AbdonMarinho - NA BUSCA DA COMPREENSÃO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Terça-​feira, 16 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

NA BUSCA DA COMPREENSÃO.

NA BUSCA DA COMPREENSÃO.

NESTES meus anos de existên­cia tenho cul­ti­vado mais dúvi­das que certezas. Não é que não saiba ou não com­preenda tais situ­ações. Até sei é com­preendo. Min­has dúvi­das, são basi­ca­mente, cul­ti­vavas pela neces­si­dade de com­preen­der os pon­tos de vis­tas opos­tos aos meus, mesmo, os mais incompreensíveis.

Um amigo cos­tuma dizer que gostaria de assi­s­tir meu velório – não é, ao menos segundo ele, que deseje minha morte, longe disso –, para poder ver o com­por­ta­mento da infinidade de pes­soas com as quais tenho con­vivido e que pen­sam de forma tão dis­tinta entre si. São pes­soas de idade bem avançada, out­ros mal saí­dos da ado­lescên­cia; cap­i­tal­is­tas fer­ren­hos, mas tam­bém social­is­tas, comu­nistas; tra­bal­hadores do campo e da cidade, operários, mas tam­bém empresários, pro­pri­etários de ter­ras, indús­trias e comér­cios; monar­quis­tas e repub­li­canos; pres­i­den­cial­is­tas e par­la­men­taris­tas; toda uma miríade de tipos sex­u­ais que vai de Arnold Schwarzeneg­ger – ape­nas para citar o exem­plo do filme “Será Que Ele É?” – à “Priscila, a Rainha do Deserto” – tam­bém pelo mesmo motivo; católi­cos, protes­tantes, umban­dis­tas, ateus e out­ras denom­i­nações reli­giosas ou não; até mesmo tucanos e petis­tas ou cox­in­has e mor­tadela, fazem parte do cír­culo de amigos.

Cul­ti­var a tol­erân­cia passa por não acred­i­tar que somos os sen­hores da ver­dade, os donos da razão e tam­bém por procu­rar enten­der as razões daque­les que pen­sam ou pro­fessa crenças difer­entes das nossas.

Nos últi­mos dias tenho me ocu­pado em procu­rar enten­der as razões que moti­vam pes­soas, que até onde sei são sérias, a defend­erem o gov­erno da Sra. Dilma Rousseff.

Não falo aqui de uma massa de pes­soas sim­ples que são influ­en­ci­adas por boatos – efi­cien­te­mente dis­sem­i­na­dos –, de que a queda de Dilma, Lula e do PT, será fim dos pro­gra­mas soci­ais como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, ProUNI e tan­tos outros.

Não falo, tam­bém, daquela massa de par­a­sitas lig­adas a diver­sos movi­men­tos soci­ais ou sindi­cais vis­ceral­mente lig­a­dos à gêne­sis do PT e que, emb­ora não façam parte ofi­cial­mente do par­tido, comunga de suas ideias e servem de inocentes úteis.

Tam­pouco falo daque­las pes­soas com sín­drome de Poliana que a despeito de todas as provas de que fomos víti­mas de um este­lion­ato eleitoral, não acred­i­tam que colo­caram uma quadrilha no poder que tem o único propósito de ficarem no poder e se locupletar.

Tam­pouco falo daque­les que, opor­tunistas, estão tirando suas van­ta­gens pes­soais: um roubo aqui, uma nomeação ali, uma indi­cação acolá, etc.

Além das moti­vações em maior ou menor grau dis­crim­i­nadas acima há ainda um grupo de pes­soas que não se enquadram em nen­hum deles e que defen­dem o atual gov­erno. Pes­soas esclare­ci­das, inteligentes, impor­tantes, que vão inclu­sive à tele­visão dizer que um processo de impeach­ment pre­visto na Carta Con­sti­tu­cional é um golpe con­tra a democ­ra­cia. Mais, que defen­dem o lotea­mento dos espaços públi­cos entre o que há de pior da política brasileira, sob o argu­mento que «pre­cisam recom­por a base de sus­ten­tação da presidente”.

