AbdonMarinho - O TRILEMA COMUNISTA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Terça-​feira, 16 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O TRILEMA COMUNISTA.

O TRILEMA COMU­NISTA.
Por Abdon Mar­inho.
EMB­ORA o termo seja pouco usual, trilema é uma situ­ação embaraçosa da qual só se pode sair pela opção de uma de três opções, todas difí­ceis. Trilema é assim uma espé­cie de dilema de três.
O gov­er­nador Flávio Dino tem um trilema nas mãos que é com­pat­i­bi­lizar na vaga que resta de pré-​candidato ao Senado na sua chapa o inter­esse de três pos­tu­lantes. Só tem vaga para um. Como não se des­gas­tar além do necessário com os out­ros dois?
Claro que pode­ria ampliar ainda mais o prob­lema se trouxesse um nome de fora do espec­tro político deixando os três deputados-​postulantes à ver navios. Mas isso é algo que, parece, não fará.
Em recente entre­vista exclu­siva ao Jor­nal Pequeno, mais pre­cisa­mente no último dia do ano, que diga-​se, está cheia de assun­tos – no momento só me deterei na questão da segunda vaga ao Senado –, sua excelên­cia, instado a manifestar-​se sobre o preenchi­mento da vaga restante, respon­deu como se nada tivesse com a questão.
Ini­cial­mente, teceu loas aos três pos­tu­lantes, mas, em seguida, tal qual, Pilatos, lavou mãos. Sugeriu-​lhes que seguis­sem os pas­sos do primeiro ungido, o dep­utado Wev­er­ton Rocha, e se via­bi­lizassem.
Na nar­ra­tiva do gov­er­nador, não lhe cabe “trair suas con­vicções” e apare­cer indi­cando um can­didato. Este, ainda segundo ele, deve ter o apoio daque­les que o apoiam, para, assim, como fez com o primeiro escol­hido, ape­nas o ref­er­ende.
Agir de forma diversa, na sua opinião, seria uma espé­cie de coro­nelismo que já não cabe na política maran­hense. Encer­rou a questão.
Seria muito bom se a política fosse essa ciên­cia carte­siana que quer fazer crer o gov­er­nador. Emb­ora a solução apre­sen­tada – e a que vai lhe nortear a escolha –, pare­cer per­feita, pois os dois pos­tu­lantes preteri­dos devem, na sua visão, colo­car o insucesso, na sua própria falta de artic­u­lação, talvez não seja tão fácil.
A guerra de uma escolha dessas não fun­ciona como uma assem­bleia de estu­dantes, em que se levam as pro­postas para serem votadas “na hora”, sem qual­quer artic­u­lação prévia. Não é assim. Tan­tos os pré-​candidatos, quanto os demais agentes políti­cos, sabem para que lado “pende” o inter­esse do gov­erno e, até mesmo, como fun­ciona o chamado “fogo amigo” nes­tas horas.
A situ­ação torna-​se um pouco mais dramática quando os pos­tu­lantes têm como certo pos­suírem “crédito” junto ao gov­er­nador.
Esse “crédito”, que na entre­vista, o gov­er­nador não recon­heceu, é algo mais um menos público.
A exceção da dep­utada Eliziane Gama, que não sabe­mos o nível de “acerto” feito, os out­ros dois, até já o dis­seram pub­li­ca­mente, pos­suem uma fatura a apre­sen­tar.
O primeiro, o dep­utado José Reinaldo Tavares, a quem o gov­er­nador colo­cou na fatura ape­nas um débito de “car­inho espe­cial”, assim mesmo por ser ex-​governador do estado. Sabe­mos que não é só isso.
O ex-​governador José Reinaldo é cre­dor da própria car­reira política do hoje gov­er­nador. Con­forme é fato público e notório.
