AbdonMarinho - GUERRA ELEITORAL: UM DEBATE ATRASADO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 18 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

GUERRA ELEITORAL: UM DEBATE ATRASADO.

GUERRA ELEITORAL: UM DEBATE ATRASADO.

Só aos tolos ou ingên­uos é dado o dire­ito de imag­i­nar que a con­quista de poder, qual­quer poder, possa se dá sem con­flito. Em maior ou menor grau, con­fli­tos sem­pre existirão.

Não seria difer­ente no jogo político sucessório do Maran­hão. Os con­fli­tos inter­nos den­tro do grupo que está no poder cul­mi­nou com uma rad­i­cal mudança no roteiro ini­cial­mente traçado, com dire­ito a mudança de can­didato e tudo mais. Não pensem que essas mudanças se deram sem seque­las. Claro que não.

Pois bem, se não aliviam nem com os seus, aliviariam com os adver­sários? Tam­bém não. Dito isso, não con­sigo enten­der o estran­hamento de algu­mas pes­soas com os acon­tec­i­men­tos da cam­panha política. Nada do que acon­tece dev­e­ria sur­preen­der ninguém. Quem con­hece a política do Maran­hão até acha que ela, no momento, está exces­si­va­mente civ­i­lizada. Civ­i­lizada para o nível de baixaria de out­ros pleitos.

Não tenho intim­i­dade ou amizade para falar de política com o can­didato oposi­cionista. As pou­cas vezes que falamos, foi ainda em mea­dos dos anos 80, por volta de 85, 86, naque­les cur­sos de for­mação que rotineira­mente os par­tidos faziam no Sítio Pira­pora, no Bairro Santo Anto­nio. Desde então nunca mais falamos sobre política. Primeiro por que seguimos car­reiras dis­tin­tas. Ele foi para a mag­i­s­tratura e eu para advo­ca­cia. Depois por que pas­samos a man­ter um rela­ciona­mento mera­mente pro­to­co­lar e lig­ado as nos­sas ativi­dades nas vezes que nos encon­tramos nos tri­bunais ou em algum outro local. Encon­tros rápi­dos, muitas vezes não pas­sando de um cumpri­mento. O último ocor­reu em mea­dos junho. Estava gra­vando uma par­tic­i­pação em um doc­u­men­tário de Eri Cas­tro na porta do Palá­cio Epis­co­pal e o can­didato pas­sava pela Praça Pedro II. Quando me viu, mudou o roteiro e, gen­til­mente, subiu as escadas para me cumpri­men­tar. Tro­camos umas duas palavras e ele seguiu seu cam­inho e eu con­tin­uei o que fazia.

Emb­ora não tenha fal­ado com o próprio can­didato, com muitos dos nos­sos ami­gos comuns e seus inter­locu­tores, tenho dito o que penso da política maran­hense. Quando por ocasião da sua nomeação para a EMBRATUR, e exis­tia todo aquele clima de impasse, nomeia não nomeia, disse a mais de um, que ele, como plane­java candidatar-​se ao gov­erno, dev­e­ria recusar o con­vite, se feito, ou não pleit­ear, se não feito. Estes ami­gos argu­men­tavam que era um órgão muito inter­es­sante e que seu diri­gente pode­ria fazer muito pelo tur­ismo brasileiro. Meu argu­mento con­trário sem­pre foi bem sim­ples, dizia que fazendo ou não fazendo uma boa gestão sua pas­sagem pelo cargo fornece­ria munição con­tra uma pos­sível can­di­datura. Inde­pen­dente de sucesso ou não da gestão.

Mais a frente, disse a esses mes­mos ami­gos e inter­locu­tores do can­didato que ele dev­e­ria ir para um outro par­tido pois seria menos com­pli­cado para a cam­panha. Infe­liz­mente, os nos­sos ami­gos não falaram com o can­didato, ou se falaram, não foram lev­a­dos a sério.

Fal­tando menos de sessenta dias para a eleição o debate sucessório con­tra o can­didato é pau­tado nestes dois temas: A gestão frente à EMBRATUR e a fil­i­ação par­tidária do candidato.

Vejam, não é que eu seja um experto em política, muito longe disso, é que acom­panho a vida política do Estado desde cri­ança. Acaba-​se por apren­der como as pes­soas agirão. Por conta disso sabia que os assun­tos desta eleição seriam estes.

