AbdonMarinho - INVASÕES: UM CONVITE AO PASSADO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 18 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

INVASÕES: UM CON­VITE AO PASSADO.

INVASÕES: UM CON­VITE AO PASSADO.

Por estes dias vi a corege­do­ria do Tri­bunal de Justiça ten­tar uma inter­me­di­ação com rep­re­sen­tantes dos ocu­pantes de áreas pri­vadas ameaça­dos de despejo em um dos municí­pios da região metropolitana.

Não tenho a menor dúvida que a cor­rege­do­ria, por seus diver­sos rep­re­sen­tantes, estão imbuí­dos dos mais nobres propósi­tos, bus­cam encon­trar uma solução que atenda a todos os envolvi­dos na dis­puta. Não tenho a menor dúvida, tam­bém, que fra­cas­sarão. Ainda que con­seguis­sem comungar os inter­esses dos ocu­pantes com os dos pro­pri­etários, fra­cas­sam em relação aos municí­pios envolvi­dos, a segu­rança pública, no incen­tivo à violência.

Assim como a cor­rege­do­ria de justiça, o gov­erno estad­ual, tam­bém está equiv­o­cado no trato desta questão.

O equiv­oco se dar porque, tanto o Poder Judi­ciário quanto o Poder Exec­u­tivo, não podem retar­dar a solução para os con­fli­tos de terra na ilha sob pena de reviver­mos a onda de invasões/​ocupações dos anos oitenta até mea­dos dos anos noventa.

Não demanda muito tra­balho enten­der a equação, que é bem sim­ples. Quanto mais a Justiça demora a deter­mi­nar as rein­te­grações de posses ou o Exec­u­tivo em cumpri-​las, mas se agrava o prob­lema social que se busca cor­ri­gir. Isto porque, cada ocu­pação que você vai deixando ficar incen­tiva o surg­i­mento de mais três ou qua­tro. É matemática pura.

Um exem­plo claro disso é o que vem acon­te­cendo no Municí­pio de Paço do Lumiar. Quando uma das ocu­pações ini­ciou (passo lá todos os dias), atin­gia ape­nas uma pequena área de terra na entrada que vai para o aero­porto, hoje já alcança todo o ter­reno, os que ficam ao lado e já chega a a Maioba. O que não pas­sava de pou­cas dezenas de casas, já são milhares.

Um prob­lema que era minús­culo, cir­cun­scrito a uma pequena área de terra, se tornou grande.

A leniên­cia das autori­dades só atende aos inter­esses da picare­tagem, que lucra com a indus­tria de invasões e ao crime orga­ni­zado que ganha em diver­sas out­ras pontas.

As autori­dades pre­cisam com­preen­der que ape­nas uma pequena parcela dos que se aven­tu­ram na ocu­pação de ter­ras – sejam públi­cas ou pri­vadas – pre­cisam, efe­ti­va­mente, de mora­dia. A maio­ria, a começar pelos que ficam à frente, vão pelo lucro fácil, muitos pos­suem até mais de um imóvel.

Daí a importân­cia do poder público pos­suir um cadas­tro destes ocu­pantes, para saber quem é cada um e se, de fato, pre­cisam de imóvel, ou se está está na condição de ocu­pante para obter lucro fácil e sem causa.

A indús­tria da invasão é um negó­cio lucra­tivo: os chama­dos “donos» da ocu­pação, ven­dem ou cobram uma taxa durante um tempo. Mul­ti­pliquem isso por mil ou duas mil casas. Ainda que seja ape­nas mil ou dois mil, já rep­re­senta uma boa grana. Os com­pradores que pagaram mil, dois ou três mil reais, por um lote vale entre 10 ou 15 mil, ainda numa ocu­pação tam­bém saem no lucro. Esse é o mecan­ismo que move o negó­cio. É por isso que sem­pre tem gente dis­posta a entrar nele.

As autori­dades pre­cisam ter pulso firme, não se deixar por fal­sos dis­cur­sos de cunho ide­ológico. O dire­ito à mora­dia tem que ser garan­tido é através de políti­cas públi­cas e não com invasão de pro­priedades pri­vadas e afronta ao direito.

Con­ver­sava outro dia com o respon­sável pela implan­tação dos pro­gra­mas habita­cionais do Municí­pio de São Luís no gov­erno de Jack­son Lago, ele me desafiou a encon­trar um dos moradores orig­inários a quem foram doa­dos os imóveis para que saíssem das palafi­tas da Ilhinha. Disse-​me mais, a equipe cadas­trava um imóvel. No dia seguinte nos fun­dos do mesmo sur­giam dois ou três, do filho, do primo, do sobrinho. Todos querendo tam­bém um imóvel.

Se lucram os que invadi­ram e ocu­param os lotes, per­dem as admin­is­trações públi­cas munic­i­pais, que pre­cisam, de uma hora para outra, dotar tais local­i­dades dos serviços bási­cos como água, ener­gia, trans­porte, infraestru­tura de ruas, etc;

Perde tam­bém a sociedade que pre­cisa arcar com estes custos.

Como é sabido por todos, o orça­mento público é um só, gov­er­nos não pro­duzem din­heiro à medida que neces­sita dele. O din­heiro usado para aten­der as neces­si­dades que surgem é o que já exis­tia e terá que ser mel­hor repartido.

Perde a segu­rança pública pois grande parte destas ocu­pações servem de mer­cado ao trá­fico de dro­gas e são público alvo dos mais vari­a­dos tipos de extorsões.

Infor­mações insis­tentes dão conta que facções crim­i­nosas estão por trás de grande parte destas invasões, bancado-​as para obterem lucros, mer­cado para o crime e para influ­en­ciar nas eleições dos próx­i­mos anos.

Com quase cinquenta de ocupações/​invasões de ter­ras – públi­cas e pri­vadas –, e de cresci­mento des­or­de­nado na Ilha de São Luís, já pas­sou tempo, mais que sufi­ciente, para as autori­dades apren­derem a lidar com o prob­lema, fazendo a coisa certa.

A coisa certa, no caso, é não per­mi­tirem o surg­i­mento destas ocu­pações, serem ágeis na con­cessão de rein­te­gração de posse, cumpri­mento das mes­mas, pos­suir um cadas­tro atu­al­izado e real daque­las pes­soas que real­mente pre­cisam de mora­dia garantindo-​lhes pri­or­i­dade nos pro­gra­mas ofi­ci­ais como o Minha Casa Minha Vida e outros.

Noutras palavras: dire­ito e políti­cas públicas.

A pior solução é esta que vêm dando: retardo nas con­cessões de rein­te­gração de posso; retardo no cumpri­mento das decisões judi­ci­ais; apoio e incen­tivo dos políti­cos às ocu­pações; autori­dades tratando inva­sores profis­sion­ais como autori­dades e recebendo-​as em palácio.

A solução que as autori­dades vêm dando a estas ocu­pações que pro­lif­eram por toda a ilha é o prenún­cio do caos, com pro­pri­etários de ter­ras recor­rendo a segu­ranças pri­va­dos (eufemismo para pis­toleiros), inse­gu­rança em relação as suas pro­priedades e se muni­ciando para, logo mais, ingres­sarem na Justiça con­tra o Estado do Maran­hão por desapro­pri­ação indi­reta, diante da demora em cumprir con­ceder ou cumprir as decisões judiciais.

Em todo caso, a conta sobrará para nós, cidadãos, seja pelo aumento da vio­lên­cia, seja por ter­mos que pagar por estas propriedades.

O Maran­hão insiste em, ao invés de se pro­je­tar para o futuro, se voltar para o passado.

Abdon Mar­inho é advogado.