AbdonMarinho - BANDIDOS NÃO MANDAM FLORES.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 18 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

BAN­DI­DOS NÃO MAN­DAM FLORES.

BANDI­DOS NÃO MAN­DAM FLORES.

Os dias ini­ci­ais do gov­erno insta­l­ado em 1º de janeiro têm sido toma­dos por debates, alguns acalo­rados ou poli­ti­za­dos, como queiram, em torno da segu­rança pública. Os debates que ocor­rem em gru­pos fecha­dos de redes soci­ais e tam­bém através dos blogues, alin­hados e con­trários ao gov­erno, ali­men­tam, o que con­sidero uma falsa polêmica. Há críti­cas, inclu­sive, quanto ao fato do gov­er­nador ter vis­i­tado um agente de segu­rança ferido durante uma oper­ação policial.

Na minha opinião, até prova em con­trário – aqui com­preen­di­das como \«em con­trário\» a deter­mi­nação delib­er­ada de pro­mover o exter­mínio puro e sim­ples dos malfeitores sem que estes esbo­cem ou provo­quem a reação do Estado/​Polícia ou o já famoso: atire antes, per­gunte depois – entendo que a ação poli­cial e do gov­erno encontra-​se cor­reta, necessária e, até onde sei, den­tro das bal­izas legais.

O ano de 2014 reg­istrou 1106 homicí­dios, \«mortes matadas”, como se dizia lá no meu sertão. Isso, só na região met­ro­pol­i­tana da cap­i­tal, tornando-​a um dos lugares mais perigosos de todo mundo para se viver. Basta dizer que nem as zonas de guerra tradi­cionais reg­is­traram tamanho morticínio.

Tal situ­ação se deu pela omis­são do Estado que não ado­tou mecan­is­mos de com­bate à vio­lên­cia, e a rede de crimes que a ali­menta. Os dados se tor­nam mais dramáti­cos quando faze­mos um histórico sobre a evolução dos homicí­dios na região met­ro­pol­i­tana da cap­i­tal nas últi­mas duas décadas, ape­nas para se ter uma ideia, nos últi­mos qua­tro anos o número de homicí­dios mais que dobrou (2011: 529; 2012: 716; 2013: 983; 2014: 1106; fontes: Jor­nal O Impar­cial e Jor­nal Pequeno). Não se com­bate índices desta mag­ni­tude com flo­res, bra­vatas, dis­cur­sos ou cam­in­hadas pela paz. Ban­di­dos só enten­dem a lin­guagem da força.

A situ­ação “guerra\» exi­gia e exige uma pronta resposta do estado maran­hense. Os ban­di­dos, os dados mostram isso, perderam, por com­pleto, o respeito pela polí­cia. Tanto isso é ver­dade que pas­saram a eleger poli­ci­ais como os alvos pref­er­en­ci­ais para sua ação crim­i­nosa. De outro lado os agentes de segu­rança não sen­tiam qual­quer estí­mulo para con­tin­uarem, sem o apoio efe­tivo do gov­erno, defender a sociedade.

As medi­das ini­ci­ais do gov­erno vieram em boa hora para cor­ri­gir isso. Três medi­das edi­tadas logo no primeiro dia de gov­erno res­gatam um pouco esse descom­passo entre gov­erno, polí­cia e sociedade: a que garante a rep­re­sen­tação judi­cial dos agentes de segu­rança pela Procuradoria-​Geral do Estado, a que criou a comis­são espe­cial de pro­moção e que autor­i­zou a con­vo­cação de mil exce­dentes para se somar, o mais rápido pos­sível, ao apar­elho de segu­rança. Tais medi­das devolvem a autoes­tima a tropa a faz ver que não está soz­inha no com­bate a crim­i­nal­i­dade. Além das medi­das, gestos tam­bém são impor­tantes. Um amigo, bombeiro mil­i­tar com vinte anos de car­reira, me con­fi­den­ci­ava que nos dezes­seis anos de mandato da gov­er­nadora Roseana Sar­ney, nunca com­pare­ceu ao quar­tel, ao menos para ver as insta­lações ou para par­tic­i­par das for­mat­uras de troca de comando. Nar­rava que nem mesmo quando inau­gu­raram uma Unidade de Pronto Atendi­mento — UPA, em ter­reno per­ten­cente ao quar­tel, a gov­er­nadora se dig­nou a vis­i­tar a insti­tu­ição. Dizia isso para fazer um para­lelo com o gov­er­nador Flávio Dino que par­ticipou, já no segundo dia de mandato, da solenidade de troca de comando e pas­sou a tropa em revista. Se apre­sen­tou a tropa para mostrar que há comando.

O gesto do gov­er­nador em vis­i­tar o poli­cial ferido é outra ati­tude com efeito didático extra­ordinário. Sig­nifica, para os ban­di­dos e para os próprios agentes de segu­rança, que o poli­cial ferido, este e tan­tos out­ros, não estão soz­in­hos, têm na sua reta­guarda todo apar­elho estatal rep­re­sen­tado pelo seu coman­dante em chefe, o Gov­er­nador. Sinal­iza que o Estado e a sociedade estarão unidos e que não aceitarão mais que os ban­di­dos ditem as regras. Que a crim­i­nal­i­dade será enfrentada com altivez. Que a sociedade e o gov­erno, por seus agentes, não irão sair as ruas pedindo, por favor, para que o ban­di­dos não cometam crimes – mesmo porque, ban­di­dos não aten­dem esse tipo de apelo – ao con­trário, serão enfrenta­dos. Que numa situ­ação de con­fronto, entre a vida do agente da lei e do ban­dido, o agente preser­vará a sua ao invés do outro e que será defen­dido, den­tro dos lim­ites da lei, pelo Estado. Pelo que entendi, esse é o novo parâmetro, e ao meu ver, está cor­reto. Estado fraco, leniente e covarde faz com que a sociedade fique despro­te­gida e favorece a cor­rupção insti­tu­cional e leva o cidadão bus­car a pro­teção do mar­ginal ao invés da pro­teção do Estado.

São medi­das e gestos pos­i­tivos que devem ser saudadas e não crit­i­cadas. Tais medi­das e gestos, entre­tanto, não são sufi­cientes. Há muita coisa a ser feita na segu­rança pública, inclu­sive internamente.

Faz-​se necessário chamar para esse embate o Poder Judi­ciário, o Min­istério Público, as insti­tu­ições da sociedade civil; que fis­cal­ize as fron­teira, por­tos, aero­por­tos e rodovias para impedir a livre cir­cu­lação de dro­gas; a união da sociedade com par­ceira do Estado no com­bate ao crime e cor­rege­do­rias fortes que impeçam quais­quer abusos.

A crim­i­nal­i­dade pre­cisa e deve ser com­bat­ida den­tro dos lim­ites da lei, mas com o vigor que se exige numa situ­ação da gravi­dade na qual nos encon­tramos. O rel­e­vante papel das cor­rege­do­rias tam­bém é garan­tir que os \«fru­tos podres\» exis­tentes em todas as cor­po­rações não enfraque­çam nem con­t­a­minem o restante das insti­tu­ições. Cor­rege­do­rias fortes e vig­i­lantes são garan­tias para os bons profis­sion­ais, que são a maio­ria, e para sociedade de maneira geral.

Abdon Mar­inho é advogado.