AbdonMarinho - SARNEYSISTA, EU?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quarta-​feira, 17 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

SAR­NE­Y­SISTA, EU?

SARNE­Y­SISTA, EU?
Muitos anos ainda se pas­sarão até que con­sig­amos romper o ciclo maniqueísta que tem dom­i­nado a política do Maran­hão há mais de cinquenta anos e que dividiu a sociedade entre os dis­cípu­los e os opos­i­tores de Sar­ney. Talvez esta divisão con­ste do tes­ta­mento de Adão e Eva que descon­heço.
A respeito da crise política no país escrevi um texto onde defendo o dire­ito dos opos­i­tores a atual pres­i­dente de defend­erem, livre­mente o seu imped­i­mento, sem com isso serem tacha­dos de golpis­tas, rea­cionários e inimi­gos do povo. Vejam que defendo o dire­ito à livre man­i­fes­tação de pen­sa­mento, o dire­ito de se opor ao gov­erno. E, caso haja respaldo legal – seja através de jul­ga­mento pela corte eleitoral ou proces­sa­mento por crime de respon­s­abil­i­dade pre­visto na Con­sti­tu­ição Fed­eral e na Lei 1.079 –, a pres­i­dente seja impe­dida de con­tin­uar o man­dado.
A defesa que faço é do dire­ito à man­i­fes­tação de pen­sa­mento, de oposição, sem descar­tar, caso haja moti­vação legal, que isso ocorra. O que me move é o inter­esse do país e não saber se isso ben­e­fi­cia ou não quem quer que seja.
Não há, e deixo claro no texto, a defesa do impeach­ment da pres­i­dente. Mas entendo que assim, como houve o fora Sar­ney, o fora Col­lor, o fora FHC, ninguém, numa democ­ra­cia, pode se pre­tender acima da lei e escapar das respon­s­abil­i­dades a todos impostas. A sociedade tem, sim, o dire­ito de protes­tar con­tra a sen­hora Dilma, bradar o FORA DILMA.
Como vemos, a argu­men­tação, emb­ora pro­duzida por um advo­gado cocho – e não tenho prob­lema nen­hum em aceitar minha condição de defi­ciente físico, con­seguida graças à poliomielite na minha primeira infân­cia, ser cocho, por­tanto me limita em algu­mas coisas, mas não me inco­moda, pior se fosse cocho no caráter –, está longe de pade­cer de qual­quer defi­ciên­cia, pelo con­trário, é reta, e é a mesma que sem­pre defendi nos diver­sos episó­dios sobre os quais me man­i­festei ao longo da minha vida.
O suposto alin­hamento a Sar­ney deve ser fruto de uma falsa leitura dos fatos e da história daque­les que acham que o mundo, as leis, o dire­ito, deve servir aos inter­esses de gru­pos e não da sociedade na sua total­i­dade.
E, tam­bém, daque­les que fazem do ofí­cio de baju­lar uma estraté­gia de vida. Se o rei pensa assim, serei mais real­ista que o rei.
His­tori­ca­mente sem­pre estive em campo oposto ao ex-​senador e pres­i­dente, a quem sequer con­heço, nunca tendo fre­quen­tado a sua ou a residên­cia de nen­hum dos seus.
Cheguei na Ilha de São Luís 1985, tangido, como muitos, para fazer o curso médio na cap­i­tal em busca de um ensino mel­hor. Matric­u­lado no Liceu Maran­hense, já naquele ano me enga­jei na luta para fun­dação do grêmio estu­dan­til.
No ano seguinte, ainda ado­les­cente, militei na cam­panha petista de Delta Mar­tins; em 1990, já fazia cam­panha para Con­ceição Andrade, can­di­data da ter­ceira via e das oposições; em 1994, fui um dos coor­de­nadores da cam­panha do senador Cafeteira con­tra a can­di­data Roseana Sar­ney; o mesmo ocor­rendo em 1998; em 2002, abstive na cam­panha de Jack­son Lago, fato que se repetiu em 2006, situ­ação repetida, nova­mente em 2010. Em 2014, tam­bém estive com a can­di­datura oposi­cionista ao esquema Sar­ney.
No campo profis­sional, tam­bém não foi muito difer­ente.
As ações con­tra o gov­erno Roseana, foram quase todas patroci­nadas pelo escritório que leva o nosso nome. Foi assim com ações judi­ci­ais a respeito da MA 008, a famosa rodovia que custou-​nos 33 mil­hões de dólares, e que dev­e­ria ligar os municí­pios de Paulo Ramos a Arame; foi assim com a ação con­tra o gov­erno de Roseana por haver achatado o salário dos pro­fes­sores ao reduzir os espaços entre os vários níveis; foi assim quando ninguém teve cor­agem de acionar o Senado da República con­tra o Procurador-​geral, Ger­aldo Brindeiro, por não fazer andar as rep­re­sen­tações con­tra a então gov­er­nadora do Maran­hão; foi assim quando movi e patrocinei ação pop­u­lar por excesso de adi­tivos na obra do viaduto da COHAMA ou con­tra a denom­i­nação do Tri­bunal de Con­tas do Estado em hom­e­nagem a mesma, e tan­tas out­ras que não lem­bro agora.
Basta dizer que até a ação eleitoral que ques­tio­nou o pleito de 2010, tam­bém foi patroci­nada pelo nosso escritório.
A grande maio­ria destas ações foram moti­vadas pelo dever de cidada­nia, de indig­nação, de quase nen­huma recebe­mos um cen­tavo e hon­orários e nem mesmo um «muito obri­gado».
E não havia porquê, difer­ente de muitos, não fize­mos moti­va­dos por rec­om­pen­sas futuras. Nem nas vezes quem que aju­damos a con­struir a vitória eleitoral fomos aquin­hoa­dos com qual­quer rec­om­pensa. No gov­erno de Jack­son Lago, nada nos foi ofer­e­cido nem pedido. No atual a mesma coisa. Vida que segue.
Então sou um ade­sista ao ex-​presidente Sar­ney? Eu, cara-​pálida? Agora que estão fora do poder? Agora, depois anos tra­bal­hando para que o Maran­hão exper­i­men­tasse a liber­dade que des­fruta hoje? Depois de ter colo­cado a cara a tapa e sofrido todo tipo de represálias e retal­i­ações?
Quando na oposição, tra­bal­hei com ex-​deputado Ricardo Murad. Tendo voltado as hostes dos anti­gos ali­a­dos do grupo Sar­ney, ele me con­vi­dou para con­tin­uar­mos tra­bal­hando jun­tos. Con­vite que agradeci e recu­sei.
Sabia que nos­sos cam­in­hos eram opos­tos.
Não me arrependo.
O que nos motiva é a certeza de, ao menos ten­tar, fazer a coisa certa, os ideias que sem­pre defend­emos. A nossa maior riqueza é a nossa liber­dade. A liber­dade de poder pen­sar e expres­sar o pen­sa­mento sem o receio de agradar ou desagradar ninguém, mas sim como mero exer­cí­cio de cidada­nia.
Quando digo que o gov­erno Dilma não pos­sui condições de debe­lar a crise que ele mesmo criou, que a legit­im­i­dade esvaiu-​se ao ser con­frontada com a ver­dade ou que o país não tem como supor­tar três anos e meio de ago­nia, o faço no inter­esse da sociedade que em um ano já perdeu quase metade de sua riqueza pes­soal. Não estou aqui cul­ti­vando inter­esses políti­cos de quem que seja.
Como a vida pau­tada em trinta anos de coerên­cia é que não aceito patrul­hamento de quem quer seja, muito menos daque­les que sem­pre se moveram por con­veniên­cias de todos os tipos, os que viveram a som­bra dos gov­er­nos e se locu­ple­taram deles; que rece­beram favores pes­soais, ínti­mos e sem agrade­cer, hoje os repu­diam.
Comigo, não, vio­lão. Para me patrul­har tem que provar que já fez bem mais do que eu e sem rece­ber qual­quer coisa em troca. Alu­gar a pena e o pen­sa­mento por favores e moedas, não conta.
Eu sei onde estive em toda minha vida. Os que me criti­cam, onde estavam? O que faziam?
Fora isso, antes de quer­erem sal­gar o meu pen­sa­mento e a liber­dade de expressão – que fiz por mere­cer –, com «sal mar­inho», reco­mento que se deleite num belo canavial.
Abdon Mar­inho é advogado.