AbdonMarinho - OS FARSANTES.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Terça-​feira, 16 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

OS FARSANTES.

OS FARSANTES.

Lem­bro que chorei, quando, naquele segundo turno de 1989, o resul­tado das urnas con­sagrou a vitória de Fer­nando Col­lor de Mello sobre Luis Iná­cio Lula da Silva.

Aquela, sen­tia assim, era a der­rota do povo – não ape­nas da cam­panha que emo­cio­nou o Brasil com seu jin­gle que dizia algo do tipo: «Lula lá, cresce a esper­ança. Lula lá, o Brasil cri­ança… Lula lá é a gente junto. Lula lá, meu primeiro voto para fazer bril­har nossa estrela» –, para o farsante que, apoiado pelas elites, pelos mais rea­cionários do país, vendeu a ideia, aos mais humildes, de que era um caçador de mara­jás do serviço público, o caçador de cor­rup­tos que iria mod­ern­izar o Brasil e tirá-​lo das gar­ras do Sar­ney, do mar de cor­rupção que tomava conta República.

Aquela foi uma noite de pesar, triste. Emb­ora fosse uma vitória da maio­ria, impres­sion­ava como não nos rep­re­sen­tava, não rep­re­sen­tava o povo brasileiro.

Col­lor foi eleito com o apoio dos vel­hos coro­néis, sua votação era ori­unda dos «grotöes» mais atrasa­dos do país. Como, em tem­pos recentes, foram as vitórias do Par­tido dos Trabalhadores.

Lula, como a música dizia, rep­re­sen­tava a esper­ança daque­las pes­soas que que­riam um Brasil mel­hor, mais justo.

Difer­ente de Lula, Col­lor nunca me enganou, sem­pre tive con­vicção que seu dis­curso com voz empostada de com­bat­ente dos maus hábitos do serviço público, seu arrojo de gestor com­pe­tente, mod­erno, pouco afeto ao decoro e litur­gias do cargo, eram falsos.

Uma de suas primeiras medi­das, antes mesmo de meter a mão nas econo­mias dos cidadãos, foi comu­nicar à pat­uleia que não moraria no Palá­cio da Alvo­rada, ao invés disso, con­tin­uaria a habitar a residên­cia pri­vada da família, a famosa Casa da Dinda.

Os incau­tos vibraram, que pres­i­dente mod­erno, despren­dido, atleta. Enquanto usava o palá­cio como acad­e­mia de ginás­tica, tratava de tornar a residên­cia pri­vada num local digno do tão ele­vado posto e de suas infind­áveis vaidades. Assim como a Casa da Dinda, mais famosos ainda, foram os jardins que man­dou con­struir, com cas­catas mon­u­men­tais, fontes e out­ros mimos.

Já Lula foi mel­hor na arte de enga­nar. Enganou-​me por qua­tro eleições seguidas(1989 a 2002). O fato de cansar na primeira página de um livro, de não ser muito dado ao tra­balho, de morar por anos e anos de favor na casa do amigo empresário, via tudo como peca­dos menores. Inocente, imag­i­nava que Lula no poder iria romper com as vel­has estru­turas, debe­lar a cor­rupção que san­grava o país.

Ledo engano, no poder, Lula, a medida que a ganân­cia aumen­tava, afastava-​se dos ali­a­dos de primeira hora e se aprox­i­mava dos que aju­daram a eleger Col­lor naquela emblemática primeira eleição após a ditadura.

Aqui cabe o reg­istro. O Lula não foi forçado a isso, ele bus­cou e gos­tou das novas amizades que fazia. Enquanto isso o país, ao invés de afastar-​se da cor­rupção, afun­dava cada vez mais.

Os ex-​presidentes Col­lor e Lula são quase iguais. Quase a mesma pessoa.

Os escân­da­los do men­salão e do petrolão são ape­nas a prova mais aparente de tudo. A união de Col­lor e Lula, rev­e­lam as provas, além da comunhão ide­ológ­ica (a ide­olo­gia de afa­nar o país) foi moti­vada por mil­hões de motivos, jor­ra­dos da Petrobras.

Como Col­lor, as out­ras dile­tas amizades tam­bém foram for­jadas assim, no vil metal. Jader Bar­balho saudado por Lula como grande homem, José Sar­ney como irmão de alma, Renan Cal­heiros como estadista, Paulo Maluf (até Maluf), como exem­plo de probidade.

