AbdonMarinho - SONHOS, ENGODOS E DECEPÇÕES.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 18 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

SON­HOS, ENGO­DOS E DECEPÇÕES.

SONHOS, ENGO­DOS E DECEPÇÕES.

Já con­tei aqui a história de um amigo muito querido que se tornou sím­bolo de toda a ban­dal­heira pro­movida pelo gov­erno da com­pan­heirada den­tro da Petro­bras. Deu-​se o seguinte: bus­cando um inves­ti­mento seguro para uma aposen­ta­do­ria con­fortável ele aten­deu ao apelo do gov­erno e usou suas econo­mias e, junto com parte do FGTS, com­prou ações da empresa.

Ele, assim como tan­tos out­ros, lamen­taram não poder usar mais recur­sos do Fundo de Garan­tia e assim com­prar mais ações da empresa pois estaria, não só garan­ti­ndo uma aposen­ta­do­ria tran­quila, como aju­dando o país e evi­tando que as ações da empresa sím­bolo da nação caíssem nas mãos dos espec­u­ladores internacionais.

As últi­mas notí­cias dão conta que ele, por con­fiar nas palavras do gov­erno, está amar­gando, em din­heiro de hoje, um pre­juízo de quase 80% (oitenta por cento) do cap­i­tal investido, se con­sid­er­ar­mos a desval­oriza­ção dos títu­los e o que pode­ria ter auferido com a cor­reção do saldo do fundo.

Lem­brava deste episó­dio ao refle­tir sobre o comu­ni­cado ofi­cial feito pela Petro­bras de que decidira can­ce­lar em defin­i­tivo a con­strução das refi­nar­ias Pre­mium I e II, a primeira no Maran­hão e a segunda no Ceará, depois das mes­mas terem con­sum­ido quase 3 bil­hões de reais, dos quais, mais de 2 bil­hões na planta do municí­pio maran­hense de Bacabeira.

A Refi­naria Pre­mium I de Bacabeira foi apre­sen­tada como a redenção do Maran­hão. Um inves­ti­mento que serviria para catal­isar diver­sos out­ros e reti­rar o estado das últi­mas posições em tudo que é indi­cador já inven­tado. Só empre­gos, seriam mais de meio mil­hão. Os mais ufanistas diziam que o desen­volvi­mento no entorno do empreendi­mento ofus­caria até a cap­i­tal do estado.

Rev­elei inúmeras vezes, desde a inau­gu­ração da pedra fun­da­men­tal – um ato politico feito com o claro propósito de turbinar a cam­panha da ex-​governadora Roseana Sar­ney e seus ali­a­dos no estado e, ainda, da então can­di­data Dilma Rouss­eff –, min­has descon­fi­anças com o projeto.

Sem­pre torci para está errado, que de fato con­struíssem a dita refi­naria e aju­dassem o Maran­hão como um todo, e prin­ci­pal­mente, as regiões do seu entorno do atraso de uma vida.

Não eram descon­fi­anças infun­dadas. Me per­gun­tava como iriam con­struir três refi­nar­ias de uma vez no nordeste. Primeiro que a Abreu e Lima, em Pernabuco, com obras mais avançadas já con­sumia muitos recur­sos, saltando de uma pre­visão de gas­tos ini­ci­ais de US$ 2 bil­hões de dólares para quase US$ 30 bil­hões de dólares. Segundo, onde iriam achar tanto petróleo para refi­nar. Ainda mais quando os venezue­lanos, que se com­pro­m­e­teram entrar de sócios no negó­cio e que arcariam com metade dos inves­ti­men­tos, o aban­donaram. Esper­tos esses ali­a­dos, viram mais rápido que os brasileiros que se tratavam de um negó­cio des­ti­nado a enricar a muitos espertalhões.

Outra par­tic­u­lar­i­dade do empreendi­mento que des­per­tava min­has reser­vas era o fato de tais pro­je­tos: as duas refi­nar­ias, Maran­hão e Ceará, não faz­erem parte de plane­ja­men­tos mais anti­gos. Uma refi­naria, ao menos em qual­quer lugar sério do mundo, demanda anos e anos de estu­dos e planejamento.

A primeira vez que falaram nas duas refi­nar­ias foi em 2009. Já em 2010 estavam, às vésperas da eleição que reelegeu Roseana Sar­ney e elegeu Dilma Rouss­eff, os grandes da República, reunidos em Bacabeira, para o lança­mento da pedra fun­da­men­tal. Em resumo, o empreendi­mento tinha todas as car­ac­terís­ti­cas de um golpe eleitor­eiro. O que o tempo acabou por confirmar.