Estas pes­soas, repito, rep­utadas como sérias, defen­dem práti­cas que até então, pelo sei, foi a razão de entrarem na política ou para movi­men­tos ou a levarem uma vida escor­re­ita. Quan­tos não foram aque­les que nos pedi­ram votos dizendo que tin­ham como propósito mudar as práti­cas da política nacional?

Outro dia, em rede nacional, vi um senador, que fora líder estu­dan­til dos mais atu­antes con­tra as práti­cas do ex-​presidente Col­lor, defender, sem qual­quer con­strang­i­mento, o lotea­mento dos car­gos públi­cos com a escória da política nacional.

Este senador mere­ceu, com pro­priedade, o título que lhe foi posto por um oposi­cionista e com­pan­heiro de par­la­mento: de que ele deixara de ser um “cara-​pintada» – refer­ên­cia ao movi­mento pró-​impeachment de 1992, onde os man­i­fes­tantes, sobre­tudo da juven­tude, pin­tavam a cara –, para se tornar um “cara-​lavada”. Perfeito.

Nos últi­mos dias o gov­erno e os seus têm feito tan­tas «estrip­u­lias» com os recur­sos públi­cos para se man­terem no poder que con­seguiram con­stranger o notório dep­utado Paulo Maluf. O mesmo dep­utado Maluf que se jun­tou a com­pan­heirada em 2012 para gan­harem as eleições de São Paulo. Naquela opor­tu­nidade o ex-​presidente Lula e o Sr. Had­dad foram ren­der hom­e­nagem a Maluf em sua casa, capit­u­lar diante daquele que, já no longín­quo ano de 1984, virara sinôn­imo de cor­rupção. Lem­bram do verbo mal­u­far? Fez muito sucesso entre 1984/​85, no período que ante­cedeu a última eleição no Colé­gio Eleitoral que elegeu Tan­credo Neves.

Pois é, Maluf se con­strange com o jogo que o gov­erno do Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT, tem feito, a ponto de dizer que estão entre­gando o Brasil a pes­soas sabida­mente cor­rup­tas e/​ou sem preparo.

No leilão de car­gos em troca de votos con­tra o imped­i­mento “deram» o Depar­ta­mento Nacional de Obras Con­tra a Seca — DNOCS ao deputado/​empresário fornece­dor mate­r­ial para este tipo de obra.

Não tar­dam e entregam a admin­is­tração dos ban­cos de sangue para os vam­piros; os gal­in­heiros para serem admin­istra­dos por raposas.

Cheg­amos a tamanha degen­er­ação que – emb­ora a pop­u­lação esteja sofrendo com epi­demias de Dengue, Zica, Chikun­gunya, gripe H1N1; com hos­pi­tais sucatea­dos e sem darem conta da demanda; com pes­soas mor­rendo na porta dos hos­pi­tais por falta de atendi­mento –, se coloca no “bal­cão de negó­cios”, o Min­istério de Saúde e todos os car­gos lig­a­dos ao setor. Chegaram ao lim­ite da irresponsabilidade.

Estes fatos são públi­cos, não há quem ignore isso.

Ape­sar do gov­erno está fazendo jus­ta­mente o que jurou desde sem­pre com­bater, muitos daque­les que o defende, acham tais práti­cas normais.

São estas moti­vações que procuro entender.

Vejamos algu­mas situações:

Os defen­sores do gov­erno dizem defender o serviço público de qual­i­dade e efi­ciente. No gov­erno incharam a máquina pública com apanigua­dos ao invés de aproveitar os quadros téc­ni­cos. Foram além, entre­garam os fun­dos de pen­são dos servi­dores para incom­pe­tentes e/​ou cor­rup­tos que, munidos de propósi­tos incon­fessáveis, causaram prejuízos/​desvios de mais de R$ 50 bil­hões de reais. Resul­tado: os tra­bal­hadores a quem prom­e­teram defender vão ter que con­tribuir mais e alon­gar o tempo de con­tribuição para terem dire­ito a uma aposen­ta­do­ria menos humilhante.

