AbdonMarinho - O BRASIL É MAIOR.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 19 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O BRASIL É MAIOR.

O BRASIL É MAIOR.

DAQUE­LES tumul­tu­osos dias em que o Brasil, con­fla­grado, dis­cu­tiu, votou e aprovou o impeach­ment do primeiro pres­i­dente eleito após a rede­moc­ra­ti­za­ção do país, sen­hor Col­lor de Melo, trago na memória uma manchete de jor­nal ou revista (já não recordo dire­ito) que dizia: «Eles pen­savam que o Brasil era Alagoas».

O Brasil de hoje vive situ­ação semel­hante, temos uma pres­i­dente afas­tada e um pres­i­dente em exer­cí­cio. O processo é traumático – até mais do que dev­e­ria – mas não é o «fim do mundo», basta dizer que o ex-​presidente Col­lor votou neste outro imped­i­mento. Tudo seria bem mais sim­ples se fosse ado­tado no país o mod­elo par­la­men­tarista. Mas essa é uma outra discursão.

O que me vem à cabeça é inda­gar: «O que “eles» pen­savam que era o Brasil?» Será que, a exem­plo de Col­lor, pen­savam que o Brasil era uma republi­queta sem povo, sem insti­tu­ições? Que o nosso povo con­tin­uaria a aceitar ser espoliado?

O exem­plo mais claro que não tin­ham dimen­são do que era este país foi a «quar­te­lada» estu­dan­til pro­tag­on­i­zada pelo dep­utado Waldir Maran­hão, pres­i­dente interino da Câmara, do ex-​advogado-​geral do União, Eduardo Car­dozo e do gov­er­nador do Maran­hão, Flávio Dino. Pen­saram que o Con­gresso Nacional era um con­gresso da UNE – União Nacional dos Estu­dantes ou da UBES – União Brasileira dos Estu­dantes Secun­daris­tas. Enti­dades que desde muito perderam suas car­ac­terís­ti­cas para se tornarem longa manus de par­tidos políticos.

O gov­erno, na pes­soa da pres­i­dente afas­tada, e do seu cír­culo íntimo sabiam da ten­ta­tiva deses­per­ada, da «con­spir­ata orquestrada por Maran­hão. Esse con­hec­i­mento demon­stra viverem num mundo para­lelo, numa real­i­dade difer­ente da vivida pelo resto da pop­u­lação. Qual­quer um sabia que aquela ten­ta­tiva deses­per­ada não fun­cionaria, não tinha como ser lev­ada a sério. Acho, até, que enfraque­ceu o dis­curso da pres­i­dente afas­tada nesta reta final. Uma coisa de alo­pra­dos que cau­sou um mon­u­men­tal pre­juízo ao país.

Agora mesmo, no afas­ta­mento da pres­i­dente, mais uma prova de que não pen­sam no Brasil – talvez nunca ten­ham pen­sado. Será que acham nor­mal não pas­sarem as infor­mações necessárias ao pres­i­dente em exer­cí­cio para que a máquina pública con­tinue fun­cio­nando de forma a não sofrer solução de con­tinuidade? Será que acham saudável ao país anun­cia­rem que não darão um dia de trégua ao novo governo?

Esse tipo de com­por­ta­mento já não ocorre nem nos mais atrasa­dos municí­pios maran­henses. A leg­is­lação estad­ual obriga um prefeito que sai a fazer a tran­sição e a pas­sar as infor­mações ao sucessor.

Assim, deve­mos descar­tar que os alo­pra­dos pen­sassem que o Brasil era o Maran­hão. Aqui, pelo menos nisso, já viramos essa página sabotagem.

Causa espanto que a pres­i­dente afas­tada tenha ori­en­tado seus ex-​ministros a sumirem com as infor­mações para que os min­istérios e repar­tições não con­tin­uem fun­cio­nando nor­mal­mente sob novo comando.

O gov­erno FHC, suce­dido pelo sen­hor Lula, não só fez a tran­sição como foi fiador das primeiras ini­cia­ti­vas do novo gov­erno que se insta­lava. Esse é o com­por­ta­mento que se espera de quem deixa o gov­erno, de quem pensa no país.

Ao que parece, a pres­i­dente afas­tada, seu par­tido, seus ali­a­dos e lid­er­a­dos apos­tam e torcem para que o Brasil con­tinue pati­nando, que o desem­prego que mal­trata os pais de famílias não diminua e os tra­bal­hadores não ten­ham o que comer.

Deve fazer parte do ideário que os tra­bal­hadores, os mais humildes ten­ham que sofrer para se tornarem “rev­olu­cionários”. Quanta tolice. Quanta maldade.

Não é isso que querem quando deixam de prestar as infor­mações sobre a situ­ação da máquina púbica, das receitas e das despe­sas? Não sabem que o fra­casso do país penal­iza, sO BRASIL É MAIOR.obretudo, os mais frágeis finan­ceira­mente? Será que é assim, sone­gando dados e sab­otando o novo gov­erno que provam amar o povo?

A pres­i­dente afas­tada ao deixar o cargo repetiu – mais uma vez – o sur­rado dis­curso do golpe. Um golpe aprovado por 367 dep­uta­dos fed­erais e 55 senadores, e, com todos os atos prat­i­ca­dos, até aqui, sob a super­visão da Suprema Corte. A argu­men­tação soa como um pro­fundo desre­speito para com as insti­tu­ições que juraram respeitar e com as quais man­te­riam uma relação inde­pen­dente e harmônica.

Vou além, a pres­i­dente afas­tada e os seus, esque­cem a prin­ci­pal razão dos fatos que cul­mi­naram com o seu afas­ta­mento: a pop­u­lação brasileira nas ruas. Será que para eles o povo é ape­nas um detalhe?

Pois é, esque­ce­ram o prin­ci­pal: quem tirou o gov­erno foi o povo. A oposição veio a reboque dos acon­tec­i­men­tos pro­tag­on­i­za­dos por cidadãos comuns, gente do povo. Se não fos­sem as maiores man­i­fes­tações pop­u­lares já assis­ti­das no país, o momento atual, com o segundo impeach­ment de pres­i­dente, em menos de 30 anos, não estaria acontecendo.

Ape­sar disso, o gov­erno da pres­i­dente Dilma Rouss­eff e os seus, igno­raram do primeiro ao último dia o povo. Ao que parece con­tin­uarão a fazer isso, não, por não colab­o­rarem – nunca fiz­eram isso com gov­erno algum, pen­sam que só eles podem gov­ernar – mas sendo mesquin­hos, a ponto de sone­gar informações.

Até agora foram inca­pazes de recon­hecer os erros que come­teram. Fin­gem descon­hecer o mar de lama que tomou conta da máquina pública. Negam aquilo que é de con­hec­i­mento público: uma quadrilha espe­cial­izada em desvios de recur­sos públi­cos, na cobrança de propinas e tan­tos out­ros «malfeitos» se apoderou do Estado de forma acintosa.

A cada dia uma rev­e­lação mais sur­preen­dente que a anterior.

Um dia é a infor­mação da propina na Petro­bras, no outro são os desvios nos fun­dos de pen­são, no seguinte que os finan­cia­men­tos ban­ca­dos no exte­rior pelo BNDES foram, tam­bém, uma fonte de desvios. O despropósito chegou ao ponto da cúpula par­tidária exi­gir, segundo disse um empresário em colab­o­ração com a Justiça, propina retroativa.

Uma ino­vação para um país que já pen­sava con­hecer de tudo.

Os meios de comu­ni­cação escan­caram a dolorosa real­i­dade todos dias. Ignoram.

A qual­quer momento a real­i­dade que tanto se recusam a recon­hecer acabará por bater à porta de dis­tin­tas ex-​autoridades mate­ri­al­izada em homens vesti­dos de preto com man­da­dos a serem cumpridos.

Acon­te­cendo isso, talvez se dêem conta que o Brasil sem­pre foi maior que todos aque­les que ten­taram subjugá-​lo, trans­for­mando numa republi­queta de bananas, maior que suas maze­las, maior que todos eles.

Abdon Mar­inho é advogado.