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Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 19 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UMA PRI­OR­I­DADE NACIONAL.

UMA PRI­OR­I­DADE NACIONAL.

Tanto na esfera fed­eral quanto na estad­ual gan­hou destaque como pri­or­i­dade para o próx­imo mandato, a questão educacional.

A pres­i­dente reeleita Dilma Rouss­eff esta­b­ele­ceu como lema de gov­erno: Brasil, pátria edu­cadora. Já o gov­er­nador Flávio Dino em seu dis­curso de posse prom­e­teu, em parce­ria com os prefeitos munic­i­pais, erradicar as esco­las que fun­cionam em taperas, em casas de taipas e cober­tas de palha, sem qual­quer condição de salu­bri­dade; em decreto, tam­bém, deter­mi­nou a eleição direta para os dire­tores de escolas.

Não é seg­redo para ninguém que a edu­cação brasileira ficou para trás no cenário mundial. Qual­quer teste inter­na­cional que faça o Brasil ocupa as últi­mas posições. O Maran­hão, já dis­se­mos aqui inúmeras vezes, as últi­mas posições nos testes nacionais, logo, nossa edu­cação está atrás dos que estão atrás. É com júbilo que recebe­mos as duas noti­cias, uma pauta que tem trinta anos de atraso.

Entre­tanto, em que pese as boas intenções dos gov­er­nantes é necessário que eles enten­dam as causas que levaram a edu­cação brasileira e maran­hense a uma situ­ação tão des­fa­vorável e adotem as medi­das necessárias para mudar essa realidade.

Como bem diag­nos­ti­cou o gov­er­nador maran­hense, o primeiro prob­lema a ser enfrentado é a falta de condições das esco­las munic­i­pais, aque­las que estão, sobre­tudo na zona rural do estado, que fun­cionam em casas de far­inha, em salões paro­quiais, asso­ci­ações de moradores e até mesmo, em salas cedi­das nas residên­cias. Por mais que se esforcem os pro­fes­sores, essas escol­in­has não têm condições de ofer­e­cerem uma edu­cação min­i­ma­mente con­dizente com os tem­pos atuais.

O que se espera, é que o MEC, diante da nova dire­triz do gov­erno, cor­rija os cam­in­hos erráti­cos que tem ado­tado até aqui.

Ë inegável que a par­tir da cri­ação do FUN­DEF, pos­te­ri­or­mente trans­for­mado em FUN­DEB, a edu­cação brasileira avançou bas­tante, prin­ci­pal­mente no que se ref­ere à val­oriza­ção do mag­istério. Entre­tanto – as pesquisas com­pro­vam – a qual­i­dade do ensino não tem avançado da mesma forma. Em algu­mas situ­ações podemos afir­mar que há uma redução no nível do apren­dizado, os estu­dantes de hoje sabem bem menos que os estu­dantes de vinte, trinta, quarenta anos atrás.

Uma das razões da qual­i­dade do ensino não haver acom­pan­hado o aumento dos inves­ti­men­tos feitos no setor, diz respeito à falta de qual­i­dade e do mod­elo de esco­las, sem desprezar, claro, os inter­esses dis­per­sos do público jovem, que bom­bardeado, por todos os lados por inúmeras infor­mações, pos­sui bem pouco conhecimento.

No que se ref­ere ao mod­elo de escola, vejam um breve exem­plo: o FNDE disponi­bi­liza recur­sos para os municí­pios con­struírem esco­las, entre­tanto, o processo é longo e segue regras que vão de encon­tro aos obje­tivos dese­ja­dos pelo gov­erno que é a mel­hora na qual­i­dade do ensino, como é o caso da insistên­cia do gov­erno em con­struir esco­las de uma ou duas salas, sem quais­quer out­ros instru­men­tos que facilitem o apren­dizado. Essas esco­las, está com­pro­vado, emb­ora, de longe, seja bem mel­hores do que as exis­tentes, não pos­suem condições de ofer­e­cer uma edu­cação de qualidade.