Infe­liz­mente, mais uma vez, escol­heram a pop­u­lação de Rosário e Bacabeira como suas víti­mas mais dire­tas. A mesma região que ainda con­serva, próx­imo ao can­teiro da refi­naria, os escom­bros do um dia foi chamado do Pólo de Con­fecções de Rosário, tam­bém chamado, à época, de a primeira redenção da região e não pas­sou de um golpe que tomou din­heiro público e deixou inúmeras famílias endi­vi­das. Hoje os escom­bros da refi­naria olha para os escom­bros do pólo de confecções.

Movido por essas descon­fi­anças e pela falta de din­heiro declinei dos vários con­vites que me fiz­eram para com­prar ter­renos, vender alguma coisa e inve­stir, etc.

Difer­ente de mim – que descon­fiei do dis­curso sal­va­cionista do então pres­i­dente Lula e seus próceres, pois via que os empreendi­men­tos não tin­ham sus­ten­tação, que o Brasil não era essa nova Arábia Sau­dita, que ven­diam –, muitos brasileiros acred­i­taram no gov­erno e inve­sti­ram parte de seu patrimônio, senão todo, em pro­je­tos no entorno da refi­naria, muitos brasileiros, aban­donaram seus esta­dos de ori­gens, suas famílias e cor­reram para a nova fron­teira econômica que se descorti­nava no Maran­hão. Muitas famílias colo­caram seus fil­hos para faz­erem cur­sos volta­dos para área com a certeza de emprego garan­tido. Essas famílias, perderam din­heiro, esses jovens perderam um tempo precioso.

Um amigo me dizia, outro dia, que sem­pre descon­fiou, assim como eu, do pro­jeto, mas que tinha um fio de esper­ança de que o mesmo fosse em frente, prin­ci­pal­mente depois de todo o din­heiro gasto.

O fim da refi­naria, é com certeza o fim do sonho e das econo­mias de muitos cidadãos.

Os políti­cos do Maran­hão, uns com cin­ismo, uns com opor­tunismo, out­ros como inocentes inúteis, falam em cer­rar a fileira pela refi­naria. Muitos destes que falam em protestos sabiam que as reais chances do pro­jeto ir em frente eram nulas, que não pas­sava de bil­ionário golpe com fins políticos-​eleitorais e ten­tam fugir do lin­chamento moral. Os demais querem mesmo é ter algum discurso.

Acred­ito que suas excelên­cias dev­e­riam gas­tar suas ener­gias neste começo de leg­is­latura para bus­car pro­je­tos de com­pen­sação ou para dis­cu­tir algum mod­elo de desenvolvimento.

Emb­ora a ban­deira da refi­naria possa ren­der muitos dis­cur­sos, o debate deve ser travado com um mín­imo de realismo.

A situ­ação Petro­bras, em que pese a mel­hora momen­tânea, por conta da demis­são de sua dire­to­ria, está longe de ser con­fortável: o roubo de seus ativos por empresários, políti­cos e fun­cionários, alcança uma cifra ainda longe de ser cal­cu­lada, mas que se sabe, alcança mais de uma cen­tena de bil­hões de dólares; o valor de mer­cado da reduzido a metade; a infinidade de ações de cidadãos que sofr­eram pre­juí­zos dev­ido aos des­falques que todos con­hecem. A isso, some-​se o cenário inter­na­cional: o bar­ril de petróleo que ameaçava chegar a US$ 150 dólares, hoje, chega a pouco mais de US$ 40 dólares; a retração da econo­mia mundial; a explo­ração por diver­sos países de out­ras fontes de ener­gia. Tudo isso con­tribui para mostrar que a empresa brasileira, se a par­tir daqui fizer tudo certo, ainda levará um tempo con­sid­erável, para se recu­perar. A explo­ração do pré-​sal, com os preços do petróleo no mer­cado inter­na­cional, não será um negó­cio muito vantajoso.

Diante toda essa crise não vejo como ter­mos sucesso na luta retomar as obras da refi­naria de Bacabeira. Nem agora, nem num futuro breve. Talvez daqui a 20 anos. Se o empreendi­mento ense­java descon­fi­anças, com o preço do bar­ril do petróleo nas alturas, a ideia do pré-​sal era apre­sen­tada como a nova fron­teira e as ações da empresa “bom­bavam” nas bol­sas de val­ores do mundo, chegando a alcançar um pico de até R$ 70 reais isso quando o litro da gasolina era pouco mais de um real.

A real­i­dade hoje é total­mente diversa. Ape­nas para citar um exem­plo, ainda com o aumento das ações da empresa, o valor de uma ação com­pra pouco mais de dois litros de gasolina.

Como sug­estão aos nos­sos par­la­mentares, talvez devessem bus­car uma expli­cação, plausível, para o fato de uma ação da empresa não ser sufi­ciente para com­prar três litros de gasolina enquanto o bar­ril de petróleo, que alcançou mais de 100 dólares, não valer a metade do que valia.

Talvez devessem se per­gun­tar que auto-​suficiência é essa.

Abdon Mar­inho é advogado.