A guerra eleitoral é feita desse tipo de coisa. Se fazendo o escrutínio de tudo que se possa depor con­tra o opoente. Tendo feito ou não uma gestão pri­morosa frente ao órgão que geriu qual­quer admin­istrador sem­pre pode ser respon­s­abi­lizado por algo, se não é um ato de cor­rupção, é a argu­men­tação que a o órgão foi mal gerido, que não ren­deu o que dev­e­ria, que foi incom­pe­tente, que cau­sou pre­juízo, as vezes por ter assi­nado um papel, as vezes por não ter assi­nado. Tudo é motivo para desmon­tar a imagem da pes­soa. Ainda que fosse a gestão mais profícua de todas aos olhos dos adver­sários, não pas­saria de medíocre.

Se por um lado tinha esse tanto de coisas neg­a­ti­vas, por outro lado de pos­i­tivo não tinha nada a apre­sen­tar. O Brasil não faz parte de nen­hum grande roteiro turís­tico mundial, ainda que se cap­i­tal­izasse muito, não seria pos­sível atrair tur­is­tas prin­ci­pal­mente se con­sid­erásse­mos a val­oriza­ção da nossa moeda em relação as demais, a bru­tal carga trib­utária que estim­ula os brasileiros a saírem do país, ainda que seja para fazer com­pras. Em suma, a chamada conta tur­ismo não pos­suía chances, no curto prazo, de fechar pos­i­tiva. Fosse seu pres­i­dente quem fosse.

O mesmo se dá com relação ao par­tido. Emb­ora o par­tido tenha sido colo­cado na legal­i­dade há quase 30 anos, per­manece o estigma do comu­nismo, um \\\«pule-​de-​dez\\\» para a explo­ração. Alguém tinha dúvi­das que essa dis­cussão ide­ológ­ica iria acon­te­cer? Só os ingên­uos. E a explo­ração tende a aumen­tar, sobre­tudo, junto as pes­soas mais sim­ples. E, em se tratando do Maran­hão não são pou­cas pes­soas. Muitos acred­i­tam nos que lhes falam sobre o comu­nismo, tanto na parte doutrinária, quanto nos mitos que foram con­sol­i­da­dos ao longo das décadas. Do ponto de vista prático, isso não sig­nifica nada. Um can­didato a gov­er­nador, mesmo pres­i­dente, não pode­ria e não teria como mudar as regras do jogo, o régime que vive­mos, ao seu talante, nos dias atu­ais. Essa dis­cussão que o can­didato é comu­nista serve ape­nas ao propósito de descon­strução da imagem, de incu­tir o medo nas pes­soas. Na ver­dade para as pes­soas mais esclare­ci­das, a fil­i­ação par­tidária deste ou daquele can­didato de nada serve. No caso dos nos­sos comu­nistas, esses comu­nistas verdes/​amarelos, a larga maio­ria não sabe sequer o que é a dout­rina comu­nista, o que seja o comu­nismo. E muitos estão fil­i­a­dos por mera con­veniên­cia. Entre­tanto o Maran­hão perde o tempo com esse tipo de debate político/​ideológico do começo do século. Que fique claro, do começo do século XIX.

Quando lá atrás sug­eri que hou­vesse a mudança, a fiz por saber que do ponto de vista eleitoral, estavam come­tendo equívo­cos. Por qual razão, iriam ofer­e­cer munição ao adver­sário? Caso acred­i­tavam que estes aspec­tos não seriam explo­rados a exaustão?

A recla­mação que se faz agora, de que estão explo­rando isso ao invés de se está dis­cu­tido outra pauta, planos de gov­erno, pro­postas, me parece pueril e, emb­ora, ache que exista um exac­erbo se per­gun­tar sobre man­i­festo comu­nista, con­teú­dos pro­gramáti­cos do par­tido, que todos sabem jamais serão implan­ta­dos, estão no dire­ito de fazer isso. O próprio par­tido e seus fil­i­a­dos fornece­ram a munição. Estranho seria se não explo­rassem. Cheg­amos a esdrúx­ula situ­ação de está vendo um doc­u­men­tário na TV fechada sobre a Segunda Guerra e mudar para TV aberta durante um com­er­cial de cam­panha e ficar com a impressão que não tinha mudado de canal. O mesmo dis­curso, as mes­mas ima­gens em preto e branco.

Como as pesquisas apre­sen­tam o can­didato oposi­cionista muito bem situ­ado, talvez os fatos explo­rados pelos adver­sários não ten­ham qual­quer reflexo no resul­tado final do pleito. É esperar para conferir.

Ape­sar de tudo seria muito mel­hor, para o Maran­hão, que estivésse­mos dis­cutindo os prob­le­mas reais do nosso povo, saúde, edu­cação, pro­dução, meio-​ambiente, etc.

Abdon Mar­inho é advogado.