AbdonMarinho - AGIOTAGEM: ORIGEM DO MAL.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Terça-​feira, 16 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

AGIO­TAGEM: ORIGEM DO MAL.

AGIO­TAGEM: ORIGEM DO MAL.

Um ex-​assessor do então gov­er­nador Jack­son Lago, disse-​me, certa vez con­ver­sava com ele, colo­cando do grande avanço que teria o estado se con­seguis­sem acabar com a cor­rupção na máquina pública. Jack­son Lago, com a exper­iên­cia acu­mu­lada durante anos retru­cou: – se con­seguirmos ao menos reduzir para metade, já ter­e­mos feito a maior rev­olução que o Maran­hão já assistiu.

O gov­erno do estado – já ouvi de diver­sos del­ga­dos –, deter­mi­nou a inves­ti­gação a fundo de um dos maiores males da sociedade maran­hense: a agiotagem.

Ela (a agio­tagem), está na raiz da maio­ria dos prob­le­mas do Maran­hão, con­t­a­m­i­nando todas as insti­tu­ições, e puxando o desen­volvi­mento do Estado para trás. O senador João Alberto Souza, quando ocupou o cargo de gov­er­nador, declarou que o crime orga­ni­zado estava enfron­hado nos três poderes do estado, isso há mais de vinte anos. Hoje, sem dúvida alguma, uma das feições destas ativi­dades crim­i­nosas se mate­ri­al­izam através da agio­tagem, da usura que san­gram os cofres públi­cos e per­petua a miséria.

Trata-​se de uma prática que foi se tor­nando insti­tu­cional­izada e sofisti­cada, sendo ampli­ada cada vez mais, enveredando para out­ros tipos de crimes e para dom­i­nação da máquina do Estado.

Pode-​se se dizer que foi a ativi­dade que mais cresceu no Maran­hão nos últi­mos 50 anos.

Desde que me entendo por gente, que ouço falar de pes­soas que vivem de emprestar din­heiro a juros que cha­gavam até a 100% (cem por cento) do valor emprestado. For­tu­nas foram feitas assim.

Quando tra­bal­hei a ALEMA, no começo dos anos 90, can­sei de ouvir dizer que o din­heiro de deter­mi­na­dos servi­dores não dava para nada porque grande parte do valor era repas­sado aos agio­tas que cer­cavam aquela casa e atu­avam com desas­som­bro na sociedade. Ainda hoje se ouve falar isso. Todos, ou quase todos, sabem destes fatos, ao menos de «ouvir falar”.

O modus operandi é prati­ca­mente o mesmo. O cidadão sabe das difi­cul­dades do outro e ofer­ece din­heiro, dizem que a taxa de juros é tan­tos por cento. Em garan­tia recebe doc­u­men­tos de car­ros, assi­na­dos, de imóveis, etc. Se for pagando os juros men­sais, tudo bem, se não pagar o agiota toma o patrimônio garan­tido, isso em último caso, pois a prefer­ên­cia é pela rede de depen­dentes pagando reli­giosa­mente os juros escorchantes.

O tempo foi pas­sando e a miri­ade de agio­tas pas­saram a enx­er­gar no poder público um enorme filão. Com a prox­im­i­dade das eleições, con­forme ver­i­fi­cam a via­bil­i­dade das can­di­dat­uras, ofer­e­cem para finan­ciar as cam­pan­has dos can­didatos, entre­gando din­heiro em espé­cie e pegando cheques, escrit­uras, doc­u­men­tos de veícu­los. Muitos na falta disso, querem só o com­pro­misso de ficarem com deter­mi­na­dos setores das prefeituras, assu­mindo, o endi­vi­dado o com­pro­misso de entre­gar ao agente finan­ciador as sec­re­tarias de edu­cação, saúde, obras. Se gan­ham pas­sam para den­tro da prefeitura, nome­ando pes­soas de suas con­fi­ança e ficando como os mel­hores con­tratos nas mais vari­adas áreas. Com feição de legal­i­dade, colo­cam diver­sas empresa para par­tic­i­parem das lic­i­tações, qual­quer que ganhe está “em casa”. Têm empre­sas em todas as espe­cial­i­dades. E, segundo rev­e­lam as apu­rações pre­lim­inares, muitas destas de pro­priedade dos próprios agio­tas, famil­iares ou prepostos.

Outra estraté­gia é, na escolha das can­di­dat­uras, colo­carem um vice-​prefeito da “con­fi­ança” do esquema para a even­tu­al­i­dade do prefeito ter que sair, ou ser colo­cado pra fora. Muitas das vezes alguém do próprio ramo.