Mel­hor seria o gov­erno apos­tar em escolas-​polos com boa estru­tura ao invés destas escol­in­has, que nada mais são que depósi­tos de cri­anças onde os pro­fes­sores só dis­põem de quadro-​negro e giz. O MEC tem sido refratário a essas ideias, recusando-​se a aprovar escolas-​polos, ape­sar de jus­ti­fica­ti­vas plausíveis, com o argu­men­tos mera­mente buro­cráti­cos. O efeito per­verso do mod­elo é sac­ri­ficar ainda mais as finanças dos municí­pios, com mini-​escolas e redução da carga-​horária dos pro­fes­sores (hoje grande parte dos pro­fes­sores ficam em sala de aula cerca de treze hora levando a con­tratação de um segundo pro­fes­sor para com­ple­tar a carga horária mín­ima dos alunos, os que cumprem, grande parte só finge). Em resumo, até quando o gov­erno tenta e quer aju­dar, atrapalha.

Recebo com otimismo a pro­posta do gov­erno estad­ual se unir aos municí­pios para erradi­carem as esco­las precárias no Maran­hão, com teto de palha, pare­des de adobe e chão batido, mas é pre­ciso ir além. Acred­ito que deva apoiar as ini­cia­ti­vas pio­neiras já implan­tas em alguns municí­pios maran­henses, sobre­tudo os que estão apo­s­tando em escolas-​pólos, onde se con­cen­tram mais alunos, mas com qual­i­dade de unidades esco­lares e equipa­men­tos bem supe­ri­ores. O que, com certeza, mel­hora a qual­i­dade de ensino dos educandos.

O gov­erno estad­ual pre­cisa enfrentar essa questão com cor­agem, apoiando os municí­pios e mel­ho­rando a própria qual­i­dade da rede de ensino médio. Muitas das esco­las da rede estad­ual, a exem­plo de muitas esco­las das redes munic­i­pais, não pas­sam de depósi­tos de ado­les­centes, sem a estru­tura mín­ima para fun­ciona­mento, onde fal­tam pro­fes­sores em diver­sas dis­ci­plinas, onde muitos pro­fes­sores estão min­is­trando aulas fora de suas for­mações, “tapando buraco”, como se diz, out­ros já tendo pas­sado do tempo de se aposen­tar, ape­nas esperam a inclusão de suas van­ta­gens em folha para saírem. Todas essas situ­ações levam os estu­dantes a ficarem ociosos e um ter­reno per­me­ável às ameaças exter­nas, com a vio­lên­cia e o trá­fico de drogas.

Cabeça vazia, ofic­ina do diabo, já dizia meu pai. Mais do que nunca é necessário man­ter a juven­tude ocu­pada, estu­dando, prat­i­cando esportes, prat­i­cando artes.

A democ­ra­ti­za­ção da gestão esco­lar, através da eleição, pro­posta do gov­er­nador no primeiro dia do mandato, emb­ora rep­re­sente um grande avanço, pois tira a bar­ganha da indi­cação política, não se trata de uma pana­ceia mila­grosa capaz de resolver todos os gargalos.

A eleição direta é uma pauta que vem desde a rede­moc­ra­ti­za­ção do Brasil em 1985. A medida alvis­sareira e democrática do gov­erno pode­ria trazer no mesmo decreto a imposição de rank­ing para as esco­las estad­u­ais, onde os dire­tores, emb­ora eleitos demo­c­ra­ti­ca­mente, pode­riam perder o cargo se as esco­las que dirigem não apre­sentarem resul­ta­dos satisfatórios.

A eleição direta, que rep­re­senta um grande passo, não pode ser uma camisa de força ou mera con­quista, tem que trazer junto a mel­hora na qual­i­dade do ensino. A democ­ra­ti­za­ção tem que vir junto com a respon­s­abil­i­dade do cumpri­mento de metas claras sob pena de dar guar­ida a dire­tores bons de política e pés­si­mos de edu­cação ou ainda de dire­tores que “passem a mão\» sobre a cabeça dos servi­dores e de alunos para ficar “na boa”.

Os desafios para tornar o Brasil gigante no campo edu­ca­cional pre­cisa de união e um esforço mon­u­men­tal dos gov­er­nantes. Desafios que vão bem além dos dis­cur­sos, palavras de ordem ou medi­das cosméticas.

Abdon Mar­inho é advogado.