AbdonMarinho - ORELHAS E CONTRADIÇÕES
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Terça-​feira, 16 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

OREL­HAS E CONTRADIÇÕES

OREL­HAS E CON­TRADIÇÕES.
Por Abdon Mar­inho.
ABDON, tenha cuidado com as orel­has.
Quando ouvi tal recomen­dação pen­sei tratar-​se de uma refer­ên­cia as min­has próprias orel­has, que a natureza fê-​las tão gen­erosas ou as da pes­soa que recomen­dava, igual­mente bem servido das con­chas pro­te­toras do apar­elho audi­tivo.
Tomar cuidado com as orel­has foi um dos con­sel­hos que me deu o ex-​deputado Juarez Medeiros quando pas­sei a pub­licar min­has ideias.
Cuidar das orel­has é não deixar margem para con­testarem o que escreve­mos.
Um amigo, espe­cial­ista em segu­rança pública, disse que fui gen­eroso ao me referir à vio­lên­cia urbana no Maran­hão, pois, segundo seus estu­dos, seria bem maior. Disse-​lhe que como não podia provar, prefe­ria colo­car os números ofi­ci­ais.
Acred­ito que falta aos atu­ais inquili­nos dos Leões cuidado com as “orel­has”. Quase tudo que dizem ou dizem deles pode ser ques­tion­ado.
Vejam o caso do rank­ing do G1. A crítica que fiz foi, pri­or­i­tari­a­mente, à metodolo­gia empre­gada. Que critérios uti­lizaram para escol­herem 37 pro­postas de um e sessenta de outro; vinte e cinco ou trinta de um outro? E por que escol­her aque­las pro­posta em detri­mento de out­ras? Como con­sid­erar que alguém que real­i­zou dois por cento de deter­mi­nada promessa a cumpriu par­cial­mente? Mesmo que seja dez ou vinte por cento, a parte não cumprida é bem supe­rior ao cumprido, logo, não faz sen­tido se dizer que a promessa “foi par­cial­mente cumprida”. Isso não é implicân­cia, é lóg­ica.
Vou além, o referido rank­ing fez pare­cer com­pe­tentes aque­les que fiz­eram promes­sas de baixa expec­ta­tiva com efeitos nefas­tos para os próx­i­mos pleitos. Os can­didatos, para pare­cerem bem fita, vão prom­e­ter coisas sim­plórias, afi­nal o que importa é o cumpri­mento da promessa e não o nível das mes­mas.
Ao faz­erem tanto alarde diante de um rank­ing tão incon­sis­tente, deram margem a diver­sos ques­tion­a­men­tos, como, por exem­plo, a ver­i­fi­cação se aquilo apon­tado como cumprido o foi, efe­ti­va­mente e, até mesmo, se fez ou se ape­nas inau­gurou o que foi feito pelo gov­erno ante­rior.
A questão da segu­rança pública, para citar outro exem­plo, o gov­er­nador prom­e­teu dobrar o efe­tivo da poli­cia, até agora, não chegou nem a um terço do prometido e, assim mesmo, chamando os aprova­dos no con­curso real­izado pela gestão ante­rior.
Estes detal­hes são orel­has que os adver­sários podem “puxar” pois estão à vista de todos.
Agora mesmo, o próprio gov­er­nador, deixa uma “orelha” à descoberto ao acusar o ex-​presidente Sar­ney de man­dar no Maran­hão há 62 anos e sê-​lo, por­tanto, respon­sável pela mis­éria do povo.
No mesmo dia que fez a afir­mação, foi admoes­tado por um jor­nal­ista, que, noutras palavras, disse que o gov­er­nador não con­hecia a história política do Maran­hão e que, pelo seu raciocínio, ele, o gov­er­nador, já estaria a man­dar no estado desde que assumiu o mandato de dep­utado fed­eral em 2007.
Podia pas­sar sem essa, até porque, durante a cam­panha de 2014 dizia que os Sar­ney não fariam jubileu de ouro no poder. Três anos depois, 49 viram 62 anos? Não enx­ergam a tolice?