No caso dos fun­dos de pen­são das estatais não avançaram ape­nas sobre o din­heiro público, foram bus­car o din­heiro dos trabalhadores.

Adi­ante. Uma das ban­deiras do gov­erno e seus defen­sores sem­pre foi a Reforma Agraria. Encar­rega­dos de admin­is­trar o pro­grama, desviaram – segundo con­tas do Tri­bunal de Con­tas da União –, mais de R$ 2,5 bil­hões de reais, sem con­tar a dis­tribuição de ter­ras para pes­soas que não tin­ham ou têm dire­ito a rece­berem ter­ras, como servi­dores, públi­cos, empresários e políticos.

Defen­sores das riquezas nacionais, tiraram o que pud­eram da nossa maior empresa, a Petro­bras, nos últi­mos anos, só os pre­juí­zos com a cor­rupção e má gestão, foram esti­ma­dos, ape­nas para 2014, em mais de R$ 40 bilhões.

A falta de rodovias ou a defi­ciên­cia na con­ser­vação das mes­mas, oca­siona, todos os anos, mil­hares de mor­tos em todo Brasil. Desde que Lula/​Dilma man­dam no país este setor foi entregue aos políti­cos que têm mostrado pouca ou nen­huma capaci­dade de resolver estes gar­ga­los. Já vão 13 anos de puro descaso, e segundo ameaçam, vai piorar.

Ainda no campo das esti­ma­ti­vas, alguns cál­cu­los indicam um «rombo» de cerca de 3 tril­hões de reais nos últi­mos anos. Mon­taram sofisti­ca­dos esque­mas de desvios de recur­sos públi­cos jus­ta­mente durante os gov­er­nos que prom­e­teram acabar com essa prática.

Como resul­tado disso tudo, o Brasil pas­sou a ser uma espé­cie de “pat­inho feio” no cenário inter­na­cional ou tratado como piada pelos humoris­tas ao redor do mundo. Na econo­mia, quase nen­hum país nos leva a sério ou nos respeita.

Emb­ora não ten­hamos o dire­ito de menosprezar o fato de ser­mos trata­dos como piadas ou de ser­mos um zero à esquerda no cenário econômico mundial, o mais grave deste legado desas­troso é o que vemos aqui den­tro: mil­hões de tra­bal­hadores amar­gando o desem­prego, famílias inteiras onde ape­nas um ou outro mem­bro tra­balha, as vezes nen­hum, jovens a quem se nega a opor­tu­nidade de tra­balho e a per­spec­tiva de futuro. Este é o ver­dadeiro desastre.

Diante disso é que fico espan­tado com o fato de exi­s­tirem pes­soas esclare­ci­das – e não são todas “picare­tas”, opor­tunistas ou cor­rup­tas – defend­endo um gov­erno que não pos­sui mais quais­quer condições de gov­ernar e que o único aceno que no faz é com mais caos, deses­pero e deses­per­ança para o nosso povo.

Será que igno­ram o que é sabido por todos? Será que acham nor­mal um pro­jeto político de poder que espo­liar a pop­u­lação, sobre­tudo, os mais frágeis? Será que acham nor­mal desviarem, para si e para os seus, o patrimônio que é de todos os brasileiros?

O dis­curso “bar­ro­sista» de que os suces­sores serão piores ou que a favor do impeach­ment tem o Cunha, Temer, o Jucá, não me con­vence. Pois seria como dizer: a com­pan­heirada rouba mais é nossa amiga.

Pre­cisamos de um gov­erno supe­rior a tudo isso, uma nação onde os recur­sos públi­cos sejam investi­dos em favor de todos e sem desvios. Isso é pos­sível. Emb­ora a cor­rupção exista em todos os lugares, ela pode ser ao menos mino­rada ao invés de insti­tu­cional­izada como con­tinua a ocor­rer por aqui.

Será que estas pes­soas acham que o temos de mel­hor é o que viven­ci­amos nos últi­mos treze anos?

Só que­ria compreender.

Abdon Mar­inho é advogado.