isso é ver­dade, que junto com o ex-​advogado-​geral da União e do dep­utado Waldir Maran­hão, interino na presidên­cia da Câmara dos Dep­uta­dos, pro­tag­oni­zaram um dos mais patéti­cos momen­tos da política nacional: a ten­ta­tiva bisonha do dep­utado maran­hense de des­man­char a sessão da Câmara dos Dep­uta­dos que aprovou a aber­tura de processo de impeach­ment da pres­i­dente da República.

A ati­tude insólita e típica do movi­mento estu­dan­til – emb­ora tenha cau­sado pre­juí­zos – acabou por virar piada de norte a sul do país e até no estrangeiro.

Qual­quer que seja a análise que se faça a con­clusão é a mesma: foi uma lam­bança mon­u­men­tal, que teria sido evi­tada se os pro­tag­o­nistas tivessem dado atenção às pon­der­ações dos críti­cos. Fiz­eram ouvi­dos moucos. E, não ape­nas o dep­utado, mas, sobre­tudo, o gov­er­nador, pode­riam ter nos poupado deste tipo de con­strang­i­mento, do vex­ame que rompeu as fron­teiras do Brasil – e ao país, dos pre­juí­zos cau­sa­dos pela quar­te­lada estudantil.

Outra mon­u­men­tal lam­bança é atribuir-​se aos críti­cos do atual gov­erno um saudo­sismo tar­dio dos gov­er­nos ante­ri­ores, sobre­tudo, àque­les lig­a­dos ao sar­neysmo. Será que o Jor­nal Pequeno, com quase 65 anos, desde sem­pre na oposição, teria razão para, segundo os gov­ernistas de hoje, fazer «o jogo da oposição»? Lógico que não.

Nem o Jor­nal Pequeno, sua direção, ou qual­quer outro cidadão, que tenha uma visão crítica dos (des)acertos do gov­erno devem ser trata­dos como opos­i­tores. Antes, dev­e­riam ser trata­dos, como pes­soas, que tendo ficado e se ded­i­cado uma vida inteira à causa oposi­cionista são mere­ce­do­ras do respeito dev­ido, quando não, ser­mos ouvi­dos pelas críti­cas feitas na intenção de colab­o­rar com o gov­erno. Pois, o desejo maior é que ele dê certo, que prove ser pos­sível fazer uma admin­is­tração difer­ente daque­las que se pas­sou a vida inteira criticando.

Não há dis­curso mais cômodo que o dos gov­ernistas profis­sion­ais, até porque, raros são os gov­er­nantes que não se deixam seduzir pela adu­lação dos lacaios. Difí­cil é criticar com inde­pendên­cia e por conta disso sofrer as con­se­quên­cias que vêm das mais diver­sas for­mas, seja pela perseguição, seja pela desqual­i­fi­cação feitas por aque­les que só con­hecem um lado – o dos que estão no poder, seja quem for.

Noutra quadra, a crítica, quase sem­pre incom­preen­dida, é feita no inter­esse do Maran­hão. O que se dese­jamos é ver os inter­esses do estado e do povo maran­hense à frente de inter­esses pes­soais ou de par­tidos, quais­quer que sejam.

Abdon Mar­inho é advogado.