Assim, tomam de conta das prefeituras, umas com mais ênfase, out­ras com mais dis­crição. Noutros casos, as quadrilhas mon­tadas, sim­ples­mente pagam um salário ao prefeito e ter­ce­i­riza toda a gestão. O prefeito tem como mis­são só cumprir as ordens de quem o colo­cou no poder. Essa prática nefasta, alcança uma grande parcela dos municí­pios. Poucos, na ver­dade, são os que escapam do poder nefasto destas quadrilhas.

Dev­ido, tam­bém, a isso, os serviços públi­cos não chegam aos mais neces­si­ta­dos. A cada gestão que passa, vemos os serviços públi­cos pio­rarem, as obras de infra-​estrutura não durarem nada, muitas aca­bando antes mesmo da inau­gu­ração. Em tudo isso está o custo da agio­tagem e da cor­rupção. Se você 100 mil para fazer uma obra e 50, 60 mim somem em propinas, não ten­ham dúvi­das de que a obra não tem a mín­ima pos­si­bil­i­dade de prestar.

As palavras de um ex-​prefeito, con­fes­sando como a quadrilha agia em seu municí­pio não deixa dúvi­das: ven­diam ali­men­tação esco­lar e entre­gavam algo bem próx­imo de lixo para ali­men­tar as cri­anças. O ex-​prefeito con­fes­sou isso.

Ape­sar de tudo, ninguém ousa tocar no tema, dizem que há envolvi­mento de pes­soas dos mais altos escalões, e que os que têm apare­cido, até o momento, não pas­sam de bagrin­hos, inter­mediários dos grandes respon­sáveis pela engrenagem. Dizem que há envolvi­mento de mag­istra­dos, de par­la­mentares, de empresários, empre­it­eiros, etc. Dizem ainda que são diver­sas quadrilhas atuando sob alguns coman­dos especí­fi­cos, san­grando os municí­pios. Os prefeitos, que estão longe de serem san­tos, são, na maio­ria das vezes, ape­nas peões no xadrez destas quadrilhas.

O desvio das ver­bas públi­cas alcançam tam­bém as emen­das par­la­mentares. Segundo dizem, o prefeito, com a admin­is­tração dom­i­nada, sem con­seguir fazer nada, aceita rece­ber recur­sos do tesouro através emen­das. O com­pro­misso é facil­i­tar que as quadrilhas vençam as lic­i­tações e repas­sar parte da verba (muitas das vezes mais de 30% do valor) para o par­la­men­tar que con­seguiu a emenda. Antes do din­heiro da emenda sair, o gestor deve entre­gar a parte do par­la­men­tar em cheques, como garan­tia ao acordo.

Já ouvi­mos par­la­mentares denun­cia­rem as quadrilhas de agio­tagem, entre­tanto, nunca foram além. Nunca quis­eram inves­ti­gar com afinco essa situ­ação, emb­ora seja do con­hec­i­mento de todos a sua gravi­dade. Nem quando o assunto gan­hou o destaque da mídia, como assas­si­natos, prisões e o escân­dalo envol­vendo a Câmara de São Luís, suas excelên­cias acharam opor­tuno investigar.

Os órgãos e con­t­role podem e devem inter­vir neste assunto. Umas das primeiras medi­das dev­e­ria ser a proibição dos ban­cos emi­tirem cheques às prefeituras munic­i­pais e out­ros órgãos, como câmaras, insti­tu­tos de pre­v­idên­cias e out­ros órgãos; outra medida seria o MPE de cada comarca acom­pan­harem de perto as lic­i­tações dos órgãos e a exe­cução dos serviços presta­dos, inclu­sive quanto a qual­i­dade das obras, serviços e mate­ri­ais forneci­dos; mais: cobrarem o cumpri­mento da lei de transparên­cia e acesso à informação.

A mim, parece ingênua a ten­ta­tiva de faz­erem a pop­u­lação acred­i­tar que o mal do mod­elo político é cau­sado pelo finan­cia­mento pri­vado das cam­pan­has. Vai muito além disso, o finan­cia­mento, pri­vado, den­tro lei e trans­par­ente não causaria maiores prob­le­mas se o poder político não tivesse sido sequestrado por quadrilhas.

Abdon Mar­inho é advogado.

Comen­tários

0 #1 michael 20-​05-​2015 23:07
Ver­dade. É o mal do nosso estado essa cor­rupção toda
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