Foi ele, Zé Reinaldo, que ousou apos­tar no pro­jeto de ren­o­var a política maran­hense trazendo, com o poder de gov­er­nador que tinha, alguém da mag­i­s­tratura para fazê-​lo dep­utado, já no pro­jeto de fazê-​lo gov­er­nador nos pleitos seguintes.
Neste propósito, não mediu esforços. Como não pos­suía con­vicções a “trair”, que­ria mesmo era elegê-​lo, chamou um grupo de prefeitos de con­fi­ança e lhes deu a mis­são de con­seguir os votos necessários. Como dizem no sertão: deter­mi­nando que “ati­rassem sem tomar chegada”.
Não há quem no mundo político ignore que foi no velho “coro­nelismo” – que o atual inquilino dos Leões jura repu­diar –, que con­seguiram os votos nos lugares que o então can­didato nem sabia exi­s­tir no Maran­hão. Basta pegar o mapa de votação.
Estes fatos são públi­cos e con­heci­dos de todos, repito.
Assim, tanto na cap­i­tal quanto no inte­rior do estado todos sabem que o ex-​governador é cre­dor de bem mais que “um car­inho todo espe­cial”.
Acred­ito, por isso mesmo, tratar-​se de um mon­u­men­tal equívoco do gov­er­nador – e seus aux­il­iares –, ter excluído o dep­utado José Reinaldo da condição de can­didato nat­ural ao Senado da República na sua chapa, depois de tudo que fez por ele próprio e pelo Maran­hão.
Todos sabem que soz­inho e com pre­juízo da própria liber­dade, “ban­cou” o pro­jeto de mudança e foi para o “sac­ri­fico” nas duas eleições seguintes (2010 e 2014).
Ninguém “estran­haria” a can­di­datura “nat­ural” do ex-​governador e que o cabeça de chapa, no caso o gov­er­nador, lhe pagasse os favores que lhe foram feitos a par­tir de 2006.
Uma regra ele­men­tar da política – e mesmo da vida –, é que quem faz um “favor” espera rece­ber o mesmo troca. Pen­sar diverso é descon­hecer as regras do jogo.
Ao agir como “cre­dor da humanidade” e achar-​se mere­ce­dor de tudo que lhe foi feito “sem dever nada a ninguém”, o gov­er­nador corre o grave risco de pas­sar por “ingrato” ou, pior, “desleal”, por não ter cor­agem necessária de enfrentar “a tudo e a todos” e prestar socorro a quem já lhe socor­reu.
Infe­liz­mente as lid­er­anças políti­cas não têm cor­agem de expor esta situ­ação ao gov­er­nador, mas é este o sen­ti­mento cor­rente de norte a sul do estado, são prefeitos, ex-​prefeitos, vereadores, ex-​vereadores e mesmo sim­ples lid­er­anças, todos se ressentindo do trata­mento que está sendo dado ao ex-​governador.
O segundo pos­tu­lante a vaga de pré-​candidato na chapa ofi­cial – e a quem o gov­er­nador não dis­pen­sou nem o crédito de “car­inho espe­cial” –, é o dep­utado Waldir Maran­hão.
Não sei, além do que foi divul­gado pela mídia, sobre o nível de “acerto” feito com ele. Mas, assim como José Reinaldo o sac­ri­fí­cio político que fez pelo pro­jeto do gov­er­nador é patente e visível.
Vejam, o dep­utado era pres­i­dente estad­ual de um par­tido que pos­suía uma das maiores ban­cadas da Câmara dos Dep­uta­dos e, por isso mesmo, tornou-​se vice-​presidente daquela casa.
Coman­dando o máquina par­tidária e ocu­pando os espaços que a política lhe con­seguia, ia levando, con­seguia reeleger, prati­ca­mente, através daquela “estru­tura”, ou seja, lev­ava uma vida par­la­men­tar sem maiores sobres­saltos.
Tal situ­ação mudou quando – acredita-​se para aten­der um pedido do gov­er­nador –, resolveu “inven­tar” a revo­gação do impeach­ment da ex-​presidente Dilma Rouss­eff.
