AbdonMarinho - A CRISE NECESSÁRIA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Terça-​feira, 16 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A CRISE NECESSÁRIA.

A CRISE NECESSÁRIA.

Os dias próx­i­mos dias não serão fáceis para os atu­ais donos do poder, sobre­tudo, para aque­les que, igno­rando todas as regras que juraram solen­e­mente respeitar, como o zelo as leis, o respeito às insti­tu­ições, e a pro­bidade admin­is­tra­tiva, pas­saram a usar os recur­sos públi­cos como seus e tornaram do estatais um tram­polim para o enriquec­i­mento pessoal.

Em mais um des­do­bra­mento da Oper­ação Lava Jato da Polí­cia Fed­eral, vimos, out­rora, tidos por respeitáveis empresários, enver­gando seus ter­nos caros e com suas malas de grife, sendo con­duzi­dos por agentes poli­ci­ais, altos exec­u­tivos públi­cos e pri­va­dos, sendo conduzidos.

Acred­ito, pelo que lem­bro e acom­panho da política nacional, esta­mos diante da maior crise política e econômica desde a rede­moc­ra­ti­za­ção do país. A oper­ação coloca no olho do furacão da crise empre­sas que povoaram nosso imag­inário como a Camargo Cor­rêa, Mendes Junior, Ode­brecht e Andrade Gutier­rez. Out­ras, menos icôni­cas, mas nem por isso menos poderosas, como UTC, Promon, MPE, Toyo-​SOG, entre out­ras menores. A meta de todas e sob o comando do par­tido que assumiu o gov­erno, há doze anos, com a promessa de imple­men­tar um choque ético na gestão pública, san­grar a maior empresa, como fizeram.

Os números, ainda pre­lim­inares, já divul­ga­dos, dão conta que nunca na história deste país, tan­tos empresários se uni­ram a políti­cos para roubarem, em con­sór­cio, tanto din­heiro de uma empresa brasileira.

A Petro­bras já perdeu mais da metade do seu valor de mer­cado. No momento sofre inves­ti­gação inter­na­cional, vê suas ações der­reterem e corre o risco de desvalorizar-​se ainda mais e, até, em último caso, vê-​se impe­dida de nego­ciar ações. Pela primeira vez (pelo que me recordo) atra­sou a divul­gação de seu bal­anço trimes­tral. A audi­to­ria externa con­tratada não quis e não quer se arriscar a endos­sar números que poderão ser des­men­ti­dos pelos fatos. A próx­ima data para divul­gação será daqui há trinta dias. Ninguém diz, mas essa demora, serve para saber como a empresa se com­por­tará aos próx­i­mos des­do­bra­men­tos do escândalo.

Se a Petro­bras e seus mil­hares de acionistas – aque­les cidadãos que con­fi­aram no gov­erno ante­rior e sacaram seus fun­dos de garan­tias, suas poupanças, suas econo­mias, que venderam seus bens para com­prar ações, na crença que o lucro era certo –, sofrem com estes fatos, a con­se­quên­cia, tam­bém não será menos danosa para as empre­sas pil­hadas no fla­grante explic­ito de cor­rupção. Estas, sobre­tudo, as que operam no exte­rior, pas­sarão a sofrer restrições – ninguém quer se vin­cu­lar ou con­tratar com um empresa sob inves­ti­gação de autori­dades poli­ci­ais e judi­ci­ais e que tem exec­u­tivos pre­sos, bens indisponíveis e etc. – , perderão mer­cado e serão desval­orizadas. É essa é a regra do jogo, é a regra da vida. As pes­soas fazem vis­tas grossas aos malfeitos alheios, entre­tanto, se tais deslizes vêm a público de forma incon­tornável, pas­sam a ser trata­dos como eram tratado, no pas­sado, os lep­rosos. Todas dev­erão perder valor e trabalhos.

Caso a crise ficasse cir­cun­scrita aos fatos já expos­tos, ape­nas envol­vendo a maior empresa do país e as maiores empre­it­eiras, já seria sufi­ciente para um grande sismo no país. Só que ela irá muito além, com as delações ter­e­mos com­pro­metido quase todo o gov­erno, os par­tidos que lhe dão sus­ten­tação e expres­siva parcela do Con­gresso Nacional, será muito mais aguda.

Esta­mos, como disse no iní­cio, diante de uma crise sem prece­dentes. Até mesmo os fatos que cul­mi­naram na cas­sação de Color, o primeiro pres­i­dente eleito após a rede­moc­ra­ti­za­ção, sequer chegou perto do momento que vive­mos, muito pelo con­trário, as moti­vações que o levaram a perda do mandato, vis­tas com os olhos de hoje, com­para­das com os atu­ais fatos, fazem aque­les pare­cerem trav­es­suras de mole­ques, cri­anças que nunca tendo comido melado, lambuzaram-​se ao comer.

Ape­sar das con­se­quên­cias impre­visíveis do atual momento, caso nos­sas insti­tu­ições democráti­cas con­sigam superar o momento, com a polí­cia inves­ti­gando e apon­tando todos respon­sáveis, com o Min­istério Público denun­ciando, o Poder Judi­ciário e o Con­gresso Nacional (o que sobrar dele), punindo com rigor os cul­pa­dos, acred­ito que saire­mos bem mais for­t­ale­ci­dos. O Brasil con­seguirá sair-​se aos olhos do mundo como um país com insti­tu­ições sól­i­das e capaz de respon­der como deve ser respon­dido aos malfeitores e salteadores do poder. Será a vitória do Brasil decente, da maior parcela da pop­u­lação brasileira que não coon­esta com a cor­rupção e que já está cansada de assi­s­tir os recur­sos públi­cos, que dev­e­riam está sendo empre­ga­dos em ben­efi­cio da saciedade, na mel­ho­ria da saúde, da edu­cação e da infra-​estrutura, estarem sendo drena­dos para con­tas sec­re­tas – prin­ci­pal­mente no exte­rior –, de políti­cos e empresários corruptos.

Emb­ora, nunca tenha dese­jado ver o meu país pas­sar por tan­tos con­strag­i­men­tos aos olhos do mundo, acho que a atual crise é necessária para con­sol­i­dar as nos­sas insti­tu­ições. Trata-​se, por assim dizer, de uma crise necessária a amadurec­i­mento do nação. Lem­bro que não tín­hamos com­ple­tado vinte anos do fim da ditadura mil­i­tar quando o primeiro pres­i­dente eleito foi cas­sado, o Brasil pas­sou por tal momento sem maiores con­tur­bações. Não será agora que irá ruir caso fatos semel­hantes ven­ham a acon­te­cer. O Brasil é maior que qual­quer dos seus cidadãos. E é assim que tem que ser.

Ques­tion­ado pelos mais famosos filól­o­gos, convencionou-​se dizer que o termo crise, em chinês, é com­posto por dois car­ac­teres, sig­nif­i­cando o primeiro perigo e o segundo opor­tu­nidade. Emb­ora sem endos­sar quais­quer dos entendi­men­tos, talvez o perigo que passa o Brasil e suas insti­tu­ições seja o que falta para con­sol­i­dar­mos a opor­tu­nidade de con­struir um país bem melhor.

Abdon Mar­inho é advogado.