AbdonMarinho - ESTAMOS CONDENADOS AO ATRASO?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 18 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

ESTA­MOS CON­DE­NA­DOS AO ATRASO?

ESTA­MOS CON­DE­NA­DOS AO ATRASO?

O GOV­ER­NADOR do Maran­hão, Flávio Dino, disse, não faz muito tempo, uma frase que me chamou muito a atenção, parece, até, que a mesma serviu de mote para uma das pub­li­cações que faz sem­anal­mente no Jor­nal Pequeno. No con­texto de uma exposição sobre a Rota das Emoções, que envolve os esta­dos maran­hão, Piauí e Ceará, disse: “Não podemos nos con­for­mar”. Guardei-​a comigo.

Outro dia o IBGE divul­gou a renda per capita da pop­u­lação brasileira por estado. E, para nossa tris­teza, o Maran­hense tem renda três vezes menor que a renda de um paulista, qua­tro vezes menos que um brasiliense. Con­cluindo, mais uma vez o Maran­hão ficou em último lugar, sendo super­ado até por esta­dos como Alagoas e pelo Pará.

Não temos o dire­ito de nos con­for­mar isso. Deve­mos, ao menos, a indig­nação por números tão vex­atórios às próx­i­mas gerações.

Mas, pior que os números em si, merece igual destaque a quase indifer­ença dis­pen­sada pela classe política, pelos for­madores de opinião e até pela sociedade, aos mes­mos. Não vimos debates públi­cos, ques­tion­a­men­tos, etc. A oposição e o gov­erno, ao que parece, fiz­eram um pacto de silên­cio em torno do assunto. Os anti­gos donatários do poder, talvez acan­hados pelo fato dos números refle­tirem a falta de políti­cas públi­cas durante seus anos de mando, ficaram inertes; os novos donatários, talvez por não terem uma solução, ainda, para tal ver­gonha, fin­gi­ram que não tinha nada com o assunto.

A imprensa, com as hon­radas exceções, sem­pre alin­hada de um lado ou outro, seguiu o posi­ciona­mento dos “chefes” no silên­cio obsequioso.

Os poucos veícu­los que divul­garam o assunto, foram pouco além de uma repro­dução de matérias veic­u­ladas pela mídia do sul do país, sem, sequer, emi­tir uma opinião ou fazer uma análise dos fatos.

A impressão que ficou foi que a notí­cia de que o Maran­hão é o último na renda seus cidadãos, não era algo a des­per­tar o inter­esse de ninguém.

Como pre­tendemos avançar se trata­mos com indifer­ença nos­sas mazelas?

Não é só. Nos dias que se seguiram aos dados divul­ga­dos pelo IBGE, os meios de comu­ni­cação e os políti­cos locais se ocu­param da política. Mas não pensem que trataram da cam­panha eleitoral de 2016, com pouco mais de um ano do ini­cio do mandato do atual gov­er­nador, o debate travado pela classe política local já é em torno de sua sucessão em 2018.

Emb­ora ache um dire­ito os políti­cos se plane­jarem para os embates políti­cos, me parece absurdo o fato do gov­er­nador nem bem ter esquen­tado a cadeira ou dito dire­ito a que veio, e a dis­puta pelo seu cargo já esteja nas ruas. Pelas min­has con­tas, já temos mais de dez can­didatos ao gov­erno e qua­tro vezes este número como pos­tu­lantes às duas vagas de senador da República.

Ora, ainda que absurda a ante­ci­pação do debate político três anos antes das eleições, nada teria demais se as pre­ten­sões de cada um não fosse colo­cadas à frente dos inter­esses maiores do Maran­hão e da sua pop­u­lação. Os políti­cos do estado pre­cisam, ainda que por um momento, esque­cerem seus pro­je­tos indi­vid­u­ais e pen­sarem uma pauta para desen­volver o estado. Dev­e­riam se pen­i­ten­cia­rem por pen­sarem mais nos seus pro­je­tos pes­soais enquanto o estado amarga indi­cadores tão negativos.

Vejamos um exem­plo. Há quase um ano chamava a atenção da sociedade maran­hense e seus rep­re­sen­tantes para o Pro­jeto de Lei do Senado 115 que trata da cri­ação da Zona de Expor­tação do Maran­hão. Dei ao texto o título: “Uma Causa para Unir e Desen­volver o Maranhão”.

O pro­jeto em questão, na minha opinião, trata-​se de um dos mais impor­tantes para o desen­volvi­mento do estado. Caso venha ser aprovado e implan­tado, trans­for­mará nossa matriz econômica, com a val­oriza­ção das pro­priedades, cri­ação de mil­hares de empre­gos, injeção de mil­hões e mil­hões de dólares anual­mente na econo­mia da ilha e de todo estado.

Pois bem, assim como os números da renda (ver­gonhosa) do nosso povo não des­per­tou maiores inter­esses dos políti­cos, for­madores de opinião e da sociedade em geral, este pro­jeto que criando a ZEMA, ao que parece, sofre com da mesma indifer­ença. Não vemos quase ninguém dis­cutindo – o, apre­sen­tando sug­estões, se mobi­lizando para pres­sionar o Con­gresso Nacional pela sua aprovação.

A razão disso é uma só, a guerra política. Como o autor do pro­jeto, senador Roberto Rocha (PSB/​MA) é visto como um pos­sível can­didato nas eleições de 2018, o pro­jeto de sua auto­ria, ainda que possa sig­nificar a redenção do nosso povo, é visto com descon­fi­anças, é ignorado.

Assim como este, é pos­sível que exis­tam out­ros pro­je­tos, de out­ros agentes, de inter­esse do Maran­hão, infe­liz­mente a guerra política, os inter­esses mesquin­hos, não deixa que os mes­mos se trans­formem em ações conc­re­tas para o povo.

Não podemos nos con­for­mar com isso.

Os «rep­re­sen­tantes do povo» pre­cisam con­struir uma agenda que cor­re­sponda ao inter­esse público. Não é admis­sível que só se ocu­pem de seus inter­esses, de suas eleições, de seus pro­je­tos pes­soais, que antes mesmo de acabar uma eleição já este­jam colo­cando a próx­ima à frente dos inter­esses da pop­u­lação que os elegeu.

Caso não con­sigam con­struir isso – e cada vez mais é assim que vemos a classe política maran­hense: como inca­paz de con­struir uma agenda mín­ima voltada para o inter­esse do público – o Maran­hão per­manecerá con­de­nado ao atraso.

Não podemos, não deve­mos e não vamos nos con­for­mar com isso.

Abdon Mar­inho é advogado.