AbdonMarinho - FLÁVIO DINO E O IMPEACHMENT.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Terça-​feira, 16 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

FLÁVIO DINO E O IMPEACHMENT.

FLÁVIO DINO E O IMPEACHMENT.

ESTÃO EQUIV­O­CA­DOS os que pen­sam que o gov­er­nador Flávio Dino foi der­ro­tado com a aprovação do processo de impeach­ment da pres­i­dente Dilma Rouss­eff pela Câmara dos Dep­uta­dos. Tam­bém estão equiv­o­ca­dos os que pen­sam que o gov­er­nador age de forma imatura nas suas man­i­fes­tações de «mil­i­tante» em defesa da pres­i­dente; do mesmo modo, aque­les que pen­sam que o gov­er­nador está se «queimando» com este tipo de defesa – talvez esteja, mas, para ele, até aqui, é um risco calculado.

O gov­er­nador é daque­las pes­soas que de tolas só tem o caminhado.

Assim, não defende o gov­erno por acred­i­tar que Dilma não come­teu os ilíc­i­tos que lhes são atribuí­dos – sabe que as acusações, pelos menos aque­las for­mal­mente atribuí­das estão longe de fazer justiça ao rosário de crimes que ela é o seu gov­erno cometeram.

O gov­er­nador sabe tam­bém que o ex-​presidente Lula está longe de ser inocente dos malfeitos e tip­i­fi­cações que as polí­cias, os órgãos do min­istério público estão lhe imputando. Sabe, cer­ta­mente, esses treze anos da era petista uma ou mais quadrilhas e assen­ho­raram do poder e roubaram, a não mais poder, os recur­sos da nação;

Não duvido da sin­ceri­dade do apreço que sente pela pres­i­dente e tam­bém pelo ex-​presidente Lula, ape­sar das inúmeras vezes que por ambos foi preterido, quando estes, tin­ham como ali­a­dos pref­er­en­ci­ais no Maran­hão, a família Sar­ney – o senador Sar­ney como sabe­mos é irmão de alma do ex-​presidente Lula, segundo ele próprio –, nas vezes que dis­putou eleições o PT, par­tido de ambos (pres­i­dente e ex) foi obri­gado, por deter­mi­nação supe­rior a somar com seus adver­sários. Ainda em 2014, ainda ontem, foi assim, como foi em 2012, antes de ontem.

Mas não é este apreço que reputo sin­cero que o move. Não está dando a outra face con­forme pre­ceitua os Evan­gel­hos Sagrados.

Ah, então fez o que fez ape­nas por amor ao dire­ito? Con­tra o golpe, tão imag­inário quanto os moin­hos de vento com­bat­ido por D. Quixote? Na defesa da legal­i­dade e da Con­sti­tu­ição, como declarou? Lógico que não.

Terá sido por medo de sofrer perseguições de um futuro gov­erno de tran­sição do vice-​presidente Michel Temer? Uma perseguição ao seu gov­erno no Maran­hão, como fez os gov­er­nos petis­tas con­tra os seus adver­sários? Tam­bém não.

O gov­er­nador sabe que Dilma não existe, tanto Lula quanto o PT são car­tas fora do bar­alho. As lid­er­anças do PT, Lula à frente, a menos que acon­teça algo muito extra­ordinário, não con­seguirão se livrar dos «per­rengues» com a Justiça. Tanto eles, como, talvez a própria pres­i­dente Dilma seja con­vi­dada a con­hecer o sis­tema pen­i­ten­ciário brasileiro da per­spec­tiva interna. Isto é fato. O próprio Lula, con­forme ficou rev­e­lado na escuta tele­fônica autor­izada e divul­gada pela justiça ten­tou ser min­istro para escapar de algum man­dado de prisão que supunha está des­ti­nado a ele – é pos­sível que esteja mesmo.

A cada nova rev­e­lação da Lava Jato, a situ­ação dele e de seus com­pan­heiros se com­plica mais.