Teria neces­si­dade de fazer aquela patus­cada? Qual a razão para fazer? A quem visou aten­der?
Aí está a questão. Dizem que “fez o que fez” para aten­der o gov­er­nador do Maran­hão, cioso de “vender-​se” como a lid­er­ança que revo­gou o impeach­ment, apel­i­dado por ele de “golpe”, por con­se­quên­cia, tornar-​se o herdeiro de todo espólio esquerdista para voos mais altos.
O ineditismo da medida, que fale­cendo de sus­ten­tação, acabou sendo revo­gada pouco depois, trouxe ao dep­utado o pior tipo de exposição que um político pode­ria pre­tender: a exposição pelo ridículo.
Nem fale­mos dos diss­a­bores que sofreu no plano famil­iar, ele e os seus. Quase todos os par­entes sofr­eram com a exposição do dep­utado: filho, irmãos, cun­hados e, até mesmo, a esposa, que, segundo comenta-​se, estava enferma.
O dep­utado, que ini­ciou a car­reira política graças a uma vida acadêmica, tendo, inclu­sive, chegado a reitor da Uni­ver­si­dade Estad­ual do Maran­hão, para aten­der um pedido do gov­er­nador, segundo dizem – ninguém acred­ita que foi só porre –, viu-​se sob as luzes da rib­alta do ridículo nacional, motivo de cha­cota por onde pas­sava e sendo inspi­ração para todo tipo de charges, memes e humorís­ti­cos.
Chegaram a ponto de lhe sug­erir a revo­gação da Lei da Gravi­dade.
Em resumo, virou uma piada nacional, ainda hoje lem­brada. Não sei se o que lhe deram – ou prom­e­teram –, valeu o preço que pagou, inclu­sive o de não con­seguir a reeleição que tinha quase por certa.
No aspecto prático, perdeu, ainda, o comando do par­tido que lhe garan­tia suces­si­vas eleições e mesmo os espaços que já havia con­quis­tado no par­la­mento ao longo dos anos.
Ape­nas para citar um exem­plo, uma das Vice-​presidências da Câmara acabou “sobrando” para o dep­utado que assumiu o comando do seu antigo par­tido no estado, o novel dep­utado André Fufuca.
Como podemos ver, os fatos desafiam o raciocínio apre­sen­tado pelo gov­er­nador, na entre­vista. Mel­hor seria se tomasse “cor­agem” e despachasse aque­les que não gozam de sua predileção, para que eles, os preteri­dos, procu­rarem seu rumo.
Se serão can­didatos a dep­uta­dos nova­mente ou se irão se arran­jar, com seus pro­je­tos, noutras can­di­dat­uras.
Não é seg­redo que é mais fácil um can­didato a dep­utado virar can­didato a senador que o oposto. Se demoram muito, não terão onde con­seguir os votos pro­por­cionais. Cada dia de inde­cisão conta.
O trata­mento dis­pen­sado – e exposto –, pelo gov­er­nador aos três dep­uta­dos pos­tu­lantes à inte­grar a chapa majoritária só faz sen­tido se a intenção for “matá-​los” politi­ca­mente, afi­nal, mor­tos não cobram dívi­das.
Fora disso, a estraté­gia ado­tada de “empurrar com a bar­riga”, ainda que não se ache deve­dor de nada – nem dos deveres de amizade (mas já dis­seram que em política ninguém é amigo) –, acabará por trazer pre­juí­zos irreparáveis para os pos­tu­lantes à can­di­datura de senador, que deixarão de se artic­u­lar para out­ros car­gos, e à can­di­datura do próprio gov­er­nador, que respon­derá pela mágoa dos preteri­dos.
E, quanto maior acharem que é o crédito, maior será a mágoa. Ape­nas para lem­brar.
Abdon Mar­inho é advogado.

Comen­tários

0 #1 cristina 02-​01-​2018 17:03
per­feito dr abdon
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