AbdonMarinho - A CONSPIRATA DOS LENÇÓIS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 18 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A CON­SPIR­ATA DOS LENÇÓIS.

A CON­SPIR­ATA DOS LENÇÓIS.

VIA­JAVA ao extremo norte do estado, quando, em Luís Domingues, me alcançou a notí­cia, ainda meio trun­cada de que “tomaram» o PDT de Léo Costa. Inco­mu­nicável a maior parte do tempo, logo que con­segui aces­sar uma rede de inter­net, vi a men­sagem deste amigo.

Dizia: – Dr., tomaram o par­tido do Léo.

Respondi-​lhe: – Como foi isso, rapaz? Por que deixaram o nosso “baian­inho» sem partido? *

No meu retorno à ilha pro­curei informar-​me sobre o que se pas­sava nos lençóis. Em meio a tan­tos des­en­con­tro de infor­mações, ao que me parece, a que mais se aprox­ima da ver­dade é a que diz: “as lid­er­anças do PDT con­ver­saram com prefeito Léo na ten­ta­tiva de dissuadi-​lo a dis­putar a eleição, argu­men­tando que o mesmo não ia bem nas pesquisas, como não con­seguiram convencê-​lo, fiz­eram uma inter­venção, tomando-​lhe o comando do partido”.

Jus­ti­fica­ti­vas para a inter­venção, decerto, sur­girão para todos os gos­tos e inter­esses, não me voltarei a elas.

Ainda que os motivos para a inter­venção fos­sem jus­tos e estivessem den­tro da legal­i­dade for­mal, o ato foi, ética e moral­mente reprovável. Como diria meu pai, se vivo fosse, fal­tou consideração.

Nas inda­gações sobre o acon­te­cido desco­bri que o ex-​governador Jack­son Lago colo­cara um apelido em Léo Costa, chamava-​o de Pero Vaz de Cam­inha. O apelido era uma alusão ao fato de Léo ter redigido a primeira ata do par­tido por ocasião de sua fun­dação e ter respon­dido por sua secretaria-​geral nos primeiros cinco anos de existência.

Com trinta e cinco anos de fil­i­ação par­tidária inte­gra aquilo que seus adver­sários, no municí­pio de onde atua politi­ca­mente, apel­i­daram, jocosa­mente, de “pede­tis­tas de pés amare­los”, em refer­ên­cia a cor amarela que ficava nos pés após de 10 (dez) dias, ou mais, andando a pé no barro difundindo a men­sagem do par­tido e a importân­cia da política como instru­mento de mudança nos des­ti­nos das pessoas.

Esta, aliás, sem­pre foi a ideia que o moveu, jun­ta­mente com out­ros com­pan­heiros, como Jack­son Lago, Neiva Mor­eira, Poli­carpo Neto, Regi­naldo Teles, Maria Lúcia Teles, Agenor Gomes, e tan­tos out­ros a apostarem no tra­bal­hismo de Leonel Brizola e não seguirem no movi­mento da moda daquele momento que era o petismo de Lula, muito mais pre­sente nas uni­ver­si­dades e comu­nidades de base da Igreja Católica.

A política do Maran­hão tem uma história que se con­funde com a vida destas lid­er­anças, pes­soas que se dedicaram a con­struir uma alter­na­tiva de poder colo­cando os cidadãos como pro­tag­o­nistas de seus próprios des­ti­nos em oposição ao coro­nelismo rep­re­sen­tado pelo grupo Sar­ney, da política dis­tante do povo.

A política pela política, o poder pelo poder, nunca foram razões vál­i­das para o afas­ta­mento do con­vívio dos seus na busca de “evan­ge­lizar”, con­vencer o cidadão de que o seu voto vale mais que uma moto, um par de sandálias, um prato de comida.

Esta, a Polit­ica ver­dadeira, com “P» maiús­culo, não fez de tais lid­er­anças mil­ionários, pelo con­trário, muitos fizeram-​na movi­dos por son­hos, não sendo pou­cas as vezes que sofr­eram neces­si­dade, ficaram sem ter como fazer o super­me­r­cado ou pagar as con­tas no fim do mês.

