AbdonMarinho - POR UMA ESCOLA COM EDUCAÇÃO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 19 de Maio de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

POR UMA ESCOLA COM EDUCAÇÃO.

POR UMA ESCOLA COM EDUCAÇÃO.

Por Abdon Mar­inho.

O BRASIL tornou-​se a pátria das dis­cussões sem sen­tido. Penso, as vezes, que nos tor­namos uma nação de nés­cios.

O país tem sido tomado por um fre­n­esi em torno de um Pro­jeto de Lei chamado de Escola sem Par­tido. Não entrarei, em princí­pio, nesta questão até porque entendo que ela nada mais é do o fruto tosco da polit­i­calha que tomou de conta de todos os debates.

O acir­ra­mento é tamanho que os gru­pos políti­cos inter­es­sa­dos em vender suas teses e faz­erem pros­elit­ismos inun­dam os meios de comu­ni­cação con­tra ou a favor.

Agora mesmo leio, numa rede social, que o gov­er­nador Flávio Dino edi­tou um decreto, segundo ele, garan­ti­ndo “Esco­las com Liber­dade e sem Cen­sura no Maran­hão”. Como dito acima não entrarei no mérito do tal pro­jeto e nos seus por­menores, mas tão somente no que cir­cun­dam o tema.

Começo por este decreto do gov­er­nador.

No iní­cio do período eleitoral, acho que final de julho ou começo de agosto, estava eu no Tri­bunal Regional Eleitoral — TRE, quando ini­cia­ram o debate de um processo em que o objeto era saber se mere­ce­riam ser penal­izada a can­di­data Roseana Sar­ney e um blogueiro. Ela por ter feito uma reunião em sua casa, onde a própria ou um dos par­tic­i­pantes chamara o gov­er­nador de “dita­dor”; já o blogueiro por ter divul­gado o pro­nun­ci­a­mento suposta­mente ofen­sivo.

Chamou minha atenção a afir­mação da defesa da can­di­data rep­re­sen­tada de que aquele era o ter­ceiro processo cujo objeto era o fato de alguém ter chamado sua Excelên­cia de “ditador”.

Em que pese a sapiên­cia dos argu­men­tos da acusação, defesa e dos doutos jul­gadores, achei tão irrel­e­vante que se deman­dasse horas a fio num debate sobre uma palavra (dita­dor), que aproveitei o primeiro inter­valo para sair da plenário do tribunal.

Faço esse reg­istro, aprovei­tando o decreto de sua Excelên­cia, para mostrar que, inde­pen­dente das questões de fundo, esta­mos diante de um embate de posições políti­cas que pas­sam ao largo da causa edu­ca­cional. Acho que o menos impor­tante para os con­tendores envolvida em tal debate é a edu­cação das nos­sas crianças.

Ora, então o gov­er­nador diz que o Pro­jeto de Lei em questão padece de um viés autoritário e recorre jus­ta­mente a um decreto, o mais autoritário dos instru­men­tos? Por que inter­di­tar o debate no parlamento?

Esse tipo de ati­tude faz lem­brar a posição do penúl­timo dos ex-​presidentes mil­itares, o gen­eral Ernesto Geisel, quando deu iní­cio a aber­tura política. Sendo crit­i­cado por seus ali­a­dos bradou:

— Farei a aber­tura política ainda que seja na marra.

Sig­amos. O gov­er­nador fala tam­bém que se trata de uma medida con­tra a cen­sura. Mas, segundo dizem, ninguém nunca se proces­sou tan­tos jor­nal­is­tas e blogueiros neste estado quanto no atual gov­erno, são dezenas de ações nas esferas civis e crim­i­nais con­tra pes­soas que exercem, nos lim­ites asse­gu­ra­dos na Con­sti­tu­ição Fed­eral, o dire­ito de crítica e de opinião.

Como aceitar o dis­curso a favor da liber­dade e con­tra a censura?

Essas são con­sid­er­ações feitas ape­nas para pon­tuar o caráter politico do assunto que toma de conta dos debates, a tal edu­cação sem partido.

Quer me pare­cer, como já dito, que todo esse debate é feito pelo mero inter­esse político/​eleitoral, sem qual­quer pre­ten­são de se resolver a grave crise pela qual passa a edu­cação brasileira.

Os números da edu­cação nacional são ater­radores con­forme todas os órgãos que avaliam sua qual­i­dade. Não tem um único indi­cador que não aponte o Brasil nas últi­mas posições em tudo que é avali­ação do ensino.

Um dos mais recentes estu­dos, divul­gado ainda no primeiro semes­tre deste ano, dava conta que ape­nas 5%(cinco por cento) dos estu­dantes do ensino médio pos­suíam os con­hec­i­men­tos bási­cos em matemática e, pior, menos de 2% (dois por cento) os con­hec­i­mento bási­cos da lín­gua por­tuguesa.

Uma nação de anal­fa­betos fun­cionais que não sabem o ele­men­tar nas duas dis­ci­plinas mais bási­cas: a lín­gua por­tuguesa e matemática. O país está muito bem na “fita”, os estu­dantes só lambem ler e contar.

Estes dados rev­e­lam que a edu­cação brasileira encontra-​se inevi­tavel­mente fal­ida. O nível de aproveita­mento do con­teúdo é de bem menos de 90% (noventa por cento).

Ora, a edu­cação faliu por conta da suposta “Escola com Par­tido” ou a tal “Escola com Par­tido” é fruto desta falência?

Eis uma questão a mere­cer atenção!

Antes de qual­quer debate, o que dev­e­ria mere­cer a atenção das autori­dades con­sti­tuí­das é como cheg­amos a esse ponto. Outro é como vamos reti­rar a edu­cação do quadro las­ti­moso em se encon­tra.

Não há caso nen­hum no mundo de país que tenha se desen­volvido sem inve­stir em edu­cação. No Brasil, a par­tir da cri­ação do FUN­DEB (antes FUN­DEF), os inves­ti­men­tos em edu­cação até aumen­taram – e sig­ni­fica­ti­va­mente –, entre­tanto ainda insu­fi­cientes e/​ou mal apli­ca­dos o que vem refletindo-​se, den­tre out­ras coisas, na situ­ação caótica em que ela se encon­tra.

A mis­erável ver­dade é que nem dois por cento dos nos­sos jovens que con­cluem o ensino médio sabem ler, e ape­nas cerca de cinco por cento pos­suem con­hec­i­men­tos bási­cos de matemática.

Estes são dados que dizem tudo. O resto é con­versa fiada.

E, se não sabem o ele­men­tar de dis­ci­plinas bási­cas, não sabem nada dos demais assun­tos que os tornem habil­i­ta­dos a dis­putarem, em pé de igual­dade, as opor­tu­nidades com jovens de out­ros países.

Ano após ano, o que vemos são que cri­anças e ado­les­centes sabendo menos, o nível de apren­dizado nas esco­las é risível, o desin­ter­esse é patente e a falta de per­spec­ti­vas uma das mais duras real­i­dades, trazendo con­sigo a vul­ner­a­bil­i­dade e a vio­lên­cia para den­tro das esco­las.

Essa condição vex­atória da nossa edu­cação, con­dena o país a um atraso perigoso em relação aos demais países, com­pro­m­e­tendo a própria sobera­nia da nação. Tudo isso sem que os respon­sáveis fos­sem pre­sos ou insta­dos a respon­derem de alguma forma por todo o mal que causaram.

E que vemos diante de tanto descal­abro? Uma dis­cussão tola, super­fi­cial sobre ide­olo­gias den­tro das escolas.

Os que estão pre­ocu­pa­dos com isso, con­tra ou favor, os que defen­dem a doutri­nação e os que a ela se opõem, podem ficar cer­tos de uma coisa: as cri­anças e ado­les­centes, como não con­seguem com­preen­der um texto básico, não serão doutri­na­dos ou se rebe­larão con­tra qual­quer dout­rina, pelo sim­ples motivo de não com­preen­derem o que é isso.

Essa é a a grande tragé­dia nacional.

Será que não se deram conta que esse debate – sobre­tudo na atual situ­ação e quadro desalen­ta­dor que passa a edu­cação –, é tolo e sem sen­tido?

Que é inócua essa dis­cussão se a escola tem ou não par­tido quando não se tem edu­cação alguma?

Chega! Basta de pros­elit­ismo! Será que não se enver­gonham? Desçam do palanque e, prin­ci­pal­mente, autori­dades façam alguma coisa, além de cuidarem dos próprios inter­esses.

Será que ainda não se deram conta do risco real que corre o país?

O que o país pre­cisa não é de um escola sem ou com par­tido. O que o país pre­cisa de uma escola com edu­cação. Uma escola que pos­si­bilite a cri­ança e ao jovem desen­volver toda sua poten­cial­i­dade e o per­mita por si próprio fazer suas próprias escol­has.

Uma escola com edu­cação nos ter­mos pre­vis­tos no artigo 205 da Con­sti­tu­ição Fed­eral que diz: “A edu­cação, dire­ito de todos e dever do Estado e da família, será pro­movida e incen­ti­vada com a colab­o­ração da sociedade, visando ao pleno desen­volvi­mento da pes­soa, seu preparo para o exer­cí­cio da cidada­nia e sua qual­i­fi­cação para o trabalho”.

Não tem mis­tério. Acon­tece que nas últi­mas décadas esque­ce­ram o papel da edu­cação na sociedade e, por último, tudo se tornou motivo para uma guerra ide­ológ­ica irra­cional capaz de com­pro­m­e­ter o futuro da própria nação.

Abdon Mar­inho é advo­gado.