AbdonMarinho - NÃO VAMOS NOS DISPERSAR…
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 19 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

NÃO VAMOS NOS DISPERSAR

NÃO VAMOS NOS DISPERSAR

Neste domingo, 26/​10/​2014, acordei lem­brando daquele famoso dis­curso pro­ferido por Tan­credo Neves em 15/​01/​1985. Naquela terça-​feira, há quase trinta anos reunia-​se o Colé­gio Eleitoral, resquí­cio der­radeiro da ditadura. Numa tele­visão em preto e branco acom­pan­há­va­mos voto a voto a escolha daque­les eleitores a quem coube escol­her o des­tino do Brasil. Após procla­mação do resul­tado, Tan­credo Neves, eleito pres­i­dente da República, foi chamado à Mesa do Con­gresso de onde pro­feriu o seu dis­curso de união do país. Entre tan­tas coisas belas e esper­ançosas dizia: \«Não vamos nos dis­per­sar. Con­tin­ue­mos reunidos, como nas praças públi­cas, com a mesma emoção, a mesma dig­nidade e a mesma decisão. Se todos quis­er­mos, dizia-​nos, há quase duzen­tos anos, Tiradentes, aquele herói enlouque­cido de esper­ança, poder­e­mos fazer deste País uma grande Nação. Vamos fazê-​la.\»

O Brasil de hoje pre­cisa mais que nunca destes ditos. Não podemos nos dispersar.

A vitória de Dilma Rouss­eff e o pro­jeto facista de seu par­tido para o Brasil deve man­ter o país alerta e vig­i­lante para que o pior não acon­teça e as esper­anças que ainda restam se dissipem.

A presidenta-​candidata acaba de ser reeleita com uma difer­ença de pouco mais de 3 mil­hões de votos.

A con­sid­erar a cam­panha que fiz­eram dev­e­riam se sen­tirem der­ro­ta­dos. Nunca na história deste país um gov­er­nante usou e abu­sou de tan­tos méto­dos ile­gais para se alcançar uma vitória sofrida, cal­cada na men­tira, no ódio e na divisão do país.

Essa difer­ença pífia de votos é ori­unda dos que sofr­eram a ameaça irre­sistível de perderem um ‘bolsa-​família’ ou um outro pro­grama social qual­quer, con­forme foram lem­bra­dos, reit­er­ada­mente, na cam­panha oficial.

Que lid­er­ança é essa que ameaça jus­ta­mente as pes­soas mais neces­si­tadas do país?

Esse grupo, segundo infor­mam, alcançam mais de 50 mil­hões de pes­soas, um quarto da pop­u­lação, pes­soas con­strangi­das a decidi­rem – ameaçadas que foram –, mais com a bar­riga que com a cabeça. Não recrim­ino nen­huma delas. São pes­soas que man­ti­das numa situ­ação de mis­éria, acham que esmo­las sig­nifi­cam avanço social.

Podemos dizer que a presidente-​candidata teve quase a mesma quan­ti­dade de votos que as con­sciên­cias com­pradas com o din­heiro público através dos bene­fí­cios que deposi­tam men­salmente nas con­tas dos desvalidos.

Não con­sigo enx­er­gar mérito nisso. Não con­sigo enx­er­gar mérito numa vitória con­seguida graças a um eleitorado cativo. E quando uso essa palavra é porque não existe outra mais ade­quada para definir os cidadãos votaram obri­ga­dos pelo medo. E foram uma grande parcela.

Durante a cam­panha a presidente-​candidata fez questão de espal­har que a can­di­datura adver­sária era con­tra os pobres, con­tra o nordeste, con­tra as mul­heres, que iria acabar com os pro­gra­mas soci­ais como o “Bolsa Família”, “Minha Casa, Minha Vida”, com o “Pronatec”, com o “Enem” e tudo mais que lhe pudesse vir a cabeça. Ao lado disso escapava de respon­der às inda­gações da sociedade sobre o lamaçal que subiu as ram­pas dos palá­cios e se alo­jou nos gabi­netes pres­i­den­ci­ais; dos seus ami­gos e cor­re­li­gionários que con­tin­uam assaltando os cofres públi­cos enquanto as insti­tu­ições repub­li­canas não os inves­tigam, os denun­ciam, e os colo­cam para cumprir as penas impostas pela leg­is­lação penal.

Hoje o ter­ror­ismo der­ro­tou o Brasil decente. Essa der­rota não deve nos alque­brar, pelo con­trário, deve nos for­t­ale­cer para con­tin­uar a luta.

Não, não podemos nos dis­per­sar. Con­tabi­liza­dos os votos váli­dos, somos quase 51 mil­hões de brasileiros con­scientes, que votaram sem medo e sem receio, unidos num único sen­ti­mento. O sen­ti­mento que é pre­ciso mudar o Brasil. Que é pre­ciso acabar com a apar­el­hamento do Estado; que é urgente acabar com a roubal­heira; que necessário acabar com a infind­ável sucessão de escân­da­los que nos assom­bram todos dias quando abri­mos os jor­nais ou lig­amos o rádio, a tele­visão ou aces­samos a rede mundial de computadores.

Não podemos nos dis­per­sar porque temos a mis­são de livrar o país dos des­man­dos, da cor­rupção, da falta de medida…

Não podemos nos dis­per­sar porque somos o que restou ao nosso país, a con­sciên­cia cívica, os não que ced­eram aos encan­tos ou as chan­ta­gens do poder e dos favorecimentos.

Não somos direita.

Não somos tucanos;

Não somos ricos.

Somos brasileiros;

Somos tra­bal­hadores, médi­cos, advo­ga­dos, estu­dantes, donas de casa, empresários, operários;

Somos cidadãos dos cam­pos e das cidades;

Somos decentes;

Somos os cansa­dos da roubalheira;

Somos os cansa­dos dos escândalos;

Somos os cansa­dos do apar­el­hamento do Estado;

Somos os que cla­mam por desen­volvi­mento igual­itário que alcance a todos e vá muito além das esmo­las que dão aos pobres;

Somos o que não aceitam a política do ódio e divi­sion­ista que busca a secessão do país;

Por tudo isso, não vamos nos dis­per­sar. O país, mais do que nunca, pre­cisa de nós, não ire­mos fugir à luta.

Abdon Mar­inho é advogado.