Na outra quadra, os que fiz­eram da política um negó­cio, enricaram, tornaram-​se donos de empre­sas, imóveis diver­sos, aviões, car­ros de luxo, etc. Como con­seguiram isso, tendo como ofi­cio uni­ca­mente os mandatos con­segui­dos com os votos dos cidadãos mais humildes? Con­cil­iaram os mandatos com a gestão dos negó­cios ou usaram os mandatos para desviar os recur­sos que dev­e­riam ser investi­dos em favor do povo a quem juraram defender?

A con­spir­ata de Bar­reir­in­has, incomodou-​me pes­soal­mente. Ao meu sen­tir sim­boliza a degradação da política brasileira, onde os inter­esses pes­soais ou de uns poucos descon­hecem a história e o respeito que deve haver entre as pessoas.

O que temos assis­tido nes­tas eleições são os “donos” das leg­en­das em âmbito local/​estadual e até nacional, faz­erem negó­cios com os par­tidos, negociando-​os de qual­quer jeito, aten­dendo, sabe se lá a quê interesses.

Denun­ciei tal situ­ação na tri­buna do TRE na sessão de quinta-​feira, 28 de julho.

Hoje, a forma mais fácil de gan­har uma eleição deixou de ser con­quis­tar o voto com o debate de ideias e sim impedir que o adver­sário dis­pute a eleição, fazendo qual­quer tipo de con­chavo nas instân­cias supe­ri­ores dos partidos.

No caso de Bar­reir­in­has, segundo dizem, houve um pacto entre o PDT e o PC do B, uma espé­cie de «Tratado de Torde­sil­has» (con­sta o termo numa nota), em que os líderes destes par­tidos dividi­ram o estado em áreas de influên­cia, um se com­pro­m­e­tendo a tirar do cam­inho os «adver­sários incô­mo­dos», sem qual­quer pre­ocu­pação. Em assim sendo, trata-​se de uma ver­gonha inominável.

Ah, dirão, o Léo Costa não tinha a menor chance na dis­puta eleitoral ou, o que inter­essa na política é vencer a eleição.

A argu­men­tação fere de morte a razão de toda a luta que foi travada no Maran­hão. Quan­tas não foram as vezes em que entramos na dis­puta já sabendo que não tín­hamos chance alguma? A prevale­cer tal lóg­ica dev­eríamos ter desis­tido lá atrás, não teríamos fun­dado os par­tidos, não teríamos batido de porta em porta na busca de con­vencer os cidadãos sobre a importân­cia de votar, de não vender o voto, etc. Como voltar as estas casas? O que dizer a estes cidadãos?

Ora, teria sido mas cômodo cada um, ao invés de lutar para trans­for­mar son­hos em real­i­dade, irem cuidar de suas próprias vidas, de suas famílias e deixar a política com os profis­sion­ais da política, esta com “P” minús­culo que enx­ergam no resul­tado das urnas a razão e o fim da luta.

A Con­spir­ata dos Lençóis, ainda que tenha um êxito momen­tâ­neo, mate­ri­al­izado na vitória de quem aproveita a reti­rada de Léo Costa da dis­puta, rep­re­senta, na ver­dade, uma der­rota dos homens de bem, daque­les que deram suas vidas, que sac­ri­ficaram suas famílias em nome de um sonho cole­tivo. O político Léo Costa é ape­nas a primeira vítima das qual­i­dades do cidadão Léo Costa, alguém que está muito além dos inter­esses mesquin­hos e pes­soais que tomara de assalto a política maranhense.

Cos­tumo dizer que eleição foram feitas para uns perderem e out­ros gan­harem. O que não podemos perder, em nen­huma das duas situ­ações, é a dig­nidade, a famosa, mas em desuso, ver­gonha na cara.

Abdon Mar­inho é advogado.

(*)Nota: Há um tempo, em con­ver­sas com ami­gos ínti­mos comuns, colo­quei em Léo Costa o apelido de “baian­inho”, uma alusão ao seu estilo exces­si­va­mente pací­fico, cor­dado, desli­gado das pre­ocu­pações ter­re­nas, digo que ele atingiu o nir­vana muito antes de qual­quer monge bud­ista. A estes mes­mos ami­gos, quando vão ou estão em Bar­reir­in­has indago: – vais à Bahia? Como está nossa Bahia? Léo nem desconfia.