AbdonMarinho - A DESESPERANÇA COMO DESTINO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 18 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A DESES­PER­ANÇA COMO DESTINO.

A DESES­PER­ANÇA COMO DESTINO.

ALGUNS ami­gos cos­tu­mam me inda­gar sobre quais as expec­ta­ti­vas para o futuro do Brasil diante destes acontecimentos.

Outro dia um me per­gun­tou: — Abdon, e o Brasil? Respondi-​lhe: —fulano, o Brasil acabou!

Ele riu e dei por encer­rado o assunto.

Depois, com mais vagar, pus-​me a pen­sar na dureza das min­has palavras. Como o Brasil chegou ao ponto de, mesmo os mais otimis­tas, como eu, não terem palavras mel­hores sobre o futuro que a desesperança?

Infe­liz­mente essa aspereza das pes­soas em relação ao país é fruto do teste­munho do mar de lama que nos tragou.

O que desco­b­ri­mos – emb­ora já descon­fiásse­mos – é que quadrilhas «davam as car­tas na política nacional, colo­cando os inter­esses pri­va­dos de cor­rup­tores e cor­rompi­dos acima dos inter­esses nacionais.

E, pior, a cor­rupção finan­ciava, indis­tin­ta­mente, a todos. Talvez exis­tam exceções – ainda não iden­ti­fi­cadas –, de resto, em algum momento recur­sos desvi­a­dos de serviços e obras públi­cas, irri­garam as con­tas da elite política brasileira, as de cam­panha e as particulares.

Como podemos acred­i­tar num futuro difer­ente para o país, se fal­tando pouco mais de um ano para as eleições gerais, não temos em quem votar?

Aqui cabe um parên­te­sis. Muito se fala em ante­ci­pação de eleições. Me per­gunto: para votar em quem?

As pesquisas rev­e­lam que o sen­hor Lula, ex-​presidente e líder máx­imo do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, aparece como o mais bem posi­cionado nas pesquisas de intenção de votos, depen­dendo, uni­ca­mente, de está solto ou não con­de­nado em segunda instân­cia, para sagrar-​se campeão nas eleições.

Não con­heço para­doxo mais per­feito. O Brasil find­ará 2018 com um ex-​presidente con­hecendo da per­spec­tiva interna a real­i­dade carcerária do país ou de volta ao luxo e esplen­dor dos palácios.

O que nos deixa angus­ti­a­dos é que a prefer­ên­cia pelo ex-​presidente não vem ape­nas da massa ignara – estes até entendo a predileção pelo sen­hor Lula. Argu­men­tam que se todos são iguais, por que não votar, suposta­mente, naquele que fez algo pelos «pobres» –, causa-​me estran­heza é ver que grande parcela do seu eleitorado é for­mada por pes­soas tidas por esclare­ci­das, pes­soas «int­elec­tu­al­izadas», for­mado­ras de opinião. Pes­soas que têm o con­hec­i­mento de que, nunca na história deste país, a Presidên­cia da República foi tão avil­tada quanto na Era petista, sobre­tudo no período pres­i­den­cial do sen­hor Lula.

Vejam, estou falando de pes­soas que pas­saram «a vida» dizendo-​se con­trárias a cor­rupção, a malver­sação dos recur­sos públi­cos. Pes­soas que tín­hamos «em boa conta» e que, agora, revelam-​se defen­so­ras das piores práti­cas políti­cas e ali­adas daque­les que fiz­eram do poder um instru­mento para o enriquec­i­mento ilícito.

Será que têm dúvi­das sobre a veraci­dade dos depoi­men­tos de tan­tos colab­o­radores da justiça, que ates­tam e provam que o ex-​presidente da República não pas­sava – no cargo mais alto da nação –, de um estafeta das grandes cor­po­rações? Ou será que pas­saram a achar nor­mal e aceitável a cor­rupção como método de fazer política? É isso, se a cor­rupção é dos «nos­sos» está valendo?

A cor­rupção sem­pre exis­tiu no Brasil, isso é inques­tionável. Acon­tece que quando elege­mos o ex-​presidente Lula, quando colo­camos seu par­tido no poder, o fize­mos com o com­pro­misso de que iam mudar tais práticas.

O com­pro­misso era não só não roubar ou impedir que roubassem, era tam­bém aplicar com efi­ciên­cia os recur­sos da nação em bene­fí­cio de todo o povo brasileiro.

No poder, fiz­eram o oposto, mon­taram engrena­gens de cor­rupção tão com­plexas e sofisti­cadas que os instru­men­tos de con­t­role do Estado, ainda hoje, com todos os mecan­is­mos e colab­o­rações que dis­põem, não foram capazes de desmon­tar todos.

Na ânsia de roubar desviaram recur­sos da nação para ditaduras ami­gas no estrangeiro, desviaram recur­sos das aposen­ta­do­rias dos servi­dores públi­cos, fiz­eram negó­cios ruinosos para os ban­cos ofi­ci­ais, que­braram o Estado.

Aí, vejo pes­soas «ditas» com­pro­meti­das com a pro­bidade, com a hon­esti­dade, cer­rarem fileiras ao lado do sen­hor Lula e atacarem a Poli­cia Fed­eral, o Min­istério Público Fed­eral, e até o Poder Judi­ciário, sim­ples­mente por estes órgãos estarem fazendo o seu papel con­sti­tu­cional. Mais que isso, tra­bal­ham com afinco no sen­tido de con­stran­gerem toda e qual­quer crítica aos que foram e estão sendo fla­gra­dos roubando os recur­sos públicos.

Como cos­tumo dizer, a exper­iên­cia dos dois últi­mos gov­er­nos fez a prover­bial cor­rupção brasileira mudar de pata­mar, a ponto – con­forme rev­e­lam as inves­ti­gações –, dos cor­rup­tores cri­arem depar­ta­men­tos de propinas ape­nas para pagar os sub­ornáveis. Mas, não ape­nas isso, destruíram o sonho de mudança de toda uma ger­ação de brasileiros.

Não sat­is­feitos, destruíram, os fun­da­men­tos da econo­mia nacional com con­se­quên­cias para todos os cidadãos: os servi­dores públi­cos, os aposen­ta­dos, os que perderam seus empre­gos, os jovens que perderam as chances de consegui-​los, os que não con­seguiram seus fina­ci­a­men­tos e tan­tos outros.

Sim, o Brasil de hoje é o fruto destes últi­mos anos de desac­er­tos, de apro­pri­ação do Estado por autên­ti­cas quadrilhas. Mesmo os valentes que se colo­cam con­tra as refor­mas do atual gov­erno, estavam «man­sos» se aprovei­tando das benesses da clep­toc­ra­cia implan­tada no país.

Como acred­i­tar nova­mente em alguém se aque­les que prom­e­teram fazer difer­ente foram além do imag­inável no que se ref­ere à apro­pri­ação e desvio da coisa pública?

Como aceitar que estes mesmo se colo­quem como «alter­na­tiva» de mudança?

Na real­i­dade, a degradação ética da política nacional atingiu quase todos os políti­cos e quase todos par­tidos, sobrando quase ninguém para con­duzir a nação pelos próx­i­mos anos.

Noutra opor­tu­nidade já expus o ressen­ti­mento do país em não pos­suir uma pes­soa em quem os brasileiros pos­samos deposi­tar alguma esper­ança. Essa ausên­cia torna a nação um campo fér­til a qual­quer aventureiro.

Agora mesmo, vejo a oposição ensa­iar pedi­dos de ante­ci­pação de eleições, uma clara rup­tura con­sti­tu­cional, para se aproveitarem do fato do ex-​presidente apare­cer bem nas pesquisas e não ter sido con­de­nado, ainda.

Repito do o para­doxo: Alguém que tem quase cem por­cento de chances de ser con­de­nado à prisão tem como outra ver­tente tornar-​se pres­i­dente da República e fugir ao alcance da lei. Logo ele, um dos prin­ci­pais respon­sáveis pela degradação ético-​moral que tomou de conta do país.

O pior de tudo isso é que as alter­na­ti­vas apre­sen­tadas a esta política clara­mente fra­cas­sada, cal­cada na cor­rupção, não pas­sam de um amon­toado de ideias exóti­cas, imprat­icáveis e desco­ladas do mundo real.

Nós que cresce­mos prat­i­cando o ideal de que o voto é um ato cívico não temos opção de voto. Nem isso. Não existe mais, no momento, uma opção menos ruim.

A indigên­cia de quadros políti­cos é repli­cada nos esta­dos e municí­pios (sem­pre com as cada vez mais raras exceções), deixando os cidadãos de bem reféns de uma escória cada vez mais audaciosa.

O Brasil se encon­tra entre a bar­bárie e a barbárie.

A deses­per­ança, mais que um des­tino, é uma certeza.

Abdon Mar­inho é advogado.