Além do mais, não fica bem o gov­er­nador, ou qual­quer outro mem­bro do seu par­tido, recla­marem da longev­i­dade de poder do ex-​presidente Sar­ney e sua respon­s­abil­i­dade pela mis­éria.
Qual­quer outro pode, eles não. E é fácil explicar.
Como podem recla­mar de longev­i­dade no poder ou da mis­éria do nosso povo se, em 19 de novem­bro de 2017, aprovaram, no 14º Con­gresso do Par­tido Comu­nista do Brasil, uma Res­olução com moção de apoio e sol­i­dariedade aos regimes comu­nistas da China, Cuba, Cor­eia do Norte, Laos e Vietnã?
Isso, sem con­tar toda lou­vação ao régime dita­to­r­ial que mas­sacra o povo venezue­lano, lhes negando, até mesmo, comida e medica­men­tos bási­cos ou ao régime dos aia­tolás ira­ni­anos, que levou a nação persa a regredir no tempo e nos cos­tumes.
O sen­hor Dino não pode igno­rar isso pois fazia parte da mesa de honra do Con­gresso par­tidário, foi, inclu­sive, citado no doc­u­mento onde con­sta, den­tre out­ras coisas, que:
“Em cinco países, onde vivem mais de 20% da pop­u­lação do plan­eta, par­tidos comu­nistas dirigem exper­iên­cias de con­strução e de tran­sição ao social­ismo. China, Vietnã, Cuba, República Pop­u­lar Democrática da Cor­eia e Laos, cada um com suas pecu­liari­dades e com difer­entes níveis de resul­ta­dos, empenham-​se na luta por uma nova sociedade, em meio a situ­ações nacionais com­plexas e a um quadro mundial hos­til. O seu for­t­alec­i­mento como nações sober­anas, os esforços que fazem os seus povos, sob a direção dos par­tidos comu­nistas diri­gentes do Estado, para via­bi­lizar as estraté­gias de desen­volvi­mento e a tran­sição ao social­ismo, as ações de coop­er­ação inter­na­cional e em prol da paz, têm o apoio e a sol­i­dariedade do PCdoB”.
Falar dos males que o sar­ne­y­sismo cau­sou ao Maran­hão – que já tratei por diver­sas vezes –, e ao mesmo tempo hipote­car “apoio e sol­i­dariedade” a regimes dita­to­ri­ais que oprimem e matam seus cidadãos é uma con­tradição em si. É algo abso­lu­ta­mente sem sen­tido e muito próx­imo da patolo­gia.
Na Cor­eia do Norte, desde o final da Segunda Guerra Mundial, o poder tem pas­sado de pai para filho, uma espé­cie de dinas­tia famil­iar comu­nista.
A mis­éria humana defen­dida pelo régime – e cau­sada pela fome –, reduziu a estatura daquele povo; lá, as penas pas­sam da pes­soa do suposto “crim­i­noso” – pois, crim­i­noso é qual­quer um que ousa diver­gir –, para seus famil­iares.
São famílias inteiras postas em Cam­pos de Con­cen­tração com tra­bal­hos força­dos para serem “reed­u­cadas”, ger­ações nascem, vivem e mor­rem em tais cam­pos.
O restante da pop­u­lação não tem, sequer, o dire­ito de pen­sar livre­mente, quando mais se man­i­fes­tar. Aliás, se tivessem esse dire­ito, talvez, não tivessem o que pen­sar ou o que man­i­fes­tar, tal o nível de “domes­ti­cação” a que foram sub­meti­dos durante estas décadas todas.
Por fim, e graças ao apoio do régime autoritário chinês e ao rig­oroso con­t­role de fron­teiras no sul, man­tém a pop­u­lação apri­sion­ada. Menos de duas mil pes­soas con­seguiram fugir ano pas­sado, isso não se deu por uma mel­ho­ria nas condições de vida ou por não dese­jarem, mas em vir­tude do aumento da vig­ilân­cia sobre os cidadãos.
A tática de con­fi­nar pop­u­lações deve fazer parte do mod­elo “lumi­noso” que querem para humanidade, como é em Cuba, talvez o único lugar no mundo, onde pescadores não têm o dire­ito de pos­suírem bar­cos de pesca, e onde a mesma família con­trola o poder com mão de ferro desde 1959.
