AbdonMarinho - A TAL DA COERÊNCIA… A TAL DA VERGONHA…
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Terça-​feira, 16 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A TAL DA COERÊN­CIA… A TAL DA VERGONHA

A TAL DA COERÊN­CIA… A TAL DA VER­GONHA… O Par­tido Democrático Tra­bal­hista — PDT, teve como pres­i­dente, enquanto vivo, Leonel de Moura Brizola, que o fun­dou quando do seu exílio, na esteira da Lei de Anis­tia, em mea­dos do ano de 1981. Durante sua vida, de Brizola, podia-​se dizer muita coisa, menos que não tinha coerên­cia. Defendia suas ideias com uma veemên­cia admirável, dizia que se man­tinha as mes­mas ideias era porque as condições do Brasil não mudara, eram as mes­mas. Man­teve a firmeza dos seus posi­ciona­men­tos por toda vida, discordando-​se dele ou não, nunca vi pros­perar con­tra acusação de inco­erên­cia doutrinária ide­ológ­ica ou acusações de cor­rupção. Com o perec­i­mento de Brizola, assumiu a direção do par­tido o Sr. Car­los Lupi, uma espé­cie de antítese do pen­sa­mento brizolista. Em 2011, o Sr. Lupi, em meio a inúmeras denún­cias de cor­rupção envol­vendo a pasta que diri­gia desde o gov­erno ante­rior, pediu exon­er­ação do cargo de min­istro do tra­balho. Isso após a Comis­são de Ética Pública da Presidên­cia da República, fazer tal recomen­dação, até então inédita na história do Brasil. A pres­i­dente da República agrade­ceu os rel­e­vantes serviços presta­dos pelo ex-​ministro e assen­tou que, cer­ta­mente, con­tin­uaria a prestar os mes­mos serviços de onde estivesse. No Brasil, onde ninguém ques­tiona ou parece não ligar para nada, não cau­sou estran­heza pelo fato do ex-​ministro con­tin­uar no comando do par­tido e este (o par­tido) no comando do Min­istério do Tra­balho, emb­ora através do rep­re­sen­tante de outra ala par­tidária. A ninguém socor­reu per­gun­tar, como era pos­sível que o alguém que saíra «na marra» do min­istério, em meio a um cipoal de denún­cias de cor­rupção con­tin­u­asse a diri­gir o par­tido como se nada tivesse acon­te­cido? Menos ainda que esse mesmo par­tido, con­tin­u­asse a diri­gir o órgão? Na época D. Dilma já pen­durara a vas­soura da fax­ina ética e o que era impróprio, cor­rupção ou ban­dal­heiras de todo tipo, inclu­sive a mere­cer inves­ti­gação pela Polí­cia Fed­eral, gan­hou o sin­gelo apelido de “malfeito”. E como o tempo cura tudo, já ensi­navam os mais vel­hos, os malfeitos foram esque­ci­dos, e a pres­i­dente da República achou por bem demi­tir o min­istro que o sub­sti­tuiu e nomear alguém mais lig­ado ao próprio ex-​ministro que saíra após tan­tas denún­cias de «malfeitos». O mesmo que teve a demis­são recomen­dada pela Comis­são de Ética da Presidên­cia da República. Faço esse ret­ro­specto porque leio declar­ações do Sr. Lupi, ex-​ministro do tra­balho dos gov­er­nos Lula e Dilma, ambos do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, prestadas ao Jor­nal O Estado de São Paulo, um dos mais anti­gos e respeita­dos do Brasil, onde diz: “O PT exauriu-​se, esgotou-​se. Olha o caso da Petro­bras. A gente não acha que o PT inven­tou a cor­rupção, mas roubaram demais. Exager­aram”. O grifo é meu. As palavras – sobre as quais bem poucos duvi­dam da veraci­dade – são fortes demais para serem pro­feri­das por um pres­i­dente de par­tido que inte­gra a base do gov­erno e do qual par­tic­ipa desde que assumi­ram o comando do país em 2003. Será que o Sr. Lupi só tomou con­hec­i­mento de toda essa cor­rupção, esse roubo, que acha exces­sivo, exager­ado, agora? Através das noti­cias de jor­nais? Será que nunca ouvi­ram os rumores do que acon­te­cia na maior empresa do Brasil, para citar a Petro­bras, ou em out­ros nichos do poder? Será que não acha estranho con­tin­uar a inte­grar um gov­erno em que os man­datários maiores são con­tu­mazes ladrões do din­heiro público? Ladrões que perderam a medida do próprio roubo? Não disse que roubaram demais, exager­aram? Como não sen­tem qual­quer con­strang­i­mento em per­manecerem em em tal gov­erno? Que coerên­cia existe em inte­grar um gov­erno que sabe ser infes­ta­dos de ladrões exager­a­dos? Como podem com­par­til­har o poder com gente assim? Talvez para pre­venir que os sócios de poder não avancem sobre os recur­sos dos tra­bal­hadores, como Fundo de Amparo ao Tra­bal­hador — FAT ou out­ros dire­itos dos tra­bal­hadores. Seria uma expli­cação razoavel­mente desaver­gonhada. Não? Mas, se já é assom­brosa uma declar­ação desta natureza, feita por quem as fez, mais assom­brosa ainda, é a reação do “par­tido dos ladrões exager­a­dos”. Abro o site da leg­enda e não vejo um des­men­tido, um ques­tion­a­mento sobre as palavras do ex-​ministro. Não ousam refu­tar, não acham nada demais que um ex-​ministro diga que o par­tido roubou demais, exagerou no roubo. Não apare­ce­ram nem para dizer que não roubaram demais, ape­nas um pouco, que não houve o exagero. O mesmo fez o gov­erno. O pres­i­dente do par­tido da base do gov­erno disse que há uma quadrilha incrus­tada no gov­erno, roubando, dilap­i­dando o patrimônio público. O gov­erno sequer pediu um esclarec­i­mento. Se bem que nada há a esclare­cer, as palavras são absur­da­mente claras. Então ficamos com­bi­na­dos assim: o pres­i­dente do PDT, que faz parte do gov­erno, diz que o PT, par­tido do ex e da atual pres­i­dente, roubou demais, exagerou. O PT con­corda com as declar­ações e nada diz. O gov­erno acha que não há nada demais nelas. O PDT con­tinua a fazer parte do gov­erno. Tal situ­ação não causa con­strang­i­mento a ninguém. E assim, todos ficaram, exagera­mente, felizes para sem­pre. Meu pai cos­tu­mava dizer que ver­gonha na cara não ficara para todo mundo. Eu, cri­ança, não enten­dia muito bem o que essa colo­cação sig­nifi­cava. Vendo o que vejo hoje, as com­preendo per­feita­mente. Abdon Mar­inho é advogado.