Col­lor pos­sui um fetiche por car­ros, lá atrás um Fiat Elba, esteve no epi­cen­tro do processo que levou ao seu imped­i­mento. Apeado do poder, umas das primeiras medi­das foi ir com­pras, adquiriu um Lam­borgh­ini, dos mais caros.

Agora, pelos portões da Casa da Dinda, por onde um dia entrou o Fiat Elba do infortúnio pes­soal – um veículo nacional, chamado por ele de car­roça –, vimos sair a Fer­rari ver­melha, o Porsche preto e o Lam­borgh­ini prata, todos pilota­dos por agentes da polí­cia fed­eral, como exem­plo aparente do mar de lama de onde parece nunca ter saído. Os man­da­dos judi­ci­ais esque­ce­ram ape­nas de man­dar recol­her, tam­bém, o lux­u­oso Rolls-​Royce Phan­ton man­tido na residên­cia de São Paulo.

O fetiche de Lula é por casas. Mel­hor dizendo, casas ban­cadas pelos out­ros. Nos tem­pos de eterno can­didato morava, de favor, na casa do amigo empresário. Findo o mandato de pres­i­dente da República, curte a vida rural em sítio de um amigo-​sócio do filho, em Ati­baia (SP) podendo usar tam­bém um triplex do Guarujá (SP), se quer cur­tir o ar mar­inho, ambos gen­til­mente refor­ma­dos por empre­it­eiros ami­gos. Ah, o filho, out­rora mon­i­tor de zoológico, tam­bém mora, de favor, num lux­u­oso aparta­mento, cedido por um amigo e sócio. Sem­pre tive bons e gen­erosos ami­gos, nunca tão gen­erosos quanto são os ami­gos da família do ex-​presidente Lula.

No escân­dalo do petrolão, Col­lor é apon­tado como ben­efi­ciário de propinas supe­ri­ores a vinte mil­hões. Parte do din­heiro mal-​havido, deposi­tado em con­tas de sua tit­u­lar­i­dade. Um dos dela­tores do esquema de san­gria dos recur­sos da Petro­bras disse ter entregue nas próprias mãos do ex-​presidente uma «peteca» de sessenta mil reais. Em mãos, bateu na porta e disse está aqui a sua encomenda, os sessenta mil que o goleiro man­dou deixar. Um ex-​presidente da República recebendo propina é algo que enver­gonha a nação. Rece­ber dire­ta­mente, em mãos é algo que embrulha o estô­mago de nojo.

Até aqui não se sabe se o Lula rece­beu algo assim. Deve ser mais sabido, recebe dis­farçadas de doações para o o insti­tuto que leva seu nome ou através uma empresa de palestra. Fal­tando saber o que as inves­ti­gações inter­na­cionais ainda irão dizer.

O dis­curso de Col­lor da tri­buna do Senado Fed­eral, pas­sa­dos mais de vinte anos desde que foi apeado do poder, é o mesmo. A mesma falsa indig­nação, o mesmo falar empo­lado, as mes­mas des­cul­pas esfar­ra­padas do tempo que dizia não saber nada do que fazia o sen­hor PC Farias.

Assim como Col­lor o cerco tam­bém vai se fechando sobre o esquema de Lula. Out­ros países, graças a acor­dos inter­na­cionais, começam a se inter­es­sar pelos cam­in­hos tril­ha­dos pelo din­heiro sujo.

Nos idos de 1989, Lula dizia que Sar­ney era o maior ladrão do país desde que Cabral chegou por aqui; Col­lor dizia que o man­daria pren­der. Hoje estão todos jun­tos. Mais unidos que nunca. Para o Brasil, a certeza que sem­pre foram iguais e que sem­pre dis­seram a ver­dade quando se refe­riam uns aos outros.

A união de três ex-​presidentes seria um feito extra­ordinário, se unidos para aju­dar o país a superar seus desafios. Infe­liz­mente, para nós, não é o caso. Temos três ex-​presidentes unidos para ten­tar acabar com inves­ti­gações poli­ci­ais, arqui­var proces­sos, menosprezar a justiça; unidos con­tra as insti­tu­ições repub­li­canas que, em algum momento de suas vidas, juraram defender e respeitar; unidos con­tra o Brasil.

Abdon Mar­inho é advogado.