Mesmo a China, com seu cap­i­tal­ismo dis­farçado, man­tém sua pop­u­lação pri­vada de liber­dades bási­cas, sem poder par­tic­i­par, livre­mente, da vida política da nação. Lib­er­al­ismo econômico e opressão política. Este é o mote.
E os out­ros dois, com menor ou maior grau, as pop­u­lações enfrentam idên­ti­cos níveis de restrições às suas liber­dades bási­cas.
Pois é, estes mod­e­los de sociedade estão exal­ta­dos no doc­u­mento pro­duzido pelo 14º Con­gresso do PCdoB.
Querem ver outra con­tradição dos comu­nistas maran­henses?
Fiz­eram um escar­céu com o suposto veto ao dep­utado Pedro Fer­nan­des para o Min­istério do Tra­balho, onde, tenho certeza, faria um exce­lente tra­balho e seria uma espé­cie de pre­mi­ação a sua car­reira política – já que man­i­festa inter­esse em aposentar-​se.
Não entrando no mérito se foi ou não Sar­ney que vetou, qual­quer um maran­hense pode­ria recla­mar da não nomeação de Pedro Fer­nan­des para o min­istério, menos os inte­grantes do PCdoB e de out­ros par­tidos que comungam seus ideais.
No caso do par­tido do gov­er­nador, menos razão ainda para recla­mar, uma vez que a mesma res­olução, já referida, trata o gov­erno Temer como golpista, ilegí­timo e deten­tor de uma “agenda maldita” para o país, pro­pondo revo­gação de tudo que foi aprovado no atual gov­erno, inclu­sive a reforma tra­bal­hista.
Fiquei sem enten­der os protestos. Será que não gostam do Pedro Fer­nan­des? Será que não acham mais gov­erno golpista, ilegí­timo e com agenda maldita? Será que não sabem o que dizem? Será que não percebem a incon­gruên­cia de suas posições, com o que escrevem, com o que defen­dem, etc.?
Já sei, que­riam o Pedro Fer­nan­des para que tra­bal­hasse para der­rubar a reforma que ele aju­dou a aprovar. Era isso?
Sem querer colo­car guizo em ninguém, entendo que as pes­soas, sobre­tudo, as autori­dades, pre­cisam de um mín­imo de coerên­cia na exposição de suas ideias. Escrevem e difun­dem uma infinidade de tolices, que os mil­i­tantes e adu­ladores repro­duzem, curtem e com­par­til­ham sem, sequer, aten­tar para incon­gruên­cia histórica ou real das mes­mas.
Querem ver outra? Uma grande parte dos gov­er­nos “sar­ne­y­sis­tas” con­tou, ofi­cial­mente, com a par­tic­i­pação e colab­o­ração tanto do PCdoB quanto do PT. Isso, sem con­tar que desde 2003 então no con­sór­cio gov­ernista que dirigiu o Brasil e que levou o país à ban­car­rota, refletindo no aumento da mis­éria no Maran­hão a par­tir de 2015.
Em sua entre­vista no Jor­nal Pequeno, no iní­cio do ano, o gov­er­nador disse que o Maran­hão não era uma ilha, que sofria com situ­ação econômica do país. Pois é, esque­ceu de nom­i­nar os respon­sáveis pela des­graça. Aliás, con­tra­di­to­ri­a­mente, os defende com unhas e dentes.
Essa turma, tam­bém, pre­cisa ser chamada para dividir conta da mis­éria, seja por estarem nos gov­er­nos do “Sar­ney”, seja porque estiveram nos gov­er­nos lulopetis­tas, a par­tir de 2003, seja porque sem­pre foram sar­ne­y­sis­tas e agora con­ver­tidos ao comu­nismo de resul­ta­dos.
Como dizia meu pai: “se com por­cos estavam, com os por­cos fare­los com­eram”.
As autori­dades dev­e­riam seguir o sábio con­selho do ex-​deputado Juarez Medeiros e cuidarem de suas “orel­has” e suas con­tradições, estas, a cada dia, maiores.
Abdon Mar­inho é advogado.