AbdonMarinho - A ÉTICA E O JORNALISMO DE TÉO PEREIRA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Terça-​feira, 16 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A ÉTICA E O JOR­NAL­ISMO DE TÉO PEREIRA.

A ÉTICA E O JOR­NAL­ISMO DE TÉO PEREIRA.

Outro dia um amigo me recla­mava de uma deter­mi­nada notí­cia pub­li­cada num dos blogues da cidade. Dizia que tal blogueiro fazia um jor­nal­ismo à Téo Pereira. Que men­tia de forma delib­er­ada porque rece­bia din­heiro de alguém para difamá-​lo. No meio da con­versa citou out­ros fatos sabida­mente inverídi­cos e que foram divul­ga­dos com ares de escân­dalo. Per­gun­tava o que achava? Se era “dire­ito\\\» fazer o que fazia?

Na ver­dade sem­pre tive muito apreço por jor­nal­is­tas. Esses que podem e mere­cem ser escritos com “J\\\» maiús­culo e que encaram a profis­são de infor­mar um min­istério e/​ou dogma de fé. Aque­les que sem temer nada nem a ninguém e com o risco da própria segu­rança pes­soal vão em busca da ver­dade real para transmiti-​la aos seus des­ti­natários. Os que pos­suem como lado, a ver­dade e como patrão o leitor.

Assim, entendo que papel de infor­mar a sociedade se con­funde com a própria ideia de democ­ra­cia. Ciente disso o leg­is­lador con­sti­tu­inte inseriu no texto da Con­sti­tu­ição da República garan­tias que per­mitem o livre exer­cí­cio da profis­são, a liber­dade de imprensa e de pensamento.

Voltando à inqui­etação do meu amigo, é forçoso recon­hecer que, de uns tem­pos para cá, começou a ser dis­sem­i­nada a ideia de que toda a imprensa está a serviço de um lado, que não existe imprensa isenta e que o o jor­nal­ismo está a serviço de deter­mi­na­dos inter­esses políti­cos ou econômi­cos, em detri­mento dos inter­esses da sociedade. Se é ver­dade? Não sei. O que sei é esse tipo de pen­sa­mento aos poucos vai se tor­nando uma verdade.

O que mais temos nos dias de hoje são pes­soas alu­gando suas “penas\\\» aos que mel­hores lhe pagam. Muitos recebem para plan­tar men­ti­ras, difamar pes­soas. Out­ros pref­erem o cam­inho da chan­tagem, ven­dem difi­cul­dades para col­her facilidades.

Os avanços tec­nológi­cos per­mitem que ideias, opiniões e noti­cias cir­culem com mais facil­i­dade. O que qual­quer pes­soa escreve, em questão de segun­dos está ao alcance de todos ao redor do mundo. Qual­quer homem diante de uma tela é um difu­sor de pen­sa­men­tos para um numero cada vez maior de pes­soas. Infe­liz­mente, esses avanços não se refletem na qual­i­dade do con­teúdo ou que garan­tam que a infor­mação difun­dida seja verdadeira.

Em decor­rên­cia da \\\«ver­dade\\\» que começa a se con­sol­i­dar de que os veícu­los de comu­ni­cação pos­suem lado ou que estão a serviço deste ou daquele pen­sa­mento, já li e ouvir de diver­sos jor­nal­is­tas expres­sarem que têm um lado. Fazem questão de exibirem esse pen­sar com certo orgulho. Estes, que exibem aos leitores ou ouvintes que pos­suem um lado, são, até mel­hores, que aque­les que tratam os leitores e ouvintes na ignorância.

Emb­ora me pareça incom­patível com a ideia de jor­nal­ismo – ao menos na forma que sem­pre con­cebi – com essa imposição de lados, para mim outra questão parece ainda mais grave, que é o fato do desapreço que muitos, na defesa dos seus “lados\\\» pas­saram a ter pelos fatos, pela ver­dade obje­tiva, pela ética.

Há de se per­gun­tar: o fato de do jor­nal­ista, do blogueiro, pos­suir um lado, uma incli­nação politico-​ideológica, clara­mente definido ou oculto, os per­mite des­cuidar da ver­dade? Men­tir, delib­er­ada­mente, na defesa dos patrões ou patroci­nadores? Inven­tar fatos, mascará-​los ou deturpá-​los em troca de audiên­cia? Difamar ou insul­tar hon­ras alheias em estraté­gias políti­cas dos gru­pos ou teses que defen­dem? Vou além: que rece­bam para defender algo que não seja sua con­vicção ou que seja clara­mente mentira?

Mas isso sem­pre não foi assim? É ver­dade, talvez sem­pre tenha sido assim. Entre­tanto, tam­bém é ver­dade que já tive­mos inúmeros bons jor­nal­is­tas. O fato é estes, os bons, estão ficando cada vez mais escas­sos ou por não faz­erem mais as coisas por ide­al­ismo ou por serem impe­di­dos pelos veícu­los em que tra­bal­ham ou ainda por sucumbirem ao apelo do din­heiro fácil.

Assim, quase de forma imper­cep­tível vão con­stru­indo um novo padrão ético (?) cujo um dos maiores patronos é o fic­tí­cio blogueiro Téo Pereira, inter­pre­tação magis­tral do ator Paulo Betti, no fol­hetim global assi­nado pelo nov­el­ista Aguinaldo Silva.

Não pre­cisamos ir muito longe para nos deparar­mos com atores da vida real bem semel­hantes ao per­son­agem do fol­hetim. São profis­sion­ais que perderam o ide­al­ismo que deve nortear qual­quer ofi­cio e pas­saram a viver em função de des­graças, fofo­cas, mex­eri­cos e men­ti­ras. O fato de lucrarem “rios de din­heiro” com isso, fazem com que pensem estarem no cam­inho certo.

Esses “novos padrões éti­cos” pas­saram a ali­men­tar uma reação bem pior dos que pen­sam de forma autoritária, que é cecear a liber­dade de expressão e de opinião, colo­cando em risco as con­quis­tas já con­sol­i­dadas no nosso país.

Os maiores cabos eleitorais dos querem uma imprensa sob con­t­role, sob jugo de con­sel­hos que ori­en­tem lin­has edi­to­ri­ais e ceceiem a plu­ral­i­dade de pen­sa­mento, são os que fazem do jor­nal­ismo um instru­mento para difundir men­ti­ras e infâmias.

Como advo­gado que sem­pre mil­i­tou na defesa das liber­dades indi­vid­u­ais, de imprensa e de opinião, sem­pre me causa pre­ocu­pação ouvir que a imprensa pre­cisa de reg­u­la­men­tação espe­cial, que as pau­tas devem ser sub­meti­das a órgãos fiscalizadores.

Penso que os lim­ites á liber­dade de imprensa e de expressão são os já esta­b­ele­ci­dos na Carta Con­sti­tu­cional, que asse­gura a ampla liber­dade, veda o anon­i­mato e garante ind­eniza­ção pro­por­cional ao agravo. A pior imprensa ainda é bem mel­hor que a mel­hor ditadura.

Causa-​me enorme receio que se instale no Brasil, a exem­plo do já vem ocor­rendo em países viz­in­hos, a asfixia dos meios de comu­ni­cação, pelos mais diver­sos meios, mas esse é um assunto para um texto específico.

Abdon Mar­inho é advogado.