Assim, não resta dúvida que o ciclo petista chegou ao fim, o ex-​presidente Lula, como as mangueiras, não per­mi­tiu que ninguém crescesse no par­tido para sucedê-​lo politi­ca­mente. Até, mesmo Dilma, se con­seguir escapar dos abor­rec­i­men­tos legais, é inca­pac­i­tada para lid­erar qual­quer coisa, muito menos as com­plexas engrena­gens políticas.

O gov­er­nador Flávio Dino tem essa leitura. Ele pouco está lig­ando para a sorte do petismo, de Dilma ou de Lula. Essa defesa, con­sid­er­ada por muitos como tres­lou­cada, tem um propósito claro: ele quer se cre­den­ciar como herdeiro dos despo­jos petis­tas. Daí se expor tanto. Ele sabe que estes despo­jos do petismo, somado ao que pos­sui seu próprio par­tido sig­nifica um per­centual de quase 20% (vinte por cento) do eleitorado. Isto é muita coisa para quem é gov­er­nador de um estado que não rep­re­senta nem 4% (qua­tro por cento) do eleitorado brasileiro. Con­tando que a essa altura ele não tem muitos 2% (dois por cento) destes 4% (qua­tro por cento) do eleitorado é um bom negó­cio arriscar-​se tanto.

O gov­er­nador, seus ali­a­dos próx­i­mos já deixaram claro – e pub­licaram isso –, têm son­hos mais ele­va­dos. A crise política lhes ofer­ece a pos­si­bil­i­dade de se cre­den­ciar, com folga, a herdeiro destes despojos.

Nesta linha de raciocínio, o gov­er­nador e os seus, pouco estão lig­ando se o gov­erno Dilma vai cair ou não. Se o ex-​presidente Lula e os seus, virarem hós­pedes do Estado.

A bem da ver­dade, lhe é até con­ve­niente que ambas coisas ocor­ram. Sabe que, diante da crise, não con­seguirá fazer um gov­erno grandioso como son­hou e prom­e­teu. Sem Dilma no gov­erno terá o álibi de dizer que não fez o que que­ria em razão da perseguição sofrida por ter defen­dido a defen­estrada. Com Dilma, só poderá usar como des­culpa o sur­rado dis­curso da «her­ança maldita».

O infortúnio de Lula – quanto mais rápido acon­te­cer –, tam­bém lhe será con­ve­niente. O ex-​presidente, sem prob­le­mas, não terá porque não ser can­didato (a não ser um sério prob­lema de saúde), neste caso, o gov­er­nador, quando muito poderá pleit­ear a vaga de vice na chapa do petista. Isso, a primeira vista, já lhe serve, mas sonha com mais: quer ele mesmo dis­putar o prin­ci­pal man­dando do país.

O senão desta estraté­gia é se tornar mais real­ista que o rei (no caso o Lula) e gan­har a mesma repulsa que ele tem e não con­seguir ir além dos despo­jos con­quis­ta­dos. Quem acom­pan­hou a votação da Câmara dos Dep­uta­dos, viu que além de suas excelên­cias votarem por suas famílias, mãe, tia, filho, primo suplente, pela sua cidade, comu­nidade e até pela BR, não sei qual, votaram com mágoa e ran­cor pelos gov­er­nos petistas.

Os próprios dep­uta­dos do Maran­hão fiz­eram isso. O mais elo­quente foi o dep­utado José Reinaldo Tavares (PSB), que pedindo des­cul­pas ao gov­er­nador disse não ter como aten­der seu pedido de votar con­tra o impeach­ment, invo­cando as perseguições que ele é seu suces­sor Jack­son Lago (PDT) sofr­eram. No caso do dep­utado social­ista, aliás, acho que gov­er­nador não tinha o dire­ito de lhe pedir voto. Polit­ica não é algo que se faça só com razão.

O gov­er­nador aposta alto. Não nos cabe sequer man­i­fes­tar juízo de valor quanto a isso, se está certo ou errado. O tempo é sen­hor da razão e, como cos­tu­mava dizer um antigo político maran­hense, Lis­ter Cal­das: «quem viver, verá».

Abdon Mar­inho é advogado.