AbdonMarinho - A ADESÃO. QUE ADESÃO? por João Damasceno.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 19 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A ADESÃO. QUE ADESÃO? por João Damasceno.

A ADESÃO. QUE ADESÃO? por João Damasceno.

As ger­ações pre­sentes, pre­ocu­padas com a ciên­cia dos com­puta­dores e os reflexos da física quân­tica na expli­cação das ori­gens do Uni­verso, pouco se inter­essa pela ciên­cia mãe, o príncipe Syrob, em razão das influên­cias int­elec­tu­ais que sofre, aman­heceu querendo enten­der o porquê do feri­ado de hoje, nossa con­versa durou mais de uma hora, resol­vendo eu neste espaço opinar sobre o assunto. É fato que os movi­men­tos nativis­tas brasileiros tiveram seu apogeu no período regen­cial, e que Sabi­nada, Far­roupilha, Caban­agem, Praieira, Bal­a­iada etc, sofr­eram influên­cias da Rev­olução Francesa, Inde­pendên­cia Amer­i­cana, dos bacharéis que foram estu­dar na Europa e out­ros fatores, nesta terra, muito antes de Gonçalves Dias vir ao mundo, nosso povo já cla­mava por liber­dade, tal decor­reu da importân­cia econômica bem como da prox­im­i­dade geográ­fica com a metró­pole o que per­mi­tia uma comu­ni­cação direta e per­ma­nente com Por­tu­gal, a pujança da região atraiu a cobiça de piratas, corsários e de aven­tureiros aqui chegantes após a divisão das ter­ras des­ti­nadas a Por­tu­gal pelo Tratado de Torde­sil­has, em Cap­i­ta­nias Hered­i­tarias no gov­erno de D João III, nesse processo, o maran­hão com­preen­deu o Maran­hão , partes I e II, Ceará e Rio Grande do Norte, com as invasões e respec­ti­vas ten­ta­ti­vas de ocu­pação por france­ses e holan­deses, foram definidos os lim­ites do Maran­hão durante a Dinas­tia Fil­ip­ina, foram estra­b­ele­ci­dos nos ter­ritórios onde hoje estão assentes os Esta­dos do Pará, Ama­zonas, Maran­hão e Ceará, a pros­peri­dade foi ráp­ida, emb­ora o tra­balho escravo tenha sofrido lim­i­tações em vir­tude da influên­cia do Padre Antônio Vieira con­forme decisão human­itária orig­i­nada do Con­cílio de Trento que durou de 1545 a 1553, alu­dida região, para admin­is­trar as empre­sas que se insta­lavam e mel­hor trib­u­tar em favor da coroa foi cri­ada a Com­pan­hia do Comér­cio do Maran­hão em 1682, o que resul­tou no estanco, insti­tuto ger­ador de um monopólio com­er­cial que cau­sou imen­sos danos ao escambo, e à bal­ança com­er­cial que lev­ava desvan­ta­gens imen­sas entre o expor­tado e os pro­du­tos que impor­tava, diante desse quadro, os irmãos Tomás e Manuel Beck­man, que faziam parte da elite da nossa terra lid­er­aram um movi­mento de insat­is­feitos com essa política escor­chante que resul­tou na primeira rev­olução brasileira, na qual cerca de cem homens assaltaram os armazéns da Com­pan­hia, tomaram o Corpo da Guarda e dom­i­naram política e mil­i­tar­mente por um pequeno espaço de tempo a região, for­mada a junta gov­er­na­men­tal, que­riam expul­sar os jesuí­tas, abolir a Com­pan­hia Com­er­cial e depor o gov­er­nante por­tuguês, sem o apoio que esper­avam, os revoltosos foram facil­mente ven­ci­dos pelas tropas por­tugue­sas que aqui desem­bar­caram sob o comando do novo gov­er­nante Gomes Freire de Andrade, o resto é con­hecido, Manuel Beck­man e Jorge de Sam­paio foram enfor­ca­dos e os out­ros sofr­eram prisão per­pé­tua, Esse ensaio mostra o quanto o Maran­hão sofria a influên­cia direta dos col­o­nizadores, os sécu­los se pas­saram e o imper­ador, em con­luio com a Inglaterra e elite por­tuguesa aqui res­i­dente pro­moveu o que a história ofi­cial até hoje chama de \“inde­pendên­cia\», situ­ação muito con­fusa para nossa his­to­ri­ografia até a pub­li­cação de Evolução Política do Brasil por Caio Prado Júnior em 1933, cuja obra foi anal­isada por EmÍla Viotti da Costa e out­ros adep­tos da Nova HIistória que deu out­ras luzes à história tradi­cional trazida a nós por Varn­hagem, Tobias Mon­teiro e Oliveira Lima, em estudo mem­o­rável, a pro­fes­sora Socorro Cabral, mostra que no primeiro quar­tel do século XIX, o poder político do Maran­hão estava nas mãos dos com­er­ciantes por­tugue­ses, e que tais man­tinha priv­ilé­gios colo­ni­ais garan­ti­dos pela coroa, cujos inter­esses seriam atingi­dos pela inde­pendên­cia, pois sep­a­rado politi­ca­mente da metró­pole, a tendên­cia era sur­gir uma política de igual­dade inclu­sive trib­utária, situ­ação que incen­tivou essa elite a criar meios para fazer do Maran­hão um Estado inde­pen­dente do Brasil e sub­or­di­nado à corôa por­tuguesa, nesse sen­tido solic­i­tou reforço de tropas por­tugue­sas a fim de enfrentar a tropas impe­ri­ais que para cá se diri­giam na ten­ta­tiva de paci­ficar o país e obri­gar a provín­cia rebelde a aceitar a nova orga­ni­za­ção política nacional, ape­sar dos esforços da elite o povo que­ria ser dono do seu chão, ter a cidada­nia e a igual­dade que até então lhe era negada, o movi­mento de adesão tomou corpo, na medida em que se for­maram em cor­pos defin­i­tivOs frentes litorânea e a sulina, ocor­rendo assim que o Maran­hão tar­dia­mente colonizado,adquiriu grandeza e uma estru­tura econômica de uma classe que já rece­bia a segunda ger­ação de seus fil­hos que haviam estu­dado em Coim­bra, Sor­bonne e Cam­bridge, assim não inter­es­sava à elite mod­i­ficar o Sta­tus Quo, pois aqui a for­mação de gigan­tescas propriedades,criadora da política lat­i­fundiária e sua relação com o poder político que dura até os dias que cor­rem, no período com­preen­dido entre a chegada da família real quando lhe fazia com­pan­hia toda dinas­tia de Bra­gança, bem como as cortes con­sti­tu­intes e extra­ordinárias da Nação Por­tuguesa, até a chamada adesão, o lat­Ifún­dio, pren­deu, matou e dester­rou mil­hares de nordes­ti­nos, razões de enganarem-​se os que defen­dem ter o deslo­ca­mento maciço de pop­u­lações das regiões ári­das do Sertão para o Maran­hão ocor­rido somente no século XX. Certo é que ape­sar do ato de 7 de setem­bro de 1822 ter pro­movido a \«inde­pendên­cia\», exi­s­ti­ram resistên­cias provin­ci­ais, e vas­tos gru­pos políti­cos, prin­ci­pal­mente os chama­dos con­ser­vadores que atrasaram o fim das lutas para alcançar a for­mação defin­i­tiva de Estado Nacional Monárquico Brasileiro, assim as lutas trava­dos no âmbito nacional tiveram reflexos nas regiões provin­ci­ais, e aqui como dito alhures o domínio por­tuguês era muito forte, no Maran­hão o poder era exer­cido por uma Junta Pro­visória e Admin­is­tra­tiva, cuja presidên­cia coube ao ilustrado bispo de nacional­i­dade por­tuguesa D Joaquim de Nazaré, o qual, tendo sido nomeado dire­ta­mente por D. João VI, tudo fazia para man­ter esta parte do Brasil, fiel à coroa por­tuguesa, Mário Meire­les deixa muito clara a influên­cia da cap­i­tal na for­mação do movi­mento con­trário às pre­tenções do nobre bispo Nazaré, tais jovens afrontavam aber­ta­mente a Junta defend­endo a adesão para não ocor­rer a volta do domínio por­tuguês nos moldes prece­dentes à chegada do monarca met­ro­pol­i­tano, em São Luís o com­bate ocor­ria muito no plano das idéias, o ver­dadeiro con­flito era travado no inte­rior, os excluí­dos a cada dia se revoltavam, e os grandes fazen­deiros já não eram una­n­im­i­dade ´por­tuguesa, as infor­mações eram lentas em razão do sub­de­sen­volvi­mento do meios de comu­ni­cação, os primeiros con­tin­gentes foram envi­a­dos para Cax­ias e Car­naubeira que ficava perto de Par­naíba, já com a luta encam­in­hada, dis­serta Mário Meire­les, in, História da Inde­pendên­cia do Maran­hão, Rio de Janeiro, Arte nova, 1972, fls 61. \» Para Cax­ias, o maior núcleo pop­u­la­cional do inte­rior e que, muito próx­ima á fron­teira, fazia de segunda cap­i­tal da provín­cia, no alto do sertão, foi despachado um grande reforço de Tropa de Linha, sob as ordens do Major José Demétrio de Abreu, que assumira o comando geral do dis­trito e orga­ni­zaria sua defesa, e o qual cumprida pronta­mente a mis­são, e de acordo com o Con­selho Mil­i­tar que já se orga­ni­zara na vila, logo se retirou deixando a respon­s­abil­i­dade de seus encar­gos às mãos do Capitão José Felix Mendes\». Nessa fase os com­bates já tin­ham deix­ado mil­hares de víti­mas prin­ci­pal­mente depois do avanço do \«exército lib­er­ta­dor\», vendo que a guerra estava per­dida a Junta, em cor­re­spondên­cia envi­ada ao gov­erno de Por­tu­gal solic­i­tou reforços, tendo traçado um quadro dramático da situ­ação, e os avanços das tropas leais a Pedro I e ao Par­tido Lib­eral, Vieira da Silva, em sua mem­o­rável História da Inde­pendên­cia da Provín­cia do Maran­hão, Sudema, 199, pag. 73, tran­screve um tre­cho da súplica do bispo Joaquim Nazaré ao monarca por­tuguês, \» No Brasil (…) — as facções que procu­ram procla­mar a sua inde­pendên­cia não pre­ten­dem pug­nar por inter­esses políti­cos, mas pro­mover uma guerra bár­bara e nefanda de rap­ina e mas­sacres con­tra os europeus con­sti­tu­cionais e hon­ra­dos. O sangue destes por­tugue­ses, logo que exis­tiam desar­ma­dos, cor­rerá sobre a terra e o seus bens serão presa da fero­ci­dade dos novos vân­da­los. Tal se há prat­i­cado no Ceará e Piauí, tal se praticara nesta provín­cia, se os habi­tantes que nela exis­tem dig­nos do nome por­tuguês, sucumbirem\». Diante desse quadro, as forças legal­is­tas per­diam cada vez mais espaço ape­sar de tam­bém tri­un­farem como sucedeu na batalha de Jeni­papo ven­cida pelo major José da Cunha Fidié, onde pere­ce­ram mais de duzen­tos com­bat­entes, fora os feri­dos que pere­ce­ram depois ou foram con­duzi­dos à invalide per­ma­nente, na citada obra de Meire­les, nas fls. 71., o grande mestre ensina: \«Foi este com­bate do Jeni­papo, sem dúvida, o maior de quan­tos se travariam nas lutas pela inde­pendên­cia do Maran­hão e Piauí, nele tomaram parte, mais de 4.000 homens e a san­grenta batalha durou mais de qua­tro horas, pois se esten­deu desde às nove horas da manhã até cerca das duas horas da tarde, nas fol­has 86, mais uma vê Meire­les com o bril­han­tismo que somente um pesquisador da sua estirpe pode ter, descreve que alguns ofi­ci­ais de ambos os lados haviam pere­cido , e opor­tu­ni­zou um com­bate direto entre os dois prin­ci­pais ofi­ci­ais que foram Sal­vador de Oliveira e o major Fidié, em suas palavras mág­i­cas, podemos ler:\» ..decidiu Sal­vador de Oliveira, Mar­char do Brejo para vila do Itapeccuru-​Mirim, à beira do rio do mesmo nome e por via da qual Cax­ias igual­mente às suas mar­gens mais acima, se lig­ava com São Luís, na Ilha que lhe tapa a foz. Este era seu segundo plano, o de entrepondo-​se entre a cap­i­tal da provín­cia e sua prin­ci­pal vila do inte­rior, iso­lar esta última e pre­cip­i­tar a capit­u­lação de Fidié\». A estraté­gia de Sal­vador teve êxito, os pop­u­lares em con­junto com o \» exército lib­er­ta­dor\» tri­un­faram sobre as forças leais a Por­tu­gal, sendo procla­mada a inde­pendên­cia em 20 de julho em Itapecuru– Mirim, tendo ali sido eleita uma junta gov­er­na­tiva pro­visória, onDe foi reser­vada uma vaga para o tenente coro­nel Pereira de Bur­gos, sendo os out­ros nomea­dos em São Luís, após a deposição da junta coman­dada pelo bispo Naaré, em 26 de julho do mesmo ano, no Maran­hão chegou o Almi­rante inglês Lord Cochrane que foi con­tratado a peso de ouro pelo imper­ador para vencer em defin­i­tivo os recal­ci­trantes, obrigando-​os a aceitar a situ­ação de inde­pendên­cia que se tornou imutável, a chegada desse ofi­cial ofus­cou a bravura dos nativos e prati­cou pro­fun­das injustiças e em con­se­quên­cia, ultra­jou o sangue dos bravos que deram sua vida pela vitória sobre os que dese­javam man­ter seus priv­ilé­gios colo­ni­ais, e para espan­car defin­i­ti­va­mente as dúvi­das, invoco os con­hec­i­men­tos da minha viz­inha de Monte Castelo,Maria Ester­lina Mello Pereira em sua mono­grafia, \» História da Inde­pendên­cia e Inte­gração do Maran­hão, 1822, 1828, UFF, 1983 \«Podemos ainda con­sid­erar que para esse movi­mento, duas forças con­fluíram: uma decisiva,as rebe­liões locais, aux­il­i­adas por tropas do Piauí e Ceará e outra cir­cun­stan­cial, a pre­sença da esquadra de Thomas Cochrane que apagou dos por­tugue­ses res­i­dentes em S.Luis, qual­quer velei­dade de resistên­cia. A este mil­i­tar Inglês , coube a glo­ria de \«lib­er­ta­dor do maran­hão\» liber­dade essa ard­u­a­mente tra­balha por lid­eres diver­sos, exem­pli­f­i­cando Sal­vador Car­doso de Oliveira, pereira Figueiras e out­ros anôn­i­mos maran­henses, piauienses e Cearenses que aber­ta­mente enfrentaram até com armas rudi­menta­res como chuços, as guarnições por­tugue­sas e se opun­ham á lib­er­tação da men­cionada Provín­cia. Fase a esse jul­ga­mento, a vitória deci­siva sobre os rep­re­sen­tantes do colo­nial­ismo lusi­tano, per­tence de fato a esses brasileiros e não a Lord Cochrane, segundo ates­tam ou chegam a insin­uar, a maio­ria dos his­torió­grafos. assim, em 28÷7÷1823, foi pro­movida a adesão defin­i­tiva. Tenho dito, que os his­to­ri­adores da ativa con­certem e mel­horem este texto que me con­sumiu todo